Airies Marcos Vieira da silva, Vera Lúcia Monteiro de Siqueira
19 de abril de 2022
A influência da Memória de Trabalho no desempenho cognitivo e nas dificuldades de aprendizagem de crianças em idade escolar
Airies Marcos Vieira da silva[1]*; Vera Lúcia Monteiro de Siqueira[2]
1Acadêmico do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Neuropsicopedagogia Clínica da Faculdade Censupeg; 2Professora Orientadora dos Cursos de Neuropsicopedagogia da Faculdade Censupeg.
*airiesvieira@gmail.com
Resumo
O desempenho cognitivo e as dificuldades de aprendizagem podem ter como origem diversas peculiaridades cerebrais. O objetivo do presente artigo é constatar como a Memória de Trabalho (MT) possui essencial participação no desempenho cognitivo e nas dificuldades de aprendizagem bem como constatar a importância das funções executivas nas dificuldades de aprendizagem. Foram revisados artigos científicos através de estudo exploratório sistemático de revisão literária com coleta e confronto de dados sobre variados enfoques de pesquisa, que oferecem possíveis soluções para minimizar o problema com a atuação da memória de trabalho no desempenho cognitivo em relação à aprendizagem. Aqui foi mapeado o conceito de Funções Executivas (FE), o que é a MT dentro do escopo das FE, além de como esta atua no desempenho cognitivo e influencia o processo de aprendizagem e por fim como a MT pode ser trabalhada para minimizar as dificuldades de aprendizagem de crianças em idade escolar.
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Palavras-chave: aprendizagem, memória de trabalho, neuroplasticidade, treino
Os estudos sobre as funções neurocognitivas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, grande parte devido ao avanço da Neuropsicologia e da Neuropsicopedagogia. As Funções Executivas (FE) estão entre os processos cognitivos mais debatidos e pesquisados na literatura científica atual[1].
As FE são consideradas funções mentais complexas ou superiores e são responsáveis pela capacidade de autorregulação ou autogerenciamento. No que se refere à avaliação, seja neuropsicológica ou neuropsicopedagógica, as FE têm relação com diversos elementos, como atenção seletiva, controle inibitório, planejamento, organização, flexibilidade cognitiva e memória de trabalho. Tais elementos são de suma importância diante situações novas ou necessidades cotidianas de ajustamento, adaptação ou flexibilidade, como é o caso da situação na aprendizagem escolar.[2]
A relação entre memória e aprendizagem é bem intrínseca, pois para que a aprendizagem seja realizada dentro de uma normalidade existe a dependência constante da utilização da memória. Para um entendimento mais embasado é necessário que se tenha o contexto cerebral em que está inserida a memória a fim de detectar métodos e técnicas que possam minimizar as dificuldades de aprendizagem sobre variados enfoques de pesquisa com possíveis soluções desse problema quando ligado a memória de trabalho em crianças com idade escolar, pois crer-se que possam ser detectados métodos e técnicas para minimizar tais problemas. Vamos então a o que são as Funções Executivas (FE), o que é a Memória de trabalho (MT) dentro do escopo das FE, como atua a MT no desempenho cognitivo e porque essa influência no processo de aprendizagem além de como minimizar as dificuldades de aprendizagem de crianças em idade escolar com foco na MT.
Na construção deste artigo de revisão foi utilizada uma pesquisa exploratória qualitativa com o intuito de reexaminar a literatura atinente à influência da memória de trabalho no desempenho cognitivo e nas dificuldades de aprendizagem de crianças em idade escolar, com passagens dos conceitos sobre funções executivas, plasticidade neural e treinos de memória no intuído de permitir maior embasamento para entendimento do assunto tema, segue abaixo o quadro com a organização dos eventos:
Nº |
Ação realizada |
Como foi realizado |
Cronologia |
01 |
Seleção de livros e Artigos Científicos |
Pesquisa digital e bibliográfica |
2 meses |
02 |
Leitura de livros e Artigos Científicos |
Leitura e fichamento |
2 meses |
03 |
Planejamento, ordenação e reprodução |
disposição das fichas |
30 dias |
04 |
Ordenação e reprodução |
Elaboração da introdução |
15 dias |
05 |
Ordenação e reprodução |
Elaboração do conteúdo |
2 meses |
06 |
Ordenação e reprodução |
Elaboração da conclusão |
15 dias |
07 |
Escrita do Artigo Científico |
Modelo da Faculdade Censupeg. |
30 dias |
Para que se entenda o objetivo do presente estudo é necessário ter o conhecimento conceitual de Funções Executivas descrito a seguir.
Por ter as FE uma característica reguladora, reiteradamente os autores as definem pela similaridade do executivo de uma empresa ou o regente de uma orquestra na performance da atividade cerebral humana.
As habilidades das funções executivas fazem com que o homem dê respostas se adaptando aos estímulos notados além de prever consequências e flexibilizar alterações de planos de ação. Tem seu desenvolvimento pleno apenas nos seres humanos e envolvem principalmente o córtex pré-frontal do cérebro. O desenvolvimento da FE dar-se-á dos 12 meses de vida até os 20 anos de idade, quando após estabilizam-se e começam a declinar, porém estudos mostram o desenvolvimento intenso entre os seis e oito anos[3][4]. O processo duradouro de maduração faz com que a criança interaja com seu meio o que esculpi as redes neurais que amparam a performance executiva.
Alguns estudos sugerem a divisão das funções executivas em diferentes aspectos assim como em outros a sugestão é da existência de fatores separados (controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade mental) a depender do número e tipos de testes usados além da idade dos participantes[5].
Instrumentos neuropsicológicos podem ser usados para avaliar as FE, tanto as simples quanto as complexas, além dos chamados testes ecológicos que objetivam avaliá-las em contexto de tarefas do dia a dia.
Inicialmente as FE foram estudadas pela neuropsicologia como um construto singular, porém pesquisas mais atuais visualizaram a conveniência na fragmentação em segmentos como memória de trabalho, atenção seletiva, controle inibitório, flexibilidade e planejamento[6]. Para isso é primordial se ter instrumentos de avaliação neuropsicológica e neuropsicopedagógica satisfatórios. Assim busca-se o progresso em testes para avaliar os componentes das FE, bem como elaborados estudos para averiguar sua exatidão e encontrar comprovações de eficácia, particularmente observando sua ligação com sintomas de desatenção e hiperatividade, fatos geradores da dificuldade de aprendizagem.
Fuster postulou que a função executiva age por meio de redes neurais interativas e sobrepostas, distribuídas nos córtices de associação (precipuamente o córtex pré-frontal). Essas redes, tituladas cógnitos, suprem o ciclo percepção-ação, formando assim as unidades básicas do processamento executivo. [7]
Para uma abordagem unicamente didática, a função executiva de integração temporal do córtex pré-frontal pode ser subdividida em três funções cognitivas: ajuste preparatório, controle inibitório e memória de trabalho. Uma verificação psicológica e fisiológica da performance das três regiões anatômicas pré-frontais (lateral, medial e orbital) gera o paralelismo topográfico das funções cognitivas: as três regiões pré-frontais estão envolvidas em um ou outro aspecto da atenção; a região medial e o giro cingulado anterior estão envolvidos na movimentação e na motivação, a região lateral se relaciona com o ajuste preparatório e com a memória de trabalho, e a região orbital (e, de certa forma, também a medial) se relaciona com o controle inibitório de impulsos e interferências[8].
Os diversos estudos da MT abordam vários recursos empíricos e teóricos. Mesmo havendo uma heterogeneidade o predomínio teórico concorda que a MT seja um sistema de atenção de capacidade limitada, complementado por sistemas de armazenamento localizados mais perifericamente[9]. Neste contexto, Fuster expõe que a MT se traduz basicamente na ativação transitória de uma rede cortical amplamente distribuída (cógnitos). Sua posição é embasada no fato de que na retenção em curto prazo de uma apontada informação sensorial para uma ação perspectiva, neurônios dentro dessas áreas sensoriais do córtex sustentam a ativação. Além do mais a ativação neuronal sustentada simultaneamente em diversas áreas do córtex pode ser produzida pela MT em virtude de um estímulo específico. [10]
Considera-se na atualidade que a MT é composta por quatro componentes: um executivo central, uma alça fonológica, um esboço visuoespacial, e um buffer episódico [11].
O executivo central tem a responsabilidade de trabalhar a atenção seletiva, a flexibilidade mental, a seleção e execução de planos e estratégias, além da alocação e evocação de recursos na própria MT e na memória de longo prazo.
A alça fonológica conserva informações verbais e acústicas através de armazenamento interino, que são mantidos por segundos, e reutiliza essas informações através de um subcomponente – a alça articulatória. Assim, sinais de memórias podem ser restaurados e rearticulados por tempo limitado já que à medida que a quantidade de itens simulados aumenta há perda do primeiro antes que seja recordado. A alça fonológica é primordial para a concatenação do discurso e para o entendimento da fala, pois para se entender o contexto de um evento ouvido é necessário assimilar a construção do que foi falado.
Igualmente ao seu análogo verbal acima, o esboço visuoespacial possui uma eficácia de retenção que se limita a três ou quatro objetos, pode-se postular que o esboço visuoespacial participe na obtenção do saber significativo relacionado à forma ou ao modo de usar os objetos. Estudos mostram que o esboço visuoespacial pode ter importância também na percepção de sistemas complicados, além de ser essencial à leitura a fim de que, para compreensão cerebral, este preserve as quatro ou cinco últimas palavras lidas o que é elementar para o entendimento de um texto.
A fim de preencher o hiato existente entre os dois componentes da MT citados e a memória de longo prazo, foi incluído ao modelo o buffer episódico. É um sistema de armazenamento com capacidade limitada que possui a finalidade de agregar as informações visuais, verbais e da memória de longo prazo em determinado episódio. O buffer episódico é responsável por trazer à tona as memórias para associá-las ao que está sendo visto e ouvido gerando uma nova informação.
A memória de trabalho, exigência capital para os processamentos de leitura, linguagem e pensamento, é um sistema que processa de forma efêmera e instantânea as informações. Sendo assim, para teste da MT deve-se averiguar a capacidade de reter parca informação por curto período de tempo. Mesmo sendo a MT necessária à integração temporal, que tipifica a função executiva, vale lembrar que esta é muito mais complexa do que a MT e para ser testada deve-se usar, nas avaliações, a realidade das ocorrências para o processo temporal total [12].
Certas pesquisas geram uma desordem conceitual e problemas na metodologia de testes ao considerar a função executiva e a memória de trabalho iguais, pois os testes elementares de memória são falhos para avaliar a função executiva como um todo[13].
Para que se possa entender por que a memória de trabalho influencia o processo de aprendizagem deve-se, primeiramente, conhecer esse processo.
A aprendizagem é uma antiga função dos neurônios numa abordagem filogênica, partindo do princípio que os experimentos iniciais foram em um molusco e determinaram as bases moleculares para tal, o que deu ao cientista Eric Kandel o prêmio Nobel (aplysia sp.)
Um dos conceitos de aprendizado diz ser uma mudança de comportamento ocorrida em consequência a uma imposição do ambiente. Essa mudança tem como principal característica a informação adquirida, que nos animais se dá pela quantidade de estímulos, enquanto nos seres humanos está intrinsecamente envolvida com a emoção e a motivação[14]. Contudo, identificam-se duas modalidades de aprendizado tanto em animais quanto em humanos: o aprendizado não-associativo (habituação e sensibilização) e o aprendizado associativo (condicionamento). O condicionamento pode ainda ser o condicionamento clássico, aprendizado em resposta a estímulos precedentemente ineficazes[15], ou o condicionamento operante com a utilização de reforço ou punição para aprendizagem de um novo comportamento[16].
Estudos mostram que a diferença no aprendizado de diversos animais é a habilidade de preservar e recordar os dados retidos, isto é o que particulariza o aprendizado são os sistemas de memória e como eles atuam diante das imposições do ambiente. Com efeito, a neurociência com resultados experimentais mostra que redes neurais de excessiva plasticidade, dinâmicas e mutáveis organizam-se em decorrência dos estímulos externos a fim de permitir aos humanos uma capacidade de aprendizagem e superação maior do que este imagina possuir[17][18]. Esse potencial adaptável, intrínseco e imediato que possui o cérebro humano serve como alicerce para sustentação teórica da aprendizagem na criança [19].
Uma provável elucidação para os déficits de aprendizado em crianças, jovens e adultos seria a de que para relembrança de memórias é imprescindível a laboração da função executiva no trato do indivíduo com o utensílio, em um olhar construtivista para a criança assimilar, guardar, e saber relembrar, uma nova caracterização se faz mister, a coordenação continuada das memórias formadas anteriormente, para esculpir e incorporar os novos pontos de vista [20][21][22][23].
Há ainda estudos que levantam a probabilidade de que estruturação das habilidades cognitivas ocorram entre os períodos do pensamento dos dois a sete anos da criança que seria o pré-operatório e o dos sete aos onze anos, conhecido como período operatório[24] com a ocorrência da vagarosa evolução na mielinização e maduração do córtex pré-frontal. Na concepção interacionista[25] a capacidade de combinar a conexão entre as memórias constituídas com os dados do ambiente seria da função executiva por intermédio da evolução da interação social e do contato interpessoal[26][27].
Alguns estudiosos sugerem fragmentar os componentes das funções executivas em “frios” e “quentes”, classificando como componentes “frios” aqueles envolvidos na lógica sem a intervenção condicionante da emoção, exemplificados pelo planejamento, sequenciamento, inibição, flexibilidade cognitiva dentre outros. Em contrapartida os componentes “quentes” estariam correlacionados intrinsecamente com o ajustamento de comportamentos sociais, resposta a conflitos com envolvimento emocional e interpessoal, além de comportamentos nos quais estejam em lide reforços e punições[28][29][30].
Para que se entenda como e porque a MT influência o processo de aprendizagem é necessário entender melhor esse processo.
A leitura e a escrita são funções heterogêneas e tem na sua composição diversos sistemas correlatos onde qualquer funcionamento irregular pode causar deformação no processamento cognitivo de aprendizagem, mais conhecido como transtorno de aprendizagem. Logo, tem-se o transtorno de aprendizagem como uma anomalia neurologia ou hereditária causada por uma performance mental anormal, diferentemente da dificuldade de aprendizagem que poderá ter como fundamento vários fatores como: os indivíduos aprendendes, o docente, a essência pedagógica, a sistemática de docência ou o ambiente social e físico da escola.
As primícias do conhecimento do composto de escrita alfabética constatam ter as mesmas sustentações para leitura ou para a escrita, ou seja, faz com que a criança rogue pelas competências metalinguísticas que envolvem atenção, associação, processamento, armazenagem e recuperação de dados. Tudo isso também exige o envolvimento do vocabulário mental, da memória de trabalho e dos processamentos visual e auditivo.
Em uma explanação contextual vejamos a memória e a cognição com suas implicações na aprendizagem.
O modelo de Memória de Trabalho (MT), conhecido como memória operacional, foi proposto em 1974 por Baddeley e Hitchem em substituição ao conceito de memória de curto-prazo. Com o novo entendimento de um processador ativo habilitado a manusear um aglomerado restrito de dados por um transitório intervalo temporal ao invés de um simples armazenador temporário. [31]
A MT é imprescindível na função cognitiva cotidiana tal qual na performance acadêmica, por isso se torna valorosa a análise de seu desenvolvimento através de estudos que ajudem a entender mais detalhadamente as funções e disfunções ligadas a aprendizagem.
A memória de trabalho, estabelecida com um agrupamento de conteúdo restrito que faculta a retenção transitória e a coordenação de dados, tem como atividade precípua preservar dados trabalhados em um pequeno lapso temporal. A MT se distingue da memória de curto prazo por beneficiar o uso dos dados e não somente o tempo como elemento decisivo para a conservação ou eliminação dos dados[32].
Entender a evolução da memória de trabalho é desafiador, pois mesmo com a aparição de instrumentos e tarefas canalizadas para o estudo da MT, não se tem, até então, procedimento distinto para cada um dos seus integrantes.
O estudo da memória de trabalho torna-se desafiador por ter limites bem próximos a outras habilidades cognitivas como a atenção seletiva, o controle inibitório e a flexibilidade cognitiva, o que complica o detalhamento para análise de cada dessas atividades. A tarefa fica ainda mais trabalhosa em se tratando do desenvolvimento dessas habilidades em crianças, tendo em vista a progressiva evolução dessa fase da vida humana.
A memória de trabalho é extremamente importante na evolução da criança em suas atividades escolares, porém estudos demonstram a presença de fundamentos antecessores e contornos incipientes dessa atividade cerebral já na primeira infância, ou seja, em reações facilmente observadas na ação de bebês[33][34].
Conforme ocorre a evolução, existe o avanço intelectual da criança como um todo, com a mudança principalmente, no que tange a MT, do aumento da produtividade funcional e da agilidade na compreensão de dados, o que permite a criança lidar com mais dados simultaneamente[35].
A memória de trabalho executa uma função elementar em várias formas de percepções heterogêneas como aprendizagem, raciocínio e compreensão de linguagem. Por isso imperfeições nesse composto terão consequências negativas na aprendizagem, envolvendo a leitura e compreensão de textos assim como na solução de enigmas matemáticos. Consequentemente, o funcionamento inadequado de partes integrantes da MT tem relação estreita com as complicações no aprendizado e a reduzida produtividade escolar[36].
Há de se ressaltar a imprecisão na fronteira entre memória de trabalho, de curto e de longo prazo. A essência da memória de trabalho consiste em um “espaço de trabalho” limitado, que pode ser particionado entre as necessidades de armazenamento e controle de processamento[37]. Mesmo possuindo a memória uma capacidade limitada é realizável a ação simultânea de armazenamento e processamento, ainda que com maior tempo ou menor precisão a depender da tarefa a ser executada pelo indivíduo. Alguns estudos alegam não ser conveniente a afirmativa de que o processamento e armazenamento repartam espontaneamente o espaço de trabalho, já que processamento e armazenamento não se separam com simplicidade, além do que se privilegia em dada tarefa irá depender dos objetivos desta e do indivíduo[38].
As consequências do aprendizado de leitura incidentes na memória e na cognição estão distantes de ser integralmente assimiladas, porém com resultados oriundos de análises comportamentais e de neuroimagem tem sido elevada a evolução na compreensão desses elementos de funções neurais.
Pode-se afirmar sobre o desempenho de escolares que as lacunas no processamento cognitivo, linguístico, auditivo e visual terão como consequências ocorrências do transtorno de aprendizagem, pois essa alteração prejudicará alguns acionamentos cognitivos e, por conseguinte a aprendizagem de sistemas de escrita com base alfabética que possui em seu cerne as capacidades de processar, armazenar e recuperar informações.
Para que se entenda como minimizar as dificuldades de aprendizagem de crianças em idade escolar como foco da Memória de trabalho é necessário entender como ocorre a neuro plasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso para alterar sua estrutura e função ao longo da vida, em resposta à diversidade ambiental. A neuroplasticidade ou plasticidade neural, outorga aos neurônios a regeneração anatômica e funcional, gerando novas ligações sinápticas. Esta competência adaptativa do sistema nervoso concede ao cérebro a aptidão de recuperar-se dos transtornos e lesões. A plasticidade sináptica é conquistada através de práticas inéditas e aprendizagens onde há o reforço de rotas exercidas pelas vias neurais de neurônios interligados que tem suas conexões reforçadas através da repetição de práticas capazes de gerar novos conhecimentos. Nesse ponto o treinamento cognitivo aparenta ser perfeito para incitar a plasticidade cerebral por estabelecer nova circuitaria neural devido ao foco nas conexões sinápticas, contudo evidências científicas demonstram a falta real de vantagem no comportamento o que, portanto, não permite superestimar tal prática[36].
O treinamento da memória de trabalho ou memória operacional tem sido motivo de estudos continuados graças ao desenvolvimento da tecnologia de ressonância magnética funcional que permitiu uma nova perspectiva sobre o funcionamento e as reações cerebrais. Segundos dados do Instituto Conectomus, pesquisadores de várias universidades apontam a eficácia em grupos diversos como crianças submetidas à quimioterapia e vítimas de traumatismo crânio encefálico[39]. As pesquisas exibiram que uma memória operacional saudável está intimamente ligada à aprendizagem, ao raciocínio, as prioridades organizacionais, a administração do tempo, a continuidade da atenção e ao controle do stress. Tudo isso os levou ao entendimento que a exiguidade na memória operacional pode ser o centro das disfunções de atenção e dos obstáculos de aprendizagem[40].
O treino cognitivo tem despertado o interesse da literatura científica predominantemente devido as afirmativas recorrentes sobre a plasticidade da memória de trabalho[40]. A memória de trabalho tida como a capacidade de armazenar e manipular a informação por curtos períodos de tempo é um importante preditor do desempenho escolar, pois envolve também o raciocínio, a solução de problemas matemáticos, a manutenção do foco de atenção, a tomada de decisões, a leitura e o pensamento abstrato[9][41]. O aumento considerado das pesquisas científicas é devido às permanentes afirmativas de plasticidade da Memória de Trabalho, principalmente a fim de saber se treinar a MT promove mudanças na inteligência fluída. Tal interesse é maximizado considerando-se ganhos analisados nos programas de treinamento de MT que podem ser transferidos para sistemas cognitivos não propriamente envolvidos nesses programas como atenção, funções executivas ou inteligência fluída, porém de forma geral os estudos não apontam ganhos evidenciados na inteligência fluida oriundos da treinagem da MT o que recomenda cautela no uso clínico de tais programas de treinamento.
Após pesquisas em diversos artigos sobre a definição da Memória de Trabalho dentro do escopo das funções executivas, com a atuação no desempenho cognitivo e, por conseguinte a influência que esta pode exercer no processo de aprendizagem, conclui-se a que a MT possui crucial importância no processo de aprendizagem e por conseguinte nas dificuldades oriundas desse processo já que são observados resultados positivos quando esta é bem trabalhada, também se pode observar que os estudos voltados para a MT a fim de minimizar dificuldades na aprendizagem escolar de crianças ainda é bem incipiente e necessita ser aprofundado com o aumento de atividades e testes, pré e pós trabalhos, com grupos pesquisados que permitam garantir a eficácia de uma evolução duradoura e permanente com o envolvimento da neuroplasticidade e o treino cognitivo.
É fato que, apesar da relevância da memória de trabalho, existe uma carência de estudos que qualifiquem os testes (instrumentos de avaliação) em função do sexo e idade e estes são ferramentas auxiliares importantes na identificação e desenvolvimento de tais funções cerebrais intrinsecamente relacionadas a atenção e ao processo de aprendizagem.
Portanto é de suma importância o estudo mais aprofundado da MT e demais funções executivas com os subsistemas atencionais a fim de se identificar déficits nesses sistemas assim como alterações circuitaria que expressem alterações nessas funções.
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