ENTRE STALONE E VAN DAMME ( ou, meu filho é um panaca)
Francisco B. Asumpção Jr.
Quando um filho nasce, nossas expectativas são sempre imensas. Na melhor das hipóteses gostaríamos que êle fosse, no mínimo, inteligente, bonito, rico e famoso (não necessáriamente nessa ordem). E claro, em uma cultura como a nossa, "hay que ser macho..."
Vai daí que, um belo dia, descobrimos que aquêle nosso pimpolho, o qual imaginávamos que seria, no mínimo, um concorrente do Rambo, apanha de todos os coleguinhas na escola, não sabendo sequer reagir.
Antes que seu mundo desabe e você pense que a única saída é uma temporada intensiva na academia dos campeões do ringue, vamos refletir um pouco sobre o fato.
A criança estabelece seus relacionamentos, já ao redor de 24 a 36 meses de idade, não somente em função de suas características pessoais mas também em função do desenvolvimento de dois tipos de comportamentos, os de solicitação e os de oferta, ambos profundamente influenciados pelo ambiente que a circunda.
Alguns estudiosos, ao observarem crianças em idades semelhantes, conseguiram estruturar grupos, conforme os comportamentos que elas apresentavam.
Assim, esses grupos iam desde aqueles em que a criança liderava, de forma harmoniosa, apaziguando os comportamentos de solicitação e de demanda dos demais membros, até aqueles em que ela se isolava durante longos períodos, com pequenos comportamentos de ligação.
Entre esses dois grupos, toda uma gama de condutas relacionais se desenvolve, passando-se, inclusive, por aquelas lideranças agressivas, que se mantém à custa da força e do terror (como você pode observar, isso não é privilégio dos adultos, podendo já ser observado desde tenra idade).
Assim, sob o ponto de vista descritivo, seu filho pode estar em um desses vários segmentos, indo desde a possibilidade de uma liderança capacitada, ou dominadora através da força, até a submissão total ou o isolamento.
O mais interessante, no entanto, é que, nesses estudos, quando se observavam modificações significativas no comportamento desas crianças, eram observadas também modificações significativas no comportamento familiar, principalmente da mãe (veja bem, não é porque a mãe é a eterna responsável por todos os problemas do filho, afinal o que seria dos psiquiatras se não fossem as mães...), isso porque, em nossa cultura, ela é a maior responsável pela educação dos filhos, uma vez que ao pai são feitas outras exigências.
Dessa maneira, os comportamentos que a criança apresenta não são de sua responsabilidade exclusiva sendo, na maioria das vezes ( a excessão já se encontra, quase sempre, no território da psicopatologia), decorrentes do aprendizado e do reforço recebido dentro de sua própria casa.
Dessa maneira, se seu filho não apresenta nenhuma vocação para Rambo, antes de mais nada cabe perguntar se não é você que tem esse desejo, até por projeções de suas próprias dificuldades, ou mesmo qual o tipo de educação e de ambiente em que ele está sendo criado.
Nunca se esqueça de que, se os aspectos genéticos são de fundamental importância no desenvolvimento do indivíduo, o ambiente ( e, para a criança, a família) é fundamental na aquisição de condutas e valores.
Dessa maneira, antes de analisar o fato de modo linear, pense. E, se preciso, não deixe de procurar algum profissional que possa lhe esclarecer melhor a questão.