A questão da morte na criança
Francisco B. Assumpção Jr.
A noção de morte caminha par e passo com o desenvolvimento infantil e com a capacidade da criança em avaliar a questão do real.
Inicialmente, a criança não tem condições cognitivas de avaliar a si mesmo e a seu meio ambiente, dependendo das referências passadas pelo mundo adulto.
Aos poucos, a partir das experiências iniciais, constrói suas primeiras noções de si mesma (consciência de Eu) e de mundo, a partir da contraposição entre ambos.
Com o advento do pensamento pré-lógico ( a partir dos dois anos de idade), a criança passa a estruturar categorias, ainda indefinidas, de eu e de mundo, porém sem noções de realidade .
Dessa maneira, aqui a noção de morte é mutável e transitória, passível de reversibilidade e, principalmente, caracterizada pelo afastamento do indivíduo que morre.
Nessa idade, pelo próprio modelo de pensamento, centrado em experiências pessoais, a criança vê a morte como a ida da pessoa envolvida para algum lugar que terá as características que os valores familiares e a cultura irão moldar.
Falar da morte nessa idade, significa, entre outras coisas, a compreensão do momento evolutivo e a impossibilidade da criança ter a dimensão da perda, em níveis absolutos. Entretanto, o conversar significa preparar essa criança para incorporar um fenômeno de extrema importância em sua vida futura.
Após os 6-7 anos de idade, a criança já tem categorias físicas de pensamento muito bem definidas, sendo capaz de perceber noções claras de realidade e de tempo.
Dessa maneira, o fenômeno morte passa a ter a dimensão de irreversibilidade, com a perda definitiva da pessoa.
Aqui a criança já tem condição de maiores explicações e deve ser amparada de modo mais eficiente uma vez que a noção de separação faz-se de maneira nítida.
Finalmente o adolescente já dá a morte seu significado simbólico e, embora modelado pela cultura, esse significado terá características próprias e pessoais.
De qualquer maneira, falar sobre a morte com a criança significa, respeitando seu momento de desenvolvimento, esclarecê-la sobre um fenômeno característico da vida que é o fim do ciclo existencial e que ela, apesar das dificuldades culturais que temos em negá-lo, deverá obrigatoriamente aprender a conviver para que possa definir de maneira mais adequada, o significado de sua existência durante todos os momentos de sua vida.