O BRINCAR INFANTIL
Francisco B. Assumpção Jr.
Durante o primeiro ano de vida , a criança brinca básicamente com seu próprio corpo a partir da necessidade de reconhecê-lo e diferenciá-lo das outras pessoas.
Assim, surgem jogos repetitivos com as mãos e pés, bem como atividades ritualísticas de balanceios de corpo e cabeça.
Ao final do segundo ano entretanto, ela passa a fazer aquilo que chamamos de jogos de imitação onde ela experimenta atividades que irá desenvolver mais tarde, “copiando” atos do cotidiano. Assim, é muito freqüente que, ao chegarmos em casa, encontremos o filho deitado, de olhos fechados e que, ao ser questionado, responda que “está fingindo que está dormindo”.
Até este momento, a utilização de material lúdico é sempre com características sensoriais e, práticamente, sem significado.
A partir dos dois anos a situação já muda de figura.
Com o advento da função simbólica, a partir da qual a criança é capaz de representar através de um símbolo, um fato, um objeto ou uma pessoa, ela passa a ter aquilo que chamamos de jogo simbólico através do qual não somente reproduz, mas também “corrige” atitudes e atividades do cotidiano.
Assim, quando a menina de 3-4 anos de idade brincando com sua boneca, diz a ela para ir dormir senão apanha , porém, após pausa, continuar dizendo que “como foi boazinha, poderá continuar assistindo mais um pouco de TV”, não somente está reproduzindo as atitudes da mãe na primeira parte do diálogo, como está alterando essa conduta de forma que lhe seja tolerável.
Isso porque ela, como qualquer ser vivo, quer ser satisfeita, porém ela entra em um mundo bastante estruturado onde, através do processo educativo, tem que se adaptar de modo a respeitar os valores estabelecidos socialmente.
Entretanto, como as noções de real e imaginário ainda não estão definidas, o brincar serve para que ela adapte sua vontade às exigências sociais.
Da mesma maneira, exatamente porque o processo de socialização também ainda se encontra em fase de estruturação, o brincar permanece num momento onde as crianças brincam uma ao lado da outra, com pequena interação e com os jogos ocorrendo de forma paralela e sem regras.
São típicos desse período os jogos com os quais a criança brinca isoladamente sem grandes interações interpessoais.
Ao redor da idade escolar, entre 6 e 7 anos de idade, o panorama se delineia de maneira diferente ,com os jogos se estruturando de modo concreto, definindo-se regras que são um treinamento para o convívio social e, também são de caráter construtivo, uma vez que a sua capacidade lhe permite transformar um projeto bidimensional ( planta de um carrinho ou de uma casinha) em um objeto tridimensional real e concreto.
Assim, neste momento os brinquedos já mostram uma adequação bem grande, com as regras sendo claras e obedecidas. ë fácil se observar isso quando vemos um grupo de garotos de 8 anos jogar futebol, divididos em dois times e respeitando as regras conhecidas do jôgo. Da mesma maneira, brinquedos como o Lego ou outros jogos de montar são bastante interessantes uma vez que permitem à criança o desenvolvimento de sua criatividade e de sua imaginação.
Dessa maneira, algumas considerações devem ser feitas.
Os brinquedos, apesar de toda a massificação a que são submetidos, representam um elemento importante do universo infantil, servindo para que a criança interaja, através dele, com seu universo criando-o simultâneamente.
Brinquedos muito sofisticados e muito estruturados não são, obrigatoriamente os melhores para isso, uma vez que são construídos visando muito mais aspectos estéticos e sedutores em relação ao adulto que em consideração às necessidades da própria criança. essa é a razão pela quial muitas vezes, mesmo com um brinquedo bonito e caro a sua disposição, prefere utilizar material não estruturado, sucata melhor dizendo, com as quais imagina jogos e objetos que lhe servirão para essa construção.
Assim, mesmo sabendo que apesar de toda a publicidade, a criança só utilizará por mais tempo (depois de passada a curiosidade da descoberta) brinquedos que realmente tenham a ver com seu desenvolvimento, não podemos esquecer que o brincar é algo muito sério que possibilitará o desenvolvimento e a adequação da criança com seu ambiente social e familiar.