A CRIANÇA GORDA
Francisco B. Assumpção Jr.
Em uma sociedade onde o ser magro é valorizado e estimulado, ter um filho gordo pode ser considerado, não somente desvalorizante para a criança como também fator de intensa preocupação para os pais.
Entretanto, inúmeros podem ser os motivos pelos quais uma criança engorda e torna-se obesa.
Em primeiro lugar, causas físicas, incluindo alterações endócrinas e metabólicas devem ser descartadas.
A seguir, alguns quadros genéticos podem ocasionar obesidade e hiperfagia, devendo ser verificados. Neste grupo encontram-se Síndromes como Prader Willy ou Laurence-Moon, todas ligadas, habitualmente ao retardo mental, com obesidade associada.
Mais freqüentemente entretanto, temos essa obesidade ligada a mecanismos psíquicos, vinculados aos próprios relacionamentos estabelecidos pela criança em seu ambiente. Nesta categoria vamos encontrar os quadros depressivos e ansioso que podem, freqüentemente, apresentar aumento na ingestão alimentar e, consequentemente, aumento de peso.
A conduta alimentar tem ainda aspectos tão importantes quanto o aporte proteico-calórico. Assim, para a criança, envolve aspectos de estimulação sensorial (em função de sabor, textura, odor e aparência dos alimentos) e social ( uma vez que o momento da alimentação é um momento onde se estabelecem relacionamentos familiares e parentais).
Paralelamente, para os pais, principalmente para a mãe, o alimento reveste-se de um valor simbólico onde ela demonstra sua dedicação e, mesmo desempenho relacionado com a criança. Assim, o alimento passa a permear o relacionamento mãe-filho, criando-se um verdadeiro círculo vicioso no qual a mãe aumenta o aporte, como característica de seu cuidado e o filho passa a ingerí-lo para que seja aceito pela genitora, concretizando-se assim uma relação dual permeada pelo alimento.
Dessa maneira, juntamente com a obesidade, estruturam-se mecanismos de dependência que permanecerão presentes nessa relação, manifestando-se no decorrer de todo o cotidiano da criança.
Assim, mais do que um problema puramente de ingesta, a obesidade infantil pode incluir elementos que vão desde doenças orgânicas graves até refletir alterações da dinâmica familiar, principalmente da relação mãe-filho, passando por mecanismos ansiosos e depressivos.
Seu diagnóstico e tratamento envolve portanto um sem número de fatores que devem ser exaustivamente pesquisados para que não se cometam enganos, desnecessários e perigosos.