Muitas crianças agressivas ou com mau comportamento apresentam, na verdade,
um sofrimento psíquico. Ao contrário do que se pensava, os transtornos mentais podem
iniciar-se já na fase infantil, sendo então bastante devastadores na vida do indivíduo. É incomum que a criança consiga verbalizar seu sofrimento. Ela ainda não possui
linguagem e pensamento amadurecidos para isso. Isto acontece porque a criança encontrase
ainda em DESENVOLVIMENTO e, a imaturidade dos seus sistemas nervoso e emocional
faz com que ela tenha muito mais manifestações corporais do que verbais. As crianças podem tornar-se agressivas, terem queda de seu rendimento escolar
ou mesmo mudarem sua “personalidade” em decorrência de um estresse emocional ou até
mesmo um transtorno psiquiátrico mais sério. O mau-comportamento deve servir de alerta aos pais, para procurarem ajuda
para seus filhos. O diagnóstico e tratamento precoces podem evitar isto! Costumamos graduar o mau-comportamento de crianças e adolescentes segundo
a seguinte escala: 1. desobediência; 2. mentira; 3. roubo; 4. cabular aula; 5. fuga; 6. destruição; 7. incendiarismo; 8. abuso de drogas; 9. crueldade; 10. violência. Esta escala descreve uma evolução do mau-comportamento em termos de
gravidade e de evolução ao longo da vida, ou seja: crianças pequenas que começam a
apresentar desobediência, poderão usar drogas e cometer atos violentos na adolescência. 1 - Desobediência – desobedecer significa contrariar a autoridade do outro,
quer sejam os pais, professor, etc. Ela pode se manifestar de diversas maneiras: - passividade: a criança ouve, fica quieta e faz o que quer; - enfrentamento pela negativa: “não quero”; “não vou”; - negativismo, ou seja, agir pelo não: faz exatamente o contrário do que lhe foi
solicitado. Muitas crianças pequenas desobedientes apresentam, na verdade, o que
chamamos Transtorno Opositor Desafiante: é um padrão constante e repetitivo de
enfrentamento e desobediência, que acaba por interferir no desenvolvimento da
personalidade da criança, tornando-a susceptível a desenvolver comportamentos mais
sérios na adolescência/ vida adulta, como uso de drogas ou delinqüência. 2 - Mentira – é uma atitude voluntária de falsificar a verdade. Começa a
aparecer em geral, após os 3 anos de idade. Antes disso, o que temos são fantasias e não
mentiras propriamente ditas. Existem 3 principais motivos que levam uma criança a mentir: - quando teme alguma coisa (apanhar, por exemplo): quando as crianças não têm
muita liberdade para expressarem seus sentimentos ou ações (um ambiente muito
repressor e/ou violento), acabam aprendendo a mentir como forma de receberem menos
punições; - quando quer alguma coisa: ambientes que nunca gratificam a criança podem
fazer com que ela passe a mentir ou até simular doenças, para conseguir o que quer; - quando quer mostrar que conhece a falsidade: pessoas que cuidam de crianças
(pais, cuidadores, professores, etc) e que possuem o hábito de mentir, inventar histórias,
prometer coisas que depois não cumprirão, podem fazer com que as crianças passem a
apresentar este mesmo tipo de comportamento, como espécie de imitação. 3 - Roubo – a partir dos 2 anos, a criança passa a ter noção do “meu” e do “teu”;
dos 3 para 4 anos, ela passa de fato a ter noção de propriedade e, portanto, todo roubo que
ela passar a realizar a partir daí, será consciente e acompanhado da noção de culpa. Devemos avaliar o que a criança rouba: é menos grave roubar um objeto bonito e
que lhe chame muito a atenção do que roubar um objeto do cotidiano, que não tenha nenhum
atrativo visual. Assim, não devemos medir a gravidade do ato de roubar de uma criança pelo
valor do objeto mas sim, pela compreensividade de aquele objeto ter despertado o
interesse e a curiosidade daquela criança. Assim, roubar um lápis pode ser mais grave do
que roubar um enfeite qualquer de cristal. 4 - Cabular aulas – mais comum em crianças maiores, a partir do 6º. ano (antiga
5ª. série) do ensino fundamental. Esta “transgressão” pode estar associada a uma série de
fatores: impaciência em permanecer na sala de aula; não acompanhamento do conteúdo
escolar; seguir o grupo; sentimentos de inadequação com relação aos outros colegas de
classe, entre outros. O ato de cabular aula, isoladamente, pode não ser nada de mais. Faz parte do
desenvolvimento normal, principalmente na fase da adolescência, apresentar este tipo de
comportamento. Cabe aos pais e à escola investigar as possíveis causas do comportamento e
impedir novos episódios. Muitas vezes, entretanto, esta é a exteriorização de algum sofrimento psíquicoemocional
pelo qual a criança ou o adolescente estejam passando. A ajuda de profissionais
especializados nestes problemas e nesta faixa etária, poderá minimizar possíveis
conseqüências desastrosas para o futuro. 5 - Fuga – uma criança de 2 ou 3 anos pode já apresentar “escapadas” de casa:
sair para ir à algum lugar. Há uma finalidade consciente, mas não há ainda uma consciência
plena de “transgressão”. Na fuga propriamente dita, além de haver maior clareza, por parte da criança,
sobre seu “ato transgressor”, não há uma finalidade no comportamento em si. Neste
sentido, ele é muito mais preocupante e pode indicar presença de doenças psíquicas ou
emocionais na criança. 6 - Destruição – geralmente indica uma descarga de agressividade. A maneira
como o adulto lida com isso será fundamental para a evolução deste comportamento, que
poderá ser benigna, com sua extinção ou maligna, com evolução para comportamentos
delinqüênciais. Algumas doenças neurológicas ou psiquiátricas podem estar envolvidas e,
crianças que apresentam episódios de destruição muito intensos ou muito freqüentes
deverão ser vistas por um especialista. 7 - Incendiarismo – é a destruição pelo fogo. Pode iniciar-se numa criança,
apenas como forma de ela “medir” o seu poder. Mas pode evoluir de uma maneira bastante
negativa, como forma de ato vingativo, tornando-se assim um ato delinqüencial. Neste caso,
estará sempre ligado a aspectos de afetividade intensa (ódio, inveja, etc) e poucos
recursos para conter estes afetos. 8 - Abuso de drogas – as drogas alteram nosso estado de consciência e, em
geral, trazem sensações físicas agradáveis, razão pela qual seus usuários buscam repetir
seus efeitos, tornando-se assim dependentes. Em nosso meio, é cada vez mais precoce a experimentação de substâncias
ilícitas. No adolescente a experimentação, por si só, não constitui um comportamento
patológico; ela está incluída numa atitude global de busca por novas experiências que lhe
façam sentido, na construção de uma identidade. Entretanto, alguns fatores de risco estão
associados à manutenção deste uso: - A curiosidade natural do adolescente é um dos fatores de risco mais
importantes, posto ser o que o moverá para experimentar a substância, estando assim sob
risco de desenvolver dependência; - O fácil acesso às drogas e as oportunidades de uso; - Ser do sexo masculino (meninos experimentam mais do que as meninas); - Influência de modismos; - Condições familiares, tanto pelo aspecto genético (filhos de pais dependentes
apresentam 4 vezes mais chance de o serem também) quanto pelos aspectos ambientais,
fortemente relacionados ao início do uso; - Uso de drogas por pais e/ ou amigos; - Relacionamento ruim com os pais; - Fatores internos do adolescente, como insatisfação e não-realização em suas
atividades, insegurança, baixa auto-estima e sintomas depressivos; - Baixo desempenho escolar. O uso de drogas afeta diretamente o desenvolvimento da criança e do
adolescente, principalmente com relação às funções cognitivas (capacidade de raciocinar,
aprendizagem, etc), capacidade de julgamento, humor e os relacionamentos interpessoais.
Quanto mais precoce o início do uso, maiores serão as deficiências nestas áreas. 9 - Crueldade – aqui, o impulso destrutivo não é movido pela emoção violenta,
mas sim pelo prazer que o indivíduo sente em ver o sofrimento alheio, quer seja de outra
pessoa ou um animal. Quanto menor a idade da criança, mais grave serão as conseqüências
deste tipo de atitude em seu desenvolvimento. 10 - Violência e conduta anti-social – crianças e adolescentes com
comportamentos violentos e “anti-sociais” recorrentes apresentam o que chamamos
“Transtorno de Conduta”. Dentre suas características, destacam-se: - tendência permanente para apresentar comportamentos que incomodam e
perturbam; - envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais; - não apresentam sofrimento psíquico ou constrangimento com as próprias
atitudes; - não se importam em ferir os sentimentos das pessoas ou desrespeitar seus
direitos; - não possuem capacidade de aprender com as conseqüências negativas dos seu
próprios atos. O transtorno de conduta está geralmente associado ao baixo rendimento escolar
e a problemas de relacionamento com colegas. É importante lembrar que crianças vítimas de violência podem apresentar
comportamentos anti-sociais como reação de estresse. O tratamento para todos estes transtornos acima citados requer, muitas vezes,
as abordagens psicoterápica, medicamentosa ou ambas. Sua duração é, em geral, bem menor
que o tratamento do adulto e, quanto mais cedo for iniciado, menor a chance de evoluir para
um transtorno crônico na vida adulta, com necessidade de tratamento para o resto da vida. * Psiquiatra da Infância. Mestranda do Instituto de Psicologia da USP
A alteração comportamental é uma das maneiras mais comuns de a criança
manifestar: tristeza, medo, ansiedade, inveja, baixa auto-estima, ou sofrimentos psíquicos
de outra natureza.
Site do PDD: http://disturbiosdodesenvolvimento.yolasite.com
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