http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/013.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E SUAS IMPLICÂNCIAS NO PROCESSO
DE DESENVOLVIMENTO POTENCIAL DE SUJEITOS COM CARACTERÍSTICAS
DE ALTAS HABILIDADES
Autores: Karine Sefrin Speroni1
Anelise dos Santos da Costa2
Bárbara Martins de Lima Delpretto3
Miriam de Oliveira Maciel4
Tatiane Negrini5
Orientadora Profª.Drª. Soraia Napoleão Freitas6
1 Autora. Acadêmica de Graduação em Educação Especial – Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:
kakasperoni@hotmail.com ou karinesperoni@gmail.com
2 Co-autora. Acadêmica de Graduação em Educação Especial – Universidade Federal de Santa Maria.
3 Co-autora. Acadêmica de Graduação em Educação Especial – Universidade Federal de Santa Maria.
4 Co-autora. Acadêmica de Graduação em Educação Especial – Universidade Federal de Santa Maria.
5 Co-autora. Acadêmica de Pós-Graduação em Educação Especial – Universidade Federal de Santa Maria.
6 Orientadora do Projeto. Doutora em Educação e Professora do Departamento de Educação Especial / UFSM.
soraianf@ce.ufsm.br
RESUMO
O presente estudo tem objetivo ressaltar a importância de um programa de
enriquecimento que promova o desenvolvimento tanto cognitivo quanto psicossocial de indivíduos
que possuem características de altas habilidades e, busca enfatizar, também, o importante papel
da família visto como primeiro ambiente social no qual estes indivíduos estão inseridos. Configura-se como pesquisa teórica que faz referência prática pedagógica vivenciada no ‘‘PIT - Programa
de Incentivo ao Talento’’, um projeto de extensão desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em
Educação Especial (GPESP), da Universidade Federal de Santa Maria e que visa, além de
promover metodologia adequada às necessidades destes indivíduos, realizar encontros com pais
destes alunos para auxiliá-los as necessidades educacionais especiais de seus filhos, fazendo com
que tenham entendimento à cerca da temática e os auxiliem no processo desenvolvimento global.
PALAVRAS –CHAVE: Educação Especial – Altas Habilidades – Inteligência Emocional.
Introdução:
É, atualmente, de suma importância realizar um trabalho de estimulação que vise
contemplar o desenvolvimento global de crianças e adolescentes que possuem altas habilidades.
Faz-se importante identificá-los, dessa forma, para que estes sejam encaminhados a um programa
de enriquecimento que os auxilie a desenvolver seu potencial criativo e, em especial, suas relações
intra e interpessoais (GARDNER, 1994).
Segundo a Política Nacional de Educação que descreve quem é o alunado de educação
especial, esta apresenta que:
“[...] É aquele que por apresentar necessidades próprias e diferentes
dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares
correspondentes à sua idade requer recursos pedagógicos e
metodologias educacionais específicas. Genericamente chamados de
portadores de necessidades educacionais específicas, classificam–se
em: portadores de deficiência (mental, auditiva, visual, física e múltipla),
(portadores de condutas típicas e problemas de conduta e portadores
de altas habilidades (superdotados)”. (MEC/SEESP, 1994, pág. 13).
Neste sentido é de suma importância que estes indivíduos que têm altas habilidades sejam
contemplados com programas de enriquecimento escolar para que desenvolvam seu potencial
criativo e as respectivas relações interpessoais (GARDNER, 1994). Buscando enfatizar o
atendimento adequado aos alunos com altas habilidades é que o projeto de extensão intitulado
‘‘PIT - Programa de Incentivo ao Talento’’, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Educação
Especial (GPESP) da Universidade Federal de Santa Maria, tem por objetivos desenvolver
atividades que propiciem a ampliação, o aprofundamento e o enriquecimento dos conteúdos
curriculares trabalhados pelas respectivas escolas dos participantes. Além disso, visa estimular
nestes alunos o autoconhecimento, o cultivo das relações sociais entre os pares, bem como um
convívio orientado para o alcance das metas comuns.
Segundo o pesquisador Rensulli (1998 apud Devalle , 2005), a pessoa que tem altas
habilidades é caracterizada pela tríade do anel: capacidade acima da média, comprometimento
com a tarefa e criatividade. Estes conceitos estão inter-relacionados, portanto :
“O comportamento superdotado consiste nos comportamentos que
refletem uma inteiração entre os três grupamentos básicos do ser humano
– sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou específicas acima da
média e elevados níveis de criatividade. As crianças superdotadas e
talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver este
conjunto de traços e que os aplicam a qualquer área potencialmente
valiosa do desempenho humano”. (RENZULLI e REIS, 1986, apud
MEC. Associação Brasileira para Superdotados, 2000, p.13)
Assim, a pessoa que tem altas habilidades encontra-se, segundo o pesquisador norte-americano, na tríade do anel que identifica comprometimento
com a tarefa, criatividade e
capacidade acima da média. Dessa maneira, os indivíduos que possuem altas habilidades
apresentam rapidez e facilidade para aprender, bem como, facilidade para abstração, associação,
análise e síntese. Além disso, apresentam exímia produção criativa, compreensões incomuns das
situações vivenciadas, de modo que também possuem talentos específicos como: esportes,
música, artes, dança, informática, área lógico-matemática, naturalística, entre outros.
No meio sócio-cultural, existem barreiras que inviabilizam o poder criativo dos indivíduos
que possuem características de altas habilidades e que são tanto culturais quanto individuais. De
acordo com Alencar (1995, apud MEC/SEESP,2007), tais barreiras podem gerar, no decorrer
do medo, da crítica e da baixa expectativa com relação a si mesmos, preferências como, por
exemplo, a de julgar idéias ao invés de gerá-las; do desconhecimento, por parte do indivíduo, de
seus próprios recurso internos; medo de arriscar e de fracassar; a dificuldade de reformular um
julgamento previamente formado a respeito de algo. Existem, também, barreiras de natureza
social existente, muitas vezes, na escola e na sociedade e que geram, nos indivíduo com altas
habilidades, dificuldades significativas para expressarem seus talentos, desejos e inspirações.
Entre os fatores sociais, Alencar (1995) exemplifica alguns, dentre eles: pressões sociais em
relação ao indivíduo que diverge da norma; a aceitação pelo grupo como um dos valores mais
cultivados; as expectativas com relação ao papel sexual, ou seja, há coisas que somente as
pessoas do sexo masculino fazem ou que somente as pessoas do sexo feminino podem fazer;
ênfase na razão e na lógica, desvalorizando-se a intuição e os sentimentos.
Através de vivência obtidas no referente projeto e considerando diversos estudos
realizados na área da inteligência emocional, pesquisadores enfatizam a importância dos fatores
emocionais e socias para a construção do potencial do indivíduo com altas habilidades. Sabe-se
que o autoconceito refere-se a imagem subjetiva que cada pessoa tem a respeito de si, assim
como a visão do outro sobre nós. Segundo Hater (1985, apud, MEC/SEESP, 2007, pág. 43), o
autoconceito é composto por múltiplas dimensões entendido em termos de domínios de
competência. Assim, a pessoa pode sentir-se competente e confiante em um aspecto e pode,
entretanto, não ter o mesmo sentimento em outro, sejam eles referentes à competência escolar,
aceitação social, competência atlética, aparencia física, comportamento e percepção global que
tem de si mesmo. Desta forma, de acordo com o modelo proposto, o auto conceito é composto
de várias dimensões interdependentes umas das outras.
Em acordo com Alencar e Virgolim (1993, apud MEC/SEESP, 2007 pág. 22) os anos
escolares são de grande importância para formação da imagem que o indivíduo tem de si, devido
as muitas trocas culturais proporcionadas pelo espaço escolar. Além das experiências diversas,
estes sujeitos podem atuar em suas próprias percepções e fortalecer atitudes e crenças,
propiciando o auto-conhecimento. Diante disso:
“os professores e os colegas, mesmo não intencionalemente, influenciam
diretamente na formação do autoconceito do aluno; sendo assim, este se
configura como contexto ideal para o professor ajudar o aluno a
desenvolver um autoconceito mais positivo, a conhecer seus talentos e
competências e propiciar-lhe reconhecimento como pessoa.” (Alencar e
Virgolin, 1993, apud MEC/ SEESP, 2007 p. 42)
Muitas vezes, no ambiente escolar, os alunos com altas habilidades na tentativa de
adaptar-se ao padrão de normalidade existente acabam por ignorar seu potencial criativo acima
da média e, por conseguinte, suas emoções. Segundo Goleman (1995), as emoções são de
ordem biológica mas são, entretanto, influenciadas ou despertadas pelo meio externo. Dessa
forma, cada emoção desempenha uma função específica em nosso organismo.
Para o estudioso Gardner (1995) as inteligências dependem de variáveis do contexto, da
cultura, da genética e das oportunidades de aprendizagem de uma pessoa, fazendo com que os
sujeitos manifestem suas competências em diferentes graus. Normalmente, segundo o autor, a
pessoa com altas habilidades não apresenta apenas um tipo de inteligência, mas uma combinação
de várias para desempenhar um determinado papel ou desenvolver algum produto
(MEC/SEESP,2007). Visando isso, Gardner caracteriza em sua obra “A Teoria das Inteligências
Múltiplas” (1995) diversas inteligências, entre elas, a inteligência intrapessoal e interpessoal.
Segundo o autor, inteligência intrapessoal é capacidade de auto-estima e automotivação, isto é,
saber lidar com as próprias emoções e de compreender o que se passa consigo e com o grupo o
qual está inserido. Essa é a habilidade pela qual os indivíduos analisam seu comportamento tendo
em vista suas limitações e compreendendo sua condição de diferente. No que diz respeito à
inteligência interpessoal, é a capacidade de perceber distinções nos outros, ou seja, possuir
sensibilidade com os indivíduos que fazem parte de seu grupo social. Essa inteligência abrange a
empatia, equilíbrio emocional, valores humanos, expressão dos sentimentos, motivação,
comunicação e também autonomia, reflexão e ação emancipatória.
O PIT visa, dessa forma, estimular o desenvolvimento global como um todo para que o
aluno com altas habilidades maximize suas potencialidades e conheça as demais áreas do saber.
Proporcionam-se, também, oportunidades de convívio com seus pares com a finalidade de
expandir estas relações interpessoais e planejar atividades que desenvolvam a maioria das áreas
do conhecimento e que venham de encontro com a proposta de auxiliar estes indivíduos em seu
processo de desenvolvimento, tanto racional quanto emocional.
Quando apresentamos os fatores que influenciam no desenvolvimento psicossocial do
indivíduo que tem altas habilidades precisamos ressaltar a importância que a família tem neste
processo. A família é vista como um dos primeiros contextos de socialização dos indivíduos, pois,
além promover o desenvolvimento primário da sobrevivência e da socialização da criança na
transmissão de aspectos culturais transmite, também, os significados sociais agregados ao longo
das gerações.
Segundo Winner (1998 apud MEC/SESSP,2007), a harmonia e apoio combinados com
estimulação e altas expectativas é o ambiente propício para o desenvolvimento do talento. Sabe-se que os pais ao se tornarem amigos, orientam e promovem um clima de cordialidade e de
confiança e de estímulo e auxílio aos filhos, o que influencia diretamente na auto-estima destes.
Quando a auto-estima diminui, os filhos poderão apresentar um rendimento abaixo da sua
capacidade. (Miller, 1986). Isto mostra, portanto, que algumas exigências sociais fazem com que
o sujeito que tem altas habilidades se sinta frustrado com as expectativas exigidas do meio social.
Segundo Miller (1986), crianças que são inseguras, muitas vezes, têm mães que sofreram
situações parecidas, mas no papel oposto. Isto é, se foram reprimidas e não encontraram afeto e
compreensão reproduzindo, dessa forma, o que vivenciaram na relação com seus pais e
reportando, por sua vez, à educação de seus filhos. Estes sentimentos podem acompanhá-las por
longos anos e ocasionar, assim, doenças psicossomáticas e a negação de sua habilidade.
Também pode ocorrer o fato contrário: a criança acreditar ter mais talentos do realmente
possui, isto é, ela passa a supervalorizar seu talento, menosprezando as outras pessoas. Assim,
ela necessita ser a melhor para sentir-se “bem”. Este “bem” nada mais é do que uma fuga de suas
reais necessidades, desta maneira, as emoções serão sobrepostas pelo intelecto. Desse modo,
quando a criança não é valorizada no seio familiar poderá desenvolver depressão, pois ela
necessita ser vista como a melhor e não é reconhecida no âmbito familiar.
Assim, em qualquer uma das situações a criança pode ocultar sua verdadeira face, isto é,
parecer feliz diante da sociedade e contexto familiar, entretanto reprimir seus sentimentos, sendo
que, na verdade, quando o instinto de grandiosidade falhar, poderão ser encontrados sentimentos
de vazio e alienação. Com a finalidade de auxiliar a compreender seus filhos e motivarem-se
diante da situação de ter um filho com altas habilidades, o PIT desenvolve encontros com pais
destes alunos para que compreendam a referida temática das Altas habilidades. Assim, os pais ao
aprofundarem a temática compreendem a condição diferenciada de seus respectivos filhos e, por
conseguinte, os auxilia no processo desenvolvimento emocional.
Em muitos momentos no ambiente escolar, o educador tem a função de reconhecer e
compreender que a fragilidade, o medo, a angústia podem ser fatores que influenciam o processo
de aprendizagem de crianças e adolescentes. Visto que criança necessita desenvolver os
esquemas de sua psique durante o transcorrer de sua vida e o educador vem, através de práticas
metodológicas adequadas, em seu auxílio para que consigam desenvolver suas potencialidades
cognitivas e, por conseguinte, aprender a não negar suas necessidades emocionais.
Neste contexto, os educadores que querem auxiliar os jovens a obterem êxito no mundo
atual devem estimular certos aspectos da personalidade de seus alunos para que consigam
expandir seus talentos e aplicá-los em algum campo do conhecimento e da cultura. Assim, o
sucesso no mundo em que o jovem irá enfrentar no futuro depende diretamente da habilidade que
ele tem em saber lidar com o desconhecido, utilizando seu potencial criativo e desenvolvendo as
habilidades psicossociais.
Diversas vezes, por não serem reconhecidos e contemplados com metodologias que
auxiliem seu desenvolvimento global, os alunos com altas habilidades recorrem à propostas de
enriquecimento escolar como o PIT, que tem por finalidade identificar estes alunos, não para fins
de rotulação, mas sim, para contemplar o desenvolvimento potencial e sócio- afetivo destes
indivíduos. Assim, oportuniza-se à eles um ambiente social rico em estímulos e desafios,
reconhece-se o potencial e competência de cada um através de relações de tolerância às
divergências, e proporciona-se um ambiente de respeito e confiança na capacidade de todos.
Ao realizarmos atividades que envolviam espsecialmente relações interpessoais, os alunos
participantes do referido projeto sentem-se, frequentemente no primeiro momento, inibidos, e
muitos tem dificuldade em expressar seus sentimento. No decorrer dos dias, percebemos que
estes indivíduos que participam do PIT desenvolvem-se tanto cognitivamente quanto socialmente
de forma benéfica e tornam-se mais amigos uns dos outros, pois cada um compreende o quão
difícil é a luta por aceitação em uma sociedade que prega essencialmente a normatização.
Em suma, o presente estudo teve como objetivos abordar aspectos teóricos referentes
aos processos intrínsecos que influenciam no processo de desenvolvimento potencial destes
sujeitos que têm características de altas habilidades. Procurou, também, salientar a importância da
família no processo de desenvolvimento global destes indivíduos, além de retratar a importância
da prática pedagógica exercida pela equipe do programa, visando auxiliar estes sujeitos em seu
processo de desenvolvimento tanto cognitivo quanto psicossocial.
Referências Bibliográficas
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Altas Habilidades
/superdotação: encorajando potenciais, Brasília: Ministério da Educação, Secretararia de
Educação, 2007.
Miller, Alice. O drama da Criança bem dotada: Como os pais podem formar e (deformar) a vida
emocional dos filhos.São Paulo: Summus,1986.
Devalle, Andréia Jaqueline & FREITAS, Soraia Napoleão. O papel do professor junto ao aluno
com altas habilidades. Cadernos da Educação Especial. Edição n° 25, 2005.
MOSQUEIRA, Juan José. M. Educa;ao Especial: em direção à educação inclusiva. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2003.Texto: PÈREZ, Susana, G. P. B. O aluno com altas
habilidades/superdotação: uma criança que não é o que deve ser?(p.237 - 250)
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educação Especial: livro
1/MEC/SEESP- Brasília: a Secretaria, 1994.
GARNER,H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre. Artes Médicas, 1995.
DANI, L. S.C. Cenas e Cenários: reflexões sobre a educação. Santa Maria: Pallotti, 1999.
Associação brasileira para Superdotodos. Seção RS Altas habilidades/superdotação etalentos:
manual de orientação para pais e professores/ Associação Brasileira para Superdotados, Seção
RS. Porto Alegre. ABSD/RS,2000.