http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/014.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
ATENDIMENTO AO ALUNO SUPERDOTADO NO PARANÁ:
A EXPERIÊNCIA DE LONDRINA
CIANCA, Fabiane Chueire
PIASSA, Ângela Maria
PIZZOL, Rosana Oliveira de
SICHIERI, Josiane Maria
NAAH/S Londrina/NRE/SEED
RESUMO
Este texto é o relato da implantação do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/
Superdotação de Londrina (NAAH/S), um serviço de apoio pedagógico especializado,
vinculado ao Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em parceria com a Secretaria de
Educação Especial do Ministério da Educação. O NAAH/S visa dar sustentação aos
sistemas de ensino no atendimento ao aluno com necessidades educativas especiais,
na área de altas habilidades/superdotação, destinado a implementar ações das
políticas de inclusão, tendo como referências as orientações educacionais dispostas
na legislação. O texto aborda as principais diretrizes conceituais norteadoras para
implantação de um serviço e apoio dessa natureza no sistema educacional, informa os
conceitos teórico-metodológicos envolvidos e apresenta as ações de implantação já
efetivadas. Finaliza o relato, destacando o já realizado e aponta para necessidade de
outras ações diretivas futuras.
Introdução e justificativa para a implantação do NAAH/S
O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação é um serviço de apoio
pedagógico especializado, cujo objetivo é oferecer suporte aos sistemas de ensino no
atendimento às necessidades educacionais dos alunos com Altas
Habilidades/Superdotação. Trata-se de uma parceria proposta pelo Ministério da
Educação/MEC/SEESP que visa impulsionar “ações de implementação das políticas
de inclusão” (BRASIL, 2006, p. 13). As concepções de inclusão podem se tornar
práticas sociais na medida em que passam a fazer parte dos valores e conceitos de
cada pessoa individualmente e em equipe, valorizando as diferenças dos alunos como
forma de contribuição para o desenvolvimento do grupo e suas capacidades. Assim,
“não nos referimos apenas à participação de uma pessoa na sala de aula, mas do seu
desenvolvimento em todos os aspectos de sua vida. [...].As ações voltadas para esse
fim, levarão em conta as habilidades de cada um, as diferenças apresentadas, as
facilidades, as dificuldades, os aspectos emocionais, sociais, econômicos e
familiares” (BRASIL, 2006, p. 13). O tempo envolvido é outro fator computado visto
que, os traços de personalidade e os estilos de aprendizagem é que irão dar o
direcionamento e o aproveitamento desse tempo.
O NAAH/S tem como objetivo oferecer formação continuada aos professores e
profissionais que atuam junto às pessoas com necessidades educacionais especiais.
Cada pessoa apresenta características próprias, quanto às habilidades e às
dificuldades que possui. Tais fatores, requerem um trabalho educacional diferenciado,
para que possam se desenvolver e atuar na sociedade, com dignidade e exercício
pleno de cidadania. A escola deve, portanto, ser um dos espaços/tempos de
oportunidades de situações que visem tal objetivo. Diante dessa perspectiva é que os
NAAH/S foram idealizados (BRASIL, 2006).
Conforme os dados do Censo Escolar referentes ao ano de 2005, divulgados pelo
Ministério da Educação, “revelam a existência de 56.733.865 milhões de alunos
matriculados nas modalidades da Educação Básica. Desses, 640.317 mil são alunos
com necessidades educacionais especiais. Do total da educação especial (100%),
apenas 1.928 alunos (menos de 0,3%) são identificados como superdotados”
(BRASIL, 2006, p.14). Porém, se for considerado o potencial de superdotação de uma
população de estudantes, de acordo com padrões internacionais - aproximadamente
13% (GUENTHER, 2000) e o número de alunos matriculados na educação básica
brasileira, em torno de 56 milhões, chegamos a conclusão que apenas 0,003% dessa
população está caracterizada com altas habilidades/superdotação. Os dados sugerem
que o atendimento a esses alunos está muito aquém do desejável, denotando a
necessidade de melhor identificação e acompanhamento aos mesmos. Evidenciam
também a necessidade de formação profissional na área, a orientação aos
professores e apoio às famílias, para que esses não sejam incluídos apenas na
matrícula, mas que de fato usufruam dos serviços de apoio, conforme suas
necessidades educativas especiais.
Neste sentido, a implantação do NAAH/S pretende contribuir para a construção de um
sistema educacional inclusivo, valorizando as diferenças e oferecendo oportunidades
de atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais,
preferencialmente, na rede regular de ensino como preconiza o artigo 208 da
Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 2006). Essa tem sido a política norteadora
das ações referentes à temática, pela Secretaria de Educação Especial/MEC e pelo
Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional do Paraná.
No caso de Londrina, a implantação do NAAH/S veio suprir uma carência desse
atendimento, beneficiando as escolas de educação básica dos vinte municípios
jurisdicionados pelo Núcleo Regional de Educação de Londrina (NRE/Londrina),
buscando cumprir as metas de inclusão e melhoria da qualidade de oferta educacional
aos alunos com altas habilidades/superdotação, sempre com as diretrizes de respeito
às diferenças individuais dos mesmos bem como oferecendo oportunidades de
ampliação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, muitas vezes não
contemplada no processo de escolarização regular.
Conceitos utilizados no campo da educação especial
A Resolução nº02/01 Conselho Nacional de Educação(CNE)/Câmara de Educação
Básica (CEB), considera como altas habilidades/superdotação as pessoas que
apresentam “grande facilidade de aprendizagem que as leve a dominar rapidamente
conceitos, procedimentos e atitudes” referentes aos conhecimentos elaborados pela
humanidade e que dão suporte para a renovação da vida cotidiana.
O conceito de altas habilidades/superdotação adotado pelo MEC caracteriza ainda,
como crianças superdotadas e talentosas aquelas que apresentam “notável
desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados
ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica,
pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para as
artes e capacidade psicomotora” (BRASIL, 2005, p. 32).
Conforme Renzulli (apud Barrera Pérez, 2006), Alencar; Fleith (2001, 2007), Virgolim
(2007) e Brasil (2006) a superdotação implica na interação de três componentes,
denominados pela literatura de Teoria dos três anéis de Renzulli: qualquer tipo de
habilidade superior a média da população, elevado grau de comprometimento com a
tarefa e criatividade.
Por habilidade entende-se a capacidade de processamento e integração de
informações e experiências, de forma que efetivam engajamento de pensamento
abstrato no trato com as situações. Também se considera como habilidade, a
capacidade de adquirir conhecimento especializado de uma área do conhecimento. O
comprometimento com a tarefa diz respeito à perseverança, a autoconfiança,
dedicação, esforço e a crença na possibilidade de resolver um problema, enfim,
conceitos relacionados aos aspectos motivacionais. Por criatividade, os autores
citados enfatizam a fluência, flexibilidade, curiosidade, sensibilidade a detalhes e
originalidade de pensamento, entre outros componentes.
Estes conceitos embasam o trabalho que vem sendo realizado no NAAH/S – Londrina,
visando desenvolver o aluno como um todo, procurando potencializar suas áreas de
interesse e talento.
Caracterização das Unidades de Apoio
Do ponto de vista da legislação estadual, convém destacar os pontos que referenciam
o amparo ao aluno superdotado. A Deliberação nº 02/03 Conselho Estadual de
Educação do Paraná (CEE-PR), informa que “será ofertado atendimento educacional
especializado aos alunos com necessidades educacionais especiais decorrentes de:
[...] superdotação ou altas habilidades que, devido às necessidades e motivações
específicas, requeiram enriquecimento, aprofundamento curricular e aceleração para
concluir, em menor tempo a escolaridade, conforme normas a serem definidas por
resolução da Secretaria de Estado da Educação”. Para tanto, em uma experiência
inédita e única até o momento, o NAAH/S foi instalado no Colégio Estadual Vicente
Rijo – Ensino Fundamental e Médio e Profissional. A estrutura física do NAAH/S consta
de três salas cedidas pela SEED, em que há o funcionamento das três unidades: de
apoio ao professor, ao aluno e à família. O NAAH/S-Londrina Conta com uma equipe
formada por profissionais da educação, graduados em pedagogia ou psicologia,
especialistas em educação especial, que desempenham funções de coordenação,
atendimento à família e a escola e docência nas salas de recursos.
A Unidade de Atendimento ao Professor tem como objetivos: oferecer cursos de
formação continuada para professores e profissionais da educação; realizar
pesquisas e planejamento de ações referentes às altas habilidades/superdotação e
viabilizar informação e orientação aos profissionais de diferentes áreas
(fonoaudiologia, assistência social, saúde, jurídica, entre outros). (BRASIL, 2006)
A Unidade de Atendimento ao Aluno tem a função de: proporcionar aos alunos
condições favoráveis para o desenvolvimento de seu potencial por meio de seu
enriquecimento curricular, estímulo à criatividade e desenvolvimento de projetos na
área de interesse do aluno. Vale destacar que as atividades desenvolvidas com os
alunos acontecem no horário inverso ao turno regular de aula, especialmente para
valorizar o processo regular de escolarização.
A Unidade de Apoio à família tem a função de oferecer suporte e orientação
psicológica e emocional à família, visando a compreensão do comportamento dos
filhos, analisando a dinâmica familiar; organizando grupos de pais, promovendo
palestras para a família e profissionais da escola, de modo que viabilize melhor
entendimento sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos (BRASIL, 2006).
A indicação do aluno para ingresso no NAAH/S é feita através de contato com os
professores e equipe pedagógica do ensino regular; por profissionais da comunidade
escolar e/ou da área de talento identificada; pela família; por se destacar em áreas
específicas (Olimpíadas de Matemática, Feiras de Ciências, Festival de Música e
Artes, etc.); por colegas e por auto-indicação. Caso haja indicação por profissionais
específicos (professores de balé, judô, xadrez, de música, por exemplo), é solicitado
um relatório que destaque as áreas em evidência do aluno. O encaminhamento do
aluno para as salas de recursos se dá após análise e discussão pela equipe do
NAAH/S. O aluno então, inicia a identificação da área de talento e interesses,
individualmente, com a professora da sala de recursos. Após este procedimento o
aluno participa do atendimento grupal e/ou individual, conforme suas necessidades. As
potencialidades do aluno, que são observadas, são documentadas através do livro de
chamada do professor da sala de recursos, do portfólio, de projetos realizados e do
relatório de acompanhamento pedagógico semestral. Destacamos para este texto, a
estratégia de trabalho com portfólios, visto que seus objetivos, de acordo com Virgolim
(2007), permitem a identificação e maximização do potencial individual dos alunos em
questão, nas palavras da própria autora, “trata-se de um processo sistemático por
meio do qual, inventários de interesse, estilo de aprendizagem e de expressão e
produtos elaborados pelo aluno são coletados, ajudando tanto aluno quanto professor,
a tomar decisões a respeito de seu trabalho” (Virgolim, 2007, p.58). O
acompanhamento e avaliação dos projetos é contínuo, possibilitando analisar a
qualidade do trabalho oferecido, verificando se o mesmo está promovendo avanços e
oportunidades de aprendizagem avançada para os alunos.
Resultados
A implantação do NAAH/S - Londrina tem promovido a identificação e o atendimento
das necessidades educacionais dos alunos com altas habilidades/superdotação das
escolas públicas de educação básica, do município e região. Atualmente estão sendo
atendidos 40 alunos, que foram indicados pelas escolas, encaminhados através da
observação direta/inventário de interesses (GUENTHER, 2000), por indicação dos
professores de áreas específicas (Matemática, Artes) ou através de pais que
procuraram o NAAH/S.
Entre as metas já alcançadas está a inserção efetiva no ensino regular e a
disseminação de conhecimentos sobre a área, nas comunidades escolares e nas
famílias. Tal objetivo tem sido atingido considerando as ações que já se efetivaram,
bem como as que estão em processo de construção, como, por exemplo: a própria
organização do Núcleo; a capacitação dos professores do ensino regular para
identificar as necessidades educacionais dos alunos com altas habilidades/
superdotação e o oferecimento de suporte aos professores do ensino regular nas
práticas educativas inclusivas. Também se encontram nas ações já desenvolvidas e/ou
em desenvolvimento a promoção, o apoio e a realização de parcerias com instituições
de ensino superior para que os professores participem de cursos, eventos e
pesquisas. A disponibilização de material diversificado, para uso do aluno e do
professor na sala de aula é outro ponto já efetivado. Além disso, destacamos que a
orientação do aluno quanto à utilização de recursos existentes na família e na
comunidade tem sido realizado. Orientações aos alunos sobre questões intra e
interpessoais são temas tratados com freqüência. Podemos ainda, relatar o
oferecimento de oportunidades de construção de conhecimentos e desenvolvimento
de projetos referentes às características de personalidade e de aprendizagem dos
alunos com altas habilidades/superdotação. Finalizando, sabemos que é grande o
distanciamento entre o que a ciência produz e a realização de práticas educativas
correlatas. Porém, no percurso de menos de dois anos de existência do NAAH/S-Londrina, muitas barreiras já foram transpostas e resistências vencidas. Temos
consciência de que a apropriação da temática ainda é nova, para nós educadores,
para os legisladores e comunidade em geral. Porém, gostaríamos de deixar registrado
na história que estamos escrevendo, que a implantação do NAAH/S-Londrina é fruto
de sujeitos que se percebem no conjunto de uma grande variedade de possibilidades
educativas escolares e que pretendem, ao final de um processo de vida, ter a certeza
da contribuição para o efetivo atendimento daqueles que se destacam por apresentar
potencial acima da média, entre seus pares.
Referências
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FLEITH, Denise de Souza; ALENCAR, Eunice M.L. Soriano de. Desenvolvimento de
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FLEITH, Denise de Souza (Org.) A construção de práticas educacionais para alunos
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GUENTHER, Zenita Cunha. Desenvolver capacidades e talentos. Um conceito de
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PARANÁ. Comissão Temporária de Educação Especial. Deliberação nº 2/03 de 02
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<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br> Acesso em 08 ago. 2007.
VIRGOLIM, Angela M. R. Altas Habilidades/superdotação: encorajando potenciais.
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