http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/015.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

COMO (RE) CONHECER CRIANÇAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR

Giovana Mattei1
Universidade de Passo Fundo – UPF

1  Pedagoga (UPF); Especialista em Administração em Educação (ULBRA); Acadêmica do curso de Mestrado em Educação (UPF).


RESUMO

O ser humano não é apenas intelecto, é um ser complexo com forte suporte cognitivo e ambiental, de interações, aprendizados e conseqüentemente desenvolvimento e evolução. Num mundo onde a inteligência e criatividade são requisitos imprescindíveis para evolução da humanidade, busca-se identificar crianças com altas habilidades/superdotação no ambiente escolar, para que estas possam desenvolver suas potencialidades. Conhecer e reconhecer uma criança com altas habilidades/superdotação não é uma tarefa fácil. Alguns passos já foram e estão sendo dados em relação a este tema que ainda carrega em seu bojo mitos e conceitos equivocados por falta de conhecimento nesta área. Esclarecer aspectos relativos a estas crianças torna-se um caminho para sua identificação e possível atendimento. Este ensaio tem a pretensão de esclarecer e divulgar o que são altas habilidades/superdotação, além de oferecer subsídios para o reconhecimento destas crianças no ambiente escolar, com intuito de que novas habilidades e inteligências possam ser instigadas e desenvolvidas. Assim poderemos confiar num ensino diversificado e realmente especial. 


INTRODUÇÃO

A valorização da inteligência e a busca por pessoas criativas que possam gerar produtos originais para humanidade vêm sendo intensificada a cada década. O potencial humano é valorizado e em alguns casos explorados em favor de determinados interesses ou nações.
No Brasil os estudos realizados com crianças com altas habilidades, tiveram início na década de 20 com a professora russa Helena Antipoff que recebia grupos dos então chamados bem-dotados, e desenvolvia um trabalho com eles no período de férias escolares.
Somente a partir de 1967, o MEC e a secretaria de educação passaram a desenvolver seminários e discussões a respeito da educação especial e crianças com altas habilidades/superdotação. O estado do Rio Grande do Sul em 1989 foi um dos pioneiros em garantir na sua Constituição Estadual o atendimento as crianças com altas habilidades, todavia o que se entende por crianças com altas habilidades? Quem são? Como identificá-las? 
A definição de superdotação segundo a Política Nacional de Educação Especial apresenta:

Notável desempenho e elevadas potencialidades em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados como: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora.

(Brasil, MEC/SEESP, 1994, p. 7).

Nas Diretrizes Gerais, esta definição é enriquecida configurando-se da seguinte maneira:

[...] altas habilidades referem-se a comportamentos observados e/ou relatados que confirmam a expressão de “traços consistentemente superiores” em relação a uma média [...] em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se entender por “traços” as formas consistentes, ou seja, aquelas que permanecem com freqüência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa, de forma a poderem ser registrados em épocas diferentes em situações semelhantes.”

(Brasil, MEC/SEESP, 1995 a, p. 13).

Outros autores e pesquisadores também sugerem outras definições em relação às crianças com altas habilidades, seja em relação ao seu comportamento ou em relação as suas características, pensamentos ou potencialidades, como sugere Metrau, (...) destacando-se sempre de uma maneira original e criativa com que resolve um problema ou situação, seja acadêmica. prática ou social. (1995, p. 70).
Já para Renzulli e Reis as crianças com altas habilidades detem:

[...] o comportamento superdotado consiste nos comportamentos que refletem uma interação entre três grupamentos básicos dos traços humanos – sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou especificas acima da média, elevados níveis de comprometimento com  tarefa e elevados níveis de criatividade. As crianças superdotadas e talentosas são aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e que os aplicam a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano.

(Renzulli e Reis, 1986, p. 11/12).

Muitas dúvidas e mitos cercam as crianças com altas habilidades/superdotação, pois segundo os testes psicométricos, principalmente os testes de QI – quociente de inteligência, tornaram sua conceituação limitada e por vezes equivocada. Como os testes  priorizam apenas habilidades acadêmicas, estes alunos passaram a ser rotulados em inteligentes ou retardados, conforme a pontuação que obtivessem nos testes. Hoje se sabe que existem várias inteligências apontadas pelos estudos de Howard Gardner, e que o termo superdotado esta sendo substituído por altas habilidades, em função destes estigmas e pré-conceitos, pois a criança superdotada pode não ter excelente desempenho em todas as habilidades.
A autora Ellen Winner traz a tona alguns mitos e realidades em relação a estas crianças relacionado-os a fatores como ambiente,  o psicológico, o talento e a criatividade, hereditários, educação e ambiente escolar propriamente dito, entre outros que podem afetar de maneira positiva ou negativa o desenvolvimento da criança com altas habilidades/superdotação. Winner aponta ainda que de acordo com o modo como a sociedade entende a superdotação, ela determinará como testará para isso.
A difícil tarefa de identificação é apontada por esta autora da seguinte maneira:

È possível que as crianças superdotadas sejam erroneamente diagnosticadas com maior freqüência do que as crianças não –superdotadas, porque é muito comum para as crianças superdotadas ficarem entediadas e inquietas em uma sala de aula não desafiadora e terminar classificadas como apresentando um transtorno de atenção como hiperativas.

(Winner, 1998, p. 44).

Assim, para que a escola não cometa tais equívocos extremamente nocivos a estas crianças, busca-se esclarecer e identificar as principais características relativas a estas crianças e o conhecimento referente às múltiplas inteligências que forma o ser humano.
As inteligências podem ser consideradas aqui como sinônimos de habilidades ou potencialidades. A teoria Gadneriana traz em seu bojo aspectos inovadores em relação às múltiplas habilidades, como _fatores socioculturais, _criatividade humana, sistemas simbólicos, símbolos e produção simbólica. Esta teoria propõe que o sujeito é possui diversas inteligências e que algumas podem se destacar mais do que outras através da motivação relacionada à mesma, além de fatores históricos, culturais e sociais que permitirão este desenvolvimento. _Segundo Gardner as inteligências podem ser:

- CORPORAL
- ESPACIAL
- MUSICAL
- LINGÜÍSTICO
- LÓGICO-MATEMÁTICO
- INTRAPESSOAL
- INTERPESSOAL
- NATURALÍSTICO
- ESPIRITUAL (está sendo pesquisada além de outras inteligências pelo autor e sua equipe).

Renzulli diferencia estas inteligências ou habilidades em dois conjuntos básicos: o acadêmico, aquele aluno que se destaca nas diferentes disciplinas, apresentando rendimento superior aos demais colegas (áreas lingüísticas e matemáticas) e os alunos produtivo-criativo que são os alunos que possuem habilidades relacionadas à criatividade, trabalhando com problemas e áreas de estudo  que tem interesse para ele. Geralmente esse aluno é mais questionador, imaginativo, tem modos originais de resolver problemas, é criativo, utiliza-se mais do pensamento divergente, e por isso pode não ser identificado na escola tendo inclusive problemas de adaptação à mesma.
Muitas vezes a escola não percebe estes alunos e através de métodos tradicionais de ensino acaba desestimulando os mesmos. Isto é um problema grave tendo em vista que o ensino deveria potencializar a aprendizagem e desenvolvimento do educando, porém se a escola continuar limitada a apenas aspectos acadêmicos muitas inteligências poderão ser desperdiçadas e o que é pior serem exploradas de maneira ilícita e criminosa.
O debate sobre a identificação das crianças com altas habilidades envolve inúmeras controvérsias, pois se os testes padronizados não tem consistência pelo fato de não abrangerem todas habilidades, qual o método mais apropriado?
Muitos autores propõe métodos diversificados e contínuos para identificação destas crianças, sendo este um processo complexo exigisse de educadores e profissionais da educação estudo e pesquisa em relação a este tema para que possam atuar com estas crianças, tendo em vista que quando se pensa em identificar devemos ter propostas para o atendimento das mesmas.
Renzulli propõe três traços que compõe os comportamentos de superdotação e que devem servir de subsídio para identificação, são eles:

- Capacidade acima da média: potencial superior nas habilidades gerais ou específicas;
- Envolvimento com a tarefa: motivação e persistência em relação a uma determinada tarefa;
- Criatividade: traço característico de todas as crianças com altas habilidades/superdotação. capacidade de formular estratégias para resolução de problemas, originalidade, sensibilidade, flexibilidade, ou seja, elaboração de pensamento divergente.
Esta abordagem é representada por Renzulli graficamente sugerindo uma interação entre os três traços, além de ser considerado os aspectos ambientais (família, escola, sociedade...) relevantes neste processo.
  

Renzulli (1998, p. 20) ressalta que a pesquisa que tem realizado sobre a concepção dos três anéis traduz um entendimento de que [...] os comportamentos de superdotação são manifestações do desempenho humano que podem ser desenvolvidas em certas pessoas, em determinados momentos e sob determinadas circunstâncias.
Dessa forma a superdotação seria um comportamento que poderia ser desenvolvido na infância e não prioritariamente perdurar até a vida adulta. Considerar estes aspectos propostos por Renzulli é uma maneira de identificarmos as crianças com altas habilidades/superdotação, tendo em vista que devemos considerar a família, a escola, a auto-avaliação feita pela criança, as práticas e observações feitas pelo especialista, para que depois haja um atendimento adequado.
Pode-se utilizar as características apontadas por diversos autores como base para a identificação destas crianças, pois se torna praticamente impossível delimitar um perfil único a estas crianças. Algumas características mais comuns segundo RENZULLI, 1975; NOVAES, 1979; BENITO MATE, 1996 e 1999; AENCAR e FLEITH, 2001, são:

- Busca por soluções próprias para os problemas;
- Capacidade desenvolvida de análise, avaliação e julgamento;
- Concentração prolongada numa atividade de interesse;
- Consciência de si mesmo;
- Criatividade;
- Desgosto com a rotina;
- Gosto pelo desafio;
- Habilidades em áreas específicas;
- Independência de pensamento;
- Interesse por temas e assuntos complexos;
- Liderança;
- Memória desenvolvida;
- Pensamento abstrato;
- Persistência ante as dificuldades;
- Precocidade motora e verbal;
- Rapidez e facilidade de aprendizagem;
- Relacionamento de informações e associações de idéias e conhecimentos;
- Tendência a associar-se a pessoas mais velhas;
- Vocabulário avançado;

Conhecer e reconhecer uma criança com altas habilidades/superdotação exige estudos, pesquisas e tempo para que estas habilidades possam ser observadas e analisadas. Este trabalho complexo de identificação deve envolver a todos, escola, família, criança, professores, e especialista na área de altas habilidades/superdotação para que este tenha validade e viabilidade. Após a identificação destas crianças se faz necessário o atendimento que pode ocorrer extraclasse, ou seja, no turno inverso ao das aulas do ensino regular. Estas atividades tendem a complementar e desenvolver as habilidades de interesse dos educandos. O Conselho Nacional de Educação e Câmara de Educação Básica na sua resolução de n° 2 de 11 de fevereiro de 2001 art. 8° IX – atividades que favoreçam ao aluno que apresente altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para conclusão em menor tempo, da série ou etapa escolar. A possibilidade de aceleração de alunos com altas habilidades no avanço de séries e etapas de estudo concluindo assim em menos tempo, é uma alternativa educacional amparada na lei 9.394/96 no art. 24, V. Geralmente isso não ocorre nas escolas públicas devido à insegurança e falta de conhecimento sobre o tema.
O atendimento educacional destes alunos deveria ser desenvolvido, segundo MEC/SEESPE (BRASIL, 1995):

- Salas de recursos;
- Atividades de enriquecimento em sala de aula;
- Ensino individualizado e independente, através de projetos;
- Entrada precoce ou aceleração para classes mais avançadas.

Assim conhecer e reconhecer os educandos com altas habilidades/superdotação no ambiente escolar é o foco principal deste ensaio que tem como finalidade despertar os educadores para esta realidade proporcionando novos conhecimentos e possíveis alternativas de atendimento para que estas crianças possam desenvolver-se integralmente, respeitando a diversidade de cada ser.



MÉTODO

Com base nas teorias estudadas a identificação das crianças com altas habilidades/superdotação será um processo que envolverá entrevistas com os pais, professor da série anterior e professor da série atual, uma auto-avaliação feita pelo aluno, observações do pesquisador e atuação do pesquisador junto às crianças selecionadas na pesquisa. A pesquisa será realizada com alunos da 3° série do ensino fundamental em duas escolas de periferia no município de Sarandi /RS, sendo uma escola municipal e outra estadual.

- Como este é um ensaio teórico que  está sendo desenvolvido ainda não há um método específico, tampouco resultados e discussões concluídas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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