http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/017.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

IDENTIFICAÇÃO DE ESTILOS PARENTAIS DE PESSOAS COM  ALTAS HABILIDADES SEGUNDO A SUA VISÃO

Paula Hisa Paranaíba Goto1
Eliza Dieko Oshiro Tanaka2
Universidade Estadual de Londrina

1  Psicóloga e aluna do Curso de Especialização em Psicologia Aplicada à Educação da Universidade Estadual de Londrina
2  Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL e orientadora do trabalho.


RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo identificar os Estilos Parentais de alunos com altas habilidades/superdotação. Participaram deste estudo alunos entre 8 e 14 anos, que freqüentam o NAAH/S de uma cidade do interior do Paraná. Para isso, foi utilizado um Inventário de Estilos Parentais, que foi respondido pelos alunos, sendo que 28 responderam sobre a mãe e o pai e 5 apenas sobre a mãe, totalizando 61 inventários respondidos. A aplicação foi realizada pela pesquisadora na sede do NAAH/S, no horário normal de atividade dos alunos. Os resultados obtidos demonstram que, pela visão dos filhos, há um predomínio de práticas educativas negativas, sendo que 44% dos pais apresentam o Estilo Parental de Risco, 41% apresentam Estilo Parental Regular e apenas 15% do total de pais apresentam Estilo Parental Ótimo. Este estudo encontra-se em andamento3 e, numa segunda etapa, o inventário será aplicado aos respectivos pais ou responsáveis pelas crianças, com a finalidade de realizar um estudo comparativo sobre a percepção das duas populações em relação aos estilos parentais .

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com o atendimento educacional às pessoas com altas habilidades/superdotação já é uma questão bastante antiga. No Brasil, esse interesse surgiu em 1929, por iniciativa da professora Helena Antipoff, de origem russa, que defendia a necessidade de identificar e oferecer serviços educacionais especializados aos alunos que se destacassem pelas suas habilidades e talentos especiais.
Com a criação do Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, em 1973, as questões referentes à superdotação e altas habilidades passaram a receber um apoio maior em todo o país, porém o atendimento a essa população foi legalmente reconhecido somente com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.393, de 20 de dezembro de 1996 – e do Plano Nacional de Educação - Lei nº 10172, de 9 de janeiro de 2001.
Para apoiar os sistemas de ensino, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação estabeleceu parceria com as Secretarias Estaduais de Educação de todo o país com a finalidade de implantar Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S. Esses Núcleos tem como objetivo identificar e atender os alunos superdotados; promover a formação e capacitação dos professores; oferecer acompanhamento aos pais e à comunidade escolar em geral, no sentido de produzir conhecimentos sobre o tema; disseminar informações e colaborar para a construção de uma educação inclusiva e de qualidade (MEC/SEESP, 2006). O NAAH/S é composto por três unidades de atuação: a unidade de atendimento ao professor, a unidade de atendimento ao aluno e unidade de apoio à família.
Apesar de as conquistas ocorridas, como o reconhecimento legal da importância de um atendimento diferenciado às pessoas que possuem altas habilidades/superdotação, esta é uma área que ainda precisa de muitos esclarecimentos. A maioria dos trabalhos que vem sendo desenvolvido, volta-se especialmente para a intervenção junto às pessoas com altas habilidades e a formação dos profissionais que atuam diretamente com essas pessoas. A família, apesar de ter papel fundamental no processo educativo, quase não tem sido abordada. Além disso, a população geral também tem pouca informação sobre a questão, dando margens ao surgimento de concepções equivocadas e preconceituosas.
Segundo Pérez (2003), ainda existe muitos mitos a respeito das pessoas com altas habilidades, sendo alguns deles sobre as possíveis origens de suas habilidades. As opiniões em relação a essa questão são divergentes, pois algumas teorias defendem a origem genética e outras ambientais, mas a maioria das pesquisas publicadas indica a influência dos dois fatores.
Segundo Papalia (2006), os fatores que podem afetar o desempenho de uma criança são: herança genética, temperamento, maturidade social e emocional, habilidades verbais e numéricas, assim como o ambiente familiar, condição socioeconômica, origem étnica e escolaridade. Já Skinner (2000, p.33) enfatiza os fatores ambientais argumentando que “o hábito de buscar dentro do organismo uma explicação do comportamento tende a obscurecer as variáveis que estão ao alcance de uma análise científica. Estas variáveis estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental”. Ao entender o homem como produto da história filogenética, ontogenética e cultural, as causas do comportamento não podem ser explicadas apenas pelo indivíduo em si, mas a partir de sua história e das relações que este estabelece com seu meio.
Em relação à interferência do ambiente na determinação do comportamento do indivíduo, existe um mito de que “as pessoas com altas habilidades são produto de pais organizadores, que conduzem e regram suas vidas, levando-as a um desempenho excepcional” (EXTREMIANA, apud PEREZ, 2003, p. 123). Entretanto, para esse autor não existe uma correlação direta entre os efeitos de uma prática parental específica na determinação da superdotação do filho. Mas, sabe-se não há como negar a influência que as atitudes dos pais exercem sobre o desenvolvimento dos mesmos.
Um outro mito citado é que as pessoas com altas habilidades desenvolvem doenças mentais, desajustamento social e instabilidade emocional. Esse fantasma nasce da constatação de períodos de instabilidade mental ou psicoses em muitas pessoas que possuem talentos especiais como os artistas, músicos e cientistas. Porém, esses desajustamentos, quando observados, não têm sido constatados como resultado direto das altas habilidades, mas como conseqüência de fatores familiares ou psicológicos não saudáveis, que podem acometer qualquer pessoa (ALENCAR; FLEITH; EXTREMIANA; GERSON; CARRACEDO apud Perez, 2003 p. 127).
Segundo Costa (2000), em decorrência das transformações pelas quais as famílias vêm passando na atualidade, há um crescente questionamento sobre o seu papel na educação dos filhos. Para essa autora, nos últimos anos, diversos trabalhos têm dedicado atenção especial aos estilos parentais, isto é, às formas como os pais lidam com as questões de poder, hierarquia e apoio emocional na sua relação com os filhos. Tais estudos têm demonstrado que o estilo parental tem significativa influência em diversas áreas do desenvolvimento psicossocial do indivíduo, tais como: ajustamento social, psicopatologia e desempenho escolar
O conceito de estilo parental vai além das práticas parentais propriamente ditas. É, na verdade, o contexto no qual operam os esforços dos pais para socializar seus filhos de acordo com suas crenças e valores (DARLING, STEINBERG apud COSTA, 2000). Ainda, segundo esses autores, em outras palavras, o estilo parental pode ser entendido como o clima emocional que perpassa as atitudes dos pais, cujo efeito é o de alterar a eficácia de práticas disciplinares específicas, além de influenciar a abertura ou predisposição dos filhos para a socialização. Além dessas influências, segundo Weber (2004), os estilos dos pais podem determinar o estilo parental que os filhos vão adotar futuramente, havendo uma transmissão intergeracional de estilos parentais.
Gomide (2006), desenvolveu um instrumento para avaliar estilos parentais, no qual descreve sete variáveis relacionadas a comportamentos pró-sociais e anti-sociais, a saber: monitoria positiva, comportamento moral, monitoria negativa, disciplina relaxada, punição inconsistente, negligência e abuso físico, as duas primeiras referentes a práticas positivas e as demais a práticas negativas.
A monitoria positiva envolve o uso adequado de atenção, demonstrando interesse para com o filho, a distribuição de privilégios, apropriado estabelecimento de regras, distribuição contínua e segura de afeto, o acompanhamento e supervisão das atividades escolares e de lazer. Já a monitoria negativa caracteriza-se pela exagerada vigilância ou fiscalização dos pais em relação aos filhos e pela alta freqüência de instruções repetitivas, gerando um ambiente de convivência hostil, sentimento de frustração para ambos, contra-controle, ou seja, estratégias da criança para se proteger (GOMIDE, 2005). Além disso, a monitoria negativa pode dificultar o desenvolvimento de independência e auto-direcionamento da criança. O comportamento moral “implica em promover condições favoráveis ao desenvolvimento das virtudes, tais como, empatia, senso de justiça, responsabilidade, trabalho, generosidade e do conhecimento do certo e do errado (...)” (GOMIDE, 2006, p.8). A disciplina relaxada refere-se ao descuido na cobrança e cumprimento das regras. Ao agir de forma incoerente ao que fora previamente proposto e combinado,os pais acabam ensinando aos filhos o desrespeito às regras e à autoridade e desenvolvem insegurança sobre o que é certo ou errado. É importante ressaltar que a aprendizagem não ocorre apenas por instruções, os pais também são modelos para os filhos. Por isso, é fundamental que eles se comportem de maneira coerente ao que dizem para evitar confusões na aprendizagem da criança. Punição inconsistente ou não contingente ao comportamento acontece quando os pais orientam-se pelo seu humor na hora de punir ou reforçar os comportamentos dos filhos e não pelo ato praticado. Neste caso, não há interiorização de valores morais, a criança não aprende o que é certo ou errado, o que aprende é discriminar o humor dos pais, “interfere, sobretudo, na percepção do individuo prejudicando sua avaliação no que se refere aos efeitos que suas ações têm sobre os outros e sobre o meio” (GOMIDE apud GOMIDE, 2006). A negligência é considerada um dos principais fatores a desencadear comportamentos anti-sociais. Caracteriza-se pela desatenção, omissão, falta de interação, de vínculo afetivo positivo e de demonstração de interesse. A criança negligenciada não desenvolve auto-estima elevada, costuma ser muito insegura e se comportar de maneira apática ou agressiva (GOMIDE, 2005). O abuso físico e psicológico acontece quando os pais utilizam de práticas corporais negativas, ameaças, chantagem de abandono e de humilhação do filho. Os pais que agem dessa forma provocam medo em seus filhos e não respeito, além de dar um mau exemplo de solucionar um problema, o abuso não é educativo, pois não ensina o comportamento adequado para a criança, apenas suprime o comportamento indesejado diante do agressor, pois o comportamento volta a acontecer na ausência deste.
Sabendo-se das conseqüências que as práticas parentais podem trazer para a vida de uma criança, torna-se fundamental conhecer a maneira como os pais ou responsáveis pelas crianças com altas habilidades se comportam, pois estas necessitam de apoio educacional especial sem que haja exigências exacerbadas, por serem consideradas mais capazes ou, ao contrário, não ocorra negligência por acharem que as pessoas com altas habilidades auto-educam, não necessitando de ninguém para orientá-los (PEREZ, 2003). Como já dito, essas crianças têm o direito legalizado de atendimento especial, sendo a família um dos focos de intervenção. Assim, é fundamental planejar trabalhos com essas famílias, para que elas possam propiciar um ambiente que favoreça e potencialize o desenvolvimento da criança e de suas habilidades específicas da maneira mais saudável e harmoniosa possível.

2  MÉTODO

2.1 Participantes
Participaram deste estudo 33 alunos, de ambos os sexos, com idade variando de 8 e 14 anos, que freqüentam um centro de atendimento a alunos com altas habilidades e superdotação – NAAH/S, situado no interior do estado do Paraná.
 
2.2 Instrumento
Para estudar as práticas utilizadas pelos pais na educação de seus filhos com altas habilidades, foram utilizadas duas versões do Inventário de Estilos Parentais - IEP, as versões de práticas parentais maternas e práticas parentais paternas, elaborado por Gomide (2006) e já validado no Brasil. Foram respondidos 28 inventários sobre práticas paternas e 33 sobre práticas maternas, totalizando 61.
O IEP contempla 42 situações que avaliam sete variáveis: monitoria positiva, monitoria negativa, disciplina relaxada, punição inconsistente, negligência, abuso físico e comportamento moral, sendo seis itens correspondentes a cada variável. Para cada uma das situações apresentadas, o aluno deveria responder a uma das três alternativas: a) sempre – se, considerando10 episódios, os pais agiram daquela forma de 8 a 10 vezes; b) às vezes – se, considerando 10 episódios, os pais agiram daquela forma de 3 a 7 vezes; c) nunca – se considerando 10 episódios, os pais agiram daquela forma entre 0 a 2 vezes.
A aplicação do instrumento é indicada para crianças a partir de 8 anos e em adolescentes. Apesar de a população da pesquisa encontrar-se dentro dessa faixa etária, dois itens do instrumento foram adaptados para melhor condizer à realidade da população, composta predominantemente por crianças e pré-adolescentes. Modificou-se apenas o vocabulário, sem alterar o conteúdo. Por exemplo: No Item 34 – “Se eu vou a uma festa, ele(a) somente quer saber se bebi, se fumei ou se estava com aquele grupo de maus elementos.” As palavras em negrito foram substituídas, ficando a frase assim constituída: “Se eu vou a uma festa, ele(a) somente quer saber se briguei, se fiz coisas erradas ou se estava em  más companhias”. No Item 37 – “Ele(a) conversa sobre meu futuro trabalho mostrando os pontos positivos ou negativos da minha escolha”. As palavras em negrito foram substituídas, ficando a frase assim constituída: “Ele(a) conversa sobre o que eu desejo ser no futuro mostrando os pontos positivos ou negativos da minha escolha”.

2.3 Procedimento
Primeiramente, a pesquisadora entrou em contato com a coordenadora do NAAH/S para explicitar o seu interesse e os propósitos da pesquisa, bem como obter a autorização para coletar os dados junto à população que freqüenta o centro. Mediante a assinatura da permissão para a realização do estudo, elaborou-se um termo de consentimento livre e esclarecido, que foi entregue aos pais ou responsáveis pelos alunos. Esse termo continha explicações acerca da pesquisa e solicitava a participação dos pais ou responsáveis, a sua autorização para a participação dos filhos e, também, para a divulgação dos resultados obtidos em meios científicos, garantindo-se o sigilo sobre os participantes.
A aplicação do instrumento com os alunos foi realizada no próprio centro, durante o período de atividades dos mesmos, e ocorreu de forma individual ou em grupo de até oito alunos, mas sempre cada um respondia ao inventário individualmente. Foram necessárias várias idas ao centro, pois os alunos freqüentam o local dois dias por semana, durante meio período da manhã ou da tarde. Assim, para ter acesso a todos eles foi necessária a aplicação do instrumento em diferentes horários.
Antes de responderem ao inventário, a pesquisadora fornecia instruções orais, baseadas naquelas descritas no próprio manual de aplicação. Assim, todo o cuidado foi tomado para manter a similaridade na instrução entre todos os participantes. A pesquisadora ficou presente durante todo o tempo de aplicação para esclarecer eventuais dúvidas.

2.4 Análise dos Dados
Mediante os dados obtidos com o inventário respondido pelos alunos, foi feita a contagem da pontuação de cada uma das variáveis, de acordo com o que prescreve o manual de aplicação do IEP. O índice de Estilo Parental de cada aluno foi obtido pelo cálculo efetuado por meio da seguinte fórmula: (A+B)-(C+D+E+F+G), sendo A e B as variáveis correspondentes às práticas educativas positivas e C, D, E, F e G às práticas educativas negativas. Este resultado permite identificar, pela descrição do IEP, o estilo parental de cada pai ou mãe, podendo ser: Estilo Parental de Risco, quando o resultado do cálculo for inferior a 0; Estilo Parental Regular, porém abaixo da média, quando o resultado variar de 0 e 4; Estilo Parental Regular, porém acima da média, se o resultado for entre 5 e 10 e Estilo Parental Ótimo, se o resultado for superior a 11. O resultado da fórmula pode variar entre –60, quando todas as práticas negativas estão presentes e as positivas ausentes, e +24, quando há presença total de práticas positivas e ausência das negativas.
Após a identificação do Estilo de cada responsável, foi calculada a porcentagem dos pais ou responsáveis pertencentes ao sexo masculino e das mães ou responsáveis do sexo feminino, separadamente, verificando quantos pertenciam a cada Estilo, fazendo a comparação da pontuação total e de cada variável por sexo.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

De acordo com os escores obtidos no IEP, 44% dos pais apresentam o Estilo Parental de Risco, no qual predomina as práticas negativas em detrimento das positivas; 41% apresentam Estilo Parental Regular, dentre os quais 16% abaixo da média e 25% acima da média e 15% do total de pais apresentam Estilo Parental Ótimo, com presença marcante das práticas positivas e ausência das práticas negativas.
De acordo com Gomide (2006), aos pais que apresentam o Estilo Parental de risco, “aconselha-se a participação em programas de intervenção terapêutica, (...), especialmente desenvolvidas para pais com dificuldades em práticas educativas nas quais possam ser enfocadas as conseqüências de práticas negativas em detrimento das positivas” (p.57). Para o Estilo Parental Regular abaixo da média é aconselhada a participação em grupo de treinamento para pais. Já para os pais que apresentam Estilo Parental Regular acima da média, a orientação para o aprimoramento das práticas parentais pode ser realizada através de livros. Com o Estilo Parental Ótimo, que se caracteriza pela presença marcante de práticas parentais positivas e ausência das práticas negativas, a estes pais não é indicado nenhum tipo de orientação.
De forma geral, as mães apresentaram uma maior pontuação que os pais, tanto para as práticas positivas quanto negativas, mas com maior diferença nas interações positivas. Este fato pode ser explicado pelo padrão cultural de interação, na qual a educação dos filhos ainda é uma função predominantemente da mulher, característica cultural que também explica um maior índice de negligência paterna em relação à materna, pois a ausência do pai muitas vezes acaba sendo justificada por sua função de provedor.
Dentre as práticas negativas utilizadas tanto pelas mães quanto pelos pais, as indicadas com maior freqüência foram: monitoria negativa e punição inconsistente, sendo a punição corporal a menos utilizada por ambos. Em relação aos pais, a negligência foi apontada com maior freqüência que a disciplina relaxada, já as mães são menos negligentes que disciplinarmente relaxadas, segundo a opinião dos alunos.
Apesar de haver obtido um alto índice do Estilo Parental de Risco, este não predominou sobre a soma dos demais, o que indica que não há um Estilo Parental único ou a existência de algum padrão comportamental específico para os pais de filhos com altas habilidades. Portanto, a afirmação de que filhos superdotados normalmente possuem pais condutores, continua sendo um mito. Embora 44% dos alunos indicaram que seus pais apresentam práticas consideradas de risco, e este é um fator que contribui para o desenvolvimento de condutas anti-sociais, não se pode afirmar que esta é uma característica desta população.
Numa pesquisa realizada por Weber (2004), com estudantes de 9 a 12 anos de escolas municipais de Curitiba, 45,4% dos pais se caracterizaram como negligentes, característica esta que Gomide (2005) considera uma das, ou senão a principal, desencadeadoras de comportamentos anti-sociais. Contudo, esta não é uma característica acometida a todos os alunos com altas habilidades, pois 15% dos pais apresentaram um Estilo Parental Ótimo e 25% um Estilo Parental Regular acima da média, enquanto na pesquisa de Weber, o índice do estilo autoritativo, considerado o mais adequado, foi 38%. Desta forma, pode-se observar que as duas populações, alunos com altas habilidades participantes desta pesquisa e alunos da rede municipal de Curitiba estudada pó Weber, apresentaram certa equivalência no que se refere à vulnerabilidade em relação às práticas parentais.
Apesar de o resultado da pesquisa não apresentar nenhuma particularidade em relação às práticas educativas parentais de alunos com altas habilidades em comparação aos alunos do sistema regular de ensino, a constatação do elevado índice de práticas negativas é bastante preocupante pois pode gerar muitos sentimentos e comportamentos indesejados nos filhos, como medo, insegurança dependência e comportamentos de risco, mesmo que esta não seja a intenção. É fundamental que as famílias recebam apoio especial para que possam lidar de forma mais positiva com seus filhos e assim evitar os problemas e, principalmente, obter uma relação mais satisfatória e benéfica para ambos os lados.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Evolução da Educação do Aluno com Altas Habilidades/Superdotação.
Disponível em:http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=135. Acesso em: 15 abr. 2007

COSTA, F.T. et al. Responsividade e exigência: duas escalas para avaliar estilos parentais. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v.13, n.3, p.465-473, 2000.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722000000300014&lng=pt&nrm=isso>. Acesso em: 09 abr. 2007

GOMIDE, P.I.C. Pais Presentes, Pais Ausentes: regras e limites. 5ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.

GOMIDE, P.I.C. Inventário de Estilos Parentais IEP: modelo teórico – manual de aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. 96p.

Papalia, D.E. Desenvolvimento Humano. 8ed. Porto Alegre: Artemed, 2006.

PEREZ, S. G. P. B. Mitos e Crenças sobre as Pessoas com Altas Habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Cadernos de Educação Especial. Santa Maria, n.22, 2003.

SKINNER, B.F. Ciência e Comportamento Humano. 10 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

WEBER, L.N.D. et al. Identificação de estilos parentais: o ponto de vista dos pais e dos filhos. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, 2004, v.17, n.3. Disponível em: www.scielo.br, acesso em 18 –abr-2007.