http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/025.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

EDUCAÇÃO INCLUSIVA PELA PERSPECTIVA DA ARTE: TRABALHO REALIZADO EM UMA TURMA REGULAR DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO COM ALUNOS SURDOS

Ana Cristina Freire da Silva: Graduanda do Curso de Pedagogia, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (NEI/UERJ) - acfreire_uerj@yahoo.com.br.
Edicléa Mascarenhas Fernandes: Professora Adjunta do Departamento de Educação Inclusiva e Continuada da Faculdade de Educação / UERJ- Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (NEI/UERJ) - ediclea@globo.com
Éster Alves da Silva: Graduanda do Curso de Pedagogia, bolsista do programa de Iniciação à Docência do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (NEI/UERJ) - esteralvesdasilva@yahoo.com.br
Annie Gomes Redig: Professora substituta do Departamento de Educação Inclusiva e Educação Continuada da Faculdade de Educação/ UERJ; pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (NEI/UERJ) – annieredig@yahoo.com.br



RESUMO

Este estudo tem por objetivo relatar uma experiência com alunos de uma classe regular da modalidade de ensino de Jovens e Adultos (EJA), de uma escola da rede pública no Estado do Rio de Janeiro, desenvolvido no 1º semestre letivo de 2007. Esta turma possui alunos com deficiência auditiva incluídos. A pesquisa baseia-se no projeto de Iniciação à Docência “A arte como Espaço para Promoção de uma Escola Inclusiva”, vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Esta pesquisa visa promover a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais através da arte. Os encontros foram realizados a partir da narração da biografia dos artistas Beethoven, Aleijadinho, Monet e apresentação do vídeo “Mãos”. Ao longo da pesquisa outras configurações acerca de deficiências e necessidades especiais são discutidas. Este trabalho mostra a importância da inclusão de alunos com deficiência em uma classe regular e que através de diversas metodologias, que respeitem as singularidades do educando, o professor possa junto à turma ressignificar o processo de ensino-aprendizagem.


Introdução
O presente trabalho, vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (NEI-UERJ), foi realizado através do projeto de pesquisa de Iniciação à Docência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), "A arte como espaço para Promoção de uma Escola Inclusiva", que acontece desde 2005. O espaço escolhido foi uma turma de classe regular de Educação de Jovens e Adultos (EJA), III fase de rede pública de ensino no Estado do Rio de Janeiro, durante o 1º semestre letivo de 2007. A turma possui 23 alunos, dos quais 7 são surdos (declarados), 03 alunos com necessidades especiais nas áreas de comportamento e cognitiva, além de alunos considerados sem deficiências.
A aplicação do projeto contou com a participação de duas bolsistas, sendo uma delas intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A Língua de Sinais é uma forma de comunicação e expressão, segundo a Lei nº. 10.436 (24/04/2002) é um “sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundo de comunidades de pessoas surdas do Brasil.” (p.1)
As línguas de sinais não são mímicas, possuem estruturas gramaticais próprias na modalidade visual espacial, porque são compostas por níveis lingüísticos. Por isso quem aprende a Língua de Sinais esta aprendendo outra língua, como Inglês ou Espanhol.
De acordo com o decreto 5.626 (22/12/2005), no artigo 22, inciso II, para a inclusão de alunos surdos em classes regulares, é importante que:

escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. (p.6)

Em uma aula inclusiva, é fundamental a utilização de adaptações curriculares, que são transformações na metodologia, conteúdo, objetivos, avaliação, método de ensino, organização didática e temporalidade do processo de ensino-aprendizagem (FERNANDES & REDIG, 2005, 2006, FERNANDES; GLAT; ORRICO; REDIG & FEIJÓ, 2005).
Então, após observação e elaboração do material a ser utilizado no projeto, demos início a sua aplicabilidade que teve como objetivo geral: promover a inclusão através do contato e vivência com o universo da arte, a partir do pressuposto da diversidade humana. Em relação aos objetivos específicos destacam-se: a) realizar com os alunos "releituras" das obras de artistas, que mesmo na ausência de um sentido produziram arte que marcaram a humanidade; b) possibilitar a ruptura de preconceitos e atitudes negativas em relação ao processo de produção intelectual e cultural de alunos com deficiência; c) promover a inclusão através do contato e vivência com o universo da arte e; d) realizar intercâmbio professor generalista / professor especialista.

O processo pedagógico busca a interação entre o saber e a prática relacionados à história, cultura, criando assim, uma educação multiculturalista – de acordo com Ana Mae (2002, pág. 21), esta permite o aluno lidar com a diferença de modo positivo na Arte e na Vida – de uma forma lúdica para os educandos; desenvolvendo o crescimento da sua autonomia e da sua capacidade imaginativa e inventiva. (FERNANDES & REDIG, 2006, p.56)


I- Metodologia
Consiste em uma pesquisa qualitativa e participante organizada em cinco encontros: o primeiro de contato com o grupo, para avaliação de necessidades de adaptações curriculares dos materiais, e as demais sessões participativas de narrativas de biografias de artistas.
O primeiro encontro é dedicado a uma observação da turma para adequação dos materiais utilizados, visto que se trata de uma turma de Ensino de Jovens e Adultos. Esta observação é importante, pois: “o respeito às peculiaridades e aos esquemas de conhecimento referem-se à sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a possibilidade de projeção da ação prática para a ação simbólica.” (BATISTA & MANTOAN, 2006, p.61)
Durante a elaboração dos recursos a serem utilizados no projeto, as bolsistas estudavam juntas as biografias e desenvolviam os materiais, adaptando-os para a Língua de Sinais, visto que: “a idéia de uma cena imaginária é montada diante dos olhos do interlocutor antes do início de um relato, para que as ações sejam relatadas com base em um contexto.” (REILY, 2004, p.133). Uma das bolsistas narrava as biografias e a outra, a intérprete, contava em Libras.
Os três encontros seguintes pautam-se nas biografias de artistas que, em determinado momento de suas vidas, apresentaram alguma deficiência: Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Ludwig Van Beethoven e Oscar Claude Monet. O quinto encontro é uma retrospectiva como forma de promover uma atividade que permitisse aos alunos vivenciarem a inclusão, expondo e compartilhando suas emoções, surpresas e impressões.
Os materiais utilizados nos encontros que tinha como tema a vida de Antônio Francisco Lisboa foram: VHS, televisão, retro projetor, transparências, réplicas em pedra-sabão dos Doze Profetas, argila, jornal e pratos descartáveis; Ludwig Van Beethoven: DVD, televisão, rádio tocador de Cd, Cd, papel tamanho A4, giz de cera e lápis de cor; Oscar Claude Monet: livro de história, fotos impressas de alguns quadros, tinta guache, pincéis e papel tamanho A4.
No último encontro, o objetivo foi permitir que os alunos e a professora fizessem uma retrospectiva dos temas abordados e assim refletissem sobre todos os encontros e os vínculos afetivos estabelecidos entre os alunos com necessidades educativas especiais e os ditos "normais".
Todas as sessões foram fotografadas, com autorização e termo de consentimento e as observações e relatos registrados no caderno de campo das bolsistas.

II - Ressignificação do processo de ensino-aprendizagem
No primeiro encontro do projeto percebemos alunos com a auto-estima baixa, o grupo de surdos segregados no interior da sala e todos com muita dificuldade na aquisição da leitura e da escrita em português embora os alunos estejam na III fase da EJA, apenas três conseguem, com muita dificuldade, ler e escrever.
No segundo encontro, iniciamos com o VHS “Mãos”, produzido pelo Centro de Vida Independente (CVI, 1997) que mostra várias pessoas com deficiência, mas que conseguiram vencer as limitações e assim usufruem “de condições de vida o mais comuns ou normais possíveis na comunidade onde vivem” (GLAT, 1995, p.12).
Após o vídeo “Mãos”, os alunos mostraram-se surpresos com o fato de pessoas com mãos comprometidas conseguirem digitar utilizando a língua no lugar das mãos, além de manusear uma máquina de estamparia com os pés.
Posteriormente, relatamos a vida do artista barroco brasileiro Antônio Francisco Lisboa, conhecido também como "Aleijadinho”. Foram utilizadas transparências com fotos do artista e de sua obra, bem como réplicas dos doze profetas que o artista esculpiu.

No campo das artes visuais, um dos tipos de representação visual [...] é a imagem tridimensional – em relevo (alto-relevo ou baixo-relevo) ou escultura (modelada, entalhada ou construída). Trata-se sempre de representação: a figura tridimensional está no lugar da coisa real (ou de uma idéia), e assim, nem todas as suas características são traduzidas na forma final. (REILY, 2004, p.64)

Desenvolvemos neste dia as seguintes atividades: primeiramente cada aluno compartilhou com a turma o que mais havia gostado da história para posteriormente realizarem uma recriação. Todos os alunos presentes nesse dia ficaram admirados com as obras feitas por um artista que possuía uma doença degenerativa.
O aluno Walter1 que apresenta problemas de relacionamento e sintomas depressivos, ao referir-se a um dos personagens do filme que não tinha os braços disse:
2 Utilizaremos nomes fictícios para nos referirmos aos alunos.

“Ele não é um menino triste”. (relato de Walter)

Marcel, que no primeiro dia do projeto (observação) evitava encarar as pessoas, após ver o vídeo e ouvir a história, passou a olhar todos nos olhos e sorrir. Seus olhos pareciam possuir a expressão "Se ele conseguiu, eu também consigo". Marcel tem os pés e as mãos com os movimentos comprometidos, e a sua escultura era na verdade um auto-retrato. Após revisão em pesquisas baseadas na auto-percepção de pessoas deficientes, os autores Nunes, Glat, Ferreira e Mendes (1998) perceberam que:

A fala desses sujeitos é atravessada, do começo ao fim, pelas marcas do estigma. O relato da maioria revelou que, [...] sua auto-imagem estava diretamente vinculada à percepção que os outros tinham a respeito deles, sendo, com isto, formada pelos estereótipos e preconceitos, que têm sua concretização na exclusão efetiva destes indivíduos dos espaços sociais resultando em uma marcante limitação existencial. (p.94)

Desta forma, a arte transforma e instiga a criatividade e a subjetividade do aluno, fazendo-o perceber-se como protagonista de sua própria criação, dando liberdade para que ele possa criar de acordo com o seu imaginário. Segundo Perondi, Tronca e Tronca (2001):

A educação estética vai contribuir pedagogicamente, ampliando as experiências dos alunos, fazendo com que a fantasia se apóie na memória e disponha de seus dados, em novas e cada vez mais complexas combinações, proporcionando as bases para a atividade criadora. (p.158)

Outro momento interessante refere-se ao aluno Fernando, que fez a imagem do Pão de Açúcar, querendo expressar o desejo de ir até o local. Segundo Batista e Mantoan (2006): “quando um aluno cria com liberdade, fazendo seus desenhos e suas produções, ele levanta hipóteses e imprime sua marca na construção simbólica de sua história.” (p.61)
O terceiro encontro foi o relato da história do músico Ludwig Van Beethoven. Primeiramente exibimos o DVD "O segredo de Beethoven" e depois com o auxílio de transparências com fotos do artista, de sua casa e dos objetos que utilizava para compor (piano e partitura, além de um CD de algumas das obras mais famosas do artista que foi especialmente compilado e apresentado à turma, composto por: 9ª Sinfonia, 5ª Sinfonia, Fur Elise, 3ª Sinfonia, 4ª Sinfonia, 7ª Sinfonia, 8ª Sinfonia e Moonlight Sonata). Após o relato de uma parte da história, foi solicitado a cada um dos alunos presentes que tocassem o alto-falante, isso com o intuito de que cada um, tanto alunos surdos quanto ouvintes, pudessem sentir as vibrações na caixa de som e assim descrevessem suas sensações. Assim, ainda que de forma simples, os alunos vivenciaram o meio encontrado por Beethoven para compor suas músicas após a perda total da audição.
Após esta vivência, as atividades sugeridas aos alunos foram contar aos colegas da turma o que mais gostaram da vida do artista e a produção de um desenho sobre o fato relatado. Quase que unanimemente, os alunos gostaram da ajuda que Beethoven recebeu de Ana Holtz, quando apresentou pela primeira vez a 9ª Sinfonia. Esta cena retrata Ana marcando o tempo para que Beethoven (com dificuldades devido à surdez) pudesse reger a orquestra. Esta cena retrata a inclusão como uma possibilidade de troca, beneficiando todas as pessoas envolvidas que tenham uma deficiência ou não. Segundo Strully e Strully (1999):

[...] As amizades protegem-nos de estar sós e vulneráveis e garantem que nossas vidas sejam ricas e plenas [...] Está tornando-se cada vez mais claro que sem amigos, não pode ocorrer a verdadeira inclusão de uma pessoa na escola e na comunidade [...] Precisamos começar a construir e a estimular as amizades na escola. (p.184)

Alguns alunos relataram:

"Foi muito importante para ele a ajuda dela! Quando eu for adulta quero compor e tocar como ele!". (relato de Bel, aluna surda).

"Eu entendo como ele se sentia! Eu também tenho minha Ana Holtz! Ela é minha filha! Eu desde criança não escuto nada no ouvido esquerdo e agora escuto pouco do direito, então quando alguém fala comigo do lado esquerdo eu olho para minha filha e ela repete o que a pessoa falou e aí eu entendo e respondo!". (relato de Gina, uma aluna com aproximadamente 50 anos, cujo diagnóstico é de dificuldade de aprendizagem).

A partir das falas, principalmente da aluna Gina, ficou evidente que o professor precisa estar mais atendo às necessidades dos alunos, isso porque o que parecia ser dificuldade de aprendizagem sem causa aparente na realidade, era uma perda da audição. A professora ao saber desse fato passou a ensinar a essa aluna de outra forma, principalmente procurou falar em direção ao lado que ainda há resíduo de audição.
Na outra atividade deste dia, muitos desenharam Beethoven, como foi o caso de Bel, uma das alunas surdas incluída, que desenhou Beethoven regendo e Ana Holtz o ajudando. O desenho do aluno Ronaldo foi o que chamou mais atenção, devido a riquezas de detalhes, mostrando o interior da igreja no momento que Beethoven regeu a 9ª Sinfonia. Ao final da atividade, realizou-se uma exposição com todas as produções dos alunos.
O pintor Oscar Claude Monet foi o artista que dedicamos o quarto encontro. Contamos sua história com o auxílio de transparências com foto do artista e de sua obra e do livro “Linéia no Jardim de Monet”, além de exibir fotos impressas de suas obras mais famosas como a Ponte Japonesa, Impressão do pôr-do-sol e Ninféias. Após realizarmos uma atividade com a turma, que foi: reproduzir com guache uma das obras do artista. No entanto, os alunos deveriam fazê-la de olhos fechados, de forma a tornar a experiência a mais verossímil possível, simulando uma pessoa com deficiência visual, como foi o caso de Monet que continuou pintando mesmo após perder totalmente a visão pela catarata.

“Como ele conseguia fazer isso se não enxergava?” (relato de Bel, aluna surda)

Segundo Vygotsky (2003):

Não há dúvida de que lembrar de um elemento isolado, pensando em conceitos, é completamente diferente de pensar em complexos, embora sejam processos compatíveis [...] A verdadeira essência da memória humana está no fato de os seres humanos serem capazes de lembrar ativamente com a ajuda de signos. (p. 68)

O resultado desta atividade foi surpreendente, isto porque alguns alunos, como Renata, que reproduziu a Ponte Japonesa de forma muito similar à produzida por Monet. A aluna Alana desenhou uma bela paisagem, não se fixando apenas na história, mas fez associação com as Olimpíadas e com muita criatividade desenhou duas canoas, dentre elas uma com a bandeira brasileira, simulando uma competição.
As descrições dos trabalhos realizados no decorrer do projeto apontam as potencialidades e criatividades por parte dos alunos e leva à reflexão do por que eles têm um histórico de fracasso escolar. É importante que:

na mediação cultural, o pensamento está ancorado na atividade, pois entende-se que o ato precede a compreensão – o ato gera a compreensão, sendo específico ao contexto de significação. Daí procede que o trabalho pedagógico se realiza em contexto e em atividade. O aluno é visto como reflexivo, alguém que reflete sobre seu próprio comportamento e o dos outros. [...] Ao pensar sobre o seu próprio processo em atividade, elas se conscientizam do próprio aprender. Por um lado, certamente, essa dinâmica impede o fluxo automático da ação e interrompe o ritmo do desempenho. Mas, por outro, promove a oportunidade de aprendizagem criativa, qualitativamente muito mais autônoma e significativa. (REILY, 2004, p.22, grifo da autora)
No último encontro, visando uma reflexão das atividades realizadas, percebemos o quanto é importante este processo de inclusão que beneficia a todos os alunos. Segundo Stainback e Stainback (1999):

Quando existem programas adequados, a inclusão funciona para todos os alunos com e sem deficiências, em termos de atitudes positivas, mutuamente desenvolvidas, de ganhos nas habilidades acadêmicas e sociais e de preparação para a vida na comunidade. [...] Os alunos aprendem a ser sensíveis, a compreender, a respeitar e a crescer confortavelmente com as diferenças e as semelhanças individuais entre seus pares. (p.22-23)

É importante ressaltar que a intérprete de Libras foi fundamental para o êxito deste trabalho, visto que:

Usuários de sinais da comunidade surda são ótimos contadores de histórias. A expressividade da face e dos movimentos corporais, aliada às configurações de mão, cria a dinâmica do relato que o ouvinte produz com a cadência da voz. Quem domina a Libras é capaz de materializar a imagem do pensamento diante dos olhos do seu interlocutor. Diferentemente do ouvinte, que usa a modulação da voz e a gramática, as modalidades para produzir sentido em sinais são visuais, espaciais e rítmicas. (REILY, 2004, p.133)


Considerações finais:
A partir das biografias narradas, através de livros de histórias e vídeos de artistas com deficiência, o referido projeto contribuiu para promover a inclusão através do contato e vivência com o universo da arte.
Todos os educandos presentes adquiriram plena certeza de que eram capazes de alcançarem seus ideais. Essas experiências, vividas pelos desfavorecidos socialmente, têm contribuído para que se assumam como sujeitos de um processo permanente de conhecimento da realidade, onde adquirem saberes e constroem culturas de resistência, como afirma Freire (1992, p. 55): “[...] perceber suas ‘manhas’ indispensáveis à cultura de resistência que se vai constituindo e sem a qual não podem defender-se da violência a que estão submetidos”.
Os alunos se identificaram com os artistas, entendendo que estes também possuíam limitações e potencialidades. Outro ponto que também merece destaque é a fala de uma aluna surda, que mesmo após o relato da história de Beethoven, disse como se não acreditasse:

“Mas ele era surdo?”. (relato de Cristina)

Este relato demonstrou surpresa, já que tinha internalizado, a deficiência como barreira.
Consideramos que as ressignificações das obras dos artistas com deficiências possibilitaram a esta classe de EJA espaços de inclusão, pois todos os alunos se perceberam como sujeitos capazes de produzir. O trabalho artístico como possibilidades de criação e de expressão dos sentimentos, nos permitiu descobrir que uma senhora embora considerada ouvinte era surda. Desta forma, podemos perceber que “na escola inclusiva, os princípios de aprendizagem significativa, em ação e por mediação, valem tanto para os alunos com necessidades educativas especiais como para qualquer outro aluno.” (REILY, 2004, p.22)


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