http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/027.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
O NECESSÁRIO DEBATE SOBRE A CRIATIVIDADE NO TRABALHO
PEDAGóGICO DO PROFESSOR DE ARTE
Vera lúcia penzo fernandes, PPGEdu/UFMS
Alexandra ayach anache, PPGEdu/UFMS
RESUMO
A criatividade é vista como um dos principais fins do ensino de arte, no entanto poucos são os
estudos sobre a criatividade no trabalho pedagógico. Tendo em vista as constantes exigências de
mudanças na prática pedagógica para que a educação inclusiva se efetive, nosso objetivo é
apresentar algumas reflexões sobre a relevância e a necessidade da criatividade no trabalho
pedagógico. Por meio de levantamento bibliográfico e à luz a psicologia histórico-cultural, buscamos
autores que discutem a criatividade ou a necessidade de mudanças no trabalho pedagógico, para
que pudéssemos compreender em que contexto é possível discutir a criatividade. A questão é que a
criatividade no trabalho educativo se expressa nas formas de realização que representam algo novo
e valioso para a aprendizagem dos alunos, além de ser um fator determinante para que as mudanças
exigidas pela educação inclusiva se efetivem.
INTRODUçãO
Este artigo traz algumas reflexões sobre a necessidade de abordar a questão da criatividade na
educação inclusiva, tendo em vista as constantes exigências de mudanças na prática pedagógica
para que a educação inclusiva se efetive. As questões aqui propostas emanam da pesquisa sobre as
configurações subjetivas da criatividade no trabalho pedagógico, que tem origem em observações
do cotidiano do professor de arte e de questões oriundas de cursos e oficinas ministradas no
decorrer do ano de 2006.
Temos observado que muito se fala da criatividade. É comum ouvirmos “nós queremos formar
cidadão criativos, críticos”, “este aluno é criativo” ou ainda “a arte desenvolve a criatividade”. Está
prerrogativa se acentua quando a discussão envolve as mudanças necessárias à inclusão de alunos
com necessidades educativas especiais. É evidente a necessidade de que professores desenvolvam
um trabalho diferenciado e inovador, onde “o professor precisa ser bastante criativo”, “aquele tem
um bom trabalho porque é criativo”.
A criatividade é um termo que tem sido utilizado na educação como um adjetivo que caracteriza um
profissional dinâmico e flexível, percebendo as constantes mudanças que estão ocorrendo tendo a
capacidade de inovar e mudar sua prática pedagógica. Esta mudança pressupõe um profissional
autônomo que se adapte as necessidades tecnológicas e pedagógicas que precisam ser implantadas
a partir da demanda do mercado de trabalho.
Este perfil de profissional competente advém das pedagogias das competências cujo principal
representante é Perrenoud (2000). A pedagogia das competências é um retrato fiel do que significa
a aproximação da educação como o mundo do trabalho. Estas competências impingem a existência
de profissionais flexíveis, adaptáveis, autônomos e criativos (NUNES, 2006). Nesse sentido a
criatividade é uma habilidade que permite a solução de problemas e a inovação de práticas e
saberes, no entanto, ela não deve ser entendida meramente como uma habilidade para resolver
problemas, nem muito menos deve-se justificar sua presença na escola pelas necessidades do
mercado de trabalho.
A questão é compreender que a escola existe para propiciar o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado, e o lócus onde se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem. A
educação, segundo Vigotski (2001), tem um princípio de criação. Todo o processo educativo é um
ritual estético que surge não da tendência para a satisfação de algumas necessidades pequenas, no
entanto de uma criação arrebatadora e consciente. Nesta perspectiva, Vigotski (1987) afirmou que
a conduta do homem distingue-se em dois impulsos básicos: um é o reprodutor, estritamente
vinculado com a memória e a repetição de normas de conduta já criadas e elaboradas; o outro
impulso é o criativo, é aquele que garante ao homem a capacidade de adaptar-se constantemente às
novas situações que lhe são apresentadas. A atividade humana não se limita a reproduzir ações, mas
também, diante das experiências vividas, reelabora e estabelece novas conexões, que levam o
homem à produção do novo.
Para Vigotski (1987) a atividade humana transforma ativamente a realidade, não se restringindo a
reproduzir feitos ou impressões vividas, porém criando novas imagens, novas ações, tudo que
excede o marco da rotina, que tem uma mínima partícula de novidade, tem sua origem no processo
criador do homem. Esse processo tem como elemento base a imitação, que representa mais do que
um mecanismo no processo de aprendizagem, é um dos principais determinantes na manutenção e
na continuação da cultura. O que garante a manutenção da existência humana é a sua capacidade de
se reproduzir, no sentido de reproduzir um modelo – cultural, social, político, pedagógico,
econômico, estético, religioso, moral – e não de reproduzir somente a sua espécie.
Este reproduzir não é passivo, pois a reprodução está intrinsecamente ligada à atividade criadora do
homem. É justamente a atividade criadora o que impulsiona o homem para diante, sendo possível
graças aos conhecimentos acumulados ao longo de sua história pessoal ou de sua espécie.
A criatividade é uma atividade inerente ao desenvolvimento humano e se insere especificamente nas
interações sociais, ou seja, está diretamente vinculada à realidade concreta, uma vez que a atividade
criativa demanda que o sujeito tenha plena consciência do mundo que o cerca, para que então
possa estabelecer associações e reflexões em direção ao desenvolvimento de algo novo e valioso
para o processo de aprendizagem.
A criatividade, segundo Mitjáns Martínez (2005; 1997), é um processo complexo da subjetividade
humana, na sua simultânea condição de subjetividade individual e subjetividade social, que se
expressa na produção de algo novo e valioso em um determinado campo da ação humana. Nesse
sentido, a criatividade no trabalho educativo se expressa nas formas de realização que representam
algo novo e valioso para a aprendizagem dos alunos.
Sendo assim, neste texto, buscamos autores que discutem a criatividade no trabalho pedagógico ou
que mencionam a necessidade da criatividade no trabalho educativo, para que pudéssemos
compreender em que contexto é possível discutir a criatividade. Nosso objetivo é apresentar
algumas reflexões sobre a relevância e a necessidade da criatividade no trabalho pedagógico, por
meio de levantamento bibliográfico e à luz a psicologia histórico-cultural.
MéTODO
O referencial teórico da psicologia histórico-cultural, foi escolhido como pertinente neste trabalho,
uma vez que ele nos permitiu desvelar o nosso objeto de estudo como sendo multideterminado, e,
portanto complexo, exigindo do pesquisador análises que extrapolem a descrição, endo esta apenas
um momento necessário para a construção de explicações. Nesse sentido, faz-se necessário
colocarmo-nos no interior dos limites e contradições da pesquisa científica, resistindo a utilização de
instrumentos que venham apenas acomodar princípios e conceitos pré-estabelecidos.
Assumimos o princípio da Epistemologia Qualitativa, a qual defende o caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, onde a realidade “é um domínio infinito de campos inter-relacionados independentes da nossa
prática [...] quando nos aproximamos desse complexo sistema
através de nossa prática, formamos um novo campo de realidade” (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 5)
Dessa maneira há um rompimento da dicotomia teoria e empiria, pois à medida que temos definidos
os marcos teóricos sobre a presença da criatividade no trabalho educativo para a efetivação da
educação inclusiva no ensino da arte, temos também demarcado que as informações oriundas do
campo empírico nos colocaram diante de novas possibilidades para a formulação de uma teoria da
criatividade.
Assim, passamos para outro princípio o da legitimação do singular como via de produção de
conhecimento, o que implica em:
Considerar a pesquisa como produção teórica, entendo por teórico a
construção permanente de modelos de inteligibilidade que lhe dêem
consistência a um campo ou um problema na construção do conhecimento,
ou seja, o teórico não se reduz a teorias que constituem fontes de saber
preexistente em relação ao processo de pesquisa, mas, concerne, muito
particularmente, aos processos de construção intelectual que acompanham a
pesquisa. O teórico expressa-se em um caminho que tem, em seu centro, a
atividade pensante e construtiva do pesquisador (GONZÁLEZ REY, 2005, p.
11).
O valor do singular provém justamente do modelo teórico que o pesquisador desenvolve no
percurso da pesquisa. E a singularidade está estreitamente relacionada ao valor teórico da
subjetividade no estudo do homem, da cultura e da sociedade.
Tendo em vista nossos objetivos realizamos um levantamento bibliográfico, estudando os
determinantes históricos, legais, culturais e sociais, que se estabelecem por meio dos conceitos e
princípios que estão no debate, a criatividade no trabalho pedagógico no âmbito da educação
inclusiva e no ensino de arte.
A partir do levantamento bibliográfico procedemos a análise do material, no que se refere aos
apontamentos sobre a importância e a necessidade de novas práticas pedagógicas e os princípios
que movem a discussão sobre criatividade no trabalho pedagógico, para então apontar algumas
considerações sobre o assunto.
RESULTADOS E DISCUSSãO
A bibliografia estudada e a realidade concreta nós apontou que a escola precisa saber trabalhar,
com maior propriedade, as diferenças e as deficiências, ou seja, precisa aprender a trabalhar com
alunos portadores de necessidades educativas especiais, ou seja, alunos com deficiências físicas e
mentais, como alunos negros, de origens étnicas distintas, de alunos infratores, com dificuldades
sociais, que vivem nas ruas, enfim que se constituem nas minorias sociais e que estão distantes ou se
distanciam das escolas (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994).
Obviamente a promoção de condições de inclusão é um esforço coletivo e que resulta de execuções
de políticas nacionais e internacionais, envolvendo assim, o Estado, a família e a comunidade, mas
grande parte da responsabilidade recai sobre a escola e o professor. Fica evidente que as práticas
pedagógicas precisam ser modificadas de maneira a respeitar as diferenças e deficiências, para que
a educação seja, de fato, oportunizada a todos, crianças e adolescente, homens e mulheres.
Princípio esse colocado tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos como na Declaração
de Jomtiem sobre a Educação para todos (BRASIL, 2004 e 2005).
Estamos vivendo um momento histórico de revisão e de profundas reflexões para que
transformações ocorram tendo em vista o direito de uma educação para todos. Nesse sentido, uma
escola inclusiva, segundo Carvalho (2005, p. 36) pressupõe:
Uma nova maneira de entendermos as respostas educativas que se
oferecem, com vistas à efetivação do trabalho na diversidade. Está baseado
na defesa dos direitos humanos de acesso, ingresso e permanência com
sucesso em escolas de boa qualidade (onde se aprende a aprender, a fazer, a
ser e a conviver), no direito de integração com colegas e educadores, de
apropriação e construção do conhecimento, o que implica, necessariamente,
em previsão e provisão de recursos de toda ordem.
A escola necessita de mudanças de atitudes, de novas formas de ver e de sentir as diferenças
individuais, com a consciência de que somos todos passíveis de transformações, uma vez que
estamos em constante processo de desenvolvimento. Somos sujeitos singulares constituídos em
consonância com a realidade social e, por isso mesmo, somos agentes de mudança social e
individual que precisam acontecer para atender as constantes demandas culturais e sociais da época
em que vivemos. Segundo Carvalho (2005, p. 37), existem diversos fatores que precisam ser
ressiginficados em favor de uma escola inclusiva:
- As condições sociais e econômicas de nosso país e que têm acarretado a
desvalorização do magistério fazendo com que, muitas vezes, as escolas
funcionem como espaços de abrigar e de cuidar os aluno em vez de serem
espaços para a construção do conhecimento e de exercício da cidadania;
- as condições materiais em que trabalham nossos professores;
- sua formação inicial e continuada;
- as condições requeridas para que a aprendizagem se efetue em “clima”
prazeroso e criativo.
Esses fatores formam uma complexa rede de variáveis que dependem de articulações políticas e
sociais, de uma contínua troca de idéias e experiências, divulgando acertos e equívocos em busca de
transformações sociais e pedagógicas que possam se concretizar em curto, médio ou em longo
prazo.
A transição para uma educação inclusiva impõe uma revolução na estrutura organizacional e
pedagógica da escola, bem como mudanças políticas e culturais que atendam a diferentes realidades
sociais, constituídas e constituintes, nas especificidades de escola e de seus alunos.
As mudanças necessárias à inclusão escolar podem ocorrer a partir do próprio trabalho educativo,
conforme Carvalho (2005, p. 122) “o trabalho na diversidade requer, de imediato, mudanças nas
ações pedagógicas em sala de aula. Aprendemos a programá-las sob a hegemonia da normalidade,
como se houvesse um aluno ‘padrão’ que servisse de modelo aos demais”.
O professor, ao receber alunos com necessidades educativas especiais, continua planejando suas
aulas para um grupo homogêneo e, para que consiga perceber a necessidade de mudar estratégias e
de introduzir novas ações, precisa ser criativo, tanto para perceber os problemas quanto para
solucioná-los.
Mitjáns Martínez (2006) ao afirmar que a escola tem que mudar, explica que muitas transformações
são necessárias. A autora questiona a existência de possibilidades reais de transformação na escola,
instituição essa excludente na sua própria essência constitutiva.
As mudanças requeridas passam, necessariamente, entre outros importantes
fatores, pela transformação dos educadores, que no seu caráter ativo e
criativo constituem os pilares essenciais das mudanças necessárias. Por isso
resulta imprescindível que os professores não apenas tenham acesso à
informação técnica, mas que desenvolvam recursos pessoais que lhes
permitam se apropriar criativamente da informação técnico-científica
disponível, podendo utilizá-la em um trabalho pedagógico de um novo tipo.
As transformações necessárias implicam em alteração das representações e valores sobre o papel
da escola em relação à diversidade e às diferenças; a compreensão da singularidade e da
complexidade da aprendizagem e a reorganização do trabalho pedagógico. O professor torna-se o
centro das mudanças e sua contínua atualização, reflexão sobre a realidade escolar e a ação voltada
para um trabalho educativo diferenciado são imprescindíveis no sentido de que barreiras para o
aprendizado sejam rompidas. Carvalho (2005, p. 125), explica que,
Os professores têm encontrado algumas estratégias para remover as
barreiras da aprendizagem e para a participação dos alunos, que são fruto de
suas experiências e dos seus conhecimentos acerca dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento humano e, muitas outras, devem-se à sua
criatividade. Outras decorrem das oportunidades que as escolas oferecem
para que os professores possam se reunir e discutir a prática pedagógica,
“trocando figurinhas”.
Estamos imbricados numa complexa rede que contem inúmeros determinantes, sendo que um dos
mais relevantes se acentua sobre o papel ativo e criativo do professor no processo de transição para
a educação inclusiva. Conforme Carvalho (2005, p. 110), “a proposta da educação inclusiva é
muito mais abrangente e significativa do que o simples fazer parte” o que implica em uma ação
pedagógica que esteja permeada de novas proposições e de novas formas de ensinar, criadas e
executadas pelo professor.
Além dos aspectos objetivos dados pela realidade escolar e social, os aspectos subjetivos
implicados nesta mesma realidade precisam ser compreendidos, favorecendo um trabalho educativo
diferenciado. Mitjáns Martínez (2006) destaca a necessidade análise de dois conjuntos de recursos
subjetivos para um trabalho diferente: de um lado, as representações dos professores, suas crenças
e valores em relação às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos e suas
possibilidades como educador; e de outro lado, a configuração de recursos subjetivos que podem
favorecer a ação pedagógica criativa demandada pela singularidade dos alunos com os quais
trabalha.
A criatividade está entre os fatores ressignificantes da escola e entre os procedimentos adotados
pelos próprios professores para que a educação inclusiva aconteça.
A criatividade no trabalho pedagógico para uma educação de um novo tipo
reveste-se de uma importância particular, tanto no que se refere à
organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, quanto na
organização e desenvolvimento do trabalho pedagógico em sala de aula.
Precisamente, trata-se de modificar as formas de trabalho escolar para
contribuir à aprendizagem e o desenvolvimento de todos os alunos
(MITJÁNS MARTÍNEZ, 2006, p. 5).
Torna-se evidente que esta discussão é complexa, principalmente porque a criatividade não tem
sido tratada com a devida relevância e importância que merece. Ela está presente no meio
educacional de maneira cristalizada, como se fosse uma verdade claramente compreendida e
utilizada, isto quando não se restringe às atividades diferenciadas que somente professores com
“dom” especial podem desenvolver ou às especificidades do componente curricular Artes.
A título de exemplo das contradições e equívocos delegados à criatividade na educação, tomamos
como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais e a própria condição do ensino de Arte na
escola. No volume introdutório dos PCNs, a criatividade aparece em um dos objetivos gerais do
ensino fundamental, como podemos observar
- Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los,
utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a
capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua
adequação (BRASIL, 2001, p. 56. Grifos nossos).
Ou ainda, quando são apresentados os princípios e fundamentos para 1ª a 4ª série, afirma-se que
sejam explorados no processo de ensino e aprendizagem,
[...] a aprendizagem de metodologias capazes de priorizar a construção de
estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do
conhecimento, a construção de argumentação capaz de controlar os
resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico capaz de
favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das
explicações propostas (BRASIL, 1998, p. 35. Grifos nossos).
Em ambos os casos, a criatividade é um meio a ser utilizado ou um fim a ser alcançado tendo em
vista o processo de aprendizagem dos alunos. No entanto, se a criatividade aparece nos objetivos
do ensino fundamental e na organização do processo de ensino e aprendizagem, ela não aparece
nos objetivos gerais dos demais componentes curriculares. Dentre todos os componentes
curriculares o ensino de Arte é o único que contem em seus objetivos gerais a presença do
processo de criação:
Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e
conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no
percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e
soluções (BRASIL, 2001, p. 53).
Mesmo que exista uma crítica ao desenvolvimento das linguagens artísticas, importantes apenas
como “recreação, equilíbrio psíquico, expressão criativa ou simplesmente treino de habilidades
motoras” (BRASIL, 2001, p. 63), ainda persiste o fato de que o componente curricular Arte ainda
seja um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da criatividade. De acordo, com os
pressupostos teóricos presentes nos PCNs (1998), a Arte é compreendida como uma área de
conhecimento, cujas produções artísticas estão inseridas em um contexto sócio-cultural e, no
processo de ensino e aprendizagem de arte, princípios, meios e fins dão grande ênfase no processo
criador do aluno, que se faz presente tanto na contextualização, na apreciação e na produção
artística. A criação aparece apenas como objetivo do ensino superior, conforme consta no artigo 43
da Lei de Educação e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996).
Sendo assim, fica evidente a existência de uma lacuna, pois em se tratando da educação inclusiva no
ensino fundamental fica evidente a necessidade de professores criativos, por outro lado, existem
poucos estudos sobre a criatividade que possam esclarecer e apontar caminhos para atender a esta
emergente necessidade de mudança na escola.
O estudo sobre a criatividade no trabalho educativo dentro do contexto da educação inclusiva
aparece apenas em Mitjáns Martínez (2005; 2006). De maneira difusa, este tema emerge dos
discursos dos relatos do livro “Experiências educacionais inclusivas: Programa Educação Inclusiva:
direito à diversidade" (BRASIL, 2006) e em Carvalho (2006).
A revisão de literatura sobre a criatividade no trabalho educativo do professor de arte, evidencia
que existem poucos estudos sobre a criatividade no ensino de arte, os que existem centram-se no
desenvolvimento da criatividade por intermédio de recursos tecnológicos ou de linguagens artísticas;
e a criatividade como produto do processo de ensino e aprendizagem. Existindo tantas outras que
evidenciam os processos de criação de artistas. Nenhum aborda a questão da criatividade do
professor de arte frente à educação inclusiva.
A discussão sobre a criatividade evidencia que não é possível estudar fenômenos educativos ou
sociais de maneira fragmentada e isolada. Compreender a totalidade histórica em que se insere essa
atividade humana permite alcançar as propriedades e as conexões que definem a existência do
processo criativo em sala de aula, portanto, a educação inclusiva depende de diversos fatores para
que seja operacionalizada.
A concepção de inclusão implica em uma alta dose de criatividade e
inovação na instituição escolar já que esta tem uma longa história de
padronização e homogeneização dos processos educativos e,
conseqüentemente, de exclusão daqueles que “não aprendem” segundo as
ações padronizadas que caracterizam boa parte do trabalho pedagógico
(MITJÁNS MARTÍNEZ, 2005, p. 2).
Uma das grandes questões colocadas é que o professor precisa rever, mudar a sua prática, pois se
percebe que a utilização de modelos pedagógicos tradicionais implica em ações classificatórias,
descritivas e anacrônicas, uma vez que se buscam nesses modelos, “receitas” de como se deve
proceder, uma fórmula para se obter resposta rápida a problemas de como ensinar sem esforço
cognitivo. Esse modelo pedagógico reforça e mantém o processo de exclusão dos alunos.
A proposição da necessidade de inovações e de mudanças no trabalho educativo é uma das
prerrogativas básicas para que a educação inclusiva aconteça. Esse novo fazer, compreende
critérios valorativos de pertinência e de eficácia, no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos,
configurando o significado da criatividade no trabalho educativo.
A criatividade no trabalho educativo se expressa no trabalho que o professor realiza
intencionalmente com o intuito de contribuir com a aprendizagem e o desenvolvimento de seus
alunos (MITJÁNS MARTÍNEZ, 2005 e 1997) não estando restrito à metodologias de ensino, mas
implicando diretamente nos objetivos, na seleção e organização de conteúdos, nas estratégias e
métodos de ensino, nas atividades extraclasse, na natureza das bibliografias e do material didático,
nas formas de avaliação, na relação professor-aluno e no clima comunicativo-emocional que
caracteriza a sala de aula e a escola no seu conjunto.
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