http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/037.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
ANÁLISE DA AQUISIÇÃO DE HABILIDADES FUNCIONAIS EM CRIANÇAS
ATENDIDAS NA ESTIMULAÇÃO PRECOCE
Camilla Zamfolini Hallal
Lígia Maria Presumido Braccialli
Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – campus de Marília
RESUMO
A estimulação precoce visa evitar ou minimizar os distúrbios do desenvolvimento neuropsicomotor e
possibilitar à criança desenvolver-se em todo o seu potencial. O objetivo deste estudo foi analisar a
aquisição de habilidades funcionais em crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
inseridas em um programa de estimulação precoce, segundo a percepção dos cuidadores. Método:
Participaram do estudo 9 cuidadores de crianças com idade entre 0 e 3 anos atendidas no programa
de estimulação precoce, após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Para a coleta
de dados foi utilizado o teste Pediatric Evaluation of Disability Inventory aplicado por meio de
entrevista direta ao cuidador. A primeira coleta foi realizada em outubro de 2006 e a segunda em
maio de 2007. Para o estudo utilizou-se somente a parte I do teste Pediatric Evaluation of
Disability Inventory. Resultados: De acordo com a idade cronológica os resultados encontrados
foram: Nos escores normativos referentes à área de auto-cuidado, 6 crianças apresentaram
evolução, 1 criança apresentou regressão e 2 crianças mantiveram a mesma pontuação. Nos
escores normativos referentes à área de mobilidade, 6 crianças apresentaram evolução, 1 criança
apresentou regressão e 2 crianças mantiveram a mesma pontuação. Nos escores normativos
referentes à área de função social, 8 crianças apresentaram evolução e 1 criança apresentou
regressão na pontuação. Discussão: Tal fato pode estar relacionado ao diagnóstico clínico de cada
criança, os quais mantêm características específicas que influenciam de forma distinta no
desenvolvimento neuropsicomotor. Conclui-se que, segundo o escore normativo, a maioria das
crianças obteve evolução na pontuação, porém, algumas crianças não atingiram a faixa mínima de
normalidade esperada para a idade. Assim, sugere-se que o programa de estimulação precoce
aliado ao desenvolvimento intrínseco da criança, contribui para a aquisição de habilidades funcionais
em crianças com atraso no desenvolvimento.
Palavras-chave: Desenvolvimento Motor. Estimulação Precoce. PEDI.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento motor segue uma ordem cronológica evolutiva com etapas distintas e previsíveis,
caracterizadas por mudanças nas habilidades e nos padrões de movimento que ocorrem durante a
vida (CAMARGOS; LACERDA, 2005; RAMOS; LUCAS; PEDROMÔNICO, 2000).
Estas mudanças ocorridas ao longo do desenvolvimento vêem sendo estudadas sob o enfoque de
diversas teorias. Durante muitos anos, o desenvolvimento motor foi explicado pelo ponto de vista
neuromaturacional, no qual, as alterações no comportamento motor se deviam exclusivamente à
maturação do sistema nervoso. A teoria dos sistemas dinâmicos, mais aceita atualmente, apontou
que, o comportamento motor não é influenciado apenas pelo sistema nervoso, mas também por
outros fatores, como os psicológicos e os ambientais (CAMARGOS; LACERDA, 2005). Segundo
Tecklin (2002), é a interação destes fatores que promove o desenvolvimento das habilidades
motoras.
O desenvolvimento neuropsicomotor da criança pode, no entanto, ser afetado negativamente por
diversos fatores incidentes nos períodos pré, peri e/ou pós-natais. Estes fatores aumentam a
probabilidade da criança manifestar alterações na aquisição de habilidades motoras, cognitivas e
psicossociais (CARAM et al., 2006; NETO et al., 2006). Assim, para possibilitar a intervenção
precoce nos atrasos evolutivos é imprescindível a identificação de distúrbios no desenvolvimento
neuropsicomotor no primeiro ano de vida (CAMPOS et al., 2006; BRETAS et al., 2005).
Além dos déficits neuromotores, os atrasos no desenvolvimento podem também resultar em
limitações nas habilidades funcionais. As atividades funcionais incluem, por exemplo, atividades de
auto-cuidado como alimentação e banho independentes, atividades de mobilidade como levantar da
cama e ir ao banheiro com independência, além de tarefas de função social como ir à escola e
interagir com outras crianças (MANCINI et al., 2002).
A estimulação precoce visa possibilitar ao indivíduo desenvolver-se em todo o seu potencial
(TUDELLA et al., 2004; ROBLES; WILLIANS; AIELLO, 2002). Quanto mais imediata for a
intervenção, preferencialmente entre os 0 a 3 anos de idade, maiores as chances de prevenir e/ou
minimizar a instalação de padrões posturais e movimentos anormais (OLIVEIRA; MARQUE,
2005; FORMIGA; PEDRAZZANI; TUDELLA et al., 2004).
A intervenção precoce baseia-se em exercícios que visam o desenvolvimento da criança de acordo
com a fase em que ela se encontra (SARRO; SALINA, 1999). Assim, implementa-se um conjunto
de atividades destinadas a proporcionar à criança, nos primeiros anos de vida, o alcance do pleno
desenvolvimento (MEC, 1995).
A Universidade Estadual Paulista, Campus Marilia, conta com um atendimento multidisciplinar em
estimulação precoce no Centro de Estudos da Educação e da Saúde, Marília, SP destinado às
crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Este serviço tem como objetivo principal
intervir precocemente nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional
(BRACCIALLI; BALEOTTI; TULER, 1998).
As incapacidades e/ou dificuldades da criança são manifestadas durante o desempenho das
atividades de vida diária. Assim, existe a necessidade de conhecer a opinião dos cuidadores sobre a
aquisição das habilidades funcionais das crianças com atraso no desenvolvimento e do impacto que
este gera nas rotinas diárias.
Deste modo, o objetivo deste estudo foi analisar a aquisição de habilidades funcionais em crianças
com atraso no desenvolvimento inseridas no Programa de Estimulação Precoce do CEES nas áreas
de auto-cuidado, mobilidade e função social, em um período de 6 meses, segundo a percepção do
cuidador.
MÉTODO
Participaram do estudo 9 cuidadores de crianças de 0 a 3 anos de idade com atraso no
desenvolvimento atendidas no Programa de Estimulação Precoce do CEES.
Todos os cuidadores das crianças atendidas no Programa de Estimulação Precoce do CEES em
outubro de 2006 foram convidados a participar do estudo, porém, foram excluídos da pesquisa os
cuidadores que não se dispuseram a participar, bem como àqueles que desistiram do atendimento
no período da coleta de dados (de outubro de 2006 à maio de 2007). Os participantes do estudo
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
comitê de ética da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista, campus de
Marília em outubro de 2006 (parecer do projeto nº 2691/2006).
Para o procedimento da coleta de dados foi utilizado o teste funcional norte-americano Pediatric
Evaluation of Disability Inventory (PEDI), o qual foi traduzido e adaptado às condições
socioculturais brasileiras. A avaliação com o questionário PEDI, é feita por meio de entrevista
ao cuidador, o qual deve saber informar sobre o desempenho da criança em atividades e tarefas
típicas da rotina diária.
Para este estudo foi utilizada somente a Parte I (habilidades funcionais) do teste PEDI. Um escore
bruto foi obtido em cada uma das três escalas da Parte I como resultado da somatória de todos os
itens pontuados em cada escala. Desta forma, foram obtidos três escores brutos totais que
informaram sobre o desempenho da criança nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social.
A coleta de dados foi feita por meio de entrevista direta ao cuidador durante visitas realizadas na
residência destes. As primeiras visitas ocorreram em outubro de 2006 nas quais os cuidadores
responderam pela primeira vez o teste PEDI. Seis meses após, em maio de 2006, foram realizadas
novas visitas, nas quais o teste PEDI foi novamente aplicado aos cuidadores.
Pela análise estatística de Rasch, foi obtido, a partir dos escores brutos e da idade cronológica das
crianças, escores normativos que informaram sobre o desempenho esperado de crianças de mesma
faixa etária, com desenvolvimento normal. Em cada grupo etário, o intervalo de normalidade
compreende um escore normativo entre 30 e 70. Escores normativos inferiores a 30 ilustram
significante atraso em relação às crianças de mesma faixa etária.
RESULTADOS
No Quadro 1 foram apresentados os resultados referentes a caracterização das crianças as quais se
refere o questionário PEDI, respondido pelos participantes da pesquisa.
Crianças
|
Idade cronológica (outubro
de 2006)
|
Idade cronológica (maio de
2006)
|
Diagnóstico
|
C1
|
3 anos e 11 meses
|
4 anos e 5 meses
|
paralisia cerebral diparética
|
C2
|
3 anos e 5 meses
|
3 anos e 11 meses
|
deficiência visual
|
C3
|
2 anos e 4 meses
|
2 anos e 10 meses
|
seqüela de hidrocefalia
|
C4
|
2 anos e 11 meses
|
3 anos e 5 meses
|
seqüela de hidrocefalia
|
C5
|
2 anos e 6 meses
|
3 anos
|
síndrome de Dandy-Walker
|
C6
|
3 anos e 10 meses
|
4 anos e 4 meses
|
síndrome de Jacobsen
|
C7
|
7 meses
|
1 ano e 1 mês
|
atraso no desenvolvimento
|
C8
|
1 ano e 11 meses
|
2 anos e 5 meses
|
atraso no desenvolvimento
|
C9
|
2 anos e 10 meses
|
3 anos e 4 meses
|
lesão nervosa periférica
|
Quadro 1 - Caracterização das crianças cuidadas pelos participantes
A tabela 1 mostra o desempenho de C1 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 1 – Valores de escores normativos obtidos por C1 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
24.5
|
<10
|
61.4
|
Maio/2007
|
10.3
|
<10
|
65.6
|
Nas áreas de auto-cuidado e mobilidade C1 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos inferiores a 30, o que caracterizou um desempenho inferior ao esperado para a idade
nestas áreas. Na área de função social C1 obteve na primeira e na segunda coleta escores
normativos acima de 30, valores considerados dentro da faixa de normalidade esperada para seu
grupo etário. De acordo com a tabela 1 observa-se que, no período do estudo, C1 apresentou
regressão nos escores normativos na área de auto-cuidado, manteve o mesmo desempenho na área
de mobilidade e evoluiu na área de função social.
A tabela 2 mostra o desempenho de C2 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 2 – Valores de escores normativos obtidos por C2 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
18.6
|
<10
|
27.7
|
Maio/2007
|
41.4
|
14.8
|
43.1
|
Nas áreas de auto-cuidado e função social C2 obteve, na primeira coleta, escores normativos
inferiores à faixa de normalidade esperada para a idade (30) e na segunda coleta apresentou
importante evolução com escore normativo superior à faixa de normalidade esperada. Na área de
mobilidade C2 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores normativos inferiores a 30, valores
que indicaram um atraso nesta área. De acordo com a tabela 2 observa-se que, no período do
estudo, C2 apresentou evolução nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e
função social.
A tabela 3 mostra o desempenho de C3 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 3 – Valores de escores normativos obtidos por C3 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
39.4
|
<10
|
58.2
|
Maio/2007
|
45.6
|
25.1
|
60.5
|
Nas áreas de auto-cuidado e função social C3 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos acima de 30, valores considerados dentro da faixa de normalidade esperada para seu
grupo etário. Na área de mobilidade C3 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos inferiores a faixa de normalidade esperada para a idade (30), caracterizando atraso
nesta área. De acordo com a tabela 3 observa-se que, no período do estudo, C3 apresentou
evolução nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social.
A tabela 4 mostra o desempenho de C4 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 4 – Valores de escores normativos obtidos por C4 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
28.3
|
<10
|
32.5
|
Maio/2007
|
31.4
|
36.2
|
42.5
|
Nas áreas de auto-cuidado e mobilidade C4 obteve, na primeira coleta, escores normativos
inferiores à faixa de normalidade esperada para a idade (30) e na segunda coleta apresentou
importante evolução com escore normativo superior à faixa de normalidade esperada. Na área de
função social C4 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores normativos acima de 30, valores
considerados dentro da faixa de normalidade esperada para seu grupo etário. De acordo com a
tabela 4 observa-se que, no período do estudo, C4 apresentou evolução nos escores normativos
nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social.
A tabela 5 mostra o desempenho de C5 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 5 – Valores de escores normativos obtidos por C5 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
<10
|
<10
|
21.9
|
Maio/2007
|
<10
|
<10
|
20.1
|
Nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social C5 obteve, na primeira e na segunda coleta,
escores normativos inferiores a 30, o que caracterizou um desempenho inferior ao esperado para a
idade nestas áreas. De acordo com a tabela 5 observa-se que, no período do estudo, C5 manteve o
mesmo desempenho nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado e mobilidade e apresentou
regressão na área de função social.
A tabela 6 mostra o desempenho de C6 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 6 – Valores de escores normativos obtidos por C6 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
<10
|
<10
|
28.7
|
Maio/2007
|
<10
|
27.9
|
31.2
|
Nas áreas de auto-cuidado e mobilidade C6 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos inferiores a 30, o que caracterizou um desempenho inferior ao esperado para a idade
nestas áreas. Na área de função social C6 obteve, na primeira coleta, escore normativo inferior a
faixa de normalidade esperada para a idade (30) e na segunda coleta apresentou importante
evolução com escore normativo superior à faixa de normalidade esperada. De acordo com a tabela
6 observa-se que, no período do estudo, C6 manteve o mesmo desempenho nos escores
normativos na área de auto-cuidado e apresentou evolução nas áreas de mobilidade e função social.
A tabela 7 mostra o desempenho de C7 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 7 – Valores de escores normativos obtidos por C7 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
36,2
|
17,6
|
32,8
|
Maio/2007
|
39,1
|
16,5
|
44,4
|
Nas áreas de auto-cuidado e função social C7 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos acima de 30, valores considerados dentro da faixa de normalidade esperada para seu
grupo etário. Na área de mobilidade C7 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos inferiores a faixa de normalidade esperada para a idade (30), caracterizando atraso
nesta área. De acordo com a tabela 7 observa-se que, no período do estudo, C7 apresentou
evolução nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado e função social, e apresentou regressão
na área de mobilidade.
A tabela 8 mostra o desempenho de C8 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 8 – Valores de escores normativos obtidos por C8 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
42,1
|
33,9
|
55,7
|
Maio/2007
|
52
|
46,5
|
60,8
|
Nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social C8 obteve, na primeira e na segunda coleta,
escores normativos acima de 30, valores considerados dentro da faixa de normalidade esperada
para seu grupo etário. De acordo com a tabela 8 observa-se que, no período do estudo, C8
apresentou evolução nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social.
A tabela 9 mostra o desempenho de C9 nas áreas de auto cuidado, mobilidade e função social, no
período compreendido entre outubro de 2006 e maio de 2007, segundo a percepção de seu
cuidador.
Tabela 9 – Valores de escores normativos obtidos por C9 nas habilidades funcionais
|
Auto-Cuidado
|
Mobilidade
|
Função social
|
Outubro/2006
|
37,1
|
<10
|
46,5
|
Maio/2007
|
45,5
|
25,5
|
48,8
|
Nas áreas de auto-cuidado e função social C9 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos acima de 30, valores considerados dentro da faixa de normalidade esperada para seu
grupo etário. Na área de mobilidade C9 obteve, na primeira e na segunda coleta, escores
normativos inferiores a faixa de normalidade esperada para a idade (30), caracterizando atraso
nesta área. De acordo com a tabela 9 observa-se que, no período do estudo, C9 apresentou
evolução nos escores normativos nas áreas de auto-cuidado, mobilidade e função social.
DISCUSSÃO
Ao se analisar a aquisição de habilidades funcionais de crianças com atraso no desenvolvimento e
sugerir a contribuição da intervenção em Estimulação Precoce nestas aquisições, deve se considerar
muitos fatores que podem contribuir para interpretação fidedigna dos resultados.
Segundo Mancini et al. (2002), a expectativa dos pais e cuidadores interferem diretamente na
percepção destes em relação ao desempenho da criança. Deste modo, alguns comportamentos
podem ser omitidos ou valorizados durante a avaliação na tentativa de transparecer o desempenho
almejado.
Os fatores culturais também exercem influênciam no desenvolvimento infantil. Mancini et al. (2002) e
Mancini et al. (2004) relatam o perfil protecionista da cultura brasileira em relação à realização das
tarefas de rotina diária pelas crianças. Deste modo, mesmo que a criança apresente capacidade de
realizar determinadas tarefas, muitas vezes o cuidador às faz. Isto parece acontecer especialmente
nas famílias das crianças com necessidades especiais, em que os cuidadores procuram realizar o
maior número de tarefas para a criança com o intuito de polpá-la de esforços que consideram
desnecessários.
O desempenho das habilidades funcionais pode ser prejudicado também em situações em que a
criança e o adulto estão submetidos à pressão de resultados (OLIVEIRA; CORDANI, 2004).
Deste modo, a limitação de tempo e espaço para a realização de determinadas atividades como o
banho e a refeição, por exemplo, acabam por interferir diretamente na independência funcional da
criança.
Ressalta-se ainda que o diagnóstico clínico de cada criança tem características específicas que
influenciam de forma distinta no desenvolvimento neuropsicomotor e que as crianças, com ou sem
alterações no desenvolvimento, sofrem influência do processo neuromaturacional na aquisição de
habilidades funcionais, como relatado por Mancini et al (2002). Assim, sugere-se no presente
estudo, que a Estimulação Precoce contribui para o desenvolvimento neuropsicomotor, embora não
atue isoladamente neste processo.
O questionário PEDI mostrou-se eficaz para os objetivos propostos neste estudo pois caracterizou
de forma satisfatória o perfil funcional das crianças com atraso no desenvolvimento inseridas no
programa de estimulação precoce do CEES. Assim foi considerado um instrumento bastante útil na
avaliação e na intervenção dos profissionais, além de possibilitar uma análise crítica do trabalho
desenvolvido.
Conclui-se que os resultados apontados no presente estudo fornecem subsídios para afirmar que
intervenção precoce pode ser eficaz na potencialização do desenvolvimento de crianças com atraso
no desenvolvimento.
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