http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/040.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
CARACTERÍSTICAS DOS EGRESSOS DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL-DEFICIÊNCIA MENTAL DA UEL
Maria Cristina Marquezine (EDU/CEEE-DM/UEL)
Viviane M. Tramontina (CEEE-DM/UEL/APAE e CAPSi de Cambé)
Rosangela Marques Busto (DIC/UEL)
Sadao Omote (DEE/UNESP-Campus de Marília)
RESUMO
O objetivo geral do trabalho foi analisar criticamente a relação entre formação acadêmica e atividade
profissional tendo como contexto a avaliação do curso de especialização em Educação
Especial–Deficiência Mental, pós-graduação lato sensu, da Universidade Estadual de Londrina,
como uma alternativa para formação de professores de Educação Especial. È importante ressaltar,
que os resultados aqui apresentados compõem apenas uma pequena parte dos resultados obtidos, no
qual descreveremos o perfil dos participantes da pesquisa, uma vez que, devido a sua extensão, não
seria possível apresentá-los aqui em sua totalidade. Como objetivos específicos a pesquisa procurou
identificar as características do aluno que buscava o curso de especialização da UEL. Foram
participantes do estudo 128 alunos-egressos do curso que foram certificados até 2002. Os
participantes responderam um questionário, o qual foi utilizado para identificar os que eram
professores da cidade de Londrina. Os participantes-professores avaliaram o curso por meio de uma
entrevista. O estudo trouxe resultados sobre o perfil dos alunos e os discutiu.
INTRODUÇÃO
Na década de 80, foi criado um curso de pós-graduação lato sensu, especialização em Educação
Especial-Deficiência Mental, na Universidade Estadual de Londrina, instituição localizada em uma
microrregião composta por vários municípios, os quais possuíam 13 escolas especializadas ao
atendimento de pessoas portadoras de deficiência mental, além de classes especiais e centros de
atendimento que funcionavam em escolas regulares da rede estadual e municipal de ensino. Tal oferta
de serviços especializados requisitava, constantemente, a assessoria dos profissionais da
universidade. Naquela época, entre as instituições de ensino superior (IES) isoladas da região, apenas
uma delas oferecia formação profissional na área (ALMEIDA e MARQUEZINE, 1997).
Como os pedidos de assessoria eram em número elevado e o curso de Pedagogia não possuía
habilitações em Educação Especial, o Departamento de Educação da instituição optou por criar o
curso de especialização, pois desta maneira estaria investindo na formação continuada e capacitação
de professores e outros profissionais que atuavam na área.
Esta especialização tinha e ainda mantém como principais objetivos, atender a
demanda de professores e profissionais que atuam em Educação Especial, não só
na cidade de Londrina, como também de outras cidades da região, oportunizando
assim, a possibilidade de expansão do atendimento de nível técnico elevado a
pessoas portadora de deficiência mental (ALMEIDA e MARQUEZINE, 1997, p.
7).
Após 15 anos de funcionamento, de pequenas mudanças no currículo, da aparente mudança no perfil
do candidato que vem procurar o curso, e das mudanças provocadas pelo surgimento do movimento
da inclusão, algumas questões precisam ser sistematicamente investigadas. Ao longo dessa oferta, não
se realizou um estudo efetivo com alunos egressos do curso, nem com professores e ex-professores
que permitisse analisar a relação acadêmica e a atuação profissional, como o fez Palmieri (1996) no
curso de Psicologia da mesma IES. Pareceu-nos que o momento adequado para fazê-lo tinha
chegado, porque após o surgimento do documento denominado Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica (Brasil, Mec, 2001), teríamos de encontrar caminhos
adequados para colocá-lo em prática e a sua aplicação deveria passar pela formação de profissionais
que iriam atuar em Educação Especial. O documento foi, também, muito importante para os
profissionais que atuam em Deficiência Mental, visto que a maioria dos alunos com deficiência mental
estará incluída nesse nível de escolaridade.
Frente a tais questões, objetivo geral do trabalho foi analisar criticamente a relação entre formação
acadêmica e atividade profissional tendo como contexto a avaliação do curso de especialização em
Educação Especial–Deficiência Mental, pós-graduação lato sensu, da Universidade Estadual de
Londrina, como uma alternativa para formação de professores de Educação Especial. Como objetivo
específico, a pesquisa procurou identificar as características do aluno que buscava o curso de
especialização da UEL.
MÉTODO
Descrição dos Participantes
Os participantes do estudo foram 128 alunos/egressos do curso, dos quais 122 (95%) eram do
gênero feminino e 0 6 (5%) do gênero masculino, com idades entre 26 e 60 anos.
Procedimento de Coleta de Dados e/ou Instrumentos e Materiais
Os instrumentos de coleta de dados que foram utilizados no estudo foram os seguintes:
Formulário/Questionário de alunos
O instrumento foi o enviado a todos os alunos/egressos do curso de especialização. O instrumento
era composto por 13 questões subjetivas que tinham por finalidade identificar o tipo de formação
acadêmica, atividade profissional, cursos freqüentados e participação em eventos técnico-científicos
antes e depois da conclusão do curso de especialização em Educação Especial-Deficiência Mental da
Universidade Estadual de Londrina. A principal finalidade desse instrumento foi identificar entre todos
os participantes, aqueles que eram professores na cidade de Londrina. Este instrumento foi
construído de acordo com os pressupostos estabelecidos por Converse e Presser (s/d).
Roteiro de Entrevista Semi-estruturado
Inicialmente, foi elaborado um roteiro semi-estruturado que era formado por 15 questões subjetivas
ou abertas, que buscavam informações objetivas sobre o curso. Com este roteiro inicial, realizou-se
um estudo piloto com três alunos/egressos do curso com uma diferença de 04 anos e que não fariam
parte dos participantes que seriam entrevistados. Em razão das dificuldades apresentadas pelos
participantes para lembrar de informações muito objetivas, como datas e nomes de disciplinas, o
instrumento definitivo foi composto por 14 questões que tinham como eixo a percepção do
participante sobre a relação entre a sua formação acadêmica e a atuação profissional, ou seja, a
percepção da proposta de formação acadêmica do curso versus necessidades encontradas no campo
de atuação profissional.
Procedimento Metodológico
O tipo de pesquisa que se pretendeu realizar circunscreve-se como Estudo de Caso. Tal escolha
deu-se pelo fato do tema enquadrar-se na categoria de estudo monográfico aprofundado e
pesquisado em seus diferentes aspectos e por diferentes fontes de informação (Rodrigues, 1975;
Ludke e André, 1986; Nunes et al, 1998). Neste estudo, as fontes primordiais de dados foram os
alunos/egressos. O procedimento de coleta de dados desta pesquisa foi realizado através dos
seguintes passos: (A) Identificação dos alunos/egressos e dos participantes que estavam envolvidos
no estudo, elaboração e testagem dos instrumentos utilizados na coleta de dados; (B) Contato com
os participantes e envio dos formulários, juntamente com o pedido de autorização para utilização dos
dados em atividades acadêmicas; (C) Tratamento estatístico dos dados obtidos através dos
formulários para identificação dos participantes que estavam atuando como professores de alunos
com deficiências na cidade de Londrina; (D) Análise dos dados coletados nos formulários, seleção
dos participantes e inicio da coleta de dados, através de entrevistas, com os participantes-professores. Após o término da coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e revisadas; e (E)
Tratamento e análise dos dados coletados junto aos participantes-professores. Os dados receberam
o tratamento estatístico e análise qualitativa denominada análise de conteúdo (Bardin, 1977, Manzini,
2004) e foram agrupados em categorias de análise, criadas por exigência do conteúdo dos dados
coletados através da entrevista.
Tratamento dos Dados
Inicialmente criamos um banco de dados utilizando o programa Access 2003, sendo este alimentado
com o resultado da aplicação do instrumento de alunos. A primeira parte desse instrumento era
voltada para a coleta de dados sociográficos dos participantes e foi formada por questões objetivas.
A segunda parte do instrumento propunha questões concernentes à atuação profissional do
participante, elaborada com questões subjetivas. Os dados coletados na entrevista foram
armazenados no segundo banco de dados, que também foi montado no Access, o qual foi alimentado
com as falas dos participantes as quais foram distribuídas inicialmente em 33 categorias de análise.
RESULTADO
O universo estatístico da pesquisa desenvolvida era composto por todos os egressos que haviam
terminado o curso até o ano 2002, o que perfazia um total de 143 participantes. A primeira atividade
na qual foi requisitada a participação dos egressos do curso foi o preenchimento de um questionário
denominado Formulário de Aluno. Deste total de 143 ex-alunos, apenas 128 (90 %) responderam ao
formulário. Os resultados obtidos na coleta de dados estão sendo apresentados segundo o modelo
utilizado por Mendes (1998) na pesquisa que desenvolveu no Programa de Pós-Graduação da
UFSCar.
Perfil e Experiência Profissional dos Participantes
Quando os 128 participantes terminaram o curso de graduação tinham em média 25,50 anos, quando
entraram no curso de pós-graduação tinham em média 31,41 anos e quando receberam os
certificados estavam em média com 32,57 anos de idade. Isto significou que tínhamos no curso
alunos com idade que variava entre 21 e 52 anos, com desvio padrão de 7,28. Demoraram, em
média, 05 anos ou menos para começar o curso e o terminaram em média em 2,16 anos, mas o
tempo gasto entre o término dos créditos e o término do curso foi de 1,27 anos, tempo mínimo de 01
ano e máximo de 9 anos e desvio padrão de 0,96.
Tabela 1 - Curso de graduação dos participantes
Variáveis
|
N
|
%
|
Licenciatura em Pedagogia
|
48
|
37,50
|
Psicologia
|
18
|
14,06
|
Licenciatura em Educação Física
|
17
|
13,28
|
Fisioterapia
|
10
|
8,59
|
Fonoaudiologia
|
6
|
4,69
|
Licenciatura em Educação Artística
|
6
|
4,69
|
Serviço Social
|
5
|
3,91
|
Licenciatura em Ciências Sociais
|
3
|
2,34
|
Licenciatura em Letras
|
3
|
2,34
|
Enfermagem
|
2
|
1,56
|
Licenciatura em Estudos Sociais
|
2
|
1,56
|
Licenciatura em História
|
2
|
1,56
|
Odontologia
|
2
|
1,56
|
Admistração
|
1
|
0,78
|
Direito
|
1
|
0,78
|
Terapia Ocupacional
|
1
|
0,78
|
Total
|
128
|
100
|
A partir da Tabela 1, pode-se compreender que dos 128 participantes, 81 (63%) eram professores e
47 (37%) profissionais liberais ou técnicos de nível superior, mas apenas 50 (39%) atuavam como
professores na cidade de Londrina.
No momento da coleta de dados, 13 participantes (11 %) tinham até 5 anos de serviço, dos quais 09
(8 %) em Educação Especial e 04 (3 %) em outras áreas. Dos participantes, 41 (32 %) tinham até
10 anos de serviço - dos quais 27 (21%) atuaram apenas em Educação Especial - 10 (8 %) tinham
até 5 anos de serviço na área e 04 (3 %) atuavam em outras áreas. Dos participantes 26 (20 %),
tinham experiência profissional de até 15 anos de serviço, dos quais 11 (8,5 %) tinham atuado
somente em Educação Especial, 07 (5,5 %) até 10 anos nesta área, 05 (4 %) até 5 anos de serviço
também nesta área e 03 (2 %) atuaram em outras áreas. Do total de participantes, 27 (21 %) tinham
até 20 anos de serviço, dos quais 11 (8,5 %) tinham trabalhado até 20 anos apenas em Educação
Especial, 06 (5,5 %) até 15 anos, 04 (3 %) até 10 anos, 03 (2 %) até 5 anos na área e 03 (2 %)
atuaram em áreas correlatas. Com experiência profissional de 21 anos ou mais, encontramos 21 (16
%) participantes, dos quais 09 (7 %) tinham experiência apenas em Educação Especial, 05 (4 %) de
até 10 anos, 03 (2 %) de até 20 anos, 02 (1,5 %) até 5 anos, e 02 (1,5 %) tinham experiência de até
15 anos na área (Tabela 2).
Tabela 2 – Relação entre o tempo de serviço em geral e tempo de serviço
em Educação Especial
|
|
Tempo de Serviço em Educação Especial
|
Total
|
|
|
1 a 5
anos
|
6 a 10
anos
|
11 a 15
anos
|
16 a 20
anos
|
21 anos
ou mais
|
Não
Tem
|
Tempo
De
Serviço
Total
|
1 a 5 anos
|
09
|
-
|
-
|
-
|
-
|
04
|
13
|
6 a 10 anos
|
10
|
27
|
-
|
-
|
-
|
04
|
41
|
11 a 15 anos
|
05
|
07
|
11
|
-
|
-
|
03
|
26
|
16 a 20 anos
|
03
|
04
|
06
|
11
|
-
|
03
|
27
|
21 anos ou mais
|
02
|
05
|
02
|
03
|
09
|
|
21
|
|
Total
|
29
|
43
|
19
|
14
|
9
|
14
|
128
|
Experiência Profissional e Perfil Motivacional do Participantes-professores em Londrina
Dos 50 participantes que eram professores na cidade de Londrina no momento da coleta de dados,
49 (98%) tinham curso de licenciatura, mas apenas 01 (2 %) o tinha em Fisioterapia.
Tabela 3 - Experiência profissional dos participantes-professores com contato com alunos
com
deficiência mental
Variáveis
|
N
|
%
|
No ensino regular;
|
7
|
33,33
|
Em escola especial;
|
6
|
28,57
|
Ambulatório e escola especial;
|
3
|
14,28
|
Em escola especial e ensino regular;
|
3
|
14,28
|
Avaliação pedagógica;
|
1
|
04,76
|
Deficiente mental na família.
|
1
|
04,76
|
Total
|
21
|
100,00
|
Na época em que estavam freqüentando o curso, 21 (42 %) participantes tinham experiência
profissional com aluno portador de deficiência, 07 (14 %) dos quais em escola regular, 06 (12 %) em
escola especial, 03 (6 %) em ambulatório e escola especial, 03 (6 %) em escola especial e escola
regular, 01 (2 %) em setor de avaliação pedagógica e 01 (2 %) possuía um caso na família (ver
Tabela 3).
Tabela 4 - Experiência profissional dos participantes-professores sem contato com deficiência
mental
Variáveis
|
N
|
%
|
Não tinha experiência profissional em magistério;
|
11
|
37,93
|
Ensino de 1º grau (séries iniciais);
|
09
|
31,03
|
Educação básica;
|
05
|
17,27
|
Ensino de 1º grau (5ª a 8ª);
|
02
|
06,89
|
Educação infantil;
|
01
|
03,44
|
Psicopedagogia.
|
01
|
03,44
|
Total
|
29
|
100,00
|
Dos participantes deste grupo 29 (58 %) não tinham experiência com alunos portadores de
deficiência mental. Desses, 11 (22 %) não possuíam experiência profissional em magistério, 09 (18
%) possuíam experiência em séries iniciais do 1 º grau, 05 (10 %) em educação básica, 02 (4 %) nas
séries de 5 ª a 8ª e do 2º grau, 01 (2 %) em educação infantil e 01 (2 %) em Psicopedagogia (Tabela
4).
Quanto à fase (Tabela 5) em que os participantes deste grupo se encontravam no momento em que
vieram fazer o curso, 25 (50 %) estavam no início de carreira, 13 (26 %) já estavam em fase de
carreira sedimentada, 05 (10 %) não tinham experiência profissional, 04 (8 %) não responderam e 03
(6%) encontravam-se em fase de mudança de área de atuação.
Tabela 5 - Fase da profissão e procura do curso de especialização em Educação
Especial-Deficiência Mental da UEL, pelos participantes-professores
Variáveis
|
N
|
%
|
Inicio de carreira;
|
25
|
50
|
Carreira sedimentada;
|
13
|
26
|
Sem experiência profissional;
|
05
|
10
|
Não respondeu;
|
04
|
08
|
Mudança de área de atuação.
|
03
|
06
|
Total
|
50
|
100
|
Quando começamos a analisar os resultados referentes aos 50 alunos-egressos para que pudéssemos
identificar que tipo de profissional estava atuando na cidade, pudemos perceber que algumas
questões importantes foram surgindo, porquanto elas estão permeando os dados. Se formos dar uma
olhadela na maneira que os participantes entraram na área (Tabela 6) vamos constatar que 42% dos
participantes começaram a sua atuação profissional através de estágio voluntário em escolas
especiais.Estas situações de estágio, de acordo com as falas dos participantes, eram divulgadas pela
direção das escolas através de palestras ou programas em veículos de comunicação de massa. A
escola especial, que era tratada como uma instituição filantrópica, usava mão-de-obra gratuita para
atender aos alunos utilizando argumentos para a
Tabela 6 – Entrada dos participantes-professores na área de educação especial
Variáveis
|
N
|
%1
|
Estágio voluntário em escola especial;
|
17
|
34
|
Contratação em instituição especial;
|
11
|
22
|
Contrato ocasionado pelo curso de especialização;
|
09
|
18
|
Mudança de área determinada por aluno portador de deficiência;
|
09
|
18
|
Estágio encaminhado pelo curso de especialização.
|
04
|
08
|
Total
|
50
|
100
|
1 As porcentagens das tabelas que trazem os dados da entrevista serão calculadas sobre o total dos participantes-professores que é de 50 egressos.
abertura desses estágios voluntários, mas alguns elegeram a desculpa de falta de fundos para
contratação de profissionais naquele momento. Quando estes estágios voluntários eram conseguidos
através de amigos, conhecidos, ou através de contatos familiares, poderiam ser mais longos, uma vez
que não eram vistos como exigência de formação profissional, mas como um favor prestado pela
instituição que acolhia o voluntário que freqüentemente passava a desenvolver uma relação de
gratidão em relação a ela. Outra estratégia que podia ser empregada era a estimulação do
desenvolvimento de uma relação afetuosa exacerbada pelos alunos comprometidos pela deficiência.
Tem-nos parecido que “(...) essa visão assistencialista e benemerente parece impregnar, em outra
dimensão, o cotidiano dos profissionais da área” (D’Antino, 1996, p. 17), posto que em nome da
sobrevivência da instituição, algumas normas técnicas e legais, podem ser interpretadas de acordo
com a conveniência do momento.
Daí eu, minha mãe conhecia uma senhora, que as filhas tinham trabalhado no (nome da
instituição), e eu fui conversar, e a senhora conversou com a diretora, eu fui lá e conversei, ela
me chamou pra fazer estágio, e eu fiz o estágio, quando eu tinha dezenove anos tinha acabado
de fazer magistério, me apaixonei e fui contratada (participante 026).
Outras situações de estágio eram aquelas vinculadas à formação profissional, ao estágio curricular
propriamente dito, no qual os estagiários eram supervisionados pelos professores do próprio curso.
De uma maneira geral nos parecia que o envolvimento dos professores dos cursos de formação
profissional fazia prevalecer a exigência legal, portanto não aparecia a exigência de carga horária
excessiva do trabalho voluntário e/ou não-remunerado.
É, quando eu fiz um estágio no curso de magistério, na época era o magistério, mas é, fazendo
um estágio obrigatório pro curso de magistério.Aí eu comecei a me interessar, foi assim, amor
a primeira vista e nunca mais parei (participante 116).
Este trabalho voluntário na instituição especial também podia ser feito como busca de alternativa
profissional, quer como perda de emprego, quer por interesse em comparar o ensino regular ao
ensino especial.
e daí, é, eu fui dispensada, dessa pré-escola e daí eu fui fazer estágio no(nome da instituição).
É, porque eu estava batalhando trabalho dentro da área e não estava conseguindo, daí eu fui
lá fazer estagio conhecer, e tal (participante 033).
Como o curso de especialização era um curso de formação de professores, uma das exigências da
seleção era que o candidato tivesse algum tipo de experiência com pessoas com deficiência mental.
Se o candidato aprovado não apresentasse essa experiência era encorajado a buscar um estágio em
instituições escolares que atendessem tal clientela. Como não havia a exigência de estágio curricular
no curso de especialização, os estagiários eram alocados apenas em escolas particulares, que exigiam
um período mais longo de atividade de nosso egresso, já que ficava enquadrado na categoria de
estagiário voluntário, desde que não houvesse a categoria de estágio remunerado, nem mesmo para
os alunos do.
E quando eu entrei na especialização, conheci uma pessoa lá no curso que me indicou esse
estágio. É, foi assim um, na verdade eu ia ser contratada lá, mas eu comecei, junto com a
associação, portanto não estava tendo o processo de contratação ainda. Estavam fazendo
convênio com o Estado e quando saiu o convênio eu já não estava mais. Então, eu não fiquei
pra, mas eu fiz um trabalho de voluntário por seis meses lá, com a estimulação precoce
(participante 077).
Além do inicio da atividade através de estágio curricular ou voluntário, alguns dos alunos-egressos
(22%) entraram na área através de contratos com escolas especiais anteriores ao curso e outros
conseguiam ser contratados mediante encaminhamentos pelos professores ou colegas do próprio
curso de especialização (18%). Alguns foram convidados por já possuírem o curso adicional ou
foram contratados como auxiliares de sala até adquirirem a titulação.
No inicio eu fiz o curso adicional, na área de deficiência mental, e fui convidada pela direção
de uma escola especial pra estar atuando, como ela era minha professora no curso de
adicional, que é um curso de especialização em nível de segundo grau, e aí eu comecei a
trabalhar. Foi basicamente isso (participante 013).
Daí eu fui, contratada como auxiliar de sala, até eu fazer a (Pausa) como que chama...O
adicional do segundo grau, ao nível de segundo grau (participante 088).
Outra estratégia de direção ou presidência da escola especial lançava mão era a contratação de
profissionais recém-graduados em nível superior. Como eles ainda não tivessem entrado ou
estivessem com dificuldades para entrar no mercado de trabalho, talvez aceitassem receber um
salário abaixo do piso estabelecido pelo sindicato de professores das escolas particulares.
É, como eu me formei em educação artística eu gostaria de estar trabalhando, fiz ficha em
algumas escolas particulares e inclusive APAES e, na entrevista com a diretora na época falei
que tinha interesse de tentar, e ver se eu tinha condições e poderia, se de repente estar
desenvolvendo um bom trabalho, mas eu não tinha experiência na época. Daí eles me
chamaram pra estar trabalhando (...). (participante 125).
Outro tipo de contato profissional com deficientes mentais eram os ocasionados pelos serviços que
não eram exclusivos da clientela de Educação Especial. Um exemplo típico eram os serviços
oferecidos pela rede da saúde, onde acabava aparecendo o paciente deficiente.
Então, o meu inicio foi, em hospital, eu comecei a trabalhar em um hospital psiquiátrico. Aí eu
vi a importância de estar buscando mais alguma coisa pra trabalhar com essas pessoas, tem
muito DM internado (...). (participante 098).
Para alguns dos egressos a entrada da área se deu através do curso, visto que a coordenação e o
corpo docente recebiam um grande número de pedidos de encaminhamento de profissionais para as
escolas com vistas à contratação de professores e técnicos de nível superior.
Bom, o inicio foi complicado porque eu não tinha experiência. Na realidade eu comecei a fazer
o curso de pós antes de começar a trabalhar. Então quando eu entrei não tinha experiência
mesmo, era só vontade. Então foi um pouco complicado por esse, por esse motivo (...). Não,
eu comecei a fazer o curso, aí quatro meses, eu comecei a trabalhar (participante 047).
Como na escola pública regular houvesse uma exigência maior do cumprimento da legislação,
os
profissionais responsáveis pela área, quer das escolas da rede estadual quer da rede municipal,
esperavam o início do curso para fazer o convite ao aluno-egresso que já era professor aprovado em
concurso público nas respectivas redes públicas de ensino regular.
Então eu consegui entrar em janeiro, aí a... (Responsável pela Educação Especial) entrou em
contato comigo já em fevereiro me oferecendo carga suplementar, que é aula extraordinária
que o Estado chama assim. Então ela me ligou pedindo pra... Oferecendo-me uma classe
especial, porque eles estavam, eles estão, eles sempre ficam doidos atrás de professores
porque ninguém quer, aí eu falei “ah, então vamos ver, vamos, vamos experimentar”
(participante 089).
A última maneira de entrar na área, descrita pelos alunos-egressos, foi a mudança de atuação
influenciada pelo aparecimento de alunos portadores que estavam sem atendimento na escola ou na
cidade. Alguns (18%) participantes se enquadraram nesta alternativa, talvez levados por pressão do
diretor ou dos pais ou pela própria situação de exclusão do aluno.
(...) Daí durante o curso tinha seis crianças na minha escola, que não estavam recebendo
atendimento. Então eu comecei a fazer o curso e comecei a iniciar o trabalho com essas
crianças (participante 109).
(...) Tinha uma mãe que ficava no pé da diretora porque ela queria uma classe especial pro
filho dela, mas não tinha ninguém na escola com formação e o Núcleo exigia que a pessoa ou
estivesse fazendo o curso, freqüentando o curso, matriculado, ou já tivesse o curso completo
(participante 060).
Diante dos resultados apontados pelo estudo sugere-se que seja utilizado o procedimento de
entrevista com os participantes-professores de fora da cidade de Londrina para que os resultados
sejam comparados com o estudo atual com o objetivo de identificar as semelhanças e diferenças dos
dois grupos de professores formados pelo curso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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em
deficiência Mental da UEL: 1987 - 1997. Londrina: Editora da UEL - EDUEL, 1997.
BARDIN, L Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal:
Edições 70, 1977.
BRASIL, MEC. Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de
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CONVERSE, J. M. ; PRESSER,. S. Survey
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Questionnaire. USA: Sage Publications, s/d.
D’ANTINO, M. E. F. Instituições Educacionais Especializadas no Atendimento a Pessoas
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Dissertação não publicada, Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
Londrina, Universidade Estadual de Londrina. Resolução Nº 1022/86. Cria o Curso de
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MANZINI, E. J. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos e de roteiros. In: Seminário
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SIPEQ. MENDES, E.G.; NUNES, L.R.P.; FERREIRA, J. R. & GLAT, R. (1998). O Programa de
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