http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/066.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
PROFESSORES DIANTE DA INCLUSÃO: SUPERANDO DESAFIOS
Viviane Preichardt Duek
RESUMO
O presente texto aborda as dificuldades e os desafios que se impõem a um grupo de professoras do
ensino fundamental de uma escola da rede pública de Santa Maria/RS, referentes à prática inclusiva,
refletindo sobre possíveis estratégias de atuação perante o novo cenário gerado pelas políticas de
inclusão. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, cujas informações foram coletadas por
meio de observações e entrevistas semi-estruturadas. Os dados demonstram que os desafios
enfrentados pelas professoras no cotidiano da escola inclusiva dizem respeito, sobretudo, à
mudança de certas representações e concepções docentes relativas ao aluno com deficiência e
sobre o processo ensino-aprendizagem. A relação escola-família também se constitui um desafio
para os professores na efetivação de uma educação inclusiva. Outro desafio é relativo às condições
em que o trabalho escolar é realizado, uma vez que, na visão das professoras colaboradoras a
organização da escola impõe desafios devido à carência de recursos, turmas numerosas, espaço não
adaptado, além da inexistência de um momento que possibilite a troca de experiências entre os
professores. Por fim, destaca-se a noção de que não são capazes de trabalhar com esse alunado,
pois não foram preparadas para isso na sua formação inicial. Constata-se, assim, que a inclusão
demanda a superação de muitos desafios, dentre os quais destacamos a edificação de estratégias
formativas que permitam aos professores compartilharem experiências, dirimindo suas dúvidas e
construindo novos saberes que conduzam a mudanças em suas práticas.
1. Apresentação
A inclusão impõe uma série de desafios àqueles profissionais que têm alunos com necessidades
educacionais especiais em suas sala de aula. Por conta disso, a escola é obrigada a repensar a sua
organização, revendo concepções e práticas, a fim de atender as demandas de um público cada vez
mais heterogêneo: cultural, social, econômica, cognitiva e lingüisticamente.
Em meio a este cenário, desenvolvemos um estudo com o objetivo de alcançar uma compreensão
acerca da experiência de ser professor no contexto da escola inclusiva, isto é, conhecer o modo
como vivenciam e como lidam com as demandas desta realidade. Privilegiamos, nesse texto, as
dificuldades e os desafios enfrentados por um grupo de professoras do ensino fundamental de uma
escola da rede pública de Santa Maria/RS, referentes à prática inclusiva, além de refletir sobre
possíveis estratégias de atuação perante o novo cenário gerado pelas políticas de inclusão.
2. Procedimentos adotados pela pesquisa
A pesquisa se inseriu em uma abordagem qualitativa que, conforme Minayo (2002), é um tipo de
pesquisa que se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, nem reduzido à
operacionalização de variáveis, pois abrange o universo dos significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes dos indivíduos sobre determinado fenômeno.
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida entre o ano de 2005 e 2006, em uma escola da rede
pública de Santa Maria, RS. Na coleta de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas,
agendadas mediante a disponibilidade das professoras e organizadas em tópicos. O roteiro era
entregue no início de cada encontro para que a professora pudesse visualizar previamente as
questões, proporcionando maior fluidez às narrativas. Como técnica complementar de coleta de
dados, fez-se uso da observação, a fim de estar em contato direto com o campo da pesquisa.
Participaram da pesquisa, seis professoras do ensino fundamental, séries iniciais, escolhidas
mediante os seguintes critérios: (a) não possuir formação em Educação Especial; (b) estar
trabalhando com alunos com necessidades educacionais especiais no momento da realização da
pesquisa; (c) desejo em colaborar, caracterizando, assim, a livre adesão das mesmas ao estudo. Por
questões éticas as professoras são identificas como: P1, P2, P3, P4, P5 e P6. As pessoas citadas
nas falas das docentes foram identificadas pela inicial do nome.
3. Inclusão escolar: desafios vivenciados
na prática pedagógica
Nesta parte do texto, partimos dos acontecimentos observados no campo investigado e dos relatos
das professoras para evidenciar os desafios vivenciados pelas mesmas, rumo à efetivação de uma
educação inclusiva.
3.1 Mudança nas representações e concepções
docentes
O aluno com deficiência representa o novo, o desconhecido que, inesperadamente invade a sala de
aula alterando os processos de ensino e aprendizagem. Segundo Mantoan (2003, p. 76) “a maioria
dos professores tem uma visão funcional do ensino e tudo que ameaça romper o esquema de
trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é inicialmente rejeitado”.
O conteúdo das entrevistas revela que o aluno com necessidades educacionais especiais é
concebido, em geral, como aquele que não consegue aprender em razão da sua deficiência. Esta
imagem, vem atrelada aos aspectos clínico-patológicos que envolvem o fenômeno da deficiência
ainda muito presentes no discurso dessas professoras e que confere uma visão das dificuldades de
aprendizagem como algo inerente ao aluno.
(...) porque a gente já vai com aquela idéia de que ele vai ter dificuldade, de
que eu vou ter que [...] que estratégia eu vou ter que usar pra ele aprender...
(P1).
Eu acho que esse retorno deles, que não vê muito retorno, o outro tu vê
retorno, o outro né, e esse tu não vê muito retorno, tu passa um ano inteiro e
parece que não ficou nada, pra mim, é isso (P6).
Diante de uma nova situação, sobretudo uma situação complexa, é preciso novas formas de pensá-la, de enxergá-la e, por conseguinte, de atuar nela. O trecho a seguir subentende que a inclusão
surge como algo novo, que impõe mudanças de atuação que são indissociáveis das mudanças de
concepções – de aluno, de ensino, de aprendizagem, de escolar, etc. -, seja no plano teórico ou
prático e, principalmente, ideológico.
Temos um currículo pra vencer, um conteúdo pra dar, e acaba criando um
problema, pois as necessidades educacionais especiais presentes na sala de
aula são variadas e precisamos adaptar para a sala de aula os conteúdos
para que tu consigas o máximo possível de aproveitamento daquilo que se
está trabalhando pra não deixar eles também excluídos, fazer atividades que
todos também possam participar, que todos tenham as mesmas chances
(P2).
Para que a inclusão tome lugar nas escolas é preciso deslocar-se de uma representação de inclusão
como mera inserção do aluno com deficiência na classe regular para uma concepção de ensino
enquanto um processo singular e diversificado em seus objetivos, estratégias e recursos, em função
das características dos aprendizes.
Acredita-se, portanto, que a inclusão tem a ver com a postura que o professor assume frente ao que
lhe é estranho, desconhecido. No caso da deficiência, isso irá depender de como o educador
percebe a diferença do outro. A diferença, percebida como incapacidade, doença ou anormalidade,
não obstante, revela a falta de informação e o preconceito daí decorrentes, contribuindo, assim,
para a presença de distorções de sentido na interpretação da deficiência, tida enquanto um
fenômeno centrado no indivíduo, subestimando as condições deficitárias do ensino.
Exemplo disso é o papel que a avaliação ou o diagnóstico desempenham no processo educativo
destes alunos, cuja ênfase maior parece recair sobre a necessidade de determinar o rol dos
“escolarizáveis” e dos “não escolarizáveis”, isto é, dos que conseguem e dos que não conseguem
aprender.
(...) ir atrás de diagnósticos e depois que tem esse diagnóstico é ver,
realmente, que necessidade educacional especial a criança apresenta.
Estudar, olhar mais atentamente como se dá o cognitivo, o conhecimento
dessa criança, de acordo com a dificuldade que ela tem... (P2).
(...) nesse caso né, não tem nem bem um laudo específico do que é a
limitação dele [...] já fui até no médico consultar junto e ficou uma situação
bem difícil que o médico perguntou pra mim: “a senhora acha que ele tem
algum problema mental?” Aí eu disse: “olha eu sou a professora, o médico
aqui é o senhor” (P5).
Conceber a escola, o aluno e o processo de ensino-aprendizagem de outro modo resulta decisivo
para uma prática pedagógica diferenciada. O desafio de ensinar a todos os alunos na escola, que se
quer inclusiva, exige o compromisso com indagações, onde o ideal de turmas homogêneas possa ser
revisto à revelia de quadros diagnósticos pré-definidos; que se possa ver além da deficiência e as
diferenças consideradas enquanto peculiaridades que a escola precisa se dispor a atender.
3.2 Melhorias nas condições de trabalho
O conteúdo das entrevistas aponta que elementos de ordem estrutural e organizacional das escolas,
se transformam em verdadeiros obstáculos aos professores, mesmo quando esses dizem sim ao
desafio de educar a todos os alunos. As professoras citam a escassez de recursos materiais, turmas
numerosas e a multiplicidade de deficiências presentes em sala de aula, como alguns dos fatores que
impedem o avanço desse processo.
(...) porque no fim, uma turma com vinte e poucos alunos, com dois, com três
incluídos [...] às vezes a gente não consegue abraçar todos e acaba falhando
em algum ponto, falha com o que ta incluído ou falha com os outros (P4).
(...) a escola me proporciona algumas coisas, quadro e giz, o resto tudo, se eu
quero fazer uma coisa diferente eu preciso fazer, eu me propor gastar pra
fazer, então é complicado porque o Estado também não favorece isso, e
deveria no momento em que ele inclui, ele deveria favorecer a escola mais
para solucionar esses problemas, recursos humanos, recursos visuais, fitas,
capacitar o professor mesmo, e ter como abrir mais os horizontes pra
trabalhar... (P3).
A sala de recursos é no segundo andar, acho que agora vai descer. Eu acho
que tem que começar na estruturação da escola, a escola tem que se adaptar
ao aluno, toda a escola se envolver... (P2).
Também um pouco é do material, que a gente não tem assim, materiais pra
elas (alunas incluídas). [...] o grupo de alunos é muito grande também e
como é que tu vais ter duas pessoas bem diferentes e mais vinte e quatro
alunos? (P6).
Os excertos acima indicam que o trabalho docente é atravessado por contingências culturais e
estruturais das escolas, evidenciada na desvalorização social da profissão, na escassez de recursos
humanos e materiais, nos baixos salários, no pouco investimento na formação dos professores e pela
carência de um trabalho integrado pela equipe pedagógica.
Nunes Sobrinho (2002) pontua que, mesmo os profissionais que encaram a renovação pedagógica
no seu trabalho, ao perceberem a carência de recursos, tidos como necessários para atingir os
objetivos traçados, vêem-se divididos entre aquilo que fazem e o que gostariam de fazer em sua
prática. Esse distanciamento entre o trabalho prescrito e o desejado se traduz na suspeição frente ao
novo, ao desconhecido, e em sentimentos de inadequação diante das incompatibilidades no sistema
organizacional da escola, provocando frustrações e desencantos que certamente recairão sobre a
qualidade do trabalho docente.
Outro ponto a ser destacado é sobre a necessidade que estas profissionais sentem de um maior
suporte advindo das educadoras especiais. As professoras, de um modo geral, alimentam a crença
de que o trabalho com a inclusão exige formação na área da educação especial, ou ainda, que a
educação do aluno “especial” cabe, unicamente, ao profissional especialista. Logo, na presença de
uma dada peculiaridade, o professor do ensino comum dirige-se ao “especialista”, na expectativa de
obter as respostas que tanto anseia, tornando-se possível a tão preconizada inclusão.
Bom, a questão da inclusão a gente pede sempre pras educadoras especiais,
até porque são as professoras que trabalham com os alunos fora da classe
(P1).
O desafio consiste no gerenciamento de mudanças de ordem estrutural, política e organizacional
criando, nas escolas, mecanismos que facilitem a socialização, a troca de experiências, sem a
sobreposição de saberes, oportunizando o desenvolvimento profissional docente.
3.3 A necessária colaboração entre família
e escola
Outro desafio refere-se à colaboração família-escola. As professoras expressam o desejo de que os
pais de educandos com deficiência se tornem presença ativa na escola, no acompanhamento e
delineamento dos rumos na educação de seus filhos. Queixam-se do “abandono” por parte dos
familiares, recaindo sobre a escola a maior parte da responsabilidade pelo sucesso ou fracasso da
aprendizagem dos alunos. O trecho que segue é ilustrativo desta questão:
Uma das coisas que me chateia muito é o auxílio da família, que não dá um
apoio naquilo que tento fazer pra solucionar algum problema e para que a
criança tenha um melhor desempenho em sala de aula. A gente não tem esse
retorno, os pais acham ruim e não tem tempo de auxiliar ou não aceitam. [...]
eles (pais) não aceitam, eles acham que a escola tem que dar todo o suporte,
que eles (alunos) têm que sair dali podendo fazer todas as atividades sem o
auxílio deles (pais), sozinhos, é nesse sentido (P2).
Para Martins (2003), a inclusão requer engajamento e planejamento, extrapolando os limites da
escola e chegando às famílias desses alunos e às instituições sociais em geral, fazendo-se necessário,
principalmente, “a orientação da comunidade escolar e o estabelecimento de um relacionamento
efetivo entre a escola e a família” (p. 38).
As professoras se referem à superproteção familiar, e à questão dos limites - ou a falta de -, como
outro problema a ser superado na educação do aluno com deficiência.
(...) eu vejo como um grande entrave essa questão dos alunos com
deficiência não terem limites. [...] No ano passado, com a mãe do L., eu fui
dura com ela porque ela disse que eu tinha que deixar ele fazer o que
quisesse [...] daí eu disse pra ela que ele não teria a vida inteira, pessoas que
deixassem ele fazer o que quisesse. E eu falei pra ela, que interessante, na
hora de tratar eu não posso ser preconceituosa, mas na hora de cobrar eu
tenho que fazer concessões, isso eu não posso cobrar dele porque ele tem
deficiência. É uma ambigüidade, então eu não posso tratar diferente na hora
de tratar, não posso ser preconceituosa, mas na hora de cobrar, ah não, isso
ele não pode fazer porque ele tem deficiência [...] Então eu vejo essa
dificuldade, eu sinto que alguns pais aceitam essa questão do professor
colocar o limite e outros não (P1).
A ambigüidade, citada pela professora, evidencia a dificuldade de alguns pais em aceitarem a
deficiência do filho, levando a um distanciamento, onde o professor evita envolver-se com a família
do educando, vendo-a como parte da sua clientela “especial”.
O preconceito dos pais de alunos ditos “normais”, em relação aos alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais também figura um desafio, como ilustra o trecho a seguir:
(...) às vezes, no começo do ano, muitas crianças chegam e dizem assim:
“olha eu vou ver se eu troco de turma porque tem o fulano, sabe, esse
aluno é incluído e a mãe não quer que eu estude na mesma sala que
ele”. Então eu acho que o que a gente teria que fazer era uma
conscientização maior com os pais dos alunos regulares, pra tentar quebrar
com essa visão de que porque a criança é incluída, que a criança é diferente,
tem que ficar longe do meu filho... (P4).
Essa problemática pode ser analisada sob dois aspectos: um deles, apontado por Rodrigues (2005),
refere-se àqueles pais que em nome da preparação para uma sociedade competitiva, optam, “a bem
dos filhos”, por escolas que privilegiam a competição, os métodos mais transmissivos e as classes e
escolas mais “homogêneas”, ancorados, freqüentemente, no modelo educativo que tiveram. Outra
leitura refere-se à falta de informação e, conseqüentemente, o preconceito, gerador de atitudes de
discriminação em relação à pessoa com deficiência.
Entende-se, com base no acima exposto, que a inclusão da criança com necessidades educacionais
especiais inicia muito antes de sua matrícula na escola, ainda no seio familiar. Cumpre à escola,
portanto, encorajar a participação da família nas atividades educacionais, para que esta se autorize a
participar, assumindo o lugar que lhe cabe de co-participante e co-responsável por esse processo.
3.4 É preciso capacitar os professores
Como bem refere Tricoli (2002, p. 98): “(...) para que um professor possa oferecer uma boa
formação para seus alunos, ele precisa também estar bem formado”. Partindo desse pressuposto,
acredita-se que o desafio de incluir todos os alunos no ensino regular é perpassado pelo desafio da
qualificação profissional dos docentes que atuam junto a este alunado. Constatou-se, porém, que a
insegurança e a incerteza para atender as demandas destes educandos é uma queixa recorrente
entre as docentes entrevistadas:
(...) eu vejo assim, é muito difícil no sentido de que eu tenho pouco
conhecimento científico, como é que eu poderia te explicar [...] pouco
conhecimento de como fazer com os diferentes [...] como é que eu faço pra
melhor render com esse aluno (P3).
(...) quando eu fiquei sabendo que ela (aluna com visão sub-normal) ia pra
minha turma, meu Deus do céu, e agora? Como é que eu vou fazer? Como é
que eu posso fazer? (P1).
As professoras buscam em suas trajetórias profissionais, elementos que venham justificar o seu
desconhecimento de como trabalhar com esse aluno na classe regular, referindo-se à formação
inicial como sendo insuficiente e repleta de lacunas no que concerne à inclusão.
Acho que, no caso, até deveria se unir e ser uma disciplina obrigatória, tanto
em pedagogia como nas outras licenciaturas a disciplina de introdução, ou de
como trabalhar com pessoas portadoras de necessidades especiais (P4).
A queixa desta professora, acerca da ausência de um currículo que contemple discussões sobre a
educação especial, deixa transparecer a idéia de que estar preparado para trabalhar com esses
alunos é uma condição alcançada a partir de uma formação profissional que vinda de “fora” dar-lhe-ás condições e autonomia para atuar.
Isso evidencia uma visão por demais simplista da formação, que não versa somente sobre aquisição
de habilidades e competências profissionais. Nesse sentido, uma das professoras esboça a
concepção que não basta ao professor que trabalha com a inclusão, uma formação conteudista, um
título apenas, e enfatiza:
(...) não adianta uma professora ter o título de especialização naquela área se
ela não se identifica. [...] porque não é o título que vai te dar a competência
para trabalhar (P5).
Essa fala sugere que a inclusão é um desafio que demanda do professor a revisão da própria
prática. Para tanto, é essencial, que o docente, ao longo do seu percurso formativo, seja capaz de
confrontar suas experiências com as lacunas advindas da formação inicial. As situações novas e
imprevistas que surgem no cotidiano escolar exigem que os professores se portem como aprendizes
do seu ofício, lançando-se sobre aquilo que não sabem (ou que julgam não saber) para re-criarem
“respostas”, possibilitando devires na aprendizagem do aluno e no saber-fazer docente.
Nesse ínterim, surge a formação continuada ou em serviço, cuja efetivação esbarra, principalmente,
nas questões de ordem estrutural e organizacional da escola.
Eu acho que seria formação dentro da área da educação especial, pra mim.
Uma capacitação, mais cursos ou... sei lá... uma formação mesmo [...] de
repente, até uma troca de experiências, uma reunião de estudos onde cada
um colocasse como age frente às situações novas que se deparam em sala
de aula (P2).
Isso é uma coisa que eles não estão fazendo, é curso né, [...] houve umas
reuniões da 8ª CRE1, que nós fomos e estudamos algumas coisas, houve
alguns debates, alguns esclarecimentos, as pessoas levavam casos para
serem relatados para as colegas, onde as colegas visualizam problemas que
tinham lá e se era parecido com o seu e como foi resolvida a questão. E isso
não está acontecendo esse ano, os professores se encontrando, fazendo
relatos e esses relatos servindo como base para o despertar do próprio
professor no sentido de também sanar as suas problemáticas frente ao aluno
(P3).
A gente tem reunião, é pouco tempo pra discutir muita coisa, [...] a gente não
tem espaço, a gente não tem tempo... (P5).
1 Coordenadoria Regional de Educação localizada no município de Santa Maria/RS.
Presume-se, assim, a urgência da criação e manutenção de um espaço onde possam entrar em
contato com os colegas da equipe de trabalho. Um espaço onde possam dar vazão aos seus
sentimentos e possam falar das suas angústias e inquietações em relação ao processo inclusivo,
compartilhando e significando a sua experiência.
Nesse contexto, a formação deixa de representar a possibilidade de atualização ou reciclagem de
saberes e conhecimentos pedagógicos, para se transformar num movimento de criação de espaços,
onde as pessoas possam vir a aprender a conviver com a mudança e a incerteza. E isso é, sem
dúvida alguma, um desafio!
4. Considerações finais
Com base no estudo realizado, conclui-se que incluir requer a superação de alguns desafios, dentre
os quais destacou-se, neste texto, a mudanças nas representações e concepções docentes, pois os
professores compartilham de representações dominantes no âmbito escolar, que se expressam nas
suas ações profissionais das mais diversas maneiras e que podem, no caso específico da inclusão,
estar dificultando esse processo.
No tocante à formação de professores numa perspectiva inclusiva, entende-se que esta permanece
aquém das expectativas e necessidades desses profissionais, influenciando suas práticas e, por
conseguinte, a escolarização do aluno com deficiência. É preciso criar, nas escolas, um espaço onde
os professores possam entrar em contato com os colegas da equipe de trabalho, dentre eles, as
educadoras especiais. Um espaço onde possam dar vazão aos seus sentimentos e falar das suas
angústias e inquietações em relação ao processo inclusivo, compartilhando e significando
experiências, sem que isso implique no apaziguamento da dúvida, às expensas de supostas
“receitas” para os problemas que enfrentam no seu cotidiano escolar.
Isso significa que a construção de uma escola inclusiva é um processo e requer o comprometimento
de todos – pais, alunos, professores, diretores, etc. -, e a preocupação dessa instituição em criar
condições para que sejam superados possíveis impasses estruturais, funcionais e formativos do seu
corpo docente.
5. Referências
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Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,
23 dez. 1996. Seção 1, p. 27833.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Porque é? Como fazer? São Paulo: Moderna,
2003.
MARTINS, L. A. R. A inclusão escolar do portador da síndrome de Down: o que pensam os
educadores? Natal: EDUFRN, 2003.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2002.
NUNES SOBRINHO, F. P. O stress do professor do ensino fundamental: o enfoque da
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