http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/074.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E SUPLEMENTAR NO ENSINO FUNDAMENTAL: ADAPTAÇÕES DAS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS DE UM ALUNO COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

Fabiana Sayuri Sameshima
Fabiana da Silva Zuttin
Ana Paula Vanni Ruiz
Débora Deliberato
Unesp-Marília


RESUMO

Considerando as dificuldades neuropsicomotoras do aluno com deficiência física, faz-se necessária a adaptação das atividades pedagógicas visando favorecer seu processo de ensino-aprendizagem. O trabalho multidisciplinar envolvendo a parceria de profissionais da saúde e da educação, juntamente com a família, permite identificar as habilidades e necessidades do aluno, auxiliando na realização das devidas adaptações. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi adaptar as atividades pedagógicas de um aluno com deficiência física, matriculado no ensino fundamental. Participaram deste estudo um aluno do gênero masculino de 8 anos de idade com deficiência, a professora e a família do aluno. A pesquisa foi desenvolvida em um Centro de atendimento de uma Universidade do interior de São Paulo, e em uma escola da rede municipal de ensino. Foram realizados encontros quinzenais com a participação da professora, família e profissionais envolvidos na pesquisa durante o primeiro semestre de 2007. Os encontros foram gravados e registrados por meio do caderno de campo. A análise das transcrições das fitas em conjunto com os registros do caderno de conteúdo indicou as seguintes categorias e subcategorias: habilidades e necessidades do aluno com deficiência (habilidades comunicativas, atividades acadêmicas); necessidades do professor (capacitação, adaptação das atividades); necessidades da escola (capacitação, adaptações); planejamento do professor (disciplinas, produção de textos); rotina diária da sala de aula (conteúdo, adaptações); organização e planejamento das adaptações das atividades; necessidades da família. O trabalho demonstrou a importância do envolvimento da escola com a família na atuação  com os profissionais da saúde para propiciar as adequações necessárias ao planejamento escolar do aluno com deficiência.

2. Introdução
Numa política de educação inclusiva é importante fornecer aos professores de classe comum as informações apropriadas a respeito das dificuldades da criança, dos seus processos de aprendizagem e do seu desenvolvimento social e individual. A escola inclusiva deve prever ações conjuntas de diferentes profissionais para propor as adaptações curriculares necessárias e adaptadas às necessidades dos alunos com deficiência (DELIBERATO, 2003).
Para Martins (2001), é imprescindível que o profissional da educação seja capacitado para desenvolver um trabalho efetivo tanto com alunos com deficiência quanto com os alunos sem uma necessidade mais específica, porque em ambas as situações as especificidades precisam ser respeitadas.
Capovilla (2000) discutiu a importância de ações políticas direcionadas à necessidade de equipar alunos com severo comprometimento motor e da fala para que possam demonstrar suas reais possibilidades acadêmicas. O mesmo autor, também ressaltou a necessidade de instrumentalizar o professor do aluno com severo distúrbio motor e da fala para que ele possa avaliar a aprendizagem acadêmica significativa.
A importância do uso de recursos alternativos e suplementares de comunicação para alunos que possuem severos distúrbios da comunicação no contexto de inclusão social e de uma educação para todos, configura uma nova maneira de proporcionar oportunidades àqueles alunos que necessitam de uma atenção especial dentro do próprio contexto da educação especial (BEUKELMAN; MIRENDA, 1992).
Portanto, o conhecimento das necessidades de cada aluno proporciona a realização das devidas adequações e adaptações dos recursos selecionados favorecendo a aprendizagem. Em vista disso, o profissional da área da saúde e da educação deve se preocupar em planejar atividades de interesse dos alunos para favorecer-lhe a interação, a participação e a aprendizagem significativa.
As especificidades dos alunos com deficiências fazem com que os profissionais da educação e da saúde organizem um trabalho conjunto para proporcionar e viabilizar aprendizagem e oportunidades reais e significativas nos diferentes contextos naturais, como no caso do contexto familiar, escolar, do trabalho e nas diferentes atividades sociais.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi adaptar as atividades pedagógicas de um aluno com deficiência física matriculado no ensino fundamental para propiciar o processo de inclusão escolar.


3. Material e Método
Este estudo fez parte de um projeto maior intitulado “Implementação de recursos de comunicação alternativa e suplementar no contexto acadêmico e familiar”. O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética  com o parecer: 1206/2006.
Este estudo foi realizado em duas etapas: a primeira etapa, foi o acompanhamento do aluno com deficiência física inserido na educação infantil, a segunda etapa foi desenvolvida  perante a matrícula do aluno com deficiência no ensino fundamental.
Nesse momento, será apresentado e discutido a segunda etapa do projeto que teve por finalidade adaptar as atividades acadêmicas do planejamento pedagógico para favorecer o processo de ensino-aprendizagem do aluno com deficiência matriculado no ensino fundamental.

3.1 Participantes
Participaram desta pesquisa uma criança com deficiência física do gênero masculino com 8 anos de idade matriculada na 1ª série do ensino fundamental, a professora, e a família do aluno. Participaram também a fonoaudióloga, a terapeuta ocupacional e uma estagiária de pedagogia.
O aluno recebeu atendimento no setor de fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia em um Centro de atendimento na área da saúde e educação de uma Universidade do interior de São Paulo.

3.2 Local
A pesquisa foi realizada em uma escola municipal do ensino fundamental, na cidade de Marília-SP, e um Centro de atendimento na área da saúde e educação de uma Universidade do interior de São Paulo.


3.3 Procedimentos para a coleta de dados
Inicialmente, foi realizado um encontro com a participação da escola, da família do aluno selecionado e dos profissionais envolvidos na pesquisa. Neste encontro foi discutida a importância da participação e envolvimento de todos para proporcionar e viabilizar aprendizagem e oportunidades reais e significativas nos diferentes contextos naturais como no caso do contexto familiar, escolar e nas diferentes atividades sociais. Foram discutidas também as habilidades e necessidades do aluno e a apresentação dos recursos e adaptações que possivelmente seriam realizadas.
Após esse primeiro encontro foram estabelecidas reuniões quinzenais com a participação da escola, professora e família do aluno no primeiro semestre de 2007. Nestes encontros foram discutidas as habilidades e dificuldades do aluno, para realizar as devidas adaptações das atividades do planejamento pedagógico a fim de suprir as reais necessidades do aluno.
Nesses encontros também foram discutidas as dificuldades apresentadas pela professora e aluno durante a realização das atividades adaptadas, assim como o bom desempenho do aluno nas mesmas. Esses encontros foram gravados e as informações registradas no caderno de registro.
Durante as reuniões realizadas foi estabelecido que o conteúdo pedagógico trabalhado no contexto escolar estaria vinculado no âmbito terapêutico da fonoaudiologia e da terapia ocupacional.
 
3.3.1 Materiais
As adaptações foram realizadas por meio de objetos concretos, miniaturas, fotos e figuras confeccionadas em dois tamanhos: 4 x 4 cm e 12 x 18 cm.
Foram impressas em papel A4 as figuras pequenas para as atividades pedagógicas do caderno e as figuras maiores foram plastificadas para serem utilizadas nas pranchas de eucatéx. Para a confecção das figuras, foi utilizado o software Boardmaker (MAYER-JOHNSON, 2004).

3.4 Procedimento de análise
            Após cada encontro, foi realizada a transcrição das fitas e análise em conjunta com o caderno de conteúdo. Por meio deste resultado foi possível estabelecer as categorias de análise segundo Bardin (2004).

4 Resultados
As categorias e subcategorias estabelecidas foram: habilidades e necessidades do aluno com deficiência (habilidades comunicativas, atividades acadêmicas); necessidades do professor (capacitação, adaptação das atividades); necessidades da escola (capacitação, adaptações); planejamento do professor (disciplinas, produção de textos); rotina diária da sala de aula (conteúdo, adaptações); organização e planejamento das adaptações das atividades; necessidades da família.
A seguir estão descritos conteúdos e atividades adaptadas às necessidades do aluno participante:

4.1 Músicas
Foram adaptadas 6 músicas, sendo elas: Sapo cururu, 1 2 Feijão com arroz, Borboletinha, O cravo brigou com a rosa, Capelinha de melão e Marcha soldado.
As músicas foram confeccionadas, em tamanho pequeno e grande, a fim de auxiliar no processo de produção da escrita.
Abaixo, encontra-se a adaptação realizada para a música “O cravo brigou com a rosa”:
                               

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Figura 1:  O cravo brigou com a rosa.


4.2 Atividades Matemáticas
Foram adaptadas 6 atividades, sendo elas: Porcas e parafusos; Bolinhas; armário; jogo da memória; dominó e álbum de figurinhas.
            Essas atividades foram adaptadas com o objetivo de favorecer o manuseio da mesma e a aprendizagem do conteúdo.
            A seguir, serão apresentados dois exemplos de atividades matemáticas adaptadas, respectivamente um jogo da memória e um material para auxiliar na contagem.


Figura 2: Jogo da memória
 

Figura 3: Porcas e parafusos


4.3 Figuras para a reescrita dos fatos ocorridos no fim de semana
            Foram confeccionadas figuras da rotina do aluno referentes às atividades do fim de semana, como por exemplo, passeios ao shopping; ida aos restaurantes; churrascos familiares; brincadeiras com os primos; para serem utilizadas em atividades de produção de texto no contexto escolar.
            Essa atividade envolveu a participação da família no que diz respeito ao registro dos fatos mencionados acima, em um diário. Esse diário era utilizado pela professora para facilitar as atividades de produção de texto.
 
4.4 Quadro de matemática
Confecção de um quadro de eucatex com linhas de velcro para a realização de atividades de matemática utilizando miniaturas de animais. Esse quadro teve como objetivo apresentar a representação simbólica dos números em relação a quantidade de zero a dez..

4.5 Quadro de Regras de comportamento
Foram confeccionadas figuras a respeito de regras de comportamento em tamanho grande, plastificadas e coladas no quadro de eucatex. O conteúdo das figuras foi selecionado junto com a professora, e a elaboração desse quadro facilitou a interação do grupo de alunos com a professora.

4.6 Alfabeto e números
Foram confeccionadas figuras com as letras do alfabeto e numerais. Essas figuras foram coladas em EVA e plastificadas para facilitar o manuseio.
Foram confeccionadas também figuras a respeito de órgãos dos sentidos, matemática, pontos de referência, formas geométricas, órgãos dos sentidos, artes, família, noções de tempo e espaço.

4. Resultados e Discussão
Durante esse estudo foi possível observar por meio do relato da professora e nos encontros quinzenais que as adaptações nas atividades pedagógicas auxiliou no processo de aprendizagem, contribuindo para o aumento da concentração, atenção, memória, seqüência lógica e iniciativas comunicativas de modo contextualizado do aluno em relação às atividades pedagógicas e recreativas desenvolvidas no âmbito escolar. Schlosser e Rothschild (2001) consideraram que a comunicação alternativa aumenta a competência comunicativa, facilita o desenvolvimento da linguagem oral, favorece a aprendizagem e contribui para a diminuição de comportamentos inadequados e melhora a qualidade de vida do usuário.
Um outro aspecto visualizado durante a pesquisa foi a importância do vínculo entre profissionais da saúde e da educação, família e escola para se efetivar na prática o processo de ensino-aprendizagem do aluno com deficiência inserido no ensino regular. Manzano (2001) ressaltou que é plenamente necessário que os pais e a equipe docente estejam interligados com a finalidade de trabalhar juntos na educação da criança.
            Durante a realização deste trabalho foi possível observar que a professora demonstrou interesse em auxiliar na organização e nas adaptações propostas pelos profissionais da saúde, buscando condição de lidar com as dificuldades e habilidades do aluno com deficiência. Estudos como de Mello (2003), enfatizou que o processo de intervenção contribui para a reflexão da prática pedagógica do professor, em relação aos recursos e estratégias criadas para facilitar o ensino e a aprendizagem do aluno com deficiência.
            De acordo com o relato da professora foi possível verificar que quando o mesmo conteúdo era trabalhado na escola e nos atendimentos terapêuticos favorecia a aprendizagem escolar do aluno. Segundo Santos (2000) a parceria estabelecida entre as áreas de educação e da saúde é imprescindível para a construção de programas de atuação que possam contribuir no processo de aprendizagem dos alunos com deficiência matriculados no ensino fundamental.




Referências bibliográficas

BARDIN, L.  Análise de conteúdo. 3.ª ed. São Paulo: Edições 70, 2004. (Tradução de: Luís
Antero Reto e Augusto Pinheiro).

BEUKELMAN, D. R.; MIRENDA, P. Augmentative and alternative communication: management of severe communication disorders in children and adults. Baltimore: Paul H. Brookes Publising Co, 1992.

CAPOVILLA, F. C. Comunicação alternativa: modelos teóricos e tecnológicos, filosofia educacional e prática clínica. In: CARRARA, K. Universidade, sociedade e educação. Marília: Unesp-Marília-Publicações, 2000.

DELIBERATO, D. Fonoaudiologia e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB e Educação Especial. Em: Cavalheiro, M. T.P.  et al (orgs) Anais. São Paulo: Editora Lovise, p 15-20, 2003.

MANZANO, E.S.  Principios de educación especial. Madrid: Editorial CCS, 2001.

MARTINS, L. A. R. O desafio de investir na escola inclusiva: relato de uma experiência profissional. In: MARQUEZINE, M. C.; ALMEIDA, M. A.; TANAKA, E. D. O. (Org). Perspectivas Multidisciplinares em Educação Especial II. Londrina: ed. UEL, 2001. p. 137-143.

MAYER-JONHSON, R. The picture comunication symbols P. C. S. Software Boardmaker. Porto Alegre: Clik Tecnologia Assistiva, 2004.

SCHLOSSER, R.; ROTHSCHILD, N. Augmentative and alternative communication for persons with developmental disorders. Temas sobre desenvolvimento, v. 10, n. 58-59, p.6CE-17CE, 2001.

SANTOS, M. R. Referencial curricular nacional para a educação infantil: estratégias e orientações para orientações para a educação de crianças com necessidades educacionais especiais. Ministério da Educação –Brasília:MEC,2000., 22p.