http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/075.htm | 
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
COMUNICAÇAO ALTERNATIVA:  A PESQUISA NA SALA DE AULA E O 
EMBATE DE POSTURAS TEÓRICAS
Maria Cristina Danelon
, Leila Nunes
, Alzira Brando
, Claúdia Togashi 
e Daniele Brito 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Hilda Gomes
 Instituto Helena Antipoff –Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro 
RESUMO
Com o objetivo verificar os efeitos da introdução de sistemas de comunicação alternativa nas 
interações dos e com os alunos e nos procedimentos de ensino da professora, o estudo tem 
sido conduzido em uma escola especial pública no município do Rio de Janeiro desde 2005 
até a presente data. Foram sujeitos cinco alunos com deficiência motora grave associada ou 
não a outra deficiência, cujas idades variavam entre 15 e 24 anos. Três desses alunos 
apresentavam grande comprometimento da fala.  Foram também protagonistas nessa 
investigação a professora da turma, a coordenadora da pesquisa e oito assistentes: uma 
doutoranda, uma pedagoga recém formada, três alunas do curso de pedagogia e três 
professoras do Instituto Helena Antipoff. O presente trabalho focalizará a  análise de 
conteúdo das reuniões da equipe de pesquisa ocorridas nos anos de 2005 e 2006. A postura 
teórica, as teorias implícitas, o embate teoria e prática, bem como a história de vida pessoal e 
profissional dos envolvidos na pesquisa têm apontado para muitas variáveis que podem 
sinalizar para a necessidade do professor desconstruir o discurso da espera por ações de 
formação para atuar mais eficazmente com seus alunos. Quando algumas destas ações foram 
disponibilizadas pela equipe de pesquisa, a professora apontou para a inadequação da teoria 
na prática, restando-lhe reproduzir práticas tradicionais, das quais foi “paciente”, pois as 
teorias “feijão com arroz” dão sempre resultado, segundo sua visão. Tem sido constatado que 
a entrada de pessoas estranhas em sala de aula parece constituir uma invasão à intimidade da 
professora, o que pode levá-la a lidar desconfortavelmente com esta situação. Também é 
pontual a necessidade da REAL aquiescência da professora quanto à presença e permanência 
do trabalho da equipe de pesquisa em sua sala de aula. Quando os efeitos positivos da ação 
investigativa começaram a surgir na interação dos alunos, a professora pareceu passar a crer 
na capacidade deles e investir mais em suas ações pedagógicas, modificando seu estilo de 
interação. 
Introdução
Ainda que a Comunicação alternativa e ampliada  (CAA)  tenha  sido introduzida no Brasil  
ao final da década de 70,  o quantitativo de alunos que se beneficia de seus recursos seja 
em  escolas inclusivas  ou  em escolas especiais (Souza e Nunes, 2003) ainda é reduzido. 
Considerando a pouca difusão da CAA nos ambientes escolares, o projeto de pesquisa 
“Dando a voz através de imagens: comunicação alternativa para indivíduos com deficiência 
(Nunes, 2005)” foi delineado.  O projeto vem sendo conduzido em turma de uma escola 
especial no município do Rio de Janeiro. Nos anos de 2005 e 2006 a turma era constituída 
por cinco alunos que exibem deficiência motora grave associada ou não a outra deficiência, 
cujas idades variavam entre 15 e 24 anos. Três desses alunos apresentavam grande 
comprometimento da fala.  Foram também protagonistas nessa investigação a 
coordenadora da pesquisa e oito assistentes: uma doutoranda, uma pedagoga recém 
formada, três alunas do curso de pedagogia e três professoras do Instituto Helena Antipoff.  
Iniciado em agosto de 2005, o projeto visou: a) analisar o processo comunicativo de alunos 
com deficiências severas de comunicação oral com seus interlocutores na escola, b) 
verificar os efeitos da introdução de sistema de comunicação alternativa no comportamento 
interativo aluno-professora e aluno-aluno, c) proceder a análise psicolingüística das 
emissões dos alunos participantes enquanto usuários dos recursos de comunicação 
alternativa em interação com seus interlocutores, d) observar e analisar a postura da 
professora diante dos procedimentos de ensino empregados pela equipe de pesquisa para 
introduzir os sistemas de comunicação alternativa na sala de aula   e e) proceder a análise 
de conteúdo das reuniões da equipe de pesquisa. Os procedimentos metodológicos do 
estudo envolveram: a) sessões de registro de observação direta do comportamento de 
alunos e da professora antes a após a introdução das pranchas com o sistema de CAA em 
sala de aula; b) reuniões semanais da equipe de pesquisa com e sem a presença da 
professora com a finalidade de relatar e comentar sobre as observações feitas em sala de 
aula, discutir seu conteúdo teoricamente, bem como planejar a introdução dos recursos da 
comunicação alternativa (CA) (o conteúdo dessas reuniões foi registrado em ata); c) 
sessões de demonstração para os alunos e para a professora do emprego de dois tipos de 
pranchas contendo pictogramas (as sessões videogravadas e seu conteúdo registrado em 
diário de campo); d) sessões de utilização das pranchas pelos alunos ( formato livre ou 
dirigido), e) transcrição, categorização e análise das sessões videogravadas. 
Metodologia
O presente trabalho é constituído da análise de conteúdo das atas das reuniões do grupo de 
pesquisa ocorridas durante os anos de 2005 e 2006. Foram realizadas 33 reuniões da equipe 
de pesquisa, sendo que 11 contaram com a presença da professora de turma. A duração 
média das reuniões semanais era de três horas e meia. No ano de 2005 foram realizadas dez 
reuniões com uma média de cinco membros presentes; a professora participou apenas de uma 
das reuniões. Com uma média de seis presentes, em 2006 houve 23 encontros, dos quais dez 
contaram com a presença da professora, que não era a mesma do ano anterior. Usualmente, 
o grupo de pesquisa se reunia das 08h30min.às 12h. As reuniões iniciavam e terminavam sem 
a presença da professora, já que o tempo que ela podia disponibilizar era uma vez por 
semana, no intervalo entre 10h 20min e 11h. Nestes 40 minutos, os alunos estavam sendo 
atendidos fora da sala de aula pelo professor de Educação Física ou de Música. Nos dias em 
que esses professores não estavam presentes na escola ou quando acontecia um evento 
extraordinário, a estratégia não era possível, impossibilitando a participação da professora nas 
reuniões com a equipe de pesquisa. Nessas ocasiões a reunião da equipe acontecia tempo 
integral. Sem que os componentes se dessem conta, a reunião passou a ser dividida em duas 
partes: a do grupo de pesquisa e a do grupo de pesquisa com a professora. Quando a 
professora chegava, o grupo terminava a sua reunião e começava uma nova reunião sem ter, 
via de regra, o hábito de fazer o repasse dos assuntos tratados até o momento. Vale pontuar 
que o repasse aconteceu em duas reuniões e que a participação da professora nas reuniões da 
pesquisa, basicamente se restringiu às suas impressões e algumas sugestões quanto às 
inserções das pranchas/cartões de comunicação alternativa que estavam sendo feitas na sala 
de aula.   
De posse das atas de reunião elaboradas pelas assistentes de pesquisa, procedeu-se à análise 
de conteúdo (Bardin, 1977).  Nesse trabalho, foram analisados os relatos e os comentários 
da equipe de pesquisa sobre as observações feitas em sala de aula, as reuniões/conversas da 
equipe com a professora, bem como as impressões e interpretações subjetivas de cada 
membro quanto a esses eventos. As reuniões tiveram também o cunho de troca de opiniões 
sobre estratégias para a inserção destes procedimentos. 
Considerando o efeito que estados subjetivos, valores pessoais, orientações teóricas e 
crenças do pesquisador têm na construção dos dados, optou-se por evidenciá-los e assim 
tentar elucidar o processo de articulação entre os dados coletados e esses elementos 
subjetivos que são ativados para dar significado ao que é observado (Bogdan e Biklen, 1994; 
Ezzy, 2002). 
A partir da análise das atas, os temas recorrentes foram agrupados em categorias temáticas; 
com a emergência de outros temas relevantes em 2006, buscou-se reorganizar as categorias 
temáticas criadas a partir do conteúdo das reuniões conduzidas em 2005. O estudo foi 
configurado com cinco categorias temáticas: 1) ações metodológicas; 2) Aporte teórico; 3) 
Parceria Instituto/Universidade; 4) Atitude, percepção e hipóteses; 5) Interferência no 
campo.Foram mais presentes temas relativos às ações metodológicas e Percepção, atitudes 
e hipóteses . 
A seguir  estão apresentados os conteúdos especificos de cada uma das cinco categorias 
temáticas. 
1. Ações metodológicas
A presente categoria contém as ações voltadas para o aspecto metodológico. No trabalho de 
pesquisa de campo em grupo, as discussões acerca dos procedimentos a serem seguidos, 
bem como reestruturações necessárias são recorrentes. Nessa investigação os procedimentos 
de coleta de dados foram sendo adequados às contingências da sala de aula ao longo do ano 
de 2006. Houve a preocupação em manter um olhar pedagógico, ou seja, um olhar na prática 
da professora para buscar estratégias mais adequadas de ação. 
A mudança da professora da turma no ano de 2006 implicou em modificações nos 
procedimentos metodológicos. Como condição para fazer parte da pesquisa, a nova docente 
não concordara em ser filmada, fotografada ou ter sua voz gravada; assim, as filmagens foram 
substituídas por registros de observação ao vivo. Quando da introdução das pranchas de 
comunicação, onde as sessões foram videografadas para a garantia do registro das 
especificidades das interações, a professora não era participante ativa do evento. 
1.1.Tema 1. Presença da professora nas reuniões de pesquisa. 
A necessidade da presença da professora da turma, a participação dela como um elemento 
do grupo de pesquisa num trabalho colaborativo foi tema presente em 15 reuniões. Por ser 
uma pesquisa desenvolvida em sala de aula especial, entraves de diversas naturezas 
dificultaram o andamento da pesquisa. A estratégia pensada1 para que a professora 
participasse das reuniões do grupo não foi eficaz e, no decorrer do ano, por conta da 
dinâmica interna da escola e da disponibilidade de recursos humanos, não foram criadas 
estratégias outras que viabilizassem a presença mais efetiva da professora.       Além desses 
motivos para a ausência da professora, o grupo entendeu que não houve realmente um desejo 
de participação da professora, mas um aceite, para não “atrapalhar a pesquisa de vocês”, 
garantindo assim a continuidade do estudo. 
1  Utilizar o horário de atendimento dos alunos na aula de educação física ou de música, onde 
a professora da turma poderia permanecer na sala enquanto os alunos iam para outro espaço.
A idéia era que ela aproveitava algumas situações para evitar a presença do grupo na sala de 
aula, apesar de ser sempre cordial com os integrantes do grupo.
1.2.Tema 2. Solicitações da professora.. 
Durante o ano de 2006, foi enfática a solicitação da nova professora quanto aos dados e 
resultados obtidos na pesquisa até o momento. Pediu-se à professora que aguardasse; pois 
tão logo os dados estivessem organizados lhe seriam apresentados. Talvez a preocupação 
legítima de organizar os dados para apresentá-los, fosse neste momento, o menos importante. 
Parece que a professora queria ver o que foi filmado, para garantir que não havia “nada 
contra ela” nas gravações. 
1.3.Tema 3. Confecção de cartões . 
Quando do planejamento da inserção das pranchas de comunicação, foi feito um 
levantamento do vocabulário junto à professora com o intuito de assessorar sua dinâmica de 
sala de aula, bem como ampliar as oportunidades de interação dos alunos e da professora via 
recursos da comunicação alternativa. Posteriormente, o mesmo levantamento foi feito junto 
aos alunos. Das 29 sugestões que a professora deu apenas seis foram aproveitadas. Os 
demais cartões foram elaborados a partir de vocabulário selecionado pelos alunos. Entretanto, 
apesar deste contratempo, em várias outras oportunidades o grupo ofereceu confeccionar 
pranchas e ou cartões adequados aos conteúdos a serem trabalhados por ela, solicitando que 
ela apontasse com qual vocabulário deveria ser confeccionado o material. Quando da 
execução do planejamento, a professora refutava e criava diversas desculpas para que não 
fossem feitos os cartões. 
2. Aporte teórico 
2.1 Tema 1 Discussões e aprofundamento teórico  
Para o desenvolvimento do trabalho em grupo, percebeu-se a importância de aprofundamento 
teórico do grupo, entretanto, apesar da proposta ser esta, as reuniões tiveram, 
majoritariamente momentos de discussão teórica. Das 21 vezes em que temas pertinentes a 
esta categoria surgiram em 12 das 21 reuniões ocorridas no ano de 2006, as discussões 
tinham como embasamento a postura teórica já construída por cada um dos participantes e 
socializada aos demais. O aprofundamento teórico do grupo ficou restrito à socialização de 
material de estudo, à reuniões específicas para que o grupo aprendesse a trabalhar com 
análise de conteúdo e à situações pontuais onde um ou mais componentes da equipe trazia 
alguma fundamentação teórica que estaria embasando a prática do grupo, sem, no entanto 
este momento ter uma produção científica escrita para estudo mais sistemático que pudesse 
subsidiar a discussão. 
2.1. Tema 2. Embate teórico 
O embate teórico entre a postura do grupo de pesquisa e a da professora ficou evidenciado 
em dez reuniões. Aconteceram muitos momentos de embate entre as posturas teóricas dos 
elementos do grupo de pesquisa e as da professora. Um desses momentos surgiu a partir do 
entendimento da professora que primeiro os alunos deveriam conhecer os significados das 
figuras utilizadas na confecção dos cartões para depois poder utilizá-los com propriedade, 
quando a postura do grupo era que a construção dos significados dos cartões precisava se 
dar no uso e não antes dele.  Do total de 21 momentos categorizados como aporte teórico, 
seis aconteceram na reunião com a professora, exclusivamente. Dos 11 que aconteceram na 
reunião da equipe, três tinham relação com ações da professora que o grupo discordava e 
dois que o grupo concordou com ela, mas ela não foi notificada, ou seja, não foram trazidos à 
baila quando o grupo voltou a se reunir com ela. Um deles foi sobre a dificuldade de trabalho 
com as pranchas de comunicação. A professora apontou que numa turma com cinco alunos 
cada um dos pesquisadores precisava estar com um aluno; fazer o trabalho com as pranchas 
por apenas uma pessoa é inviável. O grupo percebeu a dificuldade que foi apontada, mas não 
repassou sua posição. Talvez fosse importante tentar uma dinâmica onde apenas um dos 
componentes do grupo de pesquisa estivesse atuando com os alunos, para serem criadas 
estratégias. A colocação da professora é relevante no sentido que o uso de recursos de 
comunicação alternativa e ampliada em sala de aula de uma turma especial constitui uma 
proposta real de ampliação da autonomia dos alunos e sua constituição como sujeitos quando 
percebem que podem afetar o outro, entretanto é muito trabalhosa e as respostas acontecem 
em outro tempo, o que interfere enormemente na dinâmica das atividades. Além disso, 
enquanto a professora está esperando a resposta de um aluno os outros precisam estar 
ocupados em suas atividades, mas se não são autônomos ainda, como fazer?
3. Parceria IHA/UERJ
Apesar dessa categoria não ter apresentado muita intercorrência. Ela foi mantida pela 
relevância da parceria entre estas duas instituições para fins desta pesquisa. Ela foi ponto 
crucial para decisões em momentos de crise. A partir da parceria celebrada com o IHA, foi 
firmado um compromisso com os pais. Assim, o grupo de pesquisa sentiu-se na obrigação de 
dar continuidade do estudo ao longo do ano letivo de 2006. O compromisso com os pais e a 
preocupação destes entenderem as ações da professora como deflagradoras do término da 
pesquisa foram trazidos à baila em três encontros, além de estar no subconsciente do grupo a 
responsabilidade dessa parceria, bem como o histórico entre a escola e o IHA, que tem muito 
peso nas ações dos envolvidos. O grupo de pesquisa carregou a reboque os entraves desta 
relação um tanto conturbada. Esta parceria, provavelmente foi um dos motivos pelos quais a 
pesquisa enfrentou sérios desafios. No decorrer da história de existência da escola e do IHA, 
em várias ocasiões houve certas rusgas entre as duas instituições. No ano de 2005, uma das 
mães da turma procurou pelo instituto, a fim de obter atendimento especializado para sua filha 
com relação ao processo de alfabetização da menina, entretanto, no entendimento deste 
instituto, para esta finalidade os alunos devem ser atendidos em grupo. Nesse contexto, 
ocorreu uma sindicância e logo após o grupo de pesquisa da UERJ recebeu esta turma para 
desenvolver seu projeto. Apesar de não ter ligação real com esta situação organizacional, a 
entrada do grupo ficou marcada por este fato, ficando, para muitos a idéia de “uma 
intervenção branca”
4. Atitudes, percepção e hipóteses 
4.1. Tema 1. Atitudes, percepção e hipóteses da professora 
Quando questionada sobre seu sentimento de pertencimento ao grupo de pesquisa, a 
professora foi categórica em afirmar que eram trabalhos diferenciados. Ficou claro para o 
grupo que a professora demonstrava certo incômodo com a presença dos elementos da 
pesquisa. A dinâmica da sala de aula já é bastante conturbada, ter elementos estranhos dentro 
da sala de aula, não era definitivamente o que a professora demonstrava desejar. Não foi 
solicitação dela que o grupo fizesse a pesquisa em sua turma, mas pareceu aceitar o fato 
diante do quadro que se delineou. Geralmente, a inserção de um grupo de pesquisa numa 
classe acaba por avaliar o trabalho da professora. Apesar do grupo colocar que não era essa 
a intenção, foi exatamente o que acabou por fazer, quando não houve momento de “colocar 
as cartas na mesa”. A preocupação de não dificultar mais as relações que já estavam abaladas 
e levar, provavelmente, à necessidade de parar a pesquisa naquela turma fez com que os 
elementos do grupo acordassem em manter o máximo de cuidado nas ações. O que seria dito 
aos responsáveis? A pesquisa encerra por aqui? Com que resultados? Obviamente que, por 
vários motivos, a professora foi nosso maior entrave. Como ficariam as relações dos pais com 
a professora, já que os pais estavam esperando tanto da pesquisa? Esses fantasmas rondaram 
a pesquisa no ano de 2006, paralisando muitas das possibilidades de ação que o grupo 
pensava por em prática.
Em 10 reuniões a professora foi solicitada para dar seu parecer acerca da inserção das 
pranchas na sala de aula. Suas colocações estavam direcionadas às questões práticas relativas 
ao uso dos cartões, tais como mistura de cartões que caíam no chão; tamanho das caixas, 
considerado muito grande; cores apagadas; figuras pouco icônicas; não validade da pesquisa 
para os alunos que possuíam alguma oralidade. Em seis reuniões a professora reforçou que, 
para a turma, a validade da pesquisa se restringia à ampliação das interações aluno-aluno e 
que eles gostavam muito de participar das atividades da pesquisa. Não conseguiu perceber 
mudança na própria postura em relação às suas interações com os alunos, antes vistos como 
“ilhas”. A professora era sempre o elemento centralizador da comunicação. As opções dos 
alunos não falantes estavam limitadas a escolhas entre opções e ao sim/não. Apesar de alunos 
mais comprometidos estarem apresentando mais sinais comunicativos, a professora não 
demonstrou, em suas colocações nas reuniões, que eles tenham modificado suas atitudes de 
forma mais significativa. Suas afirmativas iniciais sobre as necessidades e limitações dos alunos 
foram mantidas, exceto numa reunião em que colocou que uma das alunas a surpreendeu. 
Ficou explícito que a sua postura com estes alunos estava permeada por sua percepção, que 
limitava até mesmo a auto estima deles. A professora sentia a necessidade de ter certeza se as 
respostas dadas pelos alunos eram acertadas por conhecimento ou por acaso. Assim, sempre 
que o aluno acertava, ela perguntava enfaticamente: “- Tem certeza?”  O que foi percebido 
pelo grupo, mas não compartilhado com ela, é que a força daquela pergunta parecia 
desestabilizar o aluno, dificultando a construção do seu conhecimento. O que certamente, não 
era a intenção. Em várias reuniões a professora afirmou que já utilizava a comunicação 
alternativa apenas por apresentar cartões aos seus alunos ou oferecer exercícios no papel com 
figuras em que, majoritariamente, havia escolha de opções; entretanto, não foram percebidos 
pelo grupo momentos na dinâmica da aula em que os alunos utilizavam a CAA para 
comunicar-se com a professora ou, minimamente, iniciar as interações.
Ainda que tenha havido colocações acerca da comunicação alternativa nas reuniões do grupo 
e que a professora já tenha participado anteriormente de cursos de capacitação em serviço 
sobre este tema, é entendimento da professora que primeiro os alunos deveriam conhecer os 
significados das figuras utilizadas na confecção dos cartões para depois poder utilizá-los com 
propriedade, quando a postura do grupo é que a construção dos significados dos cartões 
precisa se dar no uso e não antes dele.
Quanto à ampliação das sentenças construídas por seus alunos nas sessões de pesquisa, a 
professora demonstrou não acreditar que os alunos as tinham construído, afirmando que ela 
“era mais rígida e não dava dicas”, cabia a ela “ter certeza” do que “realmente” sabiam.  Em 
seis reuniões suas colocações foram relativas à necessidade de ter certeza do que os alunos 
realmente sabiam, e, por isso se mantinha numa postura de testagem constante em relação a 
eles. 
Ainda com relação ao uso da comunicação alternativa para apoiá-la no processo de 
alfabetização, a professora deixou claro que os alunos, ao longo dos anos que passaram pela 
escola, “já comeram muito salmão”, fazendo alusão a diversas tentativas consideradas 
inovadoras de alfabetização/ educação, e que agora iam “comer feijão com arroz”, pois o 
tradicional funciona. A postura teórica implícita pareceu ter mais força na ação educacional da 
professora que a formação que ela recebeu em serviço. Muitas vezes pareceu que a dinâmica 
na sala de aula era norteada pelas restrições da professora quanto às potencialidades 
comunicativas e cognitivas dos alunos. Ficou latente também a necessidade de demonstrar 
eficiência. Nesse sentido, se a professora deixasse o seu porto seguro do tradicional, poderia 
chegar ao final do ano sem ter conseguido “trabalhar” seus alunos. Discordava da validade da 
pesquisa para alunos falantes, apontando que o benefício do trabalho do grupo, seria dos dois 
alunos não falantes. Ressaltou que nas sessões de inserção dos recursos de CAA, a 
responsividade maior aconteceu com os falantes, em suma, a pesquisa não estava adequada 
àquela turma. A “certeza” da professora é que a CAA tende a interferir na oralidade dos 
alunos falantes, principalmente pelas mensagens “telegráficas”. Para ela o trabalho é 
contraditório. Apesar da explicação da professora coordenadora do estudo de que este era 
um primeiro momento da pesquisa e que ao longo do estudo todos deveriam ser beneficiados 
com as atividades e da importância de todos utilizarem a CAA na sala, a professora pareceu 
não concordar com esta colocação, sugerindo que fosse feito um estudo com alunos 
pequenos, sem “vícios” de comunicação.Outro fator de relevância era a constante afirmativa 
dela dos anos de exercício de magistério, que já tinha, deixando subentendido que não havia 
mais a aprender.
4.2.Tema 2. Atitudes, percepção e hipóteses dos elementos do grupo 
Para uma das integrantes do grupo, quando a professora estava negando a fiilmagem, 
implicitamente negava a pesquisa. Apesar do grupo ser constituído, majoritariamente, por 
pessoas que têm experiência com educação especial, a participação ativa numa pesquisa 
nessa configuração é novidade. As dificuldades encontradas foram muitas. Cada avanço que 
o grupo pensava em comemorar era acompanhado por um novo desafio. Um desses desafios 
está relacionado à presença da professora na sala de aula quando da inserção das pranchas 
em atividades programadas. Ela havia solicitado que o grupo dirigisse a atividade, pois não 
saberia faze-lo, assim aprenderia. Algumas vezes ela se manteve na sala, não sendo uma 
constante. Suas saídas eram rotineiras e sua alegação era de que os alunos precisam estar 
com outras pessoas, para se desligarem um pouco dela. Em outras ocasiões colocou que 
aproveitava para resolver algumas “coisas”. Obviamente o grupo não concordava com essa 
opinião. Sentiu-se desprestigiado no seu esforço de buscar caminhos possíveis para o 
trabalho sem a cooperação dela e, principalmente curioso para saber como ela poderia 
aprender se não estava presente.  Esta foi mais uma das situações delicadas que foram 
vivenciadas e que apontaram para a cisão entre os dois trabalhos. A instabilidade tácita das 
relações escola-pesquisa-instituto mantinha o grupo sob constante vigilância, para não correr 
risco de gerar mal estar nos diversos ambientes. Fato interessante pode ser relatado numa 
reunião que destoa das demais pela presença de uma professora visitante da universidade, a 
qual veio participar da atividade da pesquisa. Após a sessão com os alunos, o grupo reuniu-se 
com a professora da turma. Ficou clara a diferença da postura desestabilizadora desta 
professora que não estava envolvida “pelos fatos”, no excesso de cuidados. O 
posicionamento desta para com a aquela foi de questionar as colocações que a professora da 
turma fazia, apoiando sua fala com explicações teóricas. Ainda que não tenha como saber se 
esta conversa foi mais frutífera que as demais, deve ficar registrado que a diferença efetiva 
residiu na presença da professora de turma nessa discussão “sem receio”. Discussões de 
semelhante teor não eram raras, mas não com a presença da professora. Ao ver desta 
professora visitante, a professora de turma seria a maior dificuldade para a pesquisa, pois “ela 
se contradiz, talvez por insegurança”.A questão maior é que fatos podem ter levado a 
determinadas atitudes, interferindo assim no bom andamento da pesquisa. Nas reuniões ficou 
claro um distanciamento do grupo em relação à professora, por conta de como ela se colocou 
logo no primeiro encontro, entretanto, segundo ela, não foi informada que a pesquisa teria 
continuidade no ano de 2006. Este fato parece ter sido bastante relevante na barreira que se 
criou entre professora e grupo. Também as reuniões que antecediam a chegada da professora 
permeavam o olhar do grupo chegando a minar algumas tentativas de trabalho, somando-se a 
isso, não houve coragem de expor o que estávamos percebendo na sala ou sentindo nesta 
relação conflituosa. 
Uma das componentes da pesquisa chegou a colocar que a professora parecia ”um rolo 
compressor”. Como todos estavam do “mesmo lado”, houve consenso nesse pensar, 
entretanto, até que ponto o grupo também não era um rolo compressor, ao “invadir” o espaço 
que, para o professor, é entendido como sagrado? A inserção do grupo de pesquisa nesta 
turma, no ano de 2005, aconteceu após uma intervenção por parte de um órgão superior à 
escola. Talvez esta situação aparente de uma “intervenção branca” tenha contribuído para que 
ela não se sentisse “do grupo de pesquisa”. Provavelmente, ela foi o maior entrave porque 
personificava a barreira que não construiu sozinha. Todo o histórico apresentado, o excesso 
de cuidado que foi tomado e as características da própria professora, junto a fatores próprios 
de cada um dos elementos da pesquisa e outros que não foram ainda detectados ergueram a 
barreira para o delineamento de uma pesquisa ação partilhada e colaborativa.
5. Interferência no campo
5.1.Tema 1. Interferências propostas 
Nesta sessão serão apresentadas algumas das colocações/sugestões feitas pelos elementos do 
grupo, para adequar a dinâmica das atividades e da prática pedagógica às necessidades dos 
alunos. Apesar de contraditório, algumas das interferências propostas não foram, 
efetivamente, propostas. Diante do que as integrantes do grupo de pesquisa percebiam na 
sala, possibilidades de intervenção eram sugeridas nas reuniões, mas algumas não chegaram 
ao conhecimento da professora. Algumas das que chegaram Uso de uma prancha alfabeto 
afixada no mostrador de um relógio; a idéia das pranchas serem confeccionadas em 
consonância com o conteúdo desenvolvido, para serem mais efetivas. Confeccção de mais 
cartões para ampliar as possibilidades de comunicação e construção de sentenças mais 
complexas pelos alunos. Sugestão de primeiro questionar o aluno se ele já sabe a resposta ou 
se já terminou de ler a frase, por exemplo, antes de pedir que indique a resposta. 
A própria professora da turma solicitou que fosse criado um símbolo para representar o grupo 
de pesquisa. Nas pranchas de comunicação já havia uma foto de cada uma das integrantes, 
mas dentro da dinâmica da professora, ela fazia o planejamento do dia junto aos alunos. No 
dia que haveria alguém da equipe lá, não tinha como ela utilizar um único cartão para 
representar essa idéia. Foram feitos ajustes “nas caixas de comunicação” que estavam 
ocupando muito espaço nas mesas e interferindo na autonomia dos alunos.
5.2.Tema 2. Interferências efetivadas 
A observação feita pela coordenadora da pesquisa da importância do uso de um plano 
inclinado para um dos alunos foi, aparentemente, bem aceita pela professora da turma. Foi 
proposto um “quadro prancha”. Nele haveria todos os cartões que os alunos tinham em suas 
caixas de comunicação. O objetivo é que todos utilizassem os mesmos cartões para legitimar 
a linguagem. Assim os alunos utilizariam suas caixas de comunicação e os integrantes da 
pesquisa juntamente com a professora utilizariam os cartões ampliados. Embora o grupo tenha 
feito as caixas e o quadro-prancha para o uso, inicialmente do momento de planejamento, a 
professora não os utilizou nem nessa, nem em outras situações Descartou a possibilidade de 
guardar as caixas, pois estas “ocupariam muito espaço na sala de aula”. Apesar das caixas 
não serem pequenas, cabiam empilhadas embaixo de uma mesa que existia na sala sem, 
certamente, causar confusão. Por ser visto pela professora como “um trabalho à parte”, não 
havia tempo disponível para que ela parasse o “seu trabalho” e utilizasse as caixas. Dentro da 
lógica dela, realmente não havia necessidade de ocupar nem o espaço vago embaixo da mesa, 
para guardá-las na sala. Ainda que o uso das pranchas estivesse restrito à nossa presença em 
sala de aula, a ampliação das interações foi uma das propostas mais significativas e efetivas na 
pesquisa. A professora reconheceu que os alunos passaram a interagir mais e que gostavam 
muito de usar as caixas.  Ao final do ano de 2006 foram feitas observações na sala sem 
intervenção do grupo. Na última, foi possível perceber que uma das alunas sem oralidade, 
que, aparentemente, não era responsiva ao ambiente, passou a “responder” vocalizando a 
cada um dos questionamentos feitos pela professora na hora do planejamento do dia. Estava 
mais “presente” nas atividades. Respondia, ainda que a pergunta não fosse dirigida a ela, mas 
a professora não parece ter percebido. O outro aluno a quem a professora também atribuía o 
objetivo da equipe estar atuando junto à turma, passou a gesticular mais e exigir mais. Antes 
seu padrão mais comum de resposta eram gestos faciais e um espasmo com a perna, quando 
batia sempre com o joelho embaixo da mesa. Seus braços passaram a abrir como forma de 
solicitar atenção, vocalizava muito mais e em tom alto sem aceitar esperar muito para ter 
atenção.  Um dos alunos “falantes” respondeu à professora quando ela fez uma colocação da 
qual ele não gostou, sobre ele não estar atento na atividade; pois estava se esforçando muito.  
A professora também, sem perceber, passou a dar “dicas” para os alunos e apostar mais na 
auto estima deles: “Agora eu tenho certeza que você vai acertar!” Sua foto passou a figurar no 
momento de planejamento, bem como em algumas atividades na sala de aula. A sala mudou 
de características, entretanto o grupo de pesquisa não considerou esses fatos como sendo um 
avanço, provavelmente por tantos investimentos sem “retorno” aparente terem deixado o 
grupo meio “refratário”. Não é possível saber, neste momento, se a presença do grupo 
colaborou de alguma forma para que a professora desestabilizasse suas certezas. 
Provavelmente o tempo dela é outro. Infelizmente, a equipe foi “dispensada” de trabalhar 
nesta turma, posto que no ano de 2007 ingressou um aluno “com dificuldades de 
comportamento” e a presença do grupo o agitaria mais, dentre outras colocações.
Considerações finais
Foi desconcertante o sentimento de impotência do grupo diante das tentativas infrutíferas de 
auxílio à professora. Nas reuniões ficou clara a concepção de que ações de pesquisa que não 
contem com a real aquiescência do professor de turma não contam com sua participação 
também. A postura profissional traduz e é tradução da postura pessoal. As teorias 
cristalizadas implicitamente são um grande nó para uma prática inovadora no campo 
educacional. A concepção de que o professor é detentor do saber e que é preciso ter certeza 
da posição que o aluno ocupa na construção de conceitos, provavelmente não é característica 
só desta professora. Em várias ações de profissionais que se dizem inovadores, há muitas 
ações subliminares que denotam essa postura. Ainda não foi possível aprofundar o estudo 
sobre teorias implícitas, mas certamente elas interferem no desenvolvimento das ações que 
pretendem inovar. Uma grande dificuldade é a couraça com a qual se revestem profissionais e 
pesquisadores. O professor é aquele que tem que dominar o conhecimento do processo, do 
aluno, sendo desnecessário aprender algo mais. Há a postura da pessoa que não acredita 
mais ser necessário construir outros aprendizados.  A receptividade à idéia de mudança 
precisa fazer parte das crenças daquele que vai receber em sua sala um grupo de pesquisa. 
Diante desta pesquisa foi possível perceber na relação que se estabeleceu que, desenvolver 
pesquisa numa sala de aula demanda um preparo prévio, a construção de uma cumplicidade 
entre pesquisador e professor. Isso ainda não parece ser prática corriqueira no campo 
científico. Não cabe ao pesquisador saber e ao professor não saber. Ambos como cúmplices 
convivem e mediam conhecimento no conceito de zona de construção. O alvo é o aluno e 
práticas mais adequadas à sua diversidade. Infelizmente ainda há o senso comum no campo 
educacional que quem tem mais diploma sabe mais e quem sabe manda. Assim a professora 
“dona de sua sala de aula” fica desestabilizada quando entram “estranhos em seu ninho” para 
dizerem a ela o que deve ser feito, não conseguindo compreender que a intenção era de 
parceria. Ao longo do exercício de análise de conteúdo questões foram sendo levantadas, 
essas questões passaram despercebidas na dinâmica da ação, e não foram respondidas. 
Talvez, levar estas questões para uma entrevista de follow up seja uma proposta. 
Avaliar é algo dolorido, a experiência não tem como ser construída se não for no caminhar, a 
proposta do professor que pesquisa tem que partir de uma anuência dele, mas... E se não 
houver anuência? E se o professor quiser continuar com suas verdades? Há possibilidade de 
ação?É importante ressaltar que fica faltando aqui um espaço para a professora , sob sua 
ótica , posicionar-se diante do que foi discutido. Apesar de ter sido solicitada à professora um 
horário com a pesquisadora para repasse da análise de conteúdo e um momento para que ela 
fizesse suas colocações, as ações da mestra seguiram a mesma linha: refutou a possibilidade 
de fazê-lo logo, marcando o encontro para um mês depois. Próximo à data marcada, a 
pesquisadora manteve contato telefônico, para confirmar o encontro. Nesta ocasião a 
professora descartou a possibilidade de horário para tal atividade. Será acrescentado a este 
trabalho, o olhar dos demais membros do grupo, com o intento de registrar o sentimento do 
grupo após a leitura deste material.
Foi possível perceber que há ainda muito a construir como pesquisadores dentro de sala de 
aula. Nesse sentido, levantamento de objetivos, momentos de troca, estudo e reflexão 
conjunta são algumas das propostas onde as partes envolvidas são sujeitos de uma pesquisa 
de todos. 
Referências bibliográficas
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Edições 70.
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S. B. Santos & T. M. Baptista, Trads.).  Porto: Porto Editora (Trabalho original 
publicado em 1991).
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Nunes, L. R. O. P. (2005). Dando a voz através de imagens: comunicação alternativa para  
indivíduos com deficiência. Projeto de Pesquisa. UERJ. 
Souza, V. L. V. & Nunes, L. R (2003). Caracterização da comunicação alternativa: Perfil dos  
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Nunes (Org),  Favorecendo o desenvolvimento da comunicação em crianças e 
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