http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/098.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
INFLUÊNCIA DA SÍNDROME VELOCARDIOFACIAL NA COMUNICAÇÃO ORAL,
ESCRITA E HABILIDADES ACADÊMICAS
Amanda Tragueta Ferreira;
Mariana Germano Gejão,
Katia Flores Genaro;
Dagma Marques Abramides Venturine;
Antônio Richieri da Costa;
Dionísia Aparecida Cusin Lamônica
Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São
Paulo
RESUMO
A Síndrome Velocardiofacial (SVCF) está relacionada às anomalias velares, cardíacas e faciais
variadas, além de alterações emocionais, sociais, cognitivas, lingüísticas e de aprendizagem. Trata-se
de herança autossômica dominante, com deleção intersticial do cromossomo 22q11. Entre as
manifestações clínicas mais comuns, estão alterações da fala, da linguagem receptiva e expressiva. O
objetivo deste estudo foi descrever as características psicolingüísticas, comunicativas, orofaciais e
auditivas e correlações destas com habilidades escolares em indivíduo diagnosticado clinicamente
com a SVCF. Participou deste estudo, um menino de 11 anos com queixa de dificuldades
escolares, alterações cognitiva, de aprendizagem e voz anasalada, apresentando fenótipo da SVCF.
Foram realizados os seguintes procedimentos de avaliação: Observação do Comportamento
Comunicativo; Teste de Vocabulário por Imagem Peabody (1986); Teste de Desempenho Escolar
(1994); Perfil de Habilidades Fonológicas (2004); Teste de Repetição de Pseudopalavras para
Crianças Brasileiras (2003); Teste Illinóis de Habilidades Psicolingüísticas (1997); Avaliação
Audiológica Convencional – audiometria e imitanciometria; Protocolo de Avaliação do Sistema
Estomatognático; Avaliação psicológica - hora de jogo, WISC-III (1991), Teste Span de Cores
(2006) e Wisconsin (1993). Na Observação do Comportamento Comunicativo, verificou-se
intenção comunicativa e função informativa, interrogativa, negativa, de protesto e de solicitação;
inicio de turnos; turnos coerentes e expansivos; resposta e manutenção de atividade dialógica;
narrativa espontânea e dirigida (seqüência lógico-temporal). No Peabody, obteve classificação
média para faixa etária. Nas provas de escrita, leitura e aritmética do Teste de Desempenho
Escolar, obteve classificação média inferior para a primeira série do ensino fundamental. Na prova
de fonologia e na prova de repetição de pseudopalavras sua pontuação correspondeu à idade de 6
e 4 anos, respectivamente. No Teste Illinóis de Habilidades Psicolingüísticas obteve desempenho
heterogêneo nos 12 subtestes aplicados, com maior defasagem nas habilidades verbais (combinação
de sons, closura auditiva e expressão verbal). Não foram verificadas alterações auditivas. Na
avaliação do sistema estomatognático, observou-se úvula sulcada, alteração de
mobilidade/motricidade orofacial, respiratória, da função velofaríngea e da inteligibilidade de fala
(projeção de língua e ceceio anterior). Na avaliação psicológica, observou-se QI Verbal e de
Execução médio inferior, alteração na memória imediata para modalidade visual-verbal e dificuldade
na elaboração de estratégias cognitivas. As dificuldades encontradas nas habilidades
psicolingüísticas, cognitivas e comportamentais justificam as dificuldades escolares, uma vez que os
processos perceptivos que favorecem a realização da correlação entre fonemas-grafemas estão
comprometidos trazendo reflexos importantes para o processo de alfabetização e aprendizagem
geral. Diante o exposto, conclui-se que as alterações nas habilidades psicolingüísticas e cognitivas
têm influenciado nas habilidades comunicativas, verbais e de leitura e escrita. As alterações de fala
relacionadas à nasalidade e conteúdo verbal influenciaram nas relações sociais, ocasionando baixa
estima e dificuldade nas relações com amigos. As características faciais, as dificuldades na linguagem
oral e escrita, os problemas comportamentais e a manifestação da nasalidade colaboram com o
estigma de deficiência e interferem nas relações interpessoais da criança, principalmente no ambiente
escolar.
Introdução
A Síndrome Velocardiofacial (SVCF) é caracterizada por anomalias estruturais ou funcionais do
palato, defeitos cardíacos e fácies típica característica (retrognatia, nariz proeminente com uma
ponte nasal larga, região malar plana, fissuras palpebrais estreitas, mordida profunda com má-oclusão classe II e retração mandibular, abundância de cabelo). Também é previsto ocorrência de
hipotonia, hipernasalidade, retardo no desenvolvimento global, déficits cognitivos e dificuldades na
aprendizagem, envolvendo a capacidade de abstração, raciocínio matemático e habilidade viso-motora (SHPRINTZEN et al.,1978; MEINECK et al., 1986; GOLDBERG et al.,1993;
CAPELLINI et al, 2000; ARDINGER; ARDINGER, 2003; ROBIN; SHPRINTZEN, 2005). É
causada por microdeleções do cromossomo 22q11.2 (SIEREBER et al., 2006). A confirmação
diagnóstica é dificultada pela complexidade dos sinais e sintomas correspondente a mais de 180
diferentes anomalias, não sendo obrigatória a ocorrência de todos os sinais clínicos
(SHPRINTZEN, 2001; MIYAGAWA; OLIVEIRA, 2003).
Segundo Brandão (2002) na SVCF o perfil audiológico de perda auditiva é do tipo condutiva de
grau leve unilateral. Entre as manifestações clínicas mais comuns, estão alterações da fala e
linguagem receptiva e expressiva (SCHERER; DÁNTONIO; KALBFLEISCH, 1999;
SHPRINTZEN, 2005), entretanto, o desempenho nas habilidades de recepção pode estar pior em
relação à expressão (GLASER et al., 2002). Tais alterações podem ser atribuídas a programação
verbal e fonológica deficitária (GOORHUIS-BROUWER et al. 2003; LINASSI; KESKE-SOARES; MOTA, 2005). Estudos neuropsicolingüísticos com crianças com Síndrome da deleção
22q11 têm demonstrado prejuízos específicos na memória de trabalho, atenção seletiva e atenção
executiva visual, e no funcionamento sensório motor (SCHEUER, 2004; SOBIN; KILEY-BRABECK; KARAYIORGOU, 2005; MAJERUS et al., 2006). As precárias habilidades para a
lógica abstrata com redução no nível de vocabulário bem como a persistência da dificuldade de
coordenação motora fina, refletem no desempenho cognitivo de linguagem e desempenho escolar
(GOLDING-KUSHNER et al.,1985).
Alterações no comportamento como desenvolvimento de Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade, ansiedade e distúrbios psiquiátricos também podem estar presentes (PAYLOR et al,
2001; MURPHY, 2005; CAMPBELL et al., 2006; SIEREBER, et al., 2006).
Assim, o objetivo deste estudo foi descrever as características psicolingüísticas, comunicativas,
orofaciais e auditivas e correlações destas com habilidades escolares em indivíduo diagnosticado
clinicamente com a Síndrome Velocardiofacial.
Método
Cumpriram-se todos os princípios éticos da Resolução 196/96. O estudo foi aprovado por Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.
Este estudo foi desenvolvido com um menino de 11 anos, com diagnóstico genético clínico de
SVCF. Durante gestação, parto e primeira infância não ocorreram intercorrências. Aos 5 anos os
pais procuraram médico neurologista devido à agitação, “hiperatividade” dificuldade para aprender
e realização de movimentos repetitivos com as mãos. Realizou eletroencefalogramas periódicos,
entretanto, não foram observadas alterações significativas. A agitação e movimentos repetitivos
diminuíram após os 7 anos.
Quanto à vida escolar foi relatado que sempre apresentou dificuldade para acompanhar a turma e
atualmente, apesar de estar na 4ª série, em escola regular particular, realiza atividades acadêmicas
referentes à 1ª série. A escola organizou uma classe com crianças com necessidades especiais para,
segundo informações, reforçar as atividades de aprendizagem. A família relata que nunca receberam
diagnóstico sobre o problema do filho, entretanto houve suspeita de TDAH, dislexia e retardo
mental.
A avaliação realizada foi composta de: Observação das características físicas e fenotípicas;
Observação do Comportamento Comunicativo: funções comunicativas, habilidades pragmáticas,
morfossintáticas e semânticas; Teste de Vocabulário por Imagem Peabody (TVIP) - (DUNN;
DUNN, 1986): vocabulário receptivo; Teste de Desempenho Escolar (TDE) - (STEIN, 1994):
nível de escolaridade para leitura, escrita e aritmética; Perfil de Habilidades Fonológicas (PHF) -
(ALVAREZ, 2004): consciência fonológica (análise, adição, segmentação, subtração e substituição
silábica e fonêmica, recepção de rimas, rima seqüencial, reversão silábica e imagem articulatória);
Teste de Repetição de Pseudopalavras para Crianças Brasileiras (BCPR) - (SANTOS; BUENO,
2003): repetição de pseudopalavras; Teste Illinóis de Habilidades Psicolingüísticas (ITPA) -
(BOGGOSIAN; SANTOS, 1997): habilidades psicolingüísticas visuais e auditivas; Avaliação
Audiológica Convencional - audiometria e imitanciometria; Protocolo de Avaliação do Sistema
Estomatognático; Avaliação psicológica - hora de jogo, escala de inteligência (WISC-III)
(WECHSLER, 1991), Teste Span de cores (RICHMAN; LINDGREN, 2006) e Wisconsin
(CUNHA et al., 2005) -flexibilidade cognitiva.
Resultados
Os sinais clínicos verificados na observação das características físicas e fenotípicas foram: face
longa, nariz proeminente com base quadrada e base da asa do nariz estreita, cabelos abundantes,
pavilhão auricular pequeno, orelhas de abano, achatamento da base craniana, dentes pequenos, face
hipotônica com movimentos periorais alterados, olhos intumescidos, alteração da idade óssea. Não
há alterações cardíacas e velares estruturais evidentes.
A Tabela 1 apresenta os resultados da Observação do Comportamento Comunicativo, do TVIP,
do TDE, do PHF e do BCPR. A idade psicolingüística obtida em cada subteste do ITPA encontra-se na Tabela 2 e os resultados da Avaliação Audiológica e do Protocolo de Avaliação do Sistema
Estomatognático estão descritos na Tabela 3. Na Tabela 4 encontram-se os resultados obtidos na
Avaliação Psicológica.
Tabela 1. Resultados obtidos na Observação do Comportamento Comunicativo, do TVIP, do
TDE, do PHF, do BCPR
Avaliação
|
Resultados
|
Observação do
Comportamento
Comunicativo
|
Intenção comunicativa e função informativa, interrogativa, negativa, de
protesto e de solicitação; Turnos coerentes e expansivos; Resposta e
manutenção de atividade dialógica; Narrativa espontânea e dirigida
(seqüência lógico-temporal)
|
TVIP
|
Classificação média para sua idade cronológica
|
TDE
|
Escrita
|
Classificação média inferior para a 1ª série do ensino fundamental
|
Leitura
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Aritmética
|
PHF
|
Pontuação correspondente a idade cronológica de 6 anos (42 pontos)
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BCPR
|
Pontuação correspondente a 4 anos ou idade pré-escolar (28 das 40
pseudopalavras faladas)
|
Na aplicação do TDE, foi necessário apresentação dos estímulos do teste de leitura em letra de
forma maiúscula para que o menor conseguisse realizar a prova. Reconheceu apenas sílabas simples
(consoante-vogal), com maior dificuldade para o reconhecimento de sílabas com os grafemas “g”,
“c”, “ss”, “lh”, “r” e “nh”. Quanto à escrita, apresentou noção de sílaba, porém, na maioria das
palavras, escreveu apenas a consoante. Ex: “apnha” para “apenas”; “matlada” para “martelada”.
Tabela 2. Idade psicolingüística nos subtestes do ITPA
Subtestes do ITPA
|
Idade Psicolingüística
|
Recepção auditiva
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8 anos e 9 meses
|
Recepção visual
|
8 anos
|
Associação Auditiva
|
8 anos
|
Associação Visual
|
8 anos
|
Memória seqüencial auditiva
|
10 anos e 11 meses
|
Memória seqüencial visual
|
9 anos
|
Closura Gramatical
|
10 anos e 11 meses
|
Closura Auditiva
|
6 anos e 8 meses
|
Closura Visual
|
7 anos e 6 meses
|
Expressão Verbal
|
4 anos e 4 meses
|
Expressão Manual
|
4 anos
|
Combinação de Sons
|
2 anos e 5 meses
|
Tabela 3. Resultados da Avaliação Audiológica e da Avaliação do Sistema Estomatognático
Avaliação
|
Resultados
|
Avaliação
Audiológica
|
Audiometria
|
Resultados referentes à normalidade
|
Imitanciometria
|
Protocolo de
Avaliação do
Sistema
Estomatognático
|
Morfologia
|
Língua, lábios e mandíbula normais; Úvula sulcada;
Ausência de chanfradura óssea e diástase muscular
|
Tônus
|
Língua: normal; Bochechas e lábios: diminuídos
|
Mobilidade/
Motricidade
|
Paredes laterais da faringe: não visualizadas (exame
oral); Lábios, língua e véu palatino: alterados
|
Respiração
|
Incoordenação pneumofonoarticulatória; Uso de ar de
reserva; Inspiração ruidosa
|
Função
velofaríngea
|
Refluxo nasal esporádico para líquidos; Ressonância
hipernasal moderada; Incompetência velofaríngea
|
Inteligibilidade
|
Alterada em grau leve a moderado
|
Fonoarticulação
|
Projeção de língua para /t/, /d/, /n/ e /r/; Ceceio anterior
para /s/ e /z/
|
Teste do Espelho
|
Resultado positivo moderado para /i/, /u/, /∫/ e /z/;
Resultado negativo para sopro, /f/ e /s/; Turbulência
nasal para plosivos
|
Tabela 4. Resultados da Avaliação Psicológica
Avaliação Psicológica
|
Resultados
|
WISC III
|
QI Verbal médio inferior com maior dificuldade em memória
semântica; QI Execução médio inferior com maior dificuldade na
velocidade de aprendizagem de símbolos gráficos e seqüência lógico-temporal não verbal;
|
Teste Span de Cores
|
Memória imediata normal nas modalidades visual-visual, verbal-visual
e verbal-verbal e rebaixamento do escore da modalidade visual-verbal
|
Wisconsin
|
Dificuldade na elaboração de estratégias cognitivas
|
Discussão:
Recebendo este caso, foram observadas características físicas ligadas à condição genética
compatível com a SVCF. Esta Síndrome é complexa e possui mais de 180 diferentes anomalias,
não sendo obrigatória a ocorrência de todos os sinais clínicos descritos (SHPRINTZEN, 2001).
Quando se avalia crianças com queixa de alterações de aprendizagem, é necessário verificar quais
os fatores envolvidos no processo de desenvolvimento de habilidades que estão interferindo no
desempenho da criança.
Analisando a Tabela 1, referente à observação do comportamento comunicativo, verificou-se que as
habilidades verbais quanto às atividades dialógicas em contextos imediatos e concretos foram
realizadas. Cabe ressaltar que habilidades para relatar um fato vivenciado, responder a
questionamentos de vida diária e nomear e descrever objetos e situações concretas são exigências
correspondentes a habilidades pré-escolares. Golding-Kushner et al. (1985), observaram que
indivíduos com SVCF de 11 anos ou mais apresentaram comunicação funcional, porém com
prejuízo na sintaxe e na gramática. Desta forma, apesar da habilidade comunicativa estar ocorrendo
de maneira satisfatória para a realização de diálogo, o conteúdo dos enunciados demonstra
imaturidade, mesmo com o vocabulário receptivo em nível médio, como bem aponta a literatura
(GOLDING-KUSHNER et al.,1985; SCHERER; DÁNTONIO; KALBFLEISCH, 1999;
SHPRINTZEN, 2005).
Nas provas do TDE envolvendo leitura, escrita e aritmética, o menor demonstrou habilidades aquém
do esperado quando comparado ao seu nível de escolaridade, pois apresentou dificuldade na
decodificação de sinais gráficos, na leitura fonêmica, na compreensão do conteúdo e na escrita
espontânea e dirigida. Na prova de aritmética não conseguiu desenvolver o raciocínio matemático
para as operações de soma e subtração, mesmo somas simplificadas envolvendo unidades. Capellini
et al (2000) descreveram dificuldades na habilidade fonêmica e silábica, erros na leitura oral e na
escrita, sob ditado de palavras regulares, irregulares e inventadas em indivíduos com SVCF. Em
situação de escrita espontânea, os autores observaram falta de coerência sintática em produção
textual.
Nas provas de fonologia e repetição de pseudopalavras os escores obtidos foram correspondentes
a 6 e 4 anos, respectivamente. A fonologia subsidia os processos de aprendizagem da leitura e
escrita, uma vez que favorecem a correlação fonema-grafema e outras habilidades psicolingüísticas
como discriminação e análise-síntese (GOORHUIS-BROUWER et al. 2003; LINASSI; KESKE-SOARES; MOTA, 2005). As habilidades relacionadas aos processos de aprendizagem da leitura e
escrita encontraram-se defasadas.
Para o desenvolvimento da leitura e escrita, habilidades psicolingüísticas são fundamentais,
principalmente as relacionadas à recepção, atenção, associação, discriminação, memória e closura
auditiva e visual. Conforme observado nos subtestes do ITPA na Tabela 2, o menor apresentou
apenas as habilidades de memória seqüencial auditiva e closura gramatical compatível com sua idade
cronológica. As demais habilidades psicolingüísticas avaliadas neste teste apresentaram-se aquém
do esperado para sua idade, observando-se maior defasagem nas habilidades verbais (combinação
de sons, closura auditiva e expressão verbal).
A linguagem pode ser acometida por falhas da atenção e memória envolvendo desde problemas
fonológicos até dificuldades para perceber e compreender o discurso do outro e demais dificuldades
de aprendizagem (MIYAGAWA; OLIVEIRA, 2003; SCHEUER, 2004; SOBIN; KILEY-BRABECK; KARAYIORGOU, 2005). Comportamentos como ansiedade, desatenção e
hiperatividade colaboram com a presença de dificuldades nos processos de aprendizagem
(MURPHY, 2005; CAMPBELL et al., 2006; SIEREBER, et al., 2006).
Os resultados da avaliação audiológica mostraram normalidade para a audição periférica. A
literatura apresenta que são freqüentes alterações audiológicas em indivíduos com SVCF e que a
perda auditiva prevista é do tipo condutiva unilateral. Quando há alteração no músculo tensor do
véu palatino, há possibilidade de funcionamento inadequado da tuba auditiva, ocasionando perda
auditiva do tipo condutiva (BRANDÃO, 2002). No caso em questão, não foi observado perda
auditiva nem fissura lábiopalatina.
Apesar da ausência de alterações estruturais relacionadas ao mecanismo velofaríngeo, o menor
apresenta incompetência velofaríngea manifestada pela voz anasalada, trazendo impactos negativos
na decodificação da mensagem e relações interpessoais com os colegas da escola. Outras
alterações funcionais do sistema estomatognático também foram observadas, como incoordenação
pneumofonoarticulatória e alteração na inteligibilidade de fala. (SHPRINTZEN et al.,1978;
MEINECK et al., 1986; GOLDBERG et al.,1993; ARDINGER; ARDINGER, 2003; ROBIN;
SHPRINTZEN, 2005).
A tabela 4 apresenta os resultados da avaliação psicológica, demonstrando dificuldades na
elaboração de estratégias cognitivas e comprometimento de aprendizagem corroborando com a
literatura (PAYLOR et al, 2001; MAJERUS et al., 2006).
Diante o exposto, conclui-se que os sinais clínicos da SVCF são relevantes pela interferência no
desenvolvimento da comunicação e da aprendizagem. As alterações previstas refletem no
desempenho da linguagem, da cognição e do comportamento. O desempenho escolar prejudicado é
evidenciado pela dificuldade da criança para enfrentar demandas cognitivas e lingüísticas no
ambiente social e acadêmico. Além disto, as manifestações faciais e o traço de nasalidade interferem
nas relações interpessoais ocasionando baixa estima e dificuldade nas relações com amigos. Desta
forma, deve-se refletir sobre o impacto do estigma de deficiência provocado por estas condições e
encontrar estratégias para minimizá-lo, no sentido de maximizar o potencial de indivíduos com a
SVCF e proporcionar inclusão nos diferentes ambientes que freqüentam.
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