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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
O PROBLEMA DA OBSTRUÇÃO NASAL NA INFÂNCIA
Profa Dra Olinda Teruko Kajihara (DTP- UEM)
Juliana Godoi Kazakevich (PIC- UEM)
Juliana Amazilia Neves (PIC-UEM)
RESUMO
Doenças que ocorrem na infância, como, por exemplo, a rinite alérgica e a hipertrofia das
tonsilas faríngeas (adenóides), provocam obstrução nasal e obrigam a criança a respirar pela
boca. Com o decorrer do tempo, a respiração oral acarreta alterações da tonicidade dos
músculos da face, do posicionamento da língua e dos dentes, da postura corporal, assim
como problemas de mastigação e de deglutição. A má qualidade do sono do respirador oral
compromete o seu comportamento diurno, provocando fadiga diurna, sonolência e
desatenção que interferem na aprendizagem escolar. O fato de a mudança do padrão
respiratório, de nasal para oral, influenciar o desempenho escolar torna imprescindível a
identificação precoce do aluno respirador oral. Este estudo teve como objetivo realizar um
levantamento de crianças com características de respiração oral na Educação Infantil.
Participaram do estudo 55 crianças com idade média de 5 anos que freqüentam dois Centro
de Educação Infantil de uma pequena cidade do Paraná. Uma ficha de observação foi
elaborada para o registro da presença ou ausência de sinais clínicos de obstrução nasal,
como, por exemplo, respiração oral, face alongada, má oclusão dentária, boca entreaberta,
lábios ressecados, lábios superior fino e inferior evertido etc. A maioria das crianças
apresentou características de obstrução respiração oral, e por isso, na próxima etapa do
estudo, os familiares serão entrevistados para coleta de informações sobre o histórico de
saúde de cada aluno, assim como será realizada a avaliação do padrão respiratório com o
auxílio do espelho de Glatzel.
Palavras-chave: Respiração oral. Problemas de Aprendizagem. Educação.
Introdução
As integridades anatômica e funcional das vias aéreas superiores são condição indispensável
para uma boa qualidade de vida. A respiração nasal influencia a qualidade de vida do homem,
pois fornece a energia necessária para a manutenção do metabolismo do organismo. Uma
pessoa consegue sobreviver por algum tempo sem se alimentar ou sem ingerir água, mas não
consegue ficar sem ar (ALBERNAZ et al., 1997).
O aparelho respiratório é formado pelas vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe e
porção superior da traquéia) e inferiores (porção inferior da traquéia, brônquios e pulmões).
As vias aéreas superiores são responsáveis: a) pela condução dos gases para o interior e para
o exterior do corpo; b) pela umidificação, pela filtração e pelo aquecimento do ar inspirado;
c) e pela proteção do organismo contra as infecções. Nas vias aéreas inferiores ocorrem as
trocas gasosas, ou seja, a absorção do oxigênio e a eliminação do gás carbônico (SILVEIRA,
1984).
O ser humano é o único animal capaz de substituir a respiração nasal por outra de suplência,
ou seja, pela respiração oral. A modificação do modo respiratório decorre de doenças que
impedem a passagem do ar pelas vias aéreas superiores. As causas mais comuns de
obstrução nasal na infância são a rinite e a hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides). A
rinite é considerada, atualmente, a principal causa de obstrução nasal na população urbana
(GANANÇA et al., 2000). Ela é uma inflamação da mucosa nasal provocada pela ação de
vírus e bactérias, pelo uso de medicamentos, pela exposição aos agentes alergênicos e pela
mudança de temperatura. Os sintomas gerais da rinite são: rinorréia, espirros repetitivos,
cefaléia, irritação e coceira no nariz, nos olhos e no céu da boca (LUCENTE, 1989).
As tonsilas faríngeas sofrem hipertrofia em decorrência de processos infecciosos (crônicos),
alérgicos ou virais que ocorrem na infância (2 a 6 anos). A hipertrofia do tecido adenoideano
impossibilita a passagem do ar oriundo da cavidade nasal e provoca respiração ruidosa, voz
hiponasal, inapetência, ronco, agitação, catarro purulento na cavidade nasal e otite média
(ALBERNAZ et al., 1997; SÁ FILHO, 1994).
A rinite alérgica e a hipertrofia do tecido adenoideano, por provocarem obstrução nasal,
obrigam a criança a alterar o seu modo respiratório. A respiração oral compromete o
desenvolvimento harmonioso da face. O fato de a criança ficar constantemente de boca
aberta provoca alterações nos maxilares e impede a língua de pressionar o palato. Com o
decorrer do tempo, o palato torna-se ogival e as arcadas dentárias superior e inferior sofrem,
respectivamente, projeção e retrusão (MOCELLIN, 1997).
As características faciais típicas do respirador oral são: face alongada e estreita, bochechas
salientes e flácidas, a língua hipotônica e volumosa, narinas estreitas, olheiras, fisionomia
cansada e olhar vazio (ARAGÃO, 1988; RODRIGUES, 1996; SÁ FILHO, 1994).
A criança que respira pela boca é mais propensa a apresentar infecções repetitivas, pois o ar
que entra pela boca não é condicionado adequadamente, e por isso chega aos pulmões na
temperatura e no estado em que se encontra no ambiente, ou seja, seco, frio e com
impurezas, o que deixa o organismo mais susceptível às doenças infecciosas como, por
exemplo, às otites, as quais podem prejudicar a audição. Para facilitar a respiração, a criança
flete o pescoço para frente, o que compromete a musculatura dessa região e das escápulas e,
ainda, inclina o corpo para frente e para baixo, para manter-se em equilíbrio (ARAGÃO,
1991, 1998; RIBEIRO, 1998; SÁ FILHO, 1994). As alterações musculares levam à criança
a respirar de forma mais rápida, o que gera uma oxigenação deficiente. Com o passar do
tempo, a modificação da postura promove a deformação do tórax e, em casos mais graves, o
aumento da área cardíaca (MOCELLIN; FARIA, 1998).
A modificação em tamanho e em profundidade do osso da mandíbula leva a ponta da língua a
ficar posicionada no assoalho ou nas regiões laterais da boca; em conseqüência, a arcada
dentária sofre protusão e retrusão (MARCHESAN, 1994; 1997). A permanência da boca
em aberto expõe os dentes e as gengivas à ação das bactérias, razão pela qual a criança
respiradora oral apresenta cáries, gengivite e halitose (ARAGÃO, 1988).
As dificuldades da criança respiradora bucal em manter a boca fechada, em movimentar a
língua lateralmente e para trás comprometem a mastigação de folhas e de alimentos fibrosos, e
por isso ela prefere alimentos pastosos, e costuma utilizar líquidos para auxiliar na deglutição
(ARAGÃO, 1988; CARVALHO, 2000; MARCHESAN; KRAKAUER, 1995).
A respiração oral pode comprometer o sentido do olfato, que contribui para tornar a
alimentação um ato não prazeroso. A ingestão de uma dieta não balanceada compromete a
saída do material fecal e torna o respirador bucal propenso a apresentar hipovitaminose
(ARAGÃO, 1998; CARVALHO, 2000).
A fonação da criança com respiração oral pode ser comprometida: a dificuldade em fechar a
boca ou a inadequada força dos músculos labiais tornam difícil a articulação dos fonemas /p/,
/b/, /m/, /s/, /d/, /z/, /t/, /n/, /l/, /k/ e /g/ (CARVALHO, 2000; TOMÉ; MARCHIORI;
PIMENTEL, 2000). Além disso, o condicionamento inadequado do ar causa problemas nas
cordas vocais e torna a voz do respirador bucal rouca e anasalada (FERREIRA, 1999;
MONTOVANI, 1995; RIBEIRO, FIORAVANTI; MARTINS, 1996).
Para dormir, a criança respiradora oral precisa encontrar uma postura que não a sufoque, pois
quando fica em decúbito dorsal, a sua língua passa a tomar todo o espaço da cavidade bucal,
por estar hipotônica. Ela se mexe muito na cama durante o sono, ronca e apresenta sialorréia.
Com o decorrer do tempo, as sucessivas noites mal dormidas fazem com que o respirador
oral passe a apresentar, durante o dia, sonolência, irritação e dificuldade de concentração, as
quais acabam por prejudicar a aprendizagem (DI FRANCESCO, 2003). Entre as tarefas
escolares, a cópia de texto e a resolução de operações e de problemas de matemática são as
mais comprometidas, em decorrência das dificuldades de atenção seletiva e de atenção
sustentada (GODOY, 2003; LEAL, 2004; GOMES, 2007).
A identificação precoce do aluno respirador oral é fundamental, pois a remoção precoce da
causa mecânica (hipertrofia das adenóides) ou funcional (rinite alérgica) da obstrução nasal
impedirá que a respiração oral se torne crônica e que a criança desenvolva as alterações
orgânicas descritas acima. Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento da
freqüência de crianças com características de respiração oral na Educação Infantil.
Método
O estudo foi realizado com 55 crianças, com idade média de 5 anos, que freqüentam um
Centro de Educação Infantil de cidade do noroeste do Paraná. Os educandos foram
observados em sala de aula por, aproximadamente, dois meses.
Para o registro da presença ou ausência dos sinais clínicos da respiração oral de cada
educando, foi elaborada uma ficha contendo os itens que deveriam ser examinados
visualmente pelo pesquisador, como, por exemplo, boca entreaberta, obstrução nasal, face
alongada, má oclusão dentária, boca entreaberta, lábios ressecados, lábios superior fino e
inferior evertido, abdome proeminente, voz anasalada, olheiras, palato ogival e olhar triste.
Resultados e discussão
No grupo de 55 crianças que participaram deste estudo (GA = grupo A), as características
de respiração oral mais observadas foram: obstrução nasal (47,3%), face alongada (29,1%),
má oclusão dentária (49,2%), boca entreaberta (21,2%), lábios ressecados (34,5%), lábio
superior fino e inferior evertido (34,5%) e olheiras (54,5%).
A escassez de estudos sobre a prevalência de respiração oral na população escolar torna
difícil a discussão dos resultados desta pesquisa. Um dos poucos estudos realizados sobre o
assunto foi realizado por Menezes et al. (2006) em uma amostra de 150 crianças de 8 a 10
anos de Recife (GB = grupo B).
Alguns resultados deste estudo foram comparados, por meio do Teste de Comparação de
Duas Proporções (STATISTICA, 2006), com os registrados por Menezes et al. (2006): face
alongada (GA = 29,1%, GB = 10,7%, p = 0,001), má oclusão dentária (GA = 45,5%) e
mordida aberta anterior (GB = 46%, p = 0,500), boca entreaberta (GA = 32,7%) e
selamento labial inadequado (GB = 34%, p = 0,447), lábios ressecados (GA = 41,8%; GB =
3,3%, p = 0,000), lábio superior fino e inferior evertido (GA = 34,5%) e lábio superior fino
(GB = 8%, p = 0,000) e olheiras (GA =54,5%, GB = 88%, p = 0,000).
Portanto, as características face alongada, lábios ressecados e lábio superior fino foram mais
freqüentes no grupo de crianças com 5 anos. É importante observar que entre os 5 e 10 anos
de idade, as crianças sofrem o primeiro surto de crescimento facial (KOZAK, 1998).
Portanto, o grupo A está iniciando esse processo, enquanto o grupo B já está vivendo esse
período de grande crescimento físico, o que requer cautela na comparação da característica
“face alongada” dos dois grupos.
As olheiras foram mais freqüentes entre as crianças mais velhas, o que pode sugerir que a
respiração oral tenha se tornado crônica nesse grupo. As olheiras foram, também, uma das
características mais freqüentes no grupo de 115 crianças de 7 a 14 anos com rinite alérgica
avaliado por Cintra (2003).
Não houve diferença intergrupos em relação às características má oclusão dentária e boca
entreaberta. Esse resultado não é inesperado, pois o impacto da respiração oral sobre o
desenvolvimento da face é tão grande que entre os 3-4 anos já pode estar instalado um
problema de oclusão dentária na criança (BREUER, 1989).
Conclusão
As conseqüências da respiração oral sobre o desenvolvimento da criança têm preocupado os
especialistas da área da saúde: otorrinolaringologistas, odontólogos, fonoaudiólogos e
fisioterapeutas. Esses profissionais têm salientado a importância do diagnóstico precoce da
respiração oral.
Considerando que respiração oral prejudica, também, a aprendizagem escolar, esse problema
deve ser divulgado junto aos profissionais da área educacional. Os professores podem auxiliar
na identificação precoce do respirador oral na sala de aula. Isso é fundamental, pois a demora
no atendimento médico da obstrução nasal e da respiração oral provocará problemas no
desenvolvimento infantil.
A discussão das conseqüências da obstrução nasal e da respiração oral precisa sair dos
consultórios médicos e chegar ao ambiente escolar. Os educadores precisam estar atentos a
uma possível associação entre dificuldades de aprendizagem e respiração oral.
Este estudo demonstrou que é significativo o número de educandos com idade média com
características físicas de respirador oral. Na próxima etapa do estudo, será estabelecido o
modo respiratório (nasal ou oral) de cada criança utilizando o espelho de Glatzel. Além disso,
os pais das crianças serão entrevistados para verificar se elas apresentam histórico de
doenças obstrutivas das vias aéreas superiores e problemas de deglutição, mastigação,
fonação e de sono decorrentes de respiração oral.
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