http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/106.htm | 
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
O USO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS EVIDENCIADAS A PARTIR DE UM 
INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA
Mariângela de Castro Meneghin 
Universidade Estadual Paulista:
 “Júlio de Mesquita Filho”
Regina Helena V. Torkomian Joaquim
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
 
O estudo foi realizado por uma aluna e uma docente de graduação em Terapia 
Ocupacional, na clínica da UFSCar, objetivando relatar a intervenção com uma criança 
com atraso no desenvolvimento global e necessidades educativas especiais. Foram 
utilizadas atividades psicomotoras indicadas no plano de intervenção, elaborado a 
partir de um instrumento de avaliação que abrangesse cinco áreas do desenvolvimento 
infantil. O processo terapêutico foi constituído por: avaliação usando um instrumento 
sistemático, elaboração do plano de intervenção, intervenção com atividades 
psicomotoras, visita domiciliar e visitas escolares, e reavaliação. Fundamentamos o 
plano de intervenção na abordagem psicomotora, pois os resultados da avaliação 
indicaram que - das áreas do desenvolvimento - os itens das categorias e classes de 
respostas prioritárias a serem trabalhadas são as que requerem: coordenação motora 
global, fina e visomotora, orientação temporo-espacial e esquema corporal. 
Comparando os dados obtidos pela avaliação com os da reavaliação, observamos 
evoluções em um item da área de desenvolvimento correspondente à socialização, 
dois itens do desenvolvimento cognitivo e em cinco itens referentes aos autocuidados. 
Não houve evolução quantitativa quanto às áreas de desenvolvimento motor e de 
linguagem. Concluímos que o uso do instrumento de avaliação sistemática possibilitou 
a elaboração do plano de intervenção individualizado. Além disto, o processo 
terapêutico ocupacional estabelecido possibilitou: o contato com familiares e demais 
profissionais que intervêem com a criança; entrega de impressos informativos com 
sugestões de como proceder na sala de aula e em casa com esta criança, a fim de 
favorecer seu desenvolvimento global e atender suas necessidades educacionais 
específicas. 
 
INTRODUÇÃO:
Segundo Santos e Nogueira (2004, p.259), o Terapeuta Ocupacional (T.O.) utiliza-se 
da avaliação para conhecer as potencialidades, dificuldades, rotina diária e interesses 
da criança e a habilita para papéis e tarefas importantes para o dia-a-dia em todos os 
contextos: familiar, comunitário e o escolar. Pelosi (2005, p.42) afirma que no contexto 
escolar, o trabalho do T.O. em parceria com os professores e outros serviços de apoio 
aos alunos com necessidades educacionais especiais tornou-se primordial no sistema 
educacional, e que o ponto de partida na intervenção é avaliar o potencial da criança. 
Para Santos e Nogueira (2004, p.259) é fundamental a utilização de instrumentos 
padronizados de avaliação, pois estes direcionam o plano de intervenção e 
evidenciam as conseqüências do tratamento, promovendo a sistematização da prática 
clínica. 
O Inventário Portage Operacionalizado: Intervenção com famílias foi o instrumento de 
avaliação utilizado neste estudo e é definido como instrumento de avaliação 
sistemática para colher informações sobre o desenvolvimento da criança na faixa 
etária de zero a seis anos, sendo um roteiro de observação que auxilia no 
estabelecimento de prioridades de treino em crianças com atrasos de 
desenvolvimento, possibilitando avaliar, treinar e educar crianças em áreas diversas 
como: habilidades motoras, cognitivas, de comunicação, sociais e de vida diária. 
(Willians & Aiello, 2001, p.13).  As autoras Willians e Aiello (2001, p.22) também 
destacam a relevância do envolvimento da família nos programas de intervenção, 
devendo ser considerados como parceiros nos programas de reabilitação e de 
educação especial.
A avaliação (direcionada por instrumentos específicos ou não) é a primeira etapa de 
um processo de intervenção que tem como objetivo coletar e analisar os dados, 
permitindo a seleção de objetivos e meios para elaborar o plano de intervenção, 
fundamentando a prática clínica; a próxima etapa é realizar a intervenção com base no 
programa de tratamento que foi elaborado e executar as reavaliações periodicamente, 
utilizando os mesmos procedimentos da avaliação para verificar as mudanças 
acontecidas no decorrer da terapia (FRANCISCO, 2001, p.56, 58,59).
Na intervenção terapêutica ocupacional infantil, nos deparamos com uma clientela que 
apresenta necessidades especiais físicas, sensoriais, mentais, e/ou educacionais que 
podem influenciar em seu desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), sendo inúmeros 
os fatores (nutricionais, traumáticos, patológicos, ambientais e/ou psicossociais) 
indicados por Costa Nova (1998, p.27) que podem interferir no DNPM da criança. O 
terapeuta ocupacional avalia e intervêm quando tais dificuldades influenciam 
negativamente o cotidiano da criança, prejudicando a participação dela no seu meio 
social (família, escola, comunidade, etc).
Uma das abordagens de intervenção (tanto no campo da reabilitação clínica quanto no 
educacional) que pode auxiliar crianças com comprometimento no DNPM é a 
psicomotricidade. Para Galvani (2002, p.21-22) a psicomotricidade é uma ciência 
ampla que engloba o homem nos aspectos: cognitivos (intelectual), afetivos 
(emocional) e orgânicos (motor); ciência que coloca a teoria em prática através da 
vivência e do sentir. A autora afirma que somente quando são trabalhados 
corporalmente os aspectos psicomotores (esquema corporal, equilíbrio, coordenação, 
lateralidade e tônus) os potenciais psíquicos da criança serão ativados na realização 
das atividades psicofuncionais (GALVANI, 2002, p.23), o que favorecerá seu 
desenvolvimento global e consequentemente auxiliará nas habilidades escolares. De 
acordo com Sánchez, Martinez e Peñalver (2003, p.14) a intervenção psicomotora não 
vai focar as dificuldades cognitivas e nem os transtornos de comportamento da 
criança, ao contrário, vai se importar por aquilo que a criança sabe fazer de acordo 
com sua fase maturativa e afetiva. Oliveira (1997, p.39) enfatiza a importância de 
trabalhar os aspectos psicomotores e afirma que existem “pré-requisitos” do ponto de 
vista psicomotor para que a criança tenha uma aprendizagem significativa das 
habilidades relacionadas à preparação para a escrita. Segundo Sánchez, Martinez e 
Peñalver (2003, p.75) a prática psicomotora pode ser utilizada tanto no contexto 
terapêutico (contemplando os impedimentos que não permitem o desenvolvimento 
harmônico da criança e intervindo de modo individualizado para compreender seus 
objetivos), quanto no contexto escolar (contemplando o aspecto preventivo e educativo, 
ajudando a prevenir dificuldades de comportamento e de aprendizagem).
Ao desejar estimular o desenvolvimento de crianças é necessário conhecer em que 
fase do desenvolvimento estas crianças se encontram, pois Oliveira (1997, p.21) 
destaca a necessidade de um mínimo de maturidade de onde possa partir qualquer 
que seja o comportamento considerado para que uma aprendizagem aconteça, caso 
contrário a estimulação será inútil.
É na literatura citada, que este estudo se alicerça, ao relatar um processo de 
intervenção que se utiliza de atividades psicomotoras selecionadas a partir do plano 
de intervenção elaborado especificamente para a participante do estudo, 
evidenciadas por um instrumento sistemático de avaliação que permitisse avaliar as 
cinco principais áreas do desenvolvimento infantil de uma criança com atraso no 
DNPM e necessidades educacionais especiais.
MÉTODO:
O estudo foi realizado a partir de intervenção clínica supervisionada, realizada por uma 
aluna de graduação em T.O., sob supervisão de uma docente da Universidade Federal 
de São Carlos (UFSCar). Os atendimentos aconteceram na clínica escola da 
universidade, com duração de 50 minutos cada um e totalizaram-se 40 sessões no ambulatório, destinadas à 
avaliação, intervenção e reavaliação, duas visitas nas escolas da criança contatando a 
professora, a fonoaudióloga, a psicopedagoga e a psicóloga que atendiam a criança 
na instituição e uma visita domiciliar. 
A intervenção foi realizada com Letícia1 - uma criança de 
dez anos de idade 
cronológica, que apresentava atraso significativo no DNPM global. Clinicamente, a 
criança apresentava comportamentos rotineiros como: atenção e concentração por 
curtos períodos de tempo em cada tarefa e troca freqüente de atividades sem terminar 
o que havia começado (tal dificuldade também acontecia em sala de aula); durante a 
sessão - ao ouvir barulho de carro - dirigia-se até a janela da sala, onde solicitava, 
batendo no vidro da janela e chamando verbalmente o cuidador ou olhava se o 
automóvel deste ainda encontrava-se estacionado em frente do setor; recusava descer 
do carro ao chegar ao setor e negava iniciar atividades que aparentemente teria 
dificuldade de realizar, (comportamento também relatado pela professora da classe 
especial que freqüentava). Quanto às atividades pedagógicas, suas habilidades 
correspondiam às habilidades pré-acadêmicas do ensino infantil: não identificava 
letras e números e não associava objetos à quantidade, com preensão adequada do 
lápis só realizava garatujas no papel, realizava traços curtos para diversas direções 
sem preencher o contorno de desenhos, não contornava, precisava sempre ser 
lembrada de olhar para o que suas mãos estavam fazendo, atividades estas que 
evidenciavam precária coordenação motora fina e visomotora. Em relação à 
linguagem, falava frases compostas por até seis palavras, ao invés de verbalizar ações 
em figuras ela nomeava cada figura com apenas uma palavra, que geralmente era o 
nome do personagem. A maioria dos animais nomeava verbalizando os sons 
onomatopéicos que estes produzem. No período inicial do processo de intervenção, a 
criança freqüentava a classe especial de escola de ensino regular de sua cidade, que 
continha 14 crianças com idades cronológicas anteriores à sua. Quanto ao ambiente 
familiar, o cuidador o descrevia como conflituoso devido às constantes discussões 
entre os pais, que já não moravam mais juntos. Todas essas características 
observadas de forma assistemática antes da realização da avaliação, sugeriram que o 
desenvolvimento global da criança correspondia à faixa etária anterior a esperada aos 
seis anos de idade. 
Como instrumento de avaliação e reavaliação utilizamos o Inventário Portage 
Operacionalizado (2001), e sua escolha justifica-se por este possibilitar que a 
avaliação contemple todas as classes de comportamentos listadas de acordo com o 
processo natural do desenvolvimento referentes às faixas etárias de zero a seis anos 
nas cinco áreas de desenvolvimento (motor, social, linguagem, autocuidados e 
cognitivo) o que permite traçar o desenvolvimento global da criança, e por este 
instrumento fornecer um roteiro com os itens agrupados em classes de respostas que 
ao serem preenchidos após a avaliação, evidenciam quais classes de respostas 
devem ser estimuladas de acordo com a seqüência do desenvolvimento infantil, dado 
este que norteia estabelecer os objetivos adequados de um processo de intervenção.
O Inventário Portage Operacionalizado (IPO), apresenta - dentro da faixa etária de zero 
a seis anos - 580 comportamentos descritos em forma de itens distribuídos nas cinco 
áreas de desenvolvimento e na área de Estimulação Infantil. A área de 
desenvolvimento motor é constituída de 140 itens ao total, a área da linguagem possui 
99 itens, socialização tem 83 itens, autocuidados tem 105 itens, cognição por 108 
itens e a área de estimulação infantil com 45 itens. Fornece protocolos com todos os 
itens de cada área de desenvolvimento numerados para que assinalemos com “V” os 
acertos, com “X” os erros e com “O” os itens anulados, e nos orienta que as reais 
habilidades da criança correspondem à faixa etária que ela apresentar 15 respostas 
certas consecutivas. Fornece ainda um agrupamento, com as categorias e classes de 
respostas contidas em cada área do desenvolvimento, e na frente de cada categoria e 
classe de resposta os itens pertencentes a elas dispostos de acordo com a seqüência 
natural de maturação do desenvolvimento infantil normalmente esperado. O 
preenchimento desse agrupamento dos 580 itens do inventário nas respectivas 
classes de respostas possibilita visualizar até que comportamento a criança realiza e 
qual o próximo a ser estimulado dentro de uma categoria ou classe de resposta. (por 
exemplo: “Comer com colher de modo independente” é um dos itens da classe de 
resposta “comer” e da categoria “alimentação” da área de autocuidados).
1 Letícia, nome fictício para resguardar a identidade da paciente.
RESULTADOS: 
Quando concluímos a avaliação, que nos indicou em cada classe de resposta quais 
comportamentos a criança apresentava e quais os próximos a serem contemplados, 
listamos estes como sendo os prioritários a serem estimulados durante a intervenção. 
Com base nesses dados elaboramos o plano de intervenção contendo como objetivos 
gerais: favorecer o desenvolvimento global da criança, porém tendo como prioridade 
os aspectos relacionados aos autocuidados e às habilidades motoras e cognitivas, e 
assim propiciar a autonomia e independência da criança em aspectos da vida diária, 
pois esta é a área de desenvolvimento diretamente relacionada às atividades 
essenciais para a autonomia e independência da criança em atividades que ela 
realiza no dia-a-dia, sendo assim, essencialmente funcionais para sua vida, sendo 
considerada como área de desenvolvimento a ser explorada em atendimentos de 
Terapia Ocupacional e objetivos relacionados ao desenvolvimento motor e cognitivo, 
pois ao analisar as atividades de autocuidados verificamos que estas exigem 
habilidades motoras e cognitivas para serem executadas. Dessas três áreas do 
desenvolvimento, destacamos os itens que os resultados da avaliação indicaram como 
prioritários a serem estimulados, e ao analisarmos esses itens verificamos que para 
serem executados eles requerem aspectos psicomotores tais como: equilíbrio, noção 
de esquema corporal, coordenação visomotora, coordenação motora global e fina, 
lateralidade, estruturação espaço-temporal, dessa forma pareceu adequado 
fundamentar o processo de intervenção na psicomotricidade. 
Das habilidades relacionadas aos autocuidados, cognição e desenvolvimento motor 
destacadas pelos resultados da avaliação como prioritárias a serem trabalhadas, as 
que requerem coordenação motora global foram: colocar e tirar camiseta, malha e 
casaco, ensaboar, correr, jogar bola, rebater a bola, ficar na ponta dos pés, 
permanecer em um só pé, pular para frente e para trás e executar gestos 
coordenados; as habilidades que requerem coordenação visomotora e motora fina 
foram: recortar, empilhar, seqüenciar, encaixar, contornar figura, fazer traços no papel 
circulares e diagonais, identificar tamanhos e comprimentos e montar quebra-cabeça 
de até seis peças. Em relação ao uso da tesoura, foi observado que a criança cortou 
pedaços de papel e utilizou a tesoura em posição inadequada para o recorte. 
Habilidades que requerem equilíbrio: colocar e tirar: casaco, malha ou camiseta; 
correr, pular, manter-se em um só pé, manter-se na ponta dos pés. Cabe destacar, que 
a habilidade de vestir/desvestir, ensaboar, requer também outros aspectos 
psicomotores, no caso esquema corporal e lateralidade, como ocorre nas outras 
atividades, sejam gráficas ou corporais. A habilidade de contornar, realizar traços 
diagonais e circulares requer além de coordenação visomotora e motora fina, pois a 
criança precisa manter o olhar no local onde está passando “o lápis”, também exige 
lateralidade, pois é necessário que a criança use preferencialmente a mão esquerda 
ou a direita, noção de espaço, pois a escrita é realizada nos sentidos: “de cima para 
baixo” e da esquerda para a direita; ou seja, os aspectos psicomotores apresentam-se 
como necessários para as habilidades escolares. Dessa forma, para estimular os 
aspectos psicomotores descritos, realizamos atividades psicomotoras: jogos com 
bolas, jogos de encaixes, jogos de tabuleiro, atividades com músicas envolvendo 
movimentos corporais coordenados, brincadeiras envolvendo movimentos corporais e 
atividades pedagógicas (atividades gráficas, atividades com números, letras, formas 
geométricas, cores, recorte e colagem), e orientamos os familiares principalmente 
quanto ao treino das tarefas relacionadas à higiene, vestuário e alimentação. A 
intervenção foi desenvolvida em dezenove sessões programadas devido a alguns 
fatores como: suspensão dos atendimentos no período de férias acadêmicas; 
cancelamento de seis sessões pela mãe da criança e a reserva do último semestre 
letivo de graduação da aluna para o desenvolvimento da reavaliação na criança. 
Então, após as sessões de intervenção, iniciamos a reavaliação usando o mesmo 
protocolo para verificar se e quais mudanças poderiam ter ocorrido. 
Ao comparar os resultados obtidos da avaliação com os da reavaliação, verificamos 
que: 1) tanto a avaliação quanto a reavaliação indicam o significativo atraso no 
desenvolvimento global da criança, e embora apresentasse idade cronológica de dez 
anos seu desenvolvimento correspondia à faixa etária aos dois anos de idade; 2) seu 
desempenho apresentava-se de forma decrescente conforme o avanço das faixas 
etárias; 3) não houve mudança quantitativa dos resultados da avaliação em 
comparação com a reavaliação no desenvolvimento motor e de linguagem; 4) em 
socialização houve evolução em apenas um item referente aos 48 meses; 5) em 
cognição houve evolução em dois itens referentes aos 48 meses; 6) Autocuidados foi 
a área de desenvolvimento que apresentou mais evolução quantitativa, sendo dois 
itens pertencentes à faixa etária dos 36 meses, um item aos 60 meses e dois itens 
referentes à faixa etária de 72 meses. Ao comparar as observações clínicas da 
reavaliação com as da avaliação, observamos que a criança começou a utilizar a 
tesoura de forma adequada (isto é, sem inverter a posição da tesoura com a pronação 
do antebraço, movimento que posiciona o polegar abaixo do papel a ser recortado, 
como fazia durante a avaliação), porém continuava com dificuldade de realizar o 
recorte em linha reta, evidenciada pela falta de coordenação motora fina. Notamos 
também que a freqüência da criança em recusar descer do carro ao chegar ao setor 
diminuiu, o que pode ter sido favorecido pelo estabelecimento de vínculo terapêutico 
entre criança, terapeutas e ambiente, e pelo estabelecimento de uma rotina das 
sessões o que pode ter contribuído para a diminuição de sua insegurança e receio de 
estar sem o cuidador por perto durante a realização de atividades.
No decorrer da intervenção, realizamos visitas nas escolas que a criança freqüentou, 
assim no período da avaliação visitamos a classe especial da escola de ensino regular 
que a criança freqüentava e observamos que alguns dos comportamentos 
inadequados que Letícia apresentava ocorriam em outras crianças da sala, 
observamos que havia apenas uma professora para atender às necessidades 
educacionais individuais daqueles 14 alunos e que não havia a atuação de outros 
profissionais especializados dentro do contexto escolar. Após essa visita, elaboramos 
de forma impressa e explicativa e enviamos aos familiares e à professora da classe 
especial, sugestões de possíveis formas de intervir com a criança que possibilitaria 
potencializar seu DNPM global. Após essa conduta (não sabemos se conseqüente a 
isso ou não) os familiares e a própria escola sugeriram a necessidade dessa criança 
freqüentar uma escola especializada que atendesse às suas necessidades 
educacionais especiais. Durante o período da reavaliação, realizamos uma visita na 
escola especial em que a criança passou a freqüentar, e verificamos durante essa 
visita que os outros alunos da classe, dez no máximo, possuíam idade igual ou 
superior à da criança do nosso estudo e contatamos a professora e os demais 
profissionais que intervinham com a criança (psicopedagoga, fonoaudióloga e 
psicóloga) com quem trocamos informações verbais e impressas sobre Letícia, nos 
colocando à disposição da escola. Neste período que a criança estava freqüentando o 
novo contexto escolar não houve queixas com relação ao seu comportamento e não 
houve relato de Letícia recusar a descer do carro ao chegar à escola, o que parece 
nos indicar que a mudança para essa escola foi positiva e que a menina demonstrava-se motivada para entrar e permanecer nesta escola ao ser deixada na porta pelos 
familiares.
DISCUSSÃO:
Embora os resultados do estudo tenham indicado que dentre os oito itens que 
apresentaram evoluções ao compararmos os resultados da avaliação com os da 
reavaliação, sete deles haviam sido evidenciados nos resultados da avaliação como 
prioritários a serem trabalhados, ainda não é possível afirmar que a intervenção 
terapêutica ocupacional utilizando atividades psicomotoras promoveu a aquisição de 
melhores índices na reavaliação já que essa ocorreu associada e concomitante a 
todas outras vivências da criança, bem como aos estímulos dos diversos ambientes 
que freqüenta (escolar, familiar, de lazer e terapêutico - ambulatoriais). No entanto, é 
fato que uma intervenção baseada em dados sistemáticos pode facilitar esse 
processo, pois permite estabelecermos prioridades de treino ao evidenciar 
habilidades e limitações que uma criança apresenta nas áreas do desenvolvimento, 
além de evidenciar à qual faixa etária do desenvolvimento infantil seu real desempenho 
corresponde. A avaliação utilizando-se o instrumento citado evidenciou os objetivos a 
serem propostos e a necessidade da utilização de uma prática psicomotora para 
estimular as classes de comportamentos que indicou como prioritários naquele dado 
momento, e consideramos este um dos pontos fundamentais do processo relatado, 
uma vez que diante de tantas necessidades especiais (físicas, educacionais, mentais, 
emocionais e sociais) e do atraso no DNPM que observamos num primeiro momento 
de forma assistemática em Letícia, necessitávamos saber exatamente o quanto 
representava esse atraso em seu desenvolvimento global e por onde e como começar 
a estimulação. Além da escolha da psicomotricidade ter se dado ao analisarmos e 
pormenorizarmos cada item das classes de comportamento indicadas como 
prioritárias a serem estimuladas naquele momento e concluirmos que após 
esmiuçarmos cada item prioritário estes requeriam principalmente as habilidades 
correspondentes aos aspectos psicomotores, procuramos focar as destrezas da 
criança, aprimorando aquilo que ela já sabe fazer acrescentando desafios para 
construir novas habilidades sem “trabalhar” diretamente suas dificuldades, o que 
provavelmente suscitaria frustrações e recusas em participar das atividades e 
dificultaria adesão ao tratamento. Consideramos benéfico o uso de atividades 
psicomotoras com essa criança, pois acreditamos na importância de naquele 
momento ela vivenciar este tipo de atividade no ambiente terapêutico preparado e 
apropriado para a prática psicomotora, porque de acordo com Vitta (1997, p.35) o 
desenvolvimento humano é fruto da interação entre o biológico e o ambiente, dessa 
forma pudemos favorecer que os estímulos externos e ambientais acontecessem.
O uso desse instrumento sistemático de avaliação e reavaliação também facilitou 
conhecer a criança em todos os aspectos (motor, cognitivo, social, comunicativo e de 
autocuidado) o que favoreceu que fornecêssemos aos familiares e demais 
profissionais que atuavam com ela informações sobre a mesma, sugestões de como 
proceder com ela em casa e na escola, o que poderia aumentar as vivências 
adequadas para fase maturativa atual, propiciando seu desenvolvimento 
neuropsicomotor global. Enfatizamos a importância deste processo terapêutico 
também ter permitido a realização da discussão do caso na escola da criança por uma 
equipe de profissionais especializados (psicóloga, psicopedagoga, professora 
habilitada em educação especial, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional) a fim de 
demonstrar e informar que a parceria do T.O. com os profissionais especializados da 
escola pode facilitar a compreensão e estimulação das necessidades educacionais 
específicas da criança.
Embora indicamos os aspectos positivos descritos acima quanto ao uso do Inventário 
Portage Operacionalizado como instrumento sistemático de avaliação e reavaliação 
consideramos importante relatar que a falta de flexibilidade em permitir adaptações 
nos itens, contribuiriam para que a criança apresentasse um atraso no DNPM 
significativo. Acreditamos que se pudéssemos ter realizado adaptações nas 
atividades, procedimento comum para o terapeuta ocupacional, poderíamos ter 
computado um número maior de acertos durante a avaliação e reavaliação.
Assim como nós sentimos a necessidade de esmiuçar cada item do Inventário 
Portage Operacionalizado (IPO) para saber exatamente quais atos seriam 
necessários para realizar cada item, outro estudo chegou a conclusão semelhante, 
Rossito (1984) realizou um Estudo comparativo entre o IPO e a Escala AVC (escala 
que permite analisar as discriminações básicas, presentes no repertório de uma 
criança, através de seis tarefas) para programar atividades pré-escolares de crianças 
excepcionais, e concluiu que o Inventário por ser operacionalizado foi útil como guia 
para derivar atividades, porém apenas a sua aplicação não era suficiente para a 
programação de treinos que desejava, e considerou necessário o uso de outro 
instrumento (no caso a escala AVC) que permitisse uma análise mais refinada, para 
saber quais discriminações seriam necessárias para realizar cada item, para então 
programar as atividades pré-escolares. Outro estudo, utilizando o IPO, foi realizado por 
Rossit (1997), para avaliar, intervir e analisar o desenvolvimento motor de bebês com 
Síndrome de Down em função da capacitação da mãe, e a autora concluiu que ao 
comparar os registros da avaliação com os da reavaliação na área desenvolvimento 
motor, os bebês das mães que foram treinadas obtiveram melhor desempenho em 
relação aos bebês das mães que não receberam o treinamento. Como os resultados 
desse estudo demonstram exatamente as evoluções motoras ocorridas durante a 
intervenção, podemos indicar que o estudo sugere que o uso do IPO permite a análise 
sistemática dos dados demonstrando diferenças quantitativas entre a avaliação e a 
reavaliação, assim como nós o utilizamos.
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