http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/110.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
REFLEXOS DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO PERMANENTE E
TRANSITÓRIO NO DESENVOLVIMENTO DE INDIVÍDUOS GEMELARES
Mariana Germano Gejão
Amanda Tragueta Ferreira
Dionísica Aparecida Cusin Lamônica
Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São
Paulo
RESUMO
O hipotireoidismo congênito é uma alteração do metabolismo caracterizada pela produção
insuficiente dos hormônios tireoideanos e considerado uma das poucas causas de retardo mental
passível de prevenção se diagnosticado e tratado precocemente. Pode manifestar-se de maneira
transitória ou permanente. As formas transitórias são menos freqüentes. A literatura refere que
mesmo com diagnóstico precoce e tratamento adequado, indivíduos diagnosticados com
hipotireoidismo congênito podem apresentar alterações no desenvolvimento das habilidades
motoras, cognitivas, lingüísticas e sociais. Desta forma, há necessidade de atenção especial para
estes indivíduos uma vez que tais alterações trarão reflexos relevantes para a vida pessoal e escolar.
O objetivo deste estudo foi descrever a história clínica e habilidades do desenvolvimento lingüístico,
motor, adaptativo e pessoal-social de gêmeas prematuras com diagnóstico tardio de hipotireoidismo
congênito. Participaram do estudo gêmeas, do sexo feminino, com 1 ano e 2 meses de idade,
diagnosticadas com hipotireoidismo congênito aos 7 meses e meio. Uma das gêmeas foi
diagnosticada com a alteração metabólica do tipo transitória (C1) e a outra do tipo permanente
(C2). A avaliação constou de entrevista com a responsável pelas crianças, Observação do
Comportamento Comunicativo e aplicação da Escala de Desenvolvimento de Gesell e Amatruda
(2000). As participantes nasceram de parto natural, prematuras e de muito baixo peso. Após o
parto, C1 permaneceu na UTI por 1 semana e C2 por 7 meses, devido a problemas respiratórios e
baixo peso. As irmãs apresentam atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, e o desenvolvimento
de C2 é mais comprometido. Na Escala de Desenvolvimento, observou-se em C1, comportamento
lingüístico compatível a 1 mês; motor grosseiro, motor delicado e pessoal-social a 3 meses; e
adaptativo a 5 meses. C2 apresentou comportamento lingüístico, motor grosseiro, adaptativo e
pessoal-social compatível a 1 mês e motor delicado a 3 meses. Conclui-se que as intercorrências
durante o parto e primeira infância, associadas ao hipotireoidismo congênito permanente de C2,
acarretaram comprometimentos mais graves para seu desenvolvimento global, quando comparado
ao desenvolvimento de sua irmã com hipotireoidismo congênito transitório. O acompanhamento
longitudinal das habilidades de desenvolvimento em indivíduos com hipotireoidismo congênito é
fundamental tanto para a prevenção de alterações quanto para o planejamento de estratégias
voltadas às habilidades de desenvolvimento que proporcionem o desempenho infantil favorecendo
sua integração nos diferentes ambientes sociais que freqüentam.
Introdução
O hipotireoidismo congênito (HC) é caracterizado pela produção deficiente dos hormônios
tireoideanos devido ao mau funcionamento ou malformação da glândula tireóide. É a principal causa
de retardo mental passível de prevenção se diagnosticada e tratada oportunamente (ALMACHE,
2003). Afeta cerca de 1:4000 recém-nascidos (RNs) em regiões iodo-suficientes (CAMPOS;
CAMPOS, 2003).
As formas transitórias do HC são menos freqüentes em relação às permanentes. Podem ser
idiopáticas, decorrentes da prematuridade ou principalmente da insuficiência ou excesso de iodo
materno, fetal ou no RN. Podem ser causadas ainda pela passagem transplacentária de drogas
antitireoideanas ou de anticorpos antitireodeanos maternos, podendo apresentar-se com bócio e ser
de curta duração. Normalmente as formas transitórias necessitam de tratamento que deve ser
ministrado, via de regra, até os três anos (KNOBEL; NOGUEIRA; MEDEIROS-NETO, 2001;
ALMACHE, 2003).
O HC permanente pode ser decorrente da digenesia tireoideana (caracterizada por agenesia da
glândula, ectopia com tecido tireoideano encontrado desde a base da língua até o mediastino, ou
hipoplasia com glândula de tamanho reduzido em posição cervical normal); das disormonogêneses,
erros inatos da síntese hormonal; da transferência de anticorpos maternos para a criança (PERONE
et al., 2004; VONO-TONIOLO; KOPP, 2004) e da deficiência de iodo (ALMACHE, 2003).
Tanto fatores genéticos, como ambientais, podem exercer influências no desenvolvimento do HC,
tais como: gestação de gêmeos, associação de outros defeitos congênitos, sexo feminino, entre
outros (MEDDA et al., 2005).
Os hormônios tireoideanos têm grande influência no desenvolvimento do sistema nervoso (SN)
durante a vida fetal e ao longo dos primeiros anos de vida. Destes hormônios, dependem os
processos de vascularização do SN, mielinização, arborização dentrítica, formação de sinapses,
migração neuronal, diferenciação celular e expressão de genes. Como estes processos normalmente
apresentam um pico a partir do quinto mês de gestação e após o nascimento, dependendo do tipo
de processo e sua localização no cérebro, níveis adequados de hormônio tireoideano são essenciais
(BOTLER, 1996; ROVET, 1999; NUNES, 2003).
Nos casos de HC em que a mãe tem a função tireoideana normal e o feto apresenta alguma função
tireoideana durante a gestação, as áreas do SN mais afetadas são aquelas relacionadas ao
desenvolvimento pós-natal, ou seja, cerebelo, hipocampo e córtex, principalmente o visual e o
auditivo (BOTLER, 1996). Isso ocorre porque os efeitos deletérios da falta dos hormônios
tireoideanos durante o período gestacional podem ser evitados pela passagem transplacentária de
hormônios da mãe para o feto (ZOELLER, 2004; KEMPERS et al., 2006).
Porém, a partir do nascimento a transferência de hormônio materno para o feto desaparece e
aqueles RNs tratados após o terceiro mês de vida apresentarão, geralmente, atraso no
desenvolvimento físico e cognitivo (ZOELLER, 2004).
Estes danos irreversíveis no tecido neuronal não acarretam apenas retardo mental e outras
alterações neurológicas, mas também alterações metabólicas e maturacionais em todo o organismo,
principalmente com relação ao tecido ósseo. Portanto, na deficiência dos hormônios tireoideanos o
crescimento também fica comprometido (LUDUEÑA; PRADA; SÂNDI, 2002).
O tratamento do HC é realizado por meio da reposição hormonal com levotiroxina (T4 sintético).
Sua dosagem deve ser individualizada e adequar-se à necessidade do indivíduo para que os níveis
hormonais sejam mantidos dentro da normalidade (ROSE et al., 2006).
A literatura tem referido alterações nas habilidades do desenvolvimento (habilidades motoras,
cognitivas, lingüísticas, sociais e de autocuidados) em crianças com HC, mesmo quando o
diagnóstico foi precoce e tratamento adequado (KOOISTRA et al., 1994; BARGAGNA et al.,
2000; OERBECK et al., 2003; TORRES et al., 2004; OERBECK et al., 2005; ROVET, 2005;
BARGAGNA et al., 2006; DLUHOLUCKY; HOMOVA; LUKAC, 2006; GEJÃO, 2006;
KEMPERS et al., 2006; NAKAMIZO et al., 2007). A magnitude de tais alterações depende de
alguns fatores como a etiologia do HC, época de seu início (pré ou pós-natal), gravidade da
deficiência hormonal e idade da criança ao iniciar o tratamento de reposição hormonal (ROVET,
1999; ALMACHE, 2003; OERBECK et al., 2003; ROVET, 2005).
Diante do exposto, este estudo teve como objetivo descrever a história clínica e habilidades do
desenvolvimento lingüístico, motor, adaptativo e pessoal-social de gêmeas prematuras com
diagnóstico tardio de hipotireoidismo congênito.
Material
Após aprovação do Comitê em Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Faculdade onde o estudo
foi realizado, obteve-se o consentimento livre e esclarecido da responsável legal pelas participantes
deste estudo.
Foram avaliadas gêmeas, do sexo feminino, com 1 ano e 2 meses de idade, diagnosticadas com HC
aos 7 meses e meio, que realizavam acompanhamento longitudinal com equipe multidisciplinar. Aos
13 meses C1 foi diagnosticada com HC transitório, pois seus níveis hormonais estabilizaram dentro
da faixa de referência de normalidade. Sua irmã (C2) ainda realiza tratamento de reposição
hormonal, uma vez que a instituição que acompanha seu desenvolvimento confirmou o diagnóstico
de HC do tipo permanente.
A avaliação constou de entrevista com a responsável legal pelas participantes, Observação do
Comportamento Comunicativo e aplicação da Escala de Desenvolvimento de Gesell e Amatruda
(2000).
Resultados:
Na Tabela 1 encontram-se os dados da história clínica de C1 e C2, obtidos por meio de entrevista
e na Tabela 2, encontram-se os resultados da Observação do Comportamento Comunicativo e da
aplicação da Escala de Desenvolvimento de Gesell e Amatruda (EDGA)
Tabela 1: História clínica das participantes CI e C2
História Clínica
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C1
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C2
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Gestação
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Descoberta da gemelaridade somente no 6º mês, com estresse e perda de
líquido amniótico, entrando em trabalho de parto dois dias após o
conhecimento da gravidez gemelar
Mãe ingeriu medicação para fortalecer os pulmões dos bebês.
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Parto
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Duração de 7 horas; natural; prematuridade (31 semanas).
Comprimento e APGAR: não soube referir
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1ª gemelar
Peso: 1250g
UTI: 1 semana
Incubadora: 2 semanas
Chorou
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2ª gemelar
Peso: 900g
UTI: 7 meses
Displasia Pulmonar
Não chorou
Presença de Icterícia
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Primeira Infância
|
Não receberam aleitamento materno
|
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Letargia; Sonolência
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Desenvolvimento
Neuropsicomotor
|
Equilíbrio Cervical: 6 meses
Virar-se e Agarrar objetos: 7 meses
Sentar com e sem apoio, engatinhar,
andar e falar: ainda não realiza
|
Agarrar objetos: 10 meses
Equilíbrio Cervical, virar-se,
sentar com e sem apoio,
engatinhar, andar e falar: não
realiza
|
Audição
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Sem queixas
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Visão
|
Baixa acuidade visual; tratamento para estrabismo
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Idade do
Diagnóstico
|
230 dias
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Tratamento HC
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Acompanhamento laboratorial sem
reposição hormonal
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Reposição hormonal: Levotir
(37,5mg/dia)
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Tratamentos
|
Fonoaudiologia e Fisioterapia: 2 vezes por semana
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Tabela 2: Resultado da Observação do Comportamento Comunicativo e da aplicação da
Escala de Desenvolvimento de Gesell e Amatruda
Avaliação
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C1
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C2
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Observação do
Comportamento
Comunicativo
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Raros balbucios; ausência de
intenção comunicativa e
funcionalidade. Não
localização sonora e não
acompanhamento visual de
objetos. Presença de reflexos
primitivos
|
Ausência de balbucios,
intenção comunicativa e
funcionalidade. Não
localização sonora e não
acompanhamento visual de
objetos. Presença de reflexos
primitivos
|
Escala de Desenvolvimento
de Gesell e Amatruda
|
Linguagem: 1 mês
Motor grosseiro: 3 meses
Motor delicado: 3 meses
Pessoal-social: 3 meses
Adaptativo: 5 meses
|
Linguagem: 1 mês
Motor grosseiro: 1 mês
Motor delicado: 3 meses
Pessoal-social: 1 mês
Adaptativo: 1 mês
|
Discussão
Conforme apresentado foram avaliadas gêmeas com 1 ano e 2 meses de idade. Como descrito na
literatura, gestação de gêmeos e o sexo feminino são considerados fatores de risco para o
desenvolvimento do HC (CAMPOS; CAMPOS, 2003; MEDDA et al., 2005).
Os casos clínicos apresentados foram diagnosticados com HC tardiamente e apresentaram
alterações significativas no desenvolvimento global. As intercorrências peri e pós-natais ocorridas
contribuíram para a dificuldade na realização do diagnóstico clínico e laboratorial, por meio do Teste
do Pezinho. Embora C1 tenha permanecido internada por 3 semanas, sua triagem neonatal foi
realizada apenas quando C2 recebeu alta hospitalar, aos 7 meses de idade. Devido à grande
participação dos hormônios tireoidianos no desenvolvimento cerebral, quanto maior o período de
insuficiência hormonal, maior a gravidade e extensão dos danos cerebrais e quanto antes se iniciar a
reposição hormonal com levotiroxina, menores as conseqüências para o desenvolvimento da criança
(ROVET, 1999; ALMACHE, 2003). Por esta razão, a detecção do HC durante a primeira semana
de vida é essencial para o início rápido do tratamento e, conseqüentemente, para a prevenção de
suas manifestações e seqüelas (ROSE et al., 2006).
Devido à prematuridade, as irmãs não receberam os hormônios maternos pela passagem
transplacentária nos últimos meses de gestação, o que pode ter contribuído para o desenvolvimento
do HC permanente em C2 e transitório em C1 (ZOELLER, 2004; KEMPERS et al., 2006). Como
os hormônios tireoideanos materno e fetal são importantes para o desenvolvimento do sistema
nervoso, crescimento e desenvolvimento de vários órgãos e tecidos (BOTLER, 1996; ROVET,
1999; NUNES, 2003), as alterações maturacionais e desenvolvimentais presentes, podem ser
justificadas pela disfunção metabólica (LUDUEÑA; PRADA; SÂNDI, 2002) associada aos fatores
de risco para alterações do desenvolvimento ocorridos nos períodos peri e pós-natais.
Após a triagem neonatal, foram realizados exames diagnósticos que confirmaram o HC permanente
em C2 e levantaram a suspeita de HC transitório em C1. Por meio do acompanhamento dos níveis
dos hormônios tireoidianos, C1 foi diagnosticada com HC transitório aos 13 meses, entretanto, C2
realiza reposição hormonal desde o diagnóstico.
Na Observação do Comportamento Comunicativo verificou-se comprometimento do
desenvolvimento comunicativo, com defasagens nas habilidades comunicativas intencionais e
funcionais. O mesmo pode ser observado na aplicação da Escala de Desenvolvimento de Gesell e
Amatruda, quanto ao comportamento lingüístico, que foi compatível ao de crianças com 1 mês de
idade. A literatura refere que crianças com HC apresentam com mais freqüência atraso para o início
da linguagem oral; dificuldades de compreensão da linguagem; alterações articulatórias; fonológicas
e morfossintáticas; vocabulário reduzido e dificuldade para nomeação (KOOISTRA et al., 1994;
ROVET; EHRLICH, 1995; ROVET; ALZAREZ, 1996; ROVET, 1999; BARGAGNA et al.,
2000; OERBECK et al., 2003; BARGAGNA et al., 2006).
Na aplicação dos demais comportamentos da Escala de Desenvolvimento de Gesell e Amatruda,
observou-se heterogeneidade nos desempenhos de C1 e C2, estando C1 com melhor
desenvolvimento que C2. Apenas o comportamento motor delicado foi semelhante para as irmãs
(referente a 3 meses). C1 apresentou comportamento motor grosseiro e pessoal-social compatível a
3 meses e adaptativo a 5 meses. C2 apresentou os 3 desempenho nos 3 comportamentos
compatível a 1 mês. Na literatura, são relatados déficits cognitivos; atraso na inibição dos reflexos
primitivos; alterações do equilíbrio e da coordenação motora grossa e fina; atraso para o início da
marcha; movimentos associados e alterações do tônus muscular (KOOISTRA et al., 1994;
BARGAGNA et al., 2000; OERBECK et al., 2003; OERBECK et al., 2005; ROVET, 2005;
BARGAGNA et al., 2006; KEMPERS et al., 2006; NAKAMIZO et al., 2007).
Os déficits no comportamento pessoal-social observados podem ocorrer devido à falta de prática
destas habilidades em tarefas da rotina diária proporcionadas pelas ações familiares nos cuidados
para a criança e pela criança. Por interferir na qualidade da exploração ambiental, nas possibilidades
interativas e nas relações que a criança estabelece no ambiente, o comprometimento motor
verificado, pode ter influenciado o desenvolvimento global das participantes, incluindo as habilidades
lingüísticas, cognitivas e pessoal-sociais (CASTAÑO, 2003; LAMÔNICA, 2004; GEJÃO, 2006).
As alterações nas habilidades de linguagem observadas neste estudo e concordantes com a literatura
(KOOISTRA et al., 1994; ROVET; EHRLICH, 1995; ROVET; ALZAREZ, 1996; ROVET,
1999; BARGAGNA et al., 2000; OERBECK et al., 2003; BARGAGNA et al., 2006) apontam
que as crianças com HC são de risco para alterações no desenvolvimento lingüístico e, portanto,
necessitam do acompanhamento longitudinal do desenvolvimento comunicativo (BARGAGNA et
al., 2000; GEJÃO, 2006).
Neste estudo observou-se desempenho alterado nas habilidades do desenvolvimento em C1 e C2,
o que nos leva a ressaltar a importância do acompanhamento longitudinal de crianças com HC, uma
vez que a literatura relata alterações em habilidades específicas de indivíduos em idade escolar,
como déficits de atenção, memória, consciência fonológica, raciocínio lógico, leitura e escrita
(OERBECK et al., 2003; TORRES et al., 2004; DLUHOLUCKY; HOMOVA; LUKAC, 2006;
KEMPERS et al., 2006) contribuindo para dificuldades no processo de aprendizagem escolar.
O acompanhamento longitudinal com equipe multidisciplinar, realizando o controle clínico do HC em
C2, dos níveis hormonais em C1, deve visar melhora do desenvolvimento global das participantes,
propiciando recursos para que estas tenham a possibilidade de acompanhar as atividades propostas
exigidas durante o processo de aprendizagem escolar.
Conclusão
As intercorrências durante o parto e primeira infância, associadas ao HC permanente de C2,
acarretaram comprometimentos mais graves para seu desenvolvimento global, quando comparado
ao desenvolvimento de C1 com HC transitório, embora o atraso nas habilidades lingüísticas,
motora, adaptativa e pessoal-social tenha sido encontradas em ambas.
Acompanhar o desenvolvimento de crianças com hipotireoidismo congênito e demais fatores de
risco para alterações do desenvolvimento é fundamental considerando os reflexos de tais alterações
para a autonomia, independência e qualidade de vida destes indivíduos.
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