http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/115.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A
EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS PROGRAMAS DE EXTENSÃO DO NÚCLEO DE
ESTUDOS E PESQUISA EM ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE – NIAFS/UFU
Solange Rodovalho Lima
Valéria Manna Oliveira
Patrícia Silvestre de Freitas
Geni de Araújo Costa
Luzimar de Souza
Maria Helena Candelori Vidal
Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Atividade Física e Saúde/Faculdade de Educação
Física/Universidade Federal de Uberlândia – NIAFS/FAEFI/UFU
RESUMO
Tendo como referência o paradigma da Inclusão Social e Educacional o Núcleo Interdisciplinar de
Estudos e Pesquisa em Atividade Física e Saúde da Faculdade de Educação Física da Universidade
federal de Uberlândia – NIAFS/FAEFI/UFU tem concentrado esforços no sentido de implementar
ações que contribuam para a inclusão social de pessoas com necessidades especiais. Este trabalho
visa apresentar os programas desenvolvidos pelo NIAFS com diferentes grupos de indivíduos que
apresentam necessidades especiais, os quais contribuem com a formação inicial do professor de
Educação Física para a área da Educação Especial.
INTRODUÇÃO
O paradigma da Inclusão Social tem suscitado discussões e transformações essenciais na sociedade
contemporânea. No bojo dessas mudanças, a teoria e a prática relacionadas ao atendimento da
pessoa com necessidades especiais em diferentes contextos têm levado instituições, profissionais,
pesquisadores e comunidade em geral ao debate e análise em torno de novas perspectivas e
possibilidades de serviços com qualidade e eficiência, orientados para a inclusão social.
De acordo com Omote (2003), nos últimos 30 anos as Universidades vêm envolvendo-se em ações
destinadas a beneficiar as pessoas deficientes, notadamente na formação de recursos humanos, na
construção de conhecimentos acerca das deficiências, na disseminação desses conhecimentos e no
desenvolvimento de procedimentos e recursos especiais para o atendimento a essa clientela.
Além dessa população, outros grupos, com necessidades especiais tem merecido atenção em
diferentes trabalhos de pesquisa, ensino e extensão nas instituições de ensino superior.
O trabalho que a área da Educação Física vem desenvolvendo com pessoas deficientes desde os
anos 80 do século XX, é fruto de uma longa luta social de diferentes segmentos ligados a essas
pessoas e oportunizou a abertura de novos campos de trabalho e pesquisas. (CARMO, 2001).
Pose-se afirmar que essa abertura tem envolvido, além das pessoas com deficiência, aquelas que
apresentam outras necessidades especiais, tais como: idosos, cardiopatas, obesos, pessoas com
transtornos mentais, mastectomizadas entre outras.
Nessa direção concentram-se os esforços e ações do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa
em Atividade Física e Saúde – NIAFS da Faculdade de Educação Física – FAEFI da Universidade
Federal de Uberlândia – UFU.
O NIAFS é um núcleo acadêmico, sem fins lucrativos, de caráter educativo e desenvolve trabalhos
pautados no trinômio ensino, pesquisa e extensão, na área da Educação Física e áreas afins.
Seus principais objetivos são:
· Desenvolver trabalhos ligados à área da saúde/educação/educação física escolar;
· Avaliar, acompanhar e prescrever atividade física para grupos especiais, atletas e para-atletas;
· Organizar e coordenar cursos de extensão, aperfeiçoamento, especialização e projetos de
pesquisa;
· Viabilizar a formação de uma equipe multiprofissional para trabalhar com pessoas com
necessidades especiais;
· Desenvolver programas permanentes de avaliação, acompanhamento, prescrição de atividades
e treinamento com grupos de pessoas com necessidades especiais;
· Auxiliar no desenvolvimento da ciência e tecnologia, buscando o desenvolvimento de projetos
dede pesquisa e recursos financeiros junto a agências de fomento;
· Fomentar o desenvolvimento da pesquisa, ensino e extensão;
O NIAFS é composto por: professores efetivos/docentes da UFU; professores/pesquisadores
visitantes que desenvolvem projetos e/ou ministram aulas em outras instituições de ensino; técnicos
administrativos da UFU; monitores/estagiários graduandos e egressos da UFU e de outras
instituições de ensino superior.
Atualmente são desenvolvidos cinco programas de atendimento a grupos de pessoas com
necessidades especiais:
· Programa de Atendimento À Pessoa com
Deficiência – PAPD
O PAPD vem sendo desenvolvido desde o ano de 1982 com ações voltadas ao atendimento das
pessoas com deficiência da comunidade de Uberlândia e região.
Atualmente 230 alunos com variados tipos e graus de deficiência, com idade entre seis meses e 65
anos, freqüentam as seguintes atividades: Natação, Psicomotricidade, Atletismo, Goalball, Futebol,
Hóquei sobre piso e Recreação. Estas são realizadas duas vezes por semana, com aulas que variam
de 50min a 1h30min.
O encaminhamento a essas atividades é realizado mediante avaliação da necessidade e interesse do
aluno. No decorrer do programa aqueles alunos com comprometimentos menos grave são
encaminhados para outras atividades esportivas desenvolvidas dentro das escolinhas de esporte
oferecidas pela FAEFI/UFU. O intuito é promover experiências com outros alunos não deficientes e
colaborar em seu processo de inclusão.
Os principais objetivos do PAPD são: propiciar às pessoas com deficiência oportunidades de
acesso às atividades físicas quer seja como contribuição no processo de reabilitação, educação,
recreação, lazer e/ou participação em competições esportivas e oportunizar experiências de ensino
vivenciado aos acadêmicos do curso de Educação Física da UFU.
O ensino vivenciado faz parte das atividades curriculares do referido curso e é realizado em parceria
com o PAPD em dois momentos: estágio curricular obrigatório e/ou monitoria voluntária. No estágio
curricular o acadêmico/estagiário elabora e desenvolve programas de ensino adequados aos alunos
com deficiência sob a orientação e supervisão dos coordenadores do PAPD e monitores.
Programa de Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade – AFRID
O programa vem sendo desenvolvido desde o ano de 1992 e constitui-se em um conjunto de
atividades teóricas e práticas para 660 idosos, residentes na cidade de Uberlândia e região, estando
na faixa etária de 50 anos acima. As atividades corporais e os movimentos expressivos são
características preponderantes que este trabalho se propõe a realizar. São desenvolvidas as
seguintes atividades: dança alongamento, musculação, informática, hidroginástica e natação. Entre as
quais há predominância das realizadas em meio aquático. Faz parte das atividades passeios
turísticos na cidade e região e Eventos culturais - teatro, canto, cinema.
O AFRID tem como finalidade estimular a participação ativa e dinâmica da comunidade, buscando
minimizar o estigma ao qual sempre estão submetidos e a valorizar as potencialidades de cada
participante.
Para a sua realização busca-se um trabalho interdisciplinar (Psicologia, Medicina Clínica, Educação
Física e Fisioterapia), no qual cada segmento contribui para o enriquecimento e a valorização dessa
iniciativa, com aplicação dos conhecimentos específicos de cada área.
Como parte do trabalho, realiza-se atividades físicas e recreativas, bem como atividades artísticas
em cinco Instituições Asilares na cidade de Uberlândia.
· Programa de Atividade Física para Mulheres Mastectomizadas
O programa iniciou-se em 1999 e seu objetivo é proporcionar
atividades físicas para mulheres
mastectomizadas com o intuito de ampliar a capacidade de movimento e fortalecimento muscular,
minimizar a depressão, ansiedade e melhorar a auto-estima e auto-imagem destas pessoas, e
consequentemente melhorarem sua qualidade de vida. Atualmente são atendidas 25 mulheres
mastectomizadas na modalidade hidroginástica, desenvolvida duas vezes por semana. A condução
das atividades fica a cargo de dois acadêmicos do curso supervisionados por um professor da
FAEFI. Como resultado parcial observa-se uma sensível melhora na amplitude de movimentos e na
qualidade de vida geral das participantes.
· Programa de Atendimento à Pessoa com
Transtorno Mental
Este programa teve início no final de 2006 como uma proposta de interlocução do Centro de
Atenção Psicossocial – CAPS da Prefeitura Municipal de Uberlândia e o NIAFS. Seu objetivo é
propiciar a melhora da qualidade de vida à pessoa que sofre distúrbios mentais, por meio de
atividades físicas, tais como: natação, alongamento, musculação recreação, distribuídas em duas
sessões semanais. Acredita-se também na possibilidade de decréscimo dos sintomas negativos da
doença mental, tais como: embotamento afetivo, humor deprimido, ansiedades e compulsão
alimentar.
São atendidos quinze alunos de ambos os sexos com transtornos mentais. Estes são encaminhados
pelo CAPS e passam por uma avaliação física que serve para orientar as atividades a serem
desenvolvidas. A equipe é composta por professor de Educação Física, psicóloga, técnico em
saúde mental. Os exercícios físicos são ministrados por acadêmicos do curso de Educação Física da
UFU, supervisionados por um professor de Educação Física da FAEFI/UFU, coordenador do
programa.
· Programa de Atividade Física para Obesos Mórbidos
Pré e Pós Operatórios da
Gastroplastia
O objetivo do programa é minimizar as alterações fisiológicas estruturais e até mesmo
comportamentais no sentido de proporcionar aos obesos, melhor qualidade de vida, através dos
bons hábitos de saúde.
Participam do programa indivíduos portadores da obesidade mórbida, com IMC (Índice de massa
corpórea) igual ou superior à 40kg/m2, de ambos os sexos, entre 20 a 60 anos de idade, que
aguardam ou que já realizaram a cirurgia bariátrica ou gastroplastia no Hospital de Clínicas da
Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Esses indivíduos são acompanhados no Ambulatório
do hospital por uma equipe multiprofissional composta por: Médicos, Enfermeiro, Fisioterapeuta,
Nutricionista, Professor de Educação Física, Assistente Social e Psicólogo. Todos os indivíduos,
após pesagem, realizam exames clínicos e laboratoriais, para descartar qualquer contra indicação ao
exercício físico.
Em seguida são submetidos a um programa de exercícios físicos de baixo impacto (hidroginástica)
por um período mínimo de três meses que precede a cirurgia, em três sessões semanais, com
duração de 50 minutos cada.
O programa de exercícios visa à diminuição do peso corporal, melhoria da função cárdio-respiratória e estado psicológico, preparando o indivíduo para a cirurgia.
Após 40 dias decorridos da cirurgia os indivíduos são encaminhados para o programa de
exercícios, mais especificamente a musculação.
Os exercícios físicos são realizados no Campus da Faculdade de Educação Física FAEFI/UFU, por
estagiários acadêmicos do curso, orientados e supervisionados por um professor de Educação
Física que também é fisioterapeuta.
Além desses programas, encontra-se em fase de implantação outros dois Programas:
- Programa de Atendimento à Pessoa com Cardiopatia. Este visará o atendimento de pessoas
cardiopatas oportunizando-lhes o acesso às atividades físicas como reabilitação e lazer e,
consequentemente, melhorando sua qualidade de vida.
- Programa Multiprofissional de Cuidados a Pacientes com Alteração Respiratória Crônica
O Programa já funciona no Hospital de clínicas da UFU. Teve início em 2005 e conta com uma
equipe multiprofissional (fisioterapeutas, professor de Educação Física, médico e psicólogo,
nutricionista, farmacêutico, assistente social e enfermeiro) de cuidados a pacientes com alteração
respiratória crônica que engloba o estabelecimento de: 1) diagnóstico preciso da doença primária e
de co-morbidades; 2) tratamento farmacológico, nutricional e fisioterápico; 3) recondicionamento
físico; 4) apoio psicossocial; e 5) educação física adaptada às necessidades individuais para otimizar
a autonomia, o desempenho físico e social.
O trabalho consiste em uma avaliação global do paciente com encaminhamento e tratamento
conforme o consenso Brasileiro de DPOC e as necessidades individuais.
A avaliação básica inclui a anamnese e exame físico; espirometria, avaliação da capacidade de
realizar exercício físico, avaliação psicológica, de qualidade de vida, da dispnéia e avaliação
nutricional.
Pacientes de todos os estágios da DPOC podem beneficiar-se de algum grau de reabilitação
pulmonar. Esta reduz a necessidade de visitas médicas domiciliares para tratamento de
exacerbações e quando hospitalizados permanecem por menos dias internado, melhoram a
qualidade de vida e a capacidade de realizar exercícios.
Em parceria com o NIAFS serão realizados programas de exercícios físicos individuais e coletivos
envolvendo os pacientes encaminhados pelo Hospital de clínicas da UFU.
Outras ações:
O NIAFS vem realizando eventos científicos a partir da necessidade de materialização de um
espaço destinado a discutir, analisar e refletir sobre temáticas que envolvem grupos de pessoas com
necessidades especiais na área da Educação, Educação Física e Educação Física Adaptada. Estes
são importantes para interlocução, interdisciplinaridade e favorecimento da interação, de fato, entre
ensino, pesquisa e extensão. Entre os principais eventos realizados podemos destacar:
Jornada Interdisciplinar do Niafs: sua realização é semestral. Até o ano de 2006 foram realizadas IV
versões.
Simpósio de Educação Física Adaptada: sua realização é anual. Em 2007 foi realizado a 2ª versão.
Semana do Idoso: sua realização é anual em parceria com o SESC. Até o ano de 2006 foram
realizadas XII versões desse evento.
Além desses eventos são realizados:
Torneio de Atletismo para alunos com deficiência mental participantes do programa de atendimento
à pessoa com deficiência e alunos da APAE-Uberlândia.
Painel de Estágio apresentado pelos acadêmicos/estagiários da disciplina Estágio Prático em
Educação Física e Esportes Adaptados da FAEFI. Realizado ao final de cada semestre letivo com
o objetivo de divulgar as experiências vivenciadas durante o estágio prático com alunos com
deficiência.
Evento de encerramento do programa de atendimento à pessoa com deficiência, realizado ao final
de cada semestre letivo, no qual são desenvolvidas diversas atividades recreativas e sociais para
congregar todos os integrantes do PAPD (alunos deficientes e seus familiares, estagiários, monitores
e coordenadores).
“Aulão” do AFRID: é uma atividade dinâmica e divertida que visa a estabelecer um momento de
confraternização entre todos os participantes do programa AFRID. Realizada a cada semestre, na
segunda quinzena do mês de início das atividades. São desenvolvidas diferentes atividades coletivas
procurando, dessa forma, incentivar todos a participarem de uma gincana esportiva/social. Envolve
todos os participantes do programa AFRID (idosos, coordenador, professores e
acadêmicos/estagiários).
Avaliação dos atletas paraolímpicos: consiste na avaliação médica, fisiológica, psicológica,
biomecânica, antropométrica, nutricional e técnica, com o objetivo de subsidiar os técnicos dos
atletas paraolímpicos a planejarem e desenvolverem os treinamentos com vistas às competições
internacionais como mundiais de modalidade, pan-americanos e paraolimpíadas.
Ela é realizada em parceria com a rede CNESP (UNIFESP, UFMG, UPE, UFU) e a UNESP/RIO
CLARO e UFRN, juntamente ao CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro).
Vale ressaltar que todos os programas e ações do NIAFS envolvem acadêmicos do curso de
Educação Física (estágio curricular, extracurricular, monitoria voluntária ou remunerada) e
constituem-se em espaço rico de construção de experiências de ensino vivenciado aliando teoria e
prática. Possibilita desta forma a aplicação dos conhecimentos e informações recebidos nas
disciplinas acadêmicas.
MÉTODO
Em que pese à especificidade de cada programa, acima referido, a metodologia de trabalho
fundamenta-se no respeito às necessidades e interesses de cada grupo participante. As atividades
são determinadas levando-se em consideração as possibilidades e interesses dos indivíduos e as
limitações decorrentes dos problemas apresentados e, orientam-se pelos elementos da cultura
corporal de movimento, tais como: jogo, esporte, dança e ginástica (COLETIVO DE AUTORES,
1992).
Nas reuniões de grupos os acadêmicos envolvidos em cada programa têm a possibilidade de
discutir suas dificuldades e buscar soluções para os percalços encontrados tais como: adequação
das estratégias metodológicas, adaptação de recursos materiais, relação com o aluno participante,
além de minimizar as barreiras decorrentes do preconceito construído ao longo de sua vida.
CONCLUSÃO
As experiências de ensino e extensão vivenciadas nos programas desenvolvidos no NIAFS têm
fortalecido a concepção dos profissionais envolvidos sobre a possibilidade e viabilidade de
desenvolver atividades na área da Educação Física com pessoas que por diversas razões, em nossa
sociedade pautada pelo rendimento têm sido segregadas e discriminadas.
A atuação dos acadêmicos nesses programas é de fundamental importância na sua formação inicial,
além de servir de estímulo ao seu trilhar na área da Educação Especial, que ainda hoje carece de
profissionais qualificados. Outro fator importante é que contato com os participantes dos
programas, certamente resultará em mudanças expressivas em sua concepção de homem e
sociedade e, em conseqüência, compreender as diferenças entre os indivíduos.
Esperamos que as experiências aqui veiculadas possam servir para alicerçar futuras ações e
implementações de outros programas que contribuam com o desenvolvimento e educação de
pessoas com necessidades especiais e para a formação de futuros profissionais para a área da
Educação Especial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARMO, Apolônio Abacio do. Inclusão escolar e a Educação Física: que movimento é este? In:
MARQUEZINE, M. C.; ALMEIDA, M. A.; TANAKA, E. D. O. Perspectivas
multidisciplinares em Educação Especial II. Londrina: EDUEL, 2001. P. 91-112.
OMOTE, Sabão. Inclusão: Perspectivas em pesquisa. In: Colóquios sobre pesquisa em
educação Especial. Londrina: Eduel, 2003.
SOARES, Carmem Lúcia et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez,
1992.