http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/132.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2


O ALUNO COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE LONDRINA/PR.

Mariana Bruno da Silva

Professora de Educação Física

Prof. Dr. Nilton Munhoz Gomes

Departamento de Educação Física – UEL

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi identificar como a disciplina educação física no ensino regular vem sendo trabalhada com a inclusão do aluno com deficiência física (DF). A pesquisa é do tipo descritiva e teve como participantes 17 alunos com deficiência física matriculados de 1ª a 4ª serie do ensino regular de Londrina/PR foram observados durante uma aula de educação física. Os resultados da pesquisa nos mostram que 80% dos alunos com DF participam das aulas de educação física com os demais alunos, mais de 70%  possuem um bom relacionamento com os demais alunos, sem existir qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Estes motivos somados a dedicação observada por parte da maioria dos professore em propiciar suas aulas de educação física para todos os alunos da turma, conclui-se que a educação física é uma disciplina que favorece a inclusão de alunos com deficiência física.

Introdução

Atualmente, vem sendo muito discutida a proposta da inclusão de portador de necessidades especiais (PNE) no ensino regular, devido ao surgimento crescente de leis que garantem o direito do PNE de freqüentarem o ensino regular, sem qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Rosadas (1991) cita que as crianças com deficiência possuem as mesmas necessidades que as crianças ditas normais: necessidades afetivas, sociais, físicas e intelectuais.Para ele, os PNE também possuem um grande potencial a ser despertado e acreditado, precisando conviver em sociedade para desfrutar dos benefícios que o bem social proporciona ao homem.

Especificamente falando do aluno com deficiência física, que é foco desta pesquisa, questões como barreiras arquitetônicas, falta de materiais adaptados, despreparo do professor e o desconhecimento dos benefícios obtidos em escola regular tanto para os PNE como para os não PNEs têm sido utilizadas como argumentos para a não inclusão deste no âmbito escolar regular.Para Porretta (2004), até mesmo os alunos portadores de deficiência física severa podem ser bem sucedidos em ambientes de educação física regular, desde que sejam feitas atividades adequadas, e os serviços de apoio apropriados (ex: assistente de professor) sejam oferecidos.

Considerando essas questões e a crescente importância do tema exposto, este estudo se justifica pela necessidade de observar como a educação física vem sendo trabalhada junto ao aluno com deficiência física na escola regular, e se ela favorece ou não a inclusão desse aluno.

Com isso, o presente estudo tem como objetivo identificar como as aulas de educação física no ensino regular vem sendo trabalhadas para a inclusão do aluno com deficiência física.

Método

Foram participantes deste estudo e esta aconteceu de maneira indireta, 17 alunos com diferentes tipos de deficiência física (DF) matriculados de 1ª a 4ª serie do ensino regular de Londrina/PR, sendo 8 do sexo feminino e 9 do sexo masculino, com idade varinado entre 6 a 10 anos e seus respectivos professores. A participação indireta se deu pelo fato de que os dados foram coletados através da observação de uma aula de Educação Física de cada participante, que buscou levantar  como se procedia a participação destes alunos com DF durante estas aulas bem como, quais estratégias o professor utilizava para incluir estes alunos nas atividades propostas. Os tipos de deficiência física apresentadas pelos participantes foram: paralisia cerebral, hidrocefalia, espinha bífida e paraplegia.

Após autorização para a realização do estudo pela Secretaria Municipal de Educação, foram realizadas visitas às escolas para autorização por parte da direção, bem como para levantar o dia, horário e  turma na qual o (s) aluno(s) com deficiência física participa (m) das aulas de educação física. Após autorização por parte da escola, foi solicitado à direção o encaminhamento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TECLE) para os respectivos responsáveis pelos alunos participantes.  Após o retorno dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido dos responsáveis, agendou-se com a direção da escola a data para observação da (s) aula (s) de Educação Física. Ficou determinado que após a observação da aula, o professor de educação física preencheria o TECLE. Esta medida foi adotada com a intenção de preservar o conhecimento do professor sobre o que se estaria observando durante sua aula. Para a observação destas aulas, elaborou-se um protocolo próprio ficando este definido como ‘Ficha de Observação’, em que eram anotadas observações relevantes para a pesquisa.

Os dados foram analisados de maneira qualitativo e quantitativo. Para tal utilizou-se da pesquisa descritiva. Thomas e Nelson (2002, p. 280) definem a pesquisa descritiva com um estudo de status amplamente utilizado na área da educação e das ciências comportamentais, na qual o valor está na resolução de problemas e as práticas melhoradas por meio da observação, análise e descrição objetivas e concretas. Foi utilizado nesta pesquisa a técnica  observaçional, ou seja, não houve nenhum tipo de intervenção do pesquisador antes, durante ou depois da coleta de dados.


Resultado e Discussão

Apresentaremos e discutiremos os resultados buscando esclarecer se os alunos com deficiência física (DF) participam das aulas de educação física com os demais alunos da turma em que estão incluídos, quais são os tipos de organização das aulas de educação física em que os alunos com deficiência física mais participam, se estes alunos sentem dificuldades durante as aulas de educação física, se recebem ajuda/auxilio quando sentem dificuldade e se sim de quem e qual atitude tomam ao sentir dificuldade durante as aulas de educação física.


Tabela 1 - Participação do aluno portador de deficiência física nas aulas de educação física com os demais alunos

 
 
 
Participa nas aulas 
Freqüência
 
de Educação Física
da
%
com os demais alunos
resposta
 
Sim
14
82,35
Às Vezes
3
17,65
Não
0
0
Total
17
100
 
Esta tabela nos permite observar que 14 alunos (82,35 %) com DF participam ativamente das aulas de educação física juntos com os demais, e que 3 (17,65 %), participam às vezes dessas aulas com os demais alunos. Os motivos observados da não participação destes 3 alunos nas aulas é o excesso de atividades competitivas, ficando evidente a cobrança  dos demais alunos na execução das atividades.Nestes casos, fica explicita a importância de que ocorra uma boa preparação da turma de alunos que acolherá um aluno com necessidades educativas especiais, bem como um  planejamento adequado das aulas, proporcionando a participação mútua sem discriminações, cobranças ou prejuízos para qualquer das partes.

Um dos professores comentou, de maneira informal, após observação da aula, que sua aluna no início das aulas sempre questiona quais atividades serão realizadas, e se estas tiverem um caracter competitivo, sempre opta por não participar nas atividades.

Maciel (2000) defende que é necessário que os professores e alunos das escolas inclusivas tenham conhecimento sobre o que é a deficiência do (s) aluno (s) incluído (s), quais são suas causas, características e as necessidades educativas especiais deste aluno. Através deste conhecimento acredita-se que as atividades possam ser mais propicias, evitando situações em que o aluno desista de realizar as atividades propostas por sentir dificuldade, dor ou até mesmo passar por situações de cobrança e preconceito dos demais alunos da turma.


Tabela 2 - Organização das atividades nas aulas de educação física
  
 
Freqüência
 
Organização
da
%
 
resposta
 
Em grupo
4
13,79
Parte em grupo
2
6,9
Dupla
12
41,38
Parte sozinho
2
6,9
Sozinho
8
27,58
Conforme atividade
1
3,45
Total
29
100
 

A tabela 2 apresenta como acontece a participação do aluno com DF nas aulas de educação física, ou seja, como o professor elabora as atividades. Nesta questão pode-se anotar mais de um tipo de estratégia. 

Observando a tabela percebemos que a estratégia mais utilizada pelos professores, num total de 12 (41,38 %) apontaram para atividades em duplas. Atividades para realizar sozinho, apareceu 8 vezes (27,58 %). Atividades em grupo aparece apenas 4 vezes (13,79 %), Parte das atividades em grupo e parte sozinho appareceram 2 (6,9%) vezes cada. Observou-se em um caso (3,45%) que a opção de como realizar a atividade era decidida pelo aluno, e conforme a atividade, o aluno optava em como realizá-la, sozinho, em dupla ou em grupo, ocorrendo com isso, uma grande variação de estratégias durante as atividades.  

Os dados da tabela 2 se assemelham aos resultados do estudo de Lopes (1999) no qual procurou identificar a viabilidade ou não da prática de educação física num contexto inclusivo com um portador de deficiência física numa turma de quarta série do ensino público no estado de São Paulo. Esse estudo concluiu que a participação desse aluno é mais efetiva nas atividades individualizadas e sinalizou para a necessidade da criação de espaços dentro da escola para a discussão e compreensão, pelos alunos, dos aspectos referentes à deficiência, pois isto, de certa forma, pode influenciar a participação do aluno portador de deficiência junto com os demais nas aulas de educação física. Beaupré (1997, p.163) ressalta as atividades em grupo afirmando que esta noção de grupo conduz à importância de se considerar a dimensão social entre os alunos. É necessário evitar que o aluno com deficiência seja rejeitado ou simplesmente negligenciado por seus pares ditos “normais”.


Tabela 3 - Dificuldade dos alunos portadores de deficiência física nas aulas de educação física

 

 
Freqüência
 
Dificuldade
da
%
 
resposta
 
Pouco
4
23,53
Médio
0
0
Muita
2
11,76
Nenhuma
11
64,71
Total
17
100
 

A tabela 3 objetiva demonstrar se os alunos com DF sentem dificuldade durante as aulas de educação física. Podemos observar que 11 (64,71 %) dos alunos com DF não sentem dificuldade durante as aulas,  4 alunos (23,53 %) observou-se sentir pouca dificuldade e 2 alunos (11,76 %).

Durante a observação de uma das aulas, percebeu-se certo entusiasmo, mais do que os demais, de uma professora que propiciava a participação da aluna com DF adequando todas as atividades e constantemente motivando-a a realizar as atividades propostas. Importante apontar que quando esta aluna participava de atividades competitivas, sempre perdia para os adversários, porém a professora exigia que a tarefa fosse realizada até o fim por todos os alunos, inclusive pela aluno com DF.

Fabiane e Strapasson (2006) defendem a idéia de que  os professores de educação física devem estimular a criança com deficiência física nas suas dificuldades para ela superar suas limitações, uma vez que se suas dificuldades forem deixadas de lado poderá bloqueá-la, trazendo problemas na sua formação.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) enfatizam que as atividades propostas nas aulas de educação física devem ser adaptadas, permitindo a participação de todos de acordo com as suas possibilidades.

Entre os alunos que apresentaram muita ou pouca dificuldade em realizar as atividades, estas eram atividades que envolviam jogos pré-desportivos, e nestes casos, a dificuldade se resumia no fato dos demais alunos não passarem a bola para ela participar da atividade. Nestes casos,  Lopes (1999) destaca que seria importante conscientizar os demais alunos sobre a deficiência que o aluno possui; esclarecer a  importância em vivenciar, compartilhar e colaborar com a participação do aluno nas atividades propostas ao longo das aulas de educação física.  Maciel (2000) justifica esta conscientização ressaltando que esta leva os alunos de classes regulares a aceitarem e respeitarem os portadores de deficiência, e isto é um ato de cidadania.


Tabela 4 – Auxilio ao aluno com deficiência física quanto a dificuldade
 
 
 
Recebe ajuda
Freqüência
 
quando sente
da
%
dificuldade
resposta
 
Sim, do professor
3
17,65
Sim, do colega de turma
6
35,29
Sim, da auxiliar
4
23,53
Não
4
23,53
Total
17
100
 

A Tabela 4 nos mostra que diante da uma dificuldade, quem auxilia os alunos com DF,  o professor, os amigos, ou ele não recebe ajuda? 

Dos 17 alunos, 13 (76,47%) receberam ajuda/auxilio em situação de dificuldade durante as aulas, 4 (23,53 %) não receberam ajuda/auxilio. Dentre os 13 alunos que receberam ajuda/auxilio durante as aulas de educação física, 6 (35,29 %) receberam de algum colega de turma; 4 alunos (17,65 %) receberam ajuda/auxilio do auxiliar, e apenas 3 alunos (17,65 %)  receberam ajuda/auxílio do professor.

Convem destacar que em duas escolas, havia a presença do professor auxiliar de apoio, sendo que em ambas as escolas esses profissionais se dedicavam durante todas as aulas, ao aluno com DF, ora empurrando a cadeira de rodas, ora auxiliando na execução das atividades propostas, no deslocamento, entre outras atitudes. Durante as observações das aulas notou-se que com a presença da auxiliar, o (a) professor (a) de educação física divide igualmente sua atenção entre todos os alunos, cabendo a este (a) o planejamento de aulas/atividades adequadas e motivação para a participação de todos os alunos, inclusive o aluno com DF.

“É natural que se encare o trabalho em equipe entre o professor de apoio e o regular, dentro da sala de aula, como peça fundamental do sucesso da educação inclusiva”. (SANTOS e RODRIGUES, 2006, p.163) Neste mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação   (1996) e a Declaração de Salamanca (1994)  esclarecem que, quando necessário, deverá haver serviços de apoio especializado nas escolas regulares com intuito de proporcionar atendimento às peculiaridades da clientela especial. Essas formas de apoio devem ser diversificadas para responder às necessidades educativas especiais utilizando  as ajudas e os recursos técnicos necessários, tais como: instituições de formação, centro de recursos, escolas e devem ser chamados a exercer este apoio professores, consultores, psicólogos educacionais e terapeutas, cuja ação deve ser coordenada no local.

Conclusão

Concluímos que a inclusão dos alunos com deficiência física analisados que estudam no ensino regular está sendo feita, apesar de ainda ocorrerem algumas barreiras importantes, como, por exemplo, a ausência de uma auxiliar de apoio quando se faz necessário, a falta de informações  dos professores sobre os benefícios que a disciplina educação física traz a esses alunos e a falta de adaptações físicas nas escolas regulares.

Notou-se que ainda é preciso aprimorar as técnicas de inclusão a serem utilizadas pelos professores para eliminar as barreiras e facilitar a participação dos alunos com deficiência física em escolas regulares. Os dados obtidos nos apontam que existe uma boa interação entre o aluno com deficiência física e os demais alunos da turma em que este está incluído. Sugere-se que sejam utilizadas atividades propícias e motivantes, quando possível atividades em grupo, de preferência alternar as aulas com caráter competitivo para não competitivo, para uma melhor socialização entre todos os alunos, proporcionando cooperação e evitando a discriminação e o preconceito dos demais alunos, uma vez que é através do convívio que todos os alunos se desenvolvem socialmente. Evitar atividades que limite a participação do aluno simplesmente por este portar uma deficiência física é uma das principais posturas que o professor de educação física deve adotar sem prejudicar nenhum aluno. O objetivo principal desses profissionais é buscar atividades adequadas e que visem ampliar os ganhos motores, afetivos e sociais a todos os alunos presentes no ensino regular.   

A pesquisa demonstrou que a educação física é uma disciplina  que favorece a inclusão dos alunos portadores de deficiência física, uma vez que a mesma apresenta grande afinidade por parte desses alunos. A maioria dos professores, mesmo com algumas dificuldades, demonstram grande interesse na melhoria desse processo, buscando soluções para possíveis problemas, participando de perto das atividades dos alunos com deficiência física através da eliminação de barreiras, propiciando as atividades e motivando a sua participação efetiva. Isto,  somada à aceitação do aluno com deficiência física e conscientização dos demais alunos isentos de preconceitos, são fatores cruciais para que o aluno com deficiência física consiga usufruir os benefícios sociais, afetivos e motores presentes em aulas regulares de educação física. 


Referência Bibliográfica

BEAUPRÉ, Pauline. O desafio da integração escolar: ênfase na aprendizagem acadêmica In: MANTOAN, Maria Teresa Eglér et  al. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: SENAC, 1997, p. 162-166.

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_______ . Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

Declaração de Salamanca: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Disponível em: <http://www.pcd.pt/apd/decsal.php>. Acessado em: 30 set. 2006.

FABIANE, Flávia; STRAPASSON, Aline Miranda. Educação Física inclusivista versus Educação Física exclusivista – um relato de experiência. Revista Virtual EFArtigos,  v. 3, n. 22, mar. 2006. Disponível em: <http://efartigos.atspace.org/efescolar/artigo60.html>. Acessado em: 15 out. 2006.

LOPES, Kathya Augusta Thomé. Aluno com Deficiência Física nas Aulas Regulares de Educação Física: prática viável ou não? Um estudo de caso. 1999. Tese ( Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Universidade de São Paulo, São Paulo.

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PORRETA, David L.. Amputações, Nanismo e Lês Autres In: WINNICK, Joseph P.. Educação Física e Esportes Adaptados. 3ª ed. Barueri: Manole, 2004, p.229-247.

ROSADAS, Sidney de Carvalho. Educação Física Especial Para Deficientes: Fundamentos da avaliação e aplicabilidade de programas sensórios motores em deficientes. ed. São Paulo: Atheneu, 1991.

SANTOS, Maria Cristina; RODRIGUES, David. A organização das escolas para a diversidade. Investigação em Educação Inclusiva, Lisboa, v. 1, p.159-180, jun 2006.

THOMAS, Jerry R., NELSON, Jack k. Métodos de Pesquisa em Atividade Física.    3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.