http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/150.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
OS EX-ALUNOS DA CLASSE ESPECIAL DE UM COLEGIO DE ELITE
Adarzilse Mazzuco Dallabrida
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professora do Curso
de Mestrado em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL
RESUMO
O presente estudo analisa as motivações e as expectativas das famílias que selecionaram o Colégio
Coração de Jesus, localizado em Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, para
proporcionar educação formal a seus filhos deficientes, entre as décadas de 1970 a 1990, e
descreve a organização, o funcionamento e os resultados obtidos nas Classes Especiais implantadas
nesta instituição para atender a esta população. O Colégio Coração de Jesus foi implantado em
1898 e consolidou-se, no decorrer do século passado, como uma instituição de alto padrão
atendendo à elite catarinense. Buscou-se compreender as razões pelas quais o Colégio resolveu
abrir espaço para o atendimento as pessoas deficientes e que tipo de escolarização foi oferecido
nestes 20 anos de atendimento.Com relação à família, buscou-se entender os critérios e as
motivações, correlacionando com a expectativa de escolarização e de futuro do filho deficiente.
Partindo do pressuposto de que o conceito de deficiência é uma construção social, esta pesquisa
apóia-se nos estudos desenvolvidos por Bueno (1993, 1997, 2001). As questões sobre classe
social, escolarização, herança familiar e destino social fundamentam-se na teoria bourdieusiana e em
estudos brasileiros, como, por exemplo, os de Nogueira, Almeida e Ortiz. Os procedimentos
utilizados para coletar os dados foram a análise de documentos e entrevistas. Realizaram-se 15
entrevistas com as famílias de sete alunos que estudaram nestas classes especiais, três professoras e
um ex-aluno. As entrevistas foram transcritas na íntegra e os dados categorizados em três eixos
temáticos: a família, o Colégio Coração de Jesus e o destino social. Os principais resultados
apontam: a) quanto à escolha do Colégio Coração de Jesus, concluiu-se que desde o nascimento
deste filho, estas famílias estão travando uma batalha, tanto interna quanto externa, na busca de um
atendimento que normalize a questão da deficiência, e encontraram no CCJ esta abertura, sendo
que as motivações e as expectativas das famílias nesta escolha deveu-se mais pela busca de um
Colégio de tradição, que oferecesse a oportunidade de convívio com pessoas da mesma origem
social, do que pela expectativa com relação às possibilidades de escolarização dos filhos; e b)
quanto à forma como o Colégio Coração de Jesus se organizou para atendê-los, concluiu-se que
houve um descompasso entre os objetivos das famílias e o planejamento dos professores. As
famílias foram buscar no CCJ um atendimento mais escolarizante, entretanto, a escola, não
acreditando no potencial de aprendizagem dos conteúdos escolares destes alunos, buscava
implementar, mesmo sem estrutura, atividades de vida diária, que eram comuns nesta época nas
escolas especiais. O desfecho das classes especiais com o projeto de integração veio ao encontro
dos objetivos das famílias, através das menções de valorização destinada ao diploma e à cerimônia
de formatura relatadas pelas famílias, apesar do descrédito sobre a validade das avaliações e,
principalmente, tendo consciência do valor simbólico deste diploma. Concluiu-se que essas famílias
travaram uma luta contra a exclusão de seus filhos nos espaços destinados aos não-deficientes;
abriram caminhos para que estes pudessem percorrer suas trajetórias de vida dentro do padrão que
almejavam. Em primeiro lugar, veio a trajetória escolar. Valendo-se do capital social, foram criadas
as classes especiais no Colégio Coração de Jesus e, com isto, conseguiram que o desfecho escolar
fosse de sucesso, pois a maioria dos alunos saiu com o diploma do Ensino Fundamental. Em
segundo lugar, a trajetória profissional. Uma cooperativa foi iniciada (Cooperativa Especial de Pais,
Amigos e Portadores de Deficiência) para garantir a ocupação e, conseqüentemente, traçar assim o
destino social destes filhos.
Descritores: Familia – Deficiência mental– Elite