http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/151.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

PERFIL DAS FAMÍLIAS COM FILHOS DEFICIENTE MENTAL QUE FREQÜENTAM A APAE DE MISSAL E SANTA HELENA – PR
Ms. Zelina Berlatto Bonadiman
Luisa Cordélia Soalheiro
Josiani Fillwock Suzin
UNIOESTE/PR


RESUMO

Um dos principais problemas do deficiente mental é a aceitação, pela sociedade que consumista e valoriza mais quem produz, o que vende e o lucro, outro problema é a falta de instrução dos pais sobre como  ajudar o deficiente a se desenvolver, espera-se  contribuir para que algumas mudanças possam acontecer na sociedade, na escola e nas famílias. Tendo como objeto de estudo, as famílias de  deficientes, pensou-se analisar a opinião dos pais e da família em geral, sobre as características do desenvolvimento e aprendizagem dos deficientes mentais que freqüentam a APAE de Missal e  Santa Helena / PR, e caracterizar estas famílias com relação a educação dos filhos. Os  objetivos específicos  foram de, Caracterizar os tipos de atividades desenvolvidas pelo deficiente em casa e na escola; Verificar a influencia das características e condições familiares e da escola sobre o desenvolvimento e aprendizagem do deficiente; Verificar a opinião dos familiares no que se refere ao processo de educação do deficiente. E também o grau de participação, dos pais, nas atividades diárias, em casa e na escola;  e Verificar o grau de autonomia do deficiente em casa e na escola. Na revisão de literatura optou-se por escrever e estudar os seguintes tópicos: Características dos Deficientes, sendo Desenvolvimento humano, O deficiente e aprendizagem, A Família e a Educação, Educação Especial e seus  Aspectos Legais, Modalidades de ensino, Escola Especial e Histórico da APAE de Santa Helena e de Missal. Como  Método caracterizou-se o estudo como descritivo, a população  foi de  157 familias  com filhos deficientes mentais matriculados nas APAES de Santa Helena e Missal a  amostra foi composta de 50 famílias, sendo 30, em santa Helena e 20 em Missal. Como instrumento organizou-se uma entrevista semi-estruturada que  foi aplicado pelas pesquisadoras em forma de entrevista,  coletados os dados, foram transcritos e analisados  qualitativa e  quantitativamente.buscou-se durante as entrevistas, particularidades físicas, materiais, sócio-econômicas e culturais da vida das crianças investigadas. Os dados irão expressar as características  de moradia, da estrutura familiar, da renda,da participação nas atividades cotidianas e escolares e ainda aspectos de saúde da família e da criança deficiente. Nos resultados pode-se perceber,  com este estudo,  que cada deficiente mental que freqüenta a APAE de Santa Helena e Missal, apresenta um perfil de desenvolvimento e aprendizagem diferente, pois cada um tem a sua história, o seu diagnóstico, apesar das condições familiares apresentarem certa semelhança e a escola oferecer oportunidades semelhantes a todos. Este estudo mostrou que as famílias  possuem baixa escolaridade o que gera emprego com remuneração baixa, e a renda mensal gira  em torno de 1 a 2 salários,  O baixo nível de escolaridade dos pais, diminui as chances para o pleno desenvolvimento do deficiente. A falta de instrução dificulta a aceitação do deficiente na família. De todos os pais entrevistados somente uma casa fez adaptações arquitetônicas e mudanças na estrutura física da casa e do pátio da casa, mas mesmo sendo um  dentre os 50 pesquisados é importante ressaltar a consciência desta família, que difere das outras também, pelo nível sócio-econômico, nível de instrução cuja escolaridade foi superior aos outros entrevistados. O estudo apontou com relação á saúde que 90 % das famílias dependem do Sistema, SUS para atendimento e tratamento de saúde, ao serem questionados responderam ser muito alto o valor das parcelas do seguro saúde. Um dado curioso que o estudo apontou foi que 50% das famílias entrevistadas têm e utilizam de carro próprio para se locomover.  Também mostra  que na educação dos filhos, na organização de conteúdos escolares, na cobrança de melhor ensino ou estratégias de ensino a baixa escolaridade interfere. O estudo mostrou que os pais ao serem convocados pela escola poucos se fazem presentes, e dizem estar bom assim, que pelo menos o filho/a  fica um período do dia na escola. Tudo isto nos leva a perceber que as famílias  não acompanham o desenvolvimento do seu filho deficiente. O que faz a diferença é a capacidade de cada um, sendo que todos convivem com os mesmos professores, que acabam não tendo a disponibilidade de estudar cada caso e traçar um plano de ensino especial para cada um destes alunos. E o que se nota é que os alunos  é que se adaptam às condições que lhe são oferecidas.Durante as entrevistas, com a oportunidade de observar cada família em especial, onde moram, como vivem, como tratam os seus filhos, o que esperam da escola e da sociedade em relação a eles, estas famílias  acabam tendo uma atitude conformista, aceitando aquilo que a escola e a sociedade lhes oferecem, mesmo acreditando que muitas situações são injustas e tanto eles quanto os filhos precisariam de melhores condições de vida, pode-se dizer que o grande desafio está em transformar a imobilidade em mobilidade, que o tempo de vida dos deficientes mentais caracterizado pelo tédio e pela monotonia, passe a ser de participação no saber, no saber fazer e no fazer o que se sabe. Assim, quando pesquisados, os pais preferem dizer que está tudo bem, que o ensino é bom, mas que as condições de aprendizagem e desenvolvimento dos filhos é que são limitadas, chegando a dizer que o filho não consegue aprender nada, mas que ao freqüentar a escola ele sai de casa, relaciona-se com outras pessoas do seu meio, quando não conseguiria se relacionar de outra forma. É importante repensar a escola como um todo, procurar novos rumos para  novas ações, bem como assumir novas posições com relação à educação do deficiente mental.Em relação aos pais, estes devem ser incentivados a procurar informações e através destas, serem mais ousados na busca de opções de realização do potencial de seus filhos. A integração dos mesmos com a escola deve acontecer de forma real numa busca conjunta de soluções, utilizando-se até mesmo do poder de influência da mídia perante a sociedade e as autoridades competentes. Mesmo considerando as limitações do deficiente mental, eles só conseguirão alcançar seu potencial quando as instituições e as famílias venham a humanizar o atendimento,  a eles oferecidos,  e passem a tratá-los como pessoas normais, que apenas precisam de mais atenção, mais cuidado e mais carinho e não com  super proteção ou até mesmo piedade e de serem eternamente vistos como crianças, sem condições de crescer.    Não se pode mais falar sempre em futuro do deficiente mental, quando eles precisam viver no presente.  Ao longo do tempo não se vê mudanças significativas até porque a preocupação é com o discurso, mas faz-se urgente e necessário que o discurso  seja  coerente com a prática, adequando a estrutura do ensino, os conteúdos e os métodos para a educação, trabalhando com a individualidade, e sempre criando espaço para a participação dos pais, pois estes, em primeiro lugar, devem acreditar na capacidade de seus filhos e nas possibilidades que a educação pode lhes oferecer. É possível planejar objetivos práticos e buscar subsídios para alcançá-los. A família espera da escola uma formação para o trabalho e o deficiente mental nem sempre pode assumir uma profissão, mas poderá realizar atividades úteis. Cabe a escola o papel de preparar o aluno e também os familiares e a comunidade, visando o ingresso deste para a vida produtiva e assim sua participação efetiva na comunidade em que vive.  A escola possui a sua responsabilidade sobre o deficiente na escola é o local onde a aprendizagem acontece, o desenvolvimento é percebido, onde as interações  sociais se concretizam.. Assim, a pessoa conquistará a sua autonomia e terá até mais saúde e qualidade de vida. Questionou-se também, sobre atividade física realizada pela família e considerando que a Atividade Física é um comportamento para a prevenção de doenças e manutenção da saúde deve-se estar consciente que a Educação Física deve enfatizar a participação, a decisão, a autonomia e não a dependência, e também contribuir com o processo de construção de corpos culturais, por meio da participação em atividades que valorizem a realização do aluno, respeitando todos os aspectos da dimensão humana e do meio ambiente. A Educação e em especial a Educação Física deve desenvolver valores e atitudes como justiça, liberdade, autonomia, respeito, cooperação, fraternidade, participação e criatividade, segundo a Proposta Orientadora das Ações das APAES, elaborada pela Federação Nacional das APAES (Brasília, 2001), um dos grandes desafios considera-se ser, incentivar a autonomia do aluno, formando um sujeito autônomo, pois a maioria dos alunos adultos, dos quais se entrevistou as famílias não são autônomos e as mesmas têm dificuldades em promover sua autonomia, mesmo sabendo que é uma necessidade, e que  suas maiores reivindicações são de ajuda para isto. Para finalizar a entrevista pediu-se se a família ou outro membro gostaria de acrescentar alguma coisa, em relação á escola e ao deficiente. Alguns pais finalizaram falando da aceitação do deficiente na família, por exemplo,  que a médica obstetra deveria ter preparado a mãe, deveria ter dito que ele era deficiente e que as pessoas vinham pedir se ela ia conseguir cuidar dele ao invés de ajudar ficavam dizendo ser difícil. Outra mãe disse ser difícil aceitar, pois quando nasceu era normal e ficar deficiente depois é mais difícil a aceitação. Para Fonseca ( 1991) os pais têm  um papel crucial na integração da criança deficiente, e eles devem ser envolvidos neste processo porque são os primeiros agentes da intervenção educacional. É necessário disseminar aos pais a informação e que a hostilidade prejudica o processo.  Outro ponto ressaltado foi com relação á escola, pois o futuro do  deficiente depende tanto da natureza do meio social em que vive quanto de sua educação e treinamento. A crescente complexidade da sociedade  moderna e a tendência dos empregos em exigirem muita formação, lançam uma sombra sobre o objetivo da independência da criança deficiente. Disseram os pais: “não tenho queixa da escola, pra mim se fizerem o gosto do filho está ótimo” ;  “outra gostaria que as professoras viessem me visitar”; ou  “só tenho a agradecer a escola, e que continuassem a atender o deficiente”; vários pais fizeram a mesma colocação: “ gostaria que a escola especial fosse como uma creche, ou casa de apoio para o deficiente ficar o dia todo” e que a escola faz  o quem tem de fazer se os deficientes não querem fazer as professoras não tem culpa. A partir destas declarações observa-se que na opinião dos pais a educação dos filhos está  ótima, que a escola cuida bem do filho deficiente, aceitando tudo simplesmente porque tem um lugar onde deixar seu filho e não precisa se preocupar com o mesmo. A  escola é um ambiente que pode auxiliar muito no desenvolvimento do deficiente, mas os pais devem ir á escola e conhecer seu funcionamento, sua função, suas atividades.       Ao terminar o estudo, nosso comprometimento com o tema torna-se maior, até porque conhecendo melhor a realidade, abre-se um leque de problemas para os quais são  necessários,  a busca de soluções e, na medida do possível, sensibiliza-se para esta busca. Para ir além neste  estudo,  procurou-se parcerias com outros órgãos na procura de respostas a alguns anseios da família, no sentido de minimizar seus problemas e buscar melhorias na qualidade de vida do deficiente mental como, por exemplo, recorrer a Itaipu Binacional em busca de verbas para projetos que favoreçam a profissionalização como o plantio e cultivo de plantas medicinais. Também estamos estudando a possibilidade de fazer uma lei municipal, a exemplo da lei estadual nº 15000 de 26/01/2006, publicada no Diário Oficial nº 7163 de 09/02/2006 que concede dispensa de parte da jornada de trabalho à servidora pública que seja mãe, esposa ou companheira, tutora, curadora ou responsável por pessoa portadora de deficiência. Enfim, o trabalho de assessoria, pesquisa e orientação é contínuo  e necessário até que toda população entenda que todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades,  que são capazes, mas que é preciso oferecer condições para seu desenvolvimento pleno. O estudo como um todo, poderá contribuir para a formação do ser humano integral, buscando o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo-social, sendo que a família, a escola e a comunidade, conscientes da importância deste tripé e sendo a base o mesmo, poderá, os pais ,  aceitar o deficiente mental sem preconceitos e estes conseguirão  “crescer e desenvolver”  como pessoa.


Bibliografia:
BEYER, O.H. A proposta da educação inclusiva: contribuições da abordagem Vygotskiana e da experiência alemã. In: Revista Brasileira de Educação Especial. Marilia/SP : Unesp-publicações, 2003 ISSN 1413-6538 nº 2 ( p.163-179).
BUSCAGLIA, L.F. Os deficientes e seus pais. Rio de Janeiro : Record.1983.
CATANIA, A.C.  Aprendizagem: comportamento, linguagem e Cognição. 4ª ed. Porto Alegre : Artes médicas. 1999.
CARVALHO, R.E. Temas em Educação Especial. Rio de Janeiro : WVA, 1998.
FERREIRA,J.R. A Construção Escolar da Defiência Mental . São Paulo : Unimep. 1989.
FONSECA, V. da. Educação Especial.  3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.
TIBOLA, I.M.  APAE Educadora -  a escola que buscamos: proposta orientadora das ações educacionais. Brasília : federação Nacional das Apaes, 2001.


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