http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/155.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NA CLASSE ESPECIAL DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DUQUE DE CAXIAS
Projeto de Extensão – Registro no GAP/CE: 019160
Autoras: Maureline Petersen1
Débora Carvalho Soccal2
Universidade Federal de Santa Maria
1  Maureline Petersen, acadêmica do Curso de Educação Especial, email gringa_maure@yahoo.com.br
2  Débora Soccal, acadêmica do Curso de Educação Especial, email débora.soccal@hotmail.com


RESUMO

O seguinte projeto foi elaborado em maio de 2006 e teve duração entre junho e dezembro de 2006 com carga horária de 8 horas semanais, no qual realizávamos o acompanhamento da prática pedagógica da Educadora Especial a fim de auxiliá-la nas atividades em sala de aula, na tentativa de proporcionar o melhor desenvolvimento das potencialidades dos educandos, que possuíam diferentes idades e níveis de alfabetização. Concomitantemente com tal acompanhamento, realizamos entrevistas com os familiares de cada aluno para conhecê-los melhor e uma pesquisa bibliográfica sobre as diversas necessidades educacionais especiais encontradas na turma e recolhidas informações e documentos da área clínica para arquivo da escola.
Enfatizamos então, o quanto foi proveitosa para nossa formação acadêmica esta experiência em Classe Especial, pois pudemos vivenciar na prática a realidade que nos espera ao sairmos da Universidade.




O seguinte projeto de extensão foi realizado na escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, que se localiza na Rua Francisco Lameira, número 555, no Bairro Medianeira, um dos mais populosos do município de Santa Maria, atendendo a uma população de nível sócio econômico médio e baixo, com predominância da classe operária, bastante heterogênea, pois a clientela de alunos provém das COHAB’s, das vilas e de algumas localidades distantes. São poucos os alunos oriundos do bairro onde a escola está inserida, sendo que na Classe Especial todos dependem de transporte devido a significativa distancia de suas casas até a escola.
Elaboramos o projeto devido à solicitação, por parte da coordenação da escola, que alegou a dificuldade sentida pela Educadora Especial em trabalhar com uma turma demasiadamente heterogênea. E como exposto na Política de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria (1998), em seus princípios básicos, o Plano Nacional de Extensão Universitária diz, entre outras coisas que a Universidade deve estar sensível aos problemas e apelos da sociedade, bem como ser atuante junto ao Ensino Público, constituindo uma das diretrizes prioritárias para o fortalecimento da Educação Básica através de contribuições técnico-científicas e da colaboração na construção e difusão da cidadania. Aliada a este instrumento Universitário estava tal necessidade expressa pela coordenação da escola. Assim considerando o importante papel do Educador Especial em promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas
com necessidades educacionais especiais, bem como a dificuldade de se trabalhar em uma Classe Especial que atende crianças com diferentes tipos de deficiência, foi elaborado este
projeto de extensão.
O projeto foi elaborado em maio de 2006 e teve duração entre junho e dezembro de 2006 com carga horária de 8 horas semanais, sendo que nosso contato com a escola e com a turma já ocorria a mais de dois anos, mas apenas no ano passado decidimos fazer o projeto de extensão – depois de já fazer um reconhecimento da realidade escolar, posto que toda a extensão deve partir de uma pesquisa, neste caso uma pesquisa de campo. É claro que neste tempo muitos alunos saíram da escola, por razões diversas: mudança de cidade, inclusão em classes comuns, etc, bem como novos alunos entraram, porém a heterogeneidade permaneceu.
O projeto teve como objetivo acompanhar a prática pedagógica da professora da Classe Especial, a fim de auxiliá-la nas atividades em sala de aula, na tentativa de proporcionar o melhor desenvolvimento das potencialidades dos educandos, que possuem diferentes idades e níveis de alfabetização. Além deste acompanhamento, foram realizadas algumas entrevistas familiares (com as famílias que se disponibilizaram a isso), pesquisa bibliográfica sobre as
diversas necessidades educacionais especiais encontradas na turma e recolhidas informações e documentos da área clínica para arquivo da escola.
Acreditamos que todos os objetivos propostos para esse projeto foram alcançados, pois acompanhamos efetivamente as aulas e fizemos o possível para auxiliar a Educadora Especial nas mesmas, auxiliando alguns alunos que estavam em determinado nível de aprendizagem (por ex.: alfabetização) enquanto ela desenvolvia atividades com outro grupo (por ex: em nível pré-escolar). Também realizamos algumas entrevistas familiares com as famílias que se disponibilizaram a tal, e as mesmas foram enriquecedoras para nossa pesquisa, como também realizamos um estudo sobre as deficiências de cada aluno para podermos entender melhor cada um e conseguir intervir de maneira mais condizente com as potencialidades de cada um. Coletamos também alguns dados com psicólogos, neurologistas, etc para serem disponibilizados nas pastas de cada aluno; nessa coleta encontramos algumas dificuldades, pois alguns profissionais têm certa resistência em dar um laudo com um diagnóstico de tais alunos, com o receio de rotular os mesmos e depois serem contestados; mas fizemos o possível e alguns profissionais colaboraram com nosso trabalho.
Sabemos que as Diretrizes para a Educação Especial na Educação Básica de 2001, apontam que não se deve agrupar alunos com diferentes deficiências em uma Classe Especial. No entanto, a realidade das nossas escolas nos mostra que a falta de profissionais, a insuficiência de materiais e a indisponibilidade de salas de aulas dificultam de forma significativa o cumprimento desta lei, que é o que ocorre nessa escola.
Então, a clientela desta Classe Especial, era composta na época da pesquisa, por crianças e adolescentes com diferentes necessidades especiais, tendo em comum à deficiência mental, que é o rendimento intelectual abaixo da média. Esses alunos serão citados a seguir com algumas de suas características.
Um dos alunos na época com doze anos encontrava-se há três anos na Classe Especial, sendo que freqüentou durante dois anos a classe comum e devido as suas atitudes e dificuldades foi encaminhado à Classe Especial.
Ele não tem um diagnóstico oficial, mas possui comprometimentos e particularidades representativos de uma deficiência mental leve, apresentados com um parecer informal da professora e descrições como o fato de que o mesmo não tinha rendimento em sala de aula e era demasiadamente inquieto e “incomodativo”, o que atrapalhava e prejudicava o andamento de suas aulas.
O aluno encontrava-se em fase de transição do nível silábico para o silábico-alfabético, tinha noção de sílaba, mas não passava disso; oralmente era muito eficiente, porém quando devia registrar não conseguia ir adiante. Sua escrita não correspondia ao seu raciocínio. O mesmo ocorre quando se trata de números e quantidades, o aluno tem uma noção geral, mas ao tentar contar de um a um os números ou então realizar algum cálculo, se atrapalha e interrompe o raciocínio até então utilizado. No último ano a leitura do mesmo, que antes ocorria vagarosamente e com muita dificuldade, se tornou fluente, devido à insistência e mediação da educadora.
Apesar da progressão e do avanço do aluno durante sua permanência na Classe Especial e além do carinho que o mesmo sente por seus colegas (é amável e tenta ajudar a todos), sua auto-estima era bastante comprometida, pelo fato de estar há três anos  freqüentando a mesma Classe e também por ser muito maior, mais velho e ter uma mentalidade mais avançada com relação a seus colegas (de faixas etárias bem inferiores). Reparamos que apresentou atitudes agressivas, pelo fato de sua família estar o pressionando no que diz respeito a sua passagem ou não para o ensino regular.
Temos também outra aluna que freqüentou a primeira série do ensino regular durante três anos, na mesma escola. Como tinha grande dificuldade em acompanhar os outros alunos, foi encaminhada para o atendimento de apoio, onde acharam melhor para seu desenvolvimento que ela ficasse um tempo na Classe Especial retornando posteriormente para a classe regular.
Quando começou a freqüentar a Classe Especial não conhecia letras, palavras e números, não sabia ler, escrever e contar, não conhecia seqüência nenhuma, enfim, possuía grandes dificuldades, uma das características da deficiência mental. Com o trabalho da Educadora Especial, ela começou a reconhecer letras, sílabas e palavras, sabe ler, escrever e contar até doze com auxílio. Sua leitura algumas vezes é feita através da memorização de palavras já conhecidas e, às vezes, confunde as letras. Tem tendência a escrever as letras das palavras em ordem inversa, por exemplo, para escrever “sa” escreve “as”, além de não associar o som com a letra. Dessa maneira, é possível perceber que ela recém foi alfabetizada, encontrando-se no nível alfabético.
A aluna gosta muito de conversar e dar risada na sala de aula, muitas vezes apoiando a bagunça de outros alunos. Às vezes, demonstra certa “rebeldia” de adolescência, o que é explicado pela sua idade (doze anos).
Outra aluna foi encaminhada para a Classe Especial por ser lenta demais e ter dificuldades para desenvolver-se. Ela permaneceu três anos na primeira série e não conseguiu aprender, passando para a segunda série sem ter aprendido. Ao freqüentar a Classe Especial, conseguiu desenvolver-se bastante e adora estudar. Ela sabe ler e escrever, mas demora muito tempo para realizar tais atividades. Conhece números e tem idéia de quantidade, mas possui grande dificuldade em entender cálculos, principalmente subtração, mesmo com o auxílio de materiais concretos. Além disso, tem muita dificuldade de localização, de orientação espacial e temporal e de noção de continuidade.
A aluna é muito carente, está sempre abraçando e beijando todo mundo e, quando alguém briga com ela ou até mesmo quando a professora fala de um modo mais sério, ela chora e fica “emburrada”. Talvez este fato se explique pela ausência paterna, pois os pais se separaram quando ela tinha um ano de idade, mas ele a visita sempre, porém, através da história de vida, pudemos perceber que o pai a trata com frieza.
Nesse ano (2007) esses três alunos foram incluídos em classes regulares na mesma escola, estão tendo algumas dificuldades, mas estão batalhando por seu espaço. A escola está em processo de recuperação da Sala de Apoio, o que ajudaria muito esses alunos e estamos com expectativas para ela voltar a funcionar brevemente.
Mesmo sendo uma classe para alunos com deficiência mental há ainda um menino autista que quando ingressou na Classe Especial tinha um comportamento bem difícil, subia em mesas, dependurava-se na janela, corria, atirava-se no chão, gritava e chorava. Tal comportamento afetou o rendimento da turma, pois eles ficavam assustados com as atitudes do colega. Aos poucos fomos contornando a situação, nós ficávamos com o restante da turma, enquanto a professora lhe dava um atendimento diferenciado.
Aos poucos ele foi se familiarizando com a turma, mas ainda necessita de atividades diferenciadas até hoje, porém agora ele já trabalha sentado em sua classe juntamente com outros colegas.
Outro dos alunos tem diagnóstico de psicose, porém não foi especificado qual o tipo. Veio para a Classe Especial porque sua professora da pré-escola o fazia dormir constantemente, posto que ele sente sono por tomar medicamentos fortes, porém ano passado teve grandes progressos desde que ingressou na Classe Especial: já consegue desenhar a figura humana, contar em uma seqüência e desenvolveu bastante sua linguagem expressiva. Às vezes demonstrava-se agressivo, mas consegue trabalhar em grupo e relaciona-se bem com os colegas, professora e com as acadêmicas do projeto.
Tem também um aluno cuja dificuldade reside no fato de ser socioculturalmente desfavorecido, ele e sua família vivem em condições de extrema pobreza e pelo que ele demonstra na sala de aula, de carência afetiva também; ele é um menino muito carinhoso, com uma enorme carência afetiva, são raras as vezes em que fica agressivo; é muito interessado nas aulas e tem grande vontade de aprender.
Esse aluno apresenta dificuldades na fala e na motricidade, ele reconhece as cores, os números e a maioria das letras, relacionando-as corretamente à palavras, por esse motivo, acreditamos que ele não apresenta nenhum comprometimento grave, ele sofre de um desfavorecimento decorrente de um baixo nível socioeconômico e cultural, acreditamos que com um acompanhamento fonoaudiólogo e um bom atendimento especializado ele conseguirá ser incluído em uma classe regular e depois de algum tempo de adaptação ele terá sucesso em tal processo e se desenvolverá bem, se tais acompanhamentos forem realizados por profissionais comprometidos e conscientes da importância do seu trabalho.
Nas aulas, os três alunos citados anteriormente, fazem atividades diferenciadas que são dadas pela professora após ela ter passado no quadro atividades para os demais alunos que estão em processo de alfabetização.
Já outra aluna (onze anos), tem diagnóstico de paralisia cerebral hemiplégica espástica, ela freqüentava o 2º ano de uma escola regular em classe comum com apoio especializado, mas por ter necessitado se mudar e não ter conseguido vaga em outras escolas foi para a Classe Especial da escola Duque de Caxias em outubro de 2006.
Em uma primeira avaliação ela não aparentava ter muitas dificuldades, mas em um segundo momento pareceu ser bastante comprometida na leitura onde em momentos ela reconhece as sílabas e em outros ela parece ter esquecido tudo, usando bastante adivinhação das palavras e é ansiosa na questão da leitura, estando em nível silábico.
Outro aluno tem nove anos de idade e começou a freqüentar a Classe Especial em julho de 2006, vindo de uma primeira série de ensino regular com um comportamento muito agressivo onde ele não parava em sala de aula.
Seu diagnóstico é de hiperatividade junto com uma deficiência mental e também, segundo diagnóstico de sua fonoaudióloga, apresenta defasagens na língua expressiva e um vocabulário muito pobre.
O aluno encontra-se em nível silábico, sendo bem comprometido na área do reconhecimento do som das letras, reconhece números e quantidade e consegue se localizar seguindo o calendário; ele é bastante inquieto, não permanece por muito tempo sentado e tem baixa concentração durante as atividades, onde muitas vezes não quer realizá-las.
Observando as características dos alunos podemos notar quão grande era a necessidade da Educadora Especial em receber um auxílio por nossa parte, pois a turma estava sendo prejudicada, porque a Educadora tinha que dividir seu tempo em propor atividades diferenciadas para os alunos em fase de alfabetização, para os alunos em nível silábico e para os alunos em fase pré-escolar, e foi nesse trabalho de apoio ao seu trabalho pedagógico que nos centralizamos nesse projeto. A Educadora propunha as atividades para cada “grupo” e nós dávamos auxílio aos mesmos juntamente com o auxílio e orientação da Educadora, podendo assim desenvolver um atendimento mais individualizado e centrado para as necessidades de cada aluno.
O trabalho de pesquisa com relação as necessidade especiais de cada aluno também foi proveitosa e enriqueceu bastante nosso trabalho, pois conseguimos compreender melhor os alunos e também aprofundar nosso estudo com relação a tais deficiências.
Diante do exposto, enfatizamos o quanto foi proveitosa para nossa formação esta experiência em Classe Especial, pois pudemos vivenciar na prática a realidade que nos espera ao sairmos da Universidade.
Conseguimos desenvolver um trabalho com total colaboração da Educadora Especial da turma, que nos recebeu disposta a esclarecer dúvidas e orientar no decorrer das aulas, visando sempre o desenvolvimento das potencialidades dos alunos.
Estamos cientes da aceitação do projeto pela comunidade escolar, pois uma das participantes do projeto está dando seguimento ao mesmo na Classe Especial em estágio curricular e outras duas participantes estão fazendo um trabalho na modalidade de serviço itinerante; essa atuação é no sentido de prestar apoio pedagógico especializado aos três alunos que foram incluídos em classes comuns do ensino regular.
Sendo assim, acredito que nosso projeto teve e ainda está tendo um bom desenvolvimento tanto com relação ao nosso aprendizado acadêmico, como já exposto acima como também com relação ao auxílio que nos propomos a dar à educadora, influenciando diretamente no desenvolvimento das potencialidades dos alunos ao proporcionar um atendimento mais individualizado conforme as necessidades de cada um.


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA NO PROJETO:


COSTA, Maria da Piedade Resende. Alfabetização em deficientes mentais: um programa completo. São Paulo: Edicon, 1987, segunda edição.


GOTTI, Marlene de Oliveira – Organização e coordenação. Direito à educação: subsídios para a Gestão dos sistemas educacionais: orientações gerais e marcos legais. Brasília:MEC, SEESP, 2004


 ____, Direito à educação: necessidades educacionais especiais: subsídios para atuação no Ministério Público Brasileiro. Brasília: MEC, SEESP,2001.


GRÜNSPUNG, Haim. Distúrbios Psiquiátricos da Criança. Rio de janeiro: Livraria Atheneu, 1978.


LODI, Ana Cláudia B.; HARRISON, Kathryn Marie P.; CAMPOS, Sandra Regina L. de, orgs. Leitura e escrita: no contexto da diversidade. Porto Alegre: Mediação, 2004.


 Universidade Federal de Santa Maria. Política de Extensão da UFSM. Pró-Reitoria de Extensão, Santa Maria, 1998.


DALGALARRONDO,Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.


 DSM – IV – TR™ - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Cláudia Dornelles. Porto Alegre: Artmed, 2002.


RESA, J. A. Z. ; DÍAZ, J. L. P. A criança socioculturalmente desfavorecida In


BAUTISTA, Rafael (coord.). Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Dinalivros,1993.