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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

PRÁTICAS FONOAUDIOLÓGICAS COM O SURDO SOB A PERSPECTIVA BILÍNGÜE1.
Claudia Regina Mosca Giroto2;
Luciane Cristina Cardoso3;
 Atalita Fernanda Marinho de Azevedo3;
 Cristhiane Emy Kano3;
Marília Piazzi Seno4.
Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília/SP.

1  Estudo desenvolvido como parte das atividades do projeto de pesquisa e extensão “Enfoque interdisciplinar de Atendimento Bilíngüe a Surdos, Familiares e Professores”, desenvolvido no Centro de Estudos da Educação e da Saúde – CEES, financiado pelo Núcleo de Estudos da FFC – UNESP – Marília/SP.
2  Docente do Departamento de Educação Especial - Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília/SP.
3  Discentes do 4º ano do Curso de Fonoaudiologia – Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP - Campus de Marília/SP.
4  Fonoaudióloga da Secretaria Municipal de Educação do Município de Marília/SP.


RESUMO

 Tradicionalmente a atuação fonoaudiológica com o surdo tem sido subsidiada pela perspectiva oralista, apoiada na normalização da oralidade e centrada em práticas distantes dos usos sociais da linguagem (RANGEL; STUMPF, 2004). Em decorrência, grande parte dos surdos não é beneficiada pelo oralismo, uma vez que não se apropriam efetivamente da modalidade oral de linguagem, nem do português escrito, cujo ensino é baseado em estratégias orais. Segundo Giordani, 2004 apesar da perspectiva oralista ter se constituído, ao longo do século XX, como um discurso hegemônico, sob a justificativa de que era um meio eficaz para a integração social e escolar do surdo, os resultados relativos à apropriação dessa modalidade de linguagem, por parte de indivíduos com surdez profunda, não corresponderam às expectativas de seus proponentes.
            Com base nisso, a abordagem bilíngüe tem se firmado como possibilidade de atuação com o surdo, visto que a língua de sinais – LIBRAS é compreendida como sua língua natural e a língua portuguesa como a segunda. Desse modo, o uso da LIBRAS assume crucial importância para que o surdo tenha seu desenvolvimento lingüístico e educacional garantido e possa, efetivamente, participar de trocas interlocutivas que se apresentam cotidianamente e se apropriar da escrita.
            Assim, esse trabalho tem como objetivo investigar a possibilidade de construção de práticas fonoaudiológicas, sob orientação da perspectiva bilíngüe, que por meio do uso da Língua de Sinais, podem favorecer uma maior aproximação lingüística entre as crianças surdas que freqüentam o “Programa Interdisciplinar de Atendimento Bilíngüe a Surdos, Familiares e Professores” com nove crianças surdas, com idade entre cinco e 11 anos, sendo que uma freqüenta classe especial e as demais o ensino regular.
            Nessa proposta, as práticas fonoaudiológicas adotadas, que se referem ao uso contextualizado da linguagem sinalizada e/ou falada e à utilização de recursos da oralidade (leitura orofacial – LOF), a LIBRAS foi utilizada no favorecimento de situações discursivas com os surdos. O aprendizado da modalidade oral é desejado, mas não é perseguido como o único objetivo educacional e comunicativo, nem como a única possibilidade de minimizar as diferenças causadas pela surdez. Tais situações têm sido sistematicamente gravadas em vídeo e transcritas, com base em um protocolo previamente elaborado.
            A análise dos dados tem sido viabilizada por meio da elaboração de categorias temáticas, que até o momento, compreendem: “Práticas relativas ao uso contextualizado da linguagem” e “Práticas relativas à otimização de recursos da oralidade”.
            Os resultados têm apontado que as crianças surdas têm participado mais efetivamente de situações dialógicas fazendo a opção pelo uso da LIBRAS de acordo com as características de seus interlocutores, ou seja, a utilizam com aqueles que dominam essa modalidade lingüística, porém, com os que não são proficientes na língua de sinais recorrem aos recursos da oralidade trabalhados.   Concluímos ser necessária a continuidade desse trabalho como possibilidade de favorecer uma maior aproximação lingüística e afetiva desses surdos com os seus interlocutores.

1. INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a atuação fonoaudiológica com o surdo foi subsidiada pela perspectiva oralista, apoiada na busca pela normalização da oralidade e centrada em práticas distantes dos usos sociais da linguagem (RANGEL; STUMPF, 2004). Em decorrência, grande parte dos surdos atendidos sob tal perspectiva não tem alcançado o uso efetivo da linguagem oral, uma vez que não se apropriam dessa modalidade a ponto de garantir as trocas comunicativas com seus interlocutores ouvintes, nem do português escrito, cujo ensino é baseado em estratégias orais.
Dados recentes do IBGE apontam que o número total de surdos brasileiros é de 5,7 milhões (surdos profundos e deficientes auditivos). Os números também demonstram que somente no estado de São Paulo há 480.000 e que na capital este número é de 150.000 surdos.
Com a lei da LIBRAS (lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002) e o decreto n° 5626, de 22 de dezembro de 2005, que a regulamenta,  a LIBRAS é considerada a Língua Natural do surdo. Caracteriza-se por uma modalidade gesto-visual, por utilizar movimentos gestuais e expressões faciais percebidos pela visão e, portanto, se diferencia da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva apoiada nos sons articulados, percebidos pelos ouvidos. Além disso, apresenta diferenças quanto às estruturas gramaticais.
Uma maneira de utilização da informação visual é a leitura orofacial - LOF, também denominada de leitura de fala, conforme TEDESCO (1993) ou leitura labial, de acordo com KOZLOWSKI (1997).
Segundo Giordani (2004), apesar da perspectiva oralista ter se constituído, ao longo do século XX, como um discurso hegemônico, sob a justificativa de que era um meio eficaz para a integração social e escolar do surdo, os resultados relativos à apropriação dessa modalidade de linguagem, por parte de indivíduos com surdez profunda, não corresponderam às expectativas de seus proponentes. Em contrapartida, a proposta bilíngüe, ao considerar a Língua de Sinais - LIBRAS como a língua natural do surdo, busca oferecer o direito e as condições ao indivíduo surdo de poder utilizar a LIBRAS e, por meio dela, ter acesso a uma segunda língua, como o português escrito, no caso do surdo brasileiro.
Desse modo, o indivíduo surdo pode escolher a língua que irá utilizar em cada situação lingüística em que se encontrar, considerando os seus interlocutores e as condições de uso dessas modalidades lingüísticas de acordo com os contextos interlocutivos com os quais se depara cotidianamente. Esta proposta leva em consideração as características dos próprios surdos (KOZLOWSKI, 1998).
Normalmente a língua de sinais é adquirida pela criança através de sua relação com o adulto surdo, já a modalidade oral é fornecida à criança por um adulto ouvinte, sendo esta baseada nas habilidades lingüísticas já desenvolvidas pela primeira língua (MOURA 1993).
Dessa forma, com o objetivo de promover à criança surda o acesso, o mais precocemente possível, à língua de sinais, o bilingüismo surgiu na década de 1980.
Sanchez (1991) afirma que o bilingüismo reconhece que o surdo vive numa situação bilíngüe, rodeado pela modalidade oral e pela Língua de Sinais.
Com base nesse pressuposto, a abordagem bilíngüe, ao se firmar como possibilidade de atuação com o surdo, confere à utilização da LIBRAS crucial importância para que este tenha seu desenvolvimento lingüístico e educacional garantido e possa, efetivamente, participar de trocas interlocutivas que se apresentam cotidianamente e se apropriar da escrita.
Essa nova corrente, de educação bilíngüe, solicita um olhar para a linguagem bastante diverso daquele determinado pelo conhecimento lingüístico derivado do chamado senso comum, ou melhor, um tipo de conhecimento sobre a linguagem mais aprofundado, que não faz parte do que nos ensina o nosso saber cotidiano. E traz, principalmente, uma nova concepção de surdez, que implica mudanças ideológicas, rompendo de fato com a concepção oralista e em grande parte com os sistemas da comunicação total, que não propiciaram alterações significativas no que se refere à importância da língua de sinais e ao papel da comunidade surda no processo educacional (QUADROS, 1997).

2. OBJETIVO
Apoiados nas idéias apresentadas nos propusemos investigar a possibilidade de construir práticas fonoaudiológicas, sob orientação da perspectiva bilíngüe, que por meio do uso da Língua de Sinais, podem favorecer uma maior aproximação lingüística entre as crianças surdas que freqüentam o “Programa Interdisciplinar de Atendimento Bilíngüe a Surdos, Familiares e Professores”.

3. METODOLOGIA
Como este estudo caracteriza-se como parte do “Programa Interdisciplinar de Atendimento Bilíngüe a Surdos, Familiares e Professores”, consideramos necessária, anteriormente à descrição metodológica, propriamente dita, a apresentação, em linhas gerais, de tal programa.

3.1. Breve descrição a respeito do “Programa Interdisciplinar de Atendimento Bilíngüe a Surdos, Familiares e Professores”.
O programa interdisciplinar de atendimento bilíngüe promove o ensino da  LIBRAS  como  primeira Língua e da Língua Portuguesa como segunda (nas modalidades oral e escrita), para crianças surdas do ensino fundamental, matriculadas em classes inclusivas, do ensino regular, e em classes especiais. Tais crianças, inscritas nesse programa, participam, junto com um instrutor surdo de LIBRAS, de atividades discursivas, em tal modalidade de linguagem, e de acompanhamentos fonoaudiológico, pedagógico e psicológico. Aos familiares dessas crianças são oferecidos um curso de capacitação em LIBRAS e atendimento psicológico, porém, tais familiares, também são envolvidos nas atividades fonoaudiológicas e pedagógicas desenvolvidas.
A apropriação da LIBRAS, pelas crianças, e o ensino dessa modalidade de linguagem, aos familiares, contempla a temática da literatura infantil, com a narração e interpretação de histórias em LIBRAS. O instrutor surdo é auxiliado, nessa tarefa, por alunos estagiários em Práticas de Ensino, estágio curricular da Habilitação em Deficiência Auditiva, que se responsabilizam pela organização das aulas e da supervisão desse instrutor quanto às atividades propostas.
Os demais acompanhamentos também utilizam a literatura infantil como temática, a fim de viabilizarem o atendimento dos objetivos específicos de cada área e a sistematização dos critérios e instrumentos utilizados nesses acompanhamentos.
A atuação fonoaudiológica enfatiza ações que oportunizam as trocas interlocutivas, seja por meio da LIBRAS, seja pela modalidade oral, e a ampliação das habilidades lingüísticas. Tais ações também são voltadas ao trabalho com a função auditiva; à utilização da leitura orofacial-LOF, em situações fechadas e abertas, de acordo com as exigências dos contextos de uso para tal recurso; à realização de avaliação audiológica sistemática; à adequação de condições para o uso apropriado do aparelho de amplificação sonora individual; e à participação dos familiares nas atividades desenvolvidas. A utilização da linguagem oral é estimulada, porém, não é priorizada, cabendo ao surdo a opção pela modalidade de linguagem considerada, por ele, mais significativa, dependendo dos contextos cotidianos que se apresentam.
As atividades pedagógicas destinam-se a instrumentalização do processo de apropriação da leitura e da escrita, por meio de situações que permitem, a essas crianças, exercitar a criatividade e a imaginação em atividades lúdicas, dramatizações, manipulação de livros e utilização de diferentes gêneros discursivos a respeito das histórias trabalhadas pelo instrutor surdo. Tais situações também possibilitam que as crianças vivenciem seus medos e fantasias, suas tensões e desejos, a partir de experiências e trocas interacionais-interlocutivas em língua de sinais. O ensino da língua portuguesa, realizado pelos estagiários, é orientado pela metodologia de língua instrumental, proposta pelo MEC (BRASIL, 2002).
O acompanhamento psicológico é realizado, principalmente, com os pais, e enfatiza justamente a questão da aceitação e valorização da LIBRAS como possibilidade comunicativa e como forma de aproximação lingüística com os surdos.
Este programa ainda contempla a realização de reuniões periódicas com os profissionais e estagiários envolvidos, o que favorece uma atuação interdisciplinar mais coerente e efetiva.
Os professores que lecionam para as crianças surdas que freqüentam a rede municipal de ensino também participam das atividades desenvolvidas no programa.

3.2. Participantes
A seleção dos participantes atendeu aos critérios: participação no curso de LIBRAS, oferecido pelo programa interdisciplinar de atendimento bilíngüe, ministrado pelo instrutor surdo; e participação nos atendimentos fonoaudiológicos propostos.
Participaram deste estudo nove crianças surdas com idade entre cinco e 11 anos de idade. Oito dessas crianças freqüentam o ensino regular municipal e apenas uma está matriculada em classe especial da rede estadual.

3.3. Materiais
Para a realização desse estudo utilizamos os seguintes materiais: miniaturas de animais, de frutas, de meios de transporte; pranchas de alfabeto em EVA; jogos interativos na internet; dedoches; material escolar (tinta, lápis de cor, sulfite, cola, tesoura, glíter, cartolina, canetinhas, massa de modelar); jogos lúdicos; alimentos para realização de atividades de culinária; livros de literatura infantil, filmadora Panasonic, fitas VHS modelo TC-30 e protocolo para registro em vídeo. 

 3.4. Procedimentos
3.4.1.   Instrumentos utilizados
3.4.1.1.      Filmagem das atividades desenvolvidas
A filmagem foi realizada com base em protocolo previamente elaborado em que constaram dados de identificação (participantes, data, terapeutas, estagiários) e roteiro de desenvolvimento da atividade (descrição dos materiais e estratégias utilizadas).

3.4.1.2.      Práticas fonoaudiológicas utilizadas
Consideramos como práticas fonoaudiológicas as situações discursivas caracterizadas pelo uso contextualizado da linguagem sinalizada e/ou falada e pela utilização de recursos da oralidade (leitura orofacial – LOF). Em tais situações, a LIBRAS foi utilizada no favorecimento de trocas interlocutivas entre os surdos participantes e seus interlocutores ouvintes, auxiliados por discentes estagiárias dos cursos de Pedagogia e Fonoaudiologia, que acompanham os atendimentos realizados com os participantes surdos e seus respectivos os familiares. Nessas situações, o aprendizado da modalidade oral é desejado, mas não é perseguido como o único objetivo comunicativo e educacional, nem como a única possibilidade de minimizar as diferenças causadas pela surdez. Como exemplo dessas situações, utilizamos atividades de vida diária com as crianças, nas quais solicitamos, além do reconhecimento e nomeação dos objetos e suas respectivas funções, o uso pragmático da linguagem contextualizado. Tudo isso, por meio da LIBRAS e também da oralidade, quando as crianças surdas expressam a necessidade de uso da modalidade oral.
 Nessa oportunidade, aproveitamos, ainda, para ampliar o conhecimento desses surdos acerca do reconhecimento da LOF, com apoio da LIBRAS, em situação fechada (treinamento específico de determinado ponto e modo articulatório), para posterior transferência do uso desse recurso em situação aberta (conversação espontânea).
 Segue abaixo quatro situações ilustrativas dessas práticas:
1.   Simulação de Compras em Supermercado:
2.   Atividades de Culinária1 (Café da Tarde):
3.   Atividades de Culinária 2 ( Salada de Frutas)
4.   Visita ao Zoológico, após trabalho relacionado ao “Conhecendo minha cidade: minha rua, meu bairro, o bairro onde realizo os atendimento, à distância entre uma cidade e outra, que incluiu a saída de Marília para a cidade de Bauru, onde se localiza o zoológico.
Na primeira situação, as estagiárias de fonoaudiologia elegeram, em conjunto com as crianças, os materiais a serem utilizados, de acordo com o grau de dificuldade de percepção do ponto e do modo articulatório, priorizando, inicialmente, os fonemas anteriores. Solicitamos que cada criança efetuasse a compra do produto conforme a indicação fonoarticulada pela estagiária. Foram utilizadas embalagens de produtos alimentícios, de limpeza e miniaturas de alimentos variados, tais como: verduras, frutas e legumes (tomate, banana, mamão, laranja, entre outros), pizza, leite, bolo etc. Em seguida, simulamos o pagamento da compra em uma caixa registradora de brinquedo, em que a estagiária selecionava os produtos para o momento do trabalho de reconhecimento da LOF em situação fechada. Posteriormente, as mercadorias eram repostas entre as demais, para que a criança fizesse o reconhecimento da LOF em situação aberta (conversação espontânea).
Na segunda atividade exemplificada, as estagiárias propunham às crianças o Café da Tarde, para o favorecimento de uma situação de vida diária interativa. Os alimentos eram dispostos sobre uma mesa de café e as crianças se serviram. Em seguida, eram selecionados os produtos cuja produção inicial favorecia o reconhecimento da LOF (bolo, leite, pão, bolacha,  suco, entre outros).    Esta atividade, como a descrita anteriormente, ocorria em dois momentos, o de situação aberta e o de situação fechada.
Quanto à terceira atividade, as estagiárias, com o auxílio das crianças surdas, em uma cozinha denominada “cozinha terapêutica”, preparavam alimentos, como salada de frutas.  Assim como as demais atividades, esta foi trabalhada em dois momentos de reconhecimento da LOF, situação fechada e aberta.
Cabe esclarecer que nessas três atividades as crianças realizaram trocas interlocutivas, por meio da LIBRAS e também da oralidade (vocalizações e emissões de vocábulos), a fim de compreenderem as solicitações das estagiárias e compartilharem informações e comentários.
Na quarta atividade, as crianças conheceram o mapa da cidade e localizaram suas respectivas ruas. Em companhia de seu responsável cada criança realizou um passeio pela sua rua reconhecendo pontos comerciais (padaria, supermercado, açougue etc). Ao fazerem isso, realizaram uma compra de acordo com o local escolhido. Em seguida, fizeram o reconhecimento do trajeto do bairro em que se localizava a residência até o local onde freqüentavam os atendimentos propostos no programa bilíngüe. Finalmente, realizaram um passeio até à localidade do zoológico, a fim de reconhecerem o trajeto de uma cidade à outra.É importante destacar que, concomitantemente, foram trabalhadas situações que envolveram os conceitos sobre rua, bairro, cidade, animais possíveis de serem encontrados em um zoológico, entre outros). Nesse processo, tanto as situações dialógicas que envolviam a utilização da LIBRAS, quanto as que compreendiam o uso da LOF foram incentivadas.
                                                   
3.4.2. Coleta de Dados
Como as atividades foram desenvolvidas em grupo, o registro em vídeo foi realizado com o deslocamento da filmadora de acordo com as situações interlocutivas deflagradas. Nessas situações, a estagiária responsável pela filmagem manuseava a câmera pela sala, a fim de captar todos os momentos de interlocução e intervenção fonoaudiológica. Tais filmagens ocorreram com periodicidade quinzenal para se documentar, reavaliar e analisar os dados coletados.

3.4.3. Análise dos dados
Os registros em vídeo foram transcritos para análise dos dados. Tal análise foi viabilizada por meio da elaboração das seguintes categorias temáticas: “Práticas relativas ao uso contextualizado da linguagem” e “Práticas relativas à otimização de recursos da oralidade”.
Incluímos na categoria “Práticas relativas ao uso contextualizado da linguagem” as atividades discursivas que propiciaram a demonstração de compreensão do contexto trabalhado, em razão dos episódios interativos e interlocutivos ocorridos.
Na categoria “Práticas relativas à otimização de recursos da oralidade”, consideramos as atividades em que os surdos fizeram uso efetivo, principalmente, da leitura orofacial, tanto em situação fechada quanto aberta.
            
4.       RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apontaram que as crianças surdas têm participado, mais efetivamente, de situações dialógicas e demonstrado maior autonomia quanto à seleção da modalidade lingüística utilizada para a comunicação com seus interlocutores ouvintes e/ou surdos. Desse modo, a utilização da LIBRAS ocorreu com os interlocutores que dominam essa modalidade. Com os que não são proficientes na Língua de Sinais, os surdos recorreram aos recursos da oralidade trabalhados (uso da LOF em situações abertas e fechadas), a fim de se fazerem entender.
            
5.       CONCLUSÕES
Concluímos ser necessária a continuidade desse trabalho como possibilidade de favorecimento à maior aproximação lingüística e afetiva desses surdos com os seus interlocutores, a fim de que novas situações dialógicas sejam deflagradas em outros contextos, além das situações de atendimento. Dessa maneira, consideramos que podemos contribuir para a inclusão desses surdos no contexto familiar, educacional e social, ao minimizarmos as barreiras comunicacionais decorrentes do comprometimento da audição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS DOS SURDOS E O RECONHECIMENTO da libras no Brasil Myrna Salerno Monteiro
(Revista da FENEIS, número 2:16).
Editora Arara Azul Ltda / Fax: (24) 2225.1947 / E-mail: editora@uninet.com.br
Em Petrópolis - RJ, um espaço dedicado à cultura e à diversidade.
Nota: Este texto pode ser reproduzido, livremente com fins educacionais, desde que a fonte seja cita: Home Page www.editora-arara-azul.com.br

KOZLOWSKI, L. A percepção auditiva e visual da fala. Rio de Janeiro: Revinter, 1997.

KOZLOWSKI, L. (2001). O modelo educacional Bilíngüe no INES. São Paulo. Brasil

MOURA, M. C. “A língua de sinais na educação da criança surda”. In: Moura, M. C.; LODI, A. C. B.; PEREIRA, M. C. C. (eds.). Série de Neuropsicologia, v.3, 1993, pp. 1-4.

SANCHES, C. (1991). La educacion de los sordos en un modelo bilingue. Iakonia.
Venezuela

Grupo de Estudos Surdos e Educação
© ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.279-289, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 279.

TEDESCO, M. R. M. Influências do método oral e da comunicação total no
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p. Tese (Doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana: Campo Fonoaudiológico) –
Departamento de Distúrbios da Comunicação Humana, Universidade Federal de São
Paulo, São Paulo.