http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/181.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
“A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO NA LITERATURA INFANTIL: SENSIBILIZANDO
PARA AS QUESTÕES DAS “DIFERENÇAS”
Daniela Corte Real1
1 Mestranda em Educação pelo PPGEDU/UFRGS. Bolsista CAPES/PROESP. Integrante do NEPIE – Núcleo de
Estudos em Políticas de Inclusão Escolar. Site:www.ufrgs.br/faced/pesquisa/nepie. Este é artigo é parte do Trabalho
de Conclusão de Curso de Letras intitulado “A Literatura Infanto-juvenil em língua portuguesa como um dispositivo
facilitador do Processo de Inclusão Escolar”, defendido em janeiro de 2007 na UFRGS.
Neste artigo pretendo lançar um olhar sobre a Estética, principalmente sobre a Estética da
Recepção na Literatura Infantil como sendo capaz de atuar na sensibilização dos alunos das classes
comuns de ensino para a recepção desses “outros” que estão sendo direcionados para essas classes,
com vistas à análise dos efeitos da convivência com as marcas identitárias que configuram a “diferença”.
Mas por que nos debruçaremos sobre esta teoria da recepção? Porque sempre houve, desde os
primórdios, uma preocupação dos intelectuais do Ocidente com a questão do belo.
A questão do belo, em direta correlação com a do bem e a do verdadeiro, tem sido
daquelas questões cruciais para o pensamento ocidental em todas as suas fases. Tanto
assim que cada uma delas suscitou a criação de disciplinas dedicadas à sua tematização.
A questão do bem cabe à ética e a política; a do verdadeiro, à lógica e à metafísica; e a do
belo, à estética2 (Souza, 1995:27).
Mas quais são os interesses da estética? Quais os sentidos que nelas estão envolvidos? Para
respondermos a estas questões precisamos ir nos apropriando de alguns conceitos:
A estética se interessa pela arte em geral e pelos fenômenos de percepção,
sensibilidade e inteligência por ela implicados, englobando a literatura como modalidade
específica de arte (Souza, 1995:18).
Somente com a publicação da obra Aesthetica3 de Alexander Gottlieb Baumgartem, em 1750, a
estética adquiriu autonomia e status de disciplina autônoma, embora Platão e Aristóteles já tivessem
feito, em suas considerações sobre a literatura, referências ao belo e à beleza.
(...) a estética não se dedica unicamente ao estudo da literatura, embora se possa
afirmar que até o século XVIII a produção literária constitui campo privilegiado e quase
exclusivo para a elaboração dos seus conceitos, que se encontram, portanto, presentes
nas obras de poética e retórica. A partir do século XVIII, porém, com a autonomia
adquirida, a estética se empenha na definição de seu próprio objeto. Segundo a posição
que se adote, esse objeto será o belo, o conjunto das chamadas categorias estéticas
(belo, bonito, gracioso, trágico etc.), um tipo especial de sensibilidade (...) (Souza,
1995:27).
2 Cf. LIMA, Luiz Costa. Estruturalismo e teoria da literatura. Petrópolis, Vozes, 1973:13.
3 A Estética.
Este trabalho se aproxima desta definição de Souza, pois pretendo abordar as questões da
estética atuando sobre um tipo especial de sensibilidade, a sensibilidade para com as diferenças e a
diversidade existente em sala de aula. E se afasta dos estudiosos antigos que, pretendiam alcançar a
essência do belo, através da identificação com o bom, tendo em conta os valores morais.
Dois aspectos fundamentais podem ser destacados: a) a estética enquanto teoria que torna-se
ciência normativa, às custas da lógica e da moral; e b) a estética enquanto uma metafísica do belo, que
se esforça para desvendar as belezas sensíveis.
Mas qual a origem da palavra estética?
Estética se origina de aisthesis4 e quer dizer, para os gregos, algo como a percepção
do mundo sensível ou a sensação. Tatarwkiewicz recorda que, juntamente com aisthesis,
os gregos também utilizavam o adjetivo aisthetikos, em oposição a noetikos5. Ao passo
que o primeiro caracteriza o estágio perceptivo do conhecimento, tido como imaginativo e
impreciso, o segundo, o seu estágio intelectual, tido como lógico e abstrato (Kirchof,
2003:27).
Baumgarten, mesmo tendo sido o fundador da disciplina estética, acabou por tornar-se menos
influente do que Immanuel Kant que em parte reformula o projeto daquele, conferindo um novo sentido
à cognitio sensitiva6, e, em parte, refuta qualquer possibilidade de ligação entre cognição e juízo
estético (Kirchof, 2003.). Nasce então a estética transcendental, que retorna à concepção grega do
termo aisthesis:
(...) define o conceito estético somente a partir da sensação produzida pela
intuição empírica do objeto, deixando de lado todas as questões relativas à poeticidade, à
retoricidade e à beleza dos objetos estéticos, conforme introduzidas por Baumgaten
(Kirchof, 2003:30).
Kant conclui que o fenômeno estético é dotado de matéria (correspondente à sensação) e forma
(suas relações), sendo a primeira a posteriori7 e a segunda a priori8. Para o autor a estética
transcendental se define como a “ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori”9. Porém
para Kant existe uma outra fonte de conhecimento que faz parte do espírito humano, esta fonte é o
entendimento, que tem a função de pensar o objeto da intuição visível. A ciência que se ocupa deste
estudo é a lógica. Podemos dizer, portanto, que a estética e a lógica
se complementam, pois é
necessário que existam pensamentos com conteúdos e intuições com conceitos para que se realize o
processo de percepção estética (Kirchof, 2003.).
4 Sobre a história do conceito aisthesis e sua tradução latina para sensatio, verificar, entre outros Wladslaw
Tatarwkiewicz, A history of six ideas:, 1980:302.
5 Id., ibid., 1980:.311.
6 Conhecimento sensível.
7 Que está atrás, posterior no tempo. Fonte: Dicionário de Latim-Português. Porto Editora: Porto/Portugal,
2001:524. 2.ed.
8 Que está mais à frente, adiante no tempo. Fonte: Dicionário de Latim-Português. Porto Editora:
Porto/Portugal, 2001:540. 2.ed.
9 Cf. Immanuel Kant, Kritik der reinen Vernunft, p. 70. Nossas traduções da Crítica da razão pura se baseiam
na
versão de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Kant, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. 4. ed.
Contudo, Kant em sua nova crítica, desenvolve um conceito radicalmente diferente de estética,
baseado no juízo. Nesse novo contexto, o filósofo afirma existirem dois tipos de juízo, um subjetivo
(juízo estético) e outro objetivo (juízo teleológico). O primeiro não possui a função de produzir
conhecimento lógico ou objetivo, apenas evoca o sentimento de prazer ou desprazer no momento em
que o sujeito é afetado pela representação de um objeto. O segundo tipo tem a função de manifestar a
finalidade objetiva e intelectual da representação.
Para Mesquita (2003) precisamos pensar a literatura infantil como uma obra de arte que exerce
influência sobre as crianças. E que, à medida que as crianças vão tendo contato com os livros infantis,
elas vão sofrendo um processo que chamo de empoderamento, ou seja, vão aumentando seu
conhecimento de mundo e ampliando suas possibilidades de interagir com a realidade que as cerca.
“Para, além disto, tem, ainda, a função de arraigar as palavras no mundo mágico da criança, permitindo-lhe, não só entendê-las, como também gozá-las e desfrutá-las no contexto da imaginação”. E
Nesta perspectiva a literatura infantil é um conjunto de manifestações e de
actividades que tem como a base a palavra (com finalidade artística) que interessa à
criança. O risco de interesse, suscitado na criança, insiste no aspecto de liberdade e na
aceitação voluntária de elementos que, também, usará livremente para a construção da
consciência da própria criança (Mesquita, 2003:2).
Concordo com o autor e identifico-me com sua idéia de que a literatura infantil está presente na
consciência da criança. Quando penso pragmaticamente sobre isso, lembro das experiências com meus
filhos e de como o fato de eles estarem motivados era determinante para que pudessem realizar suas
próprias leituras.
Vamos imaginar a seguinte situação: estamos todos prontos para viajar, embarcados no mesmo
avião, sentados no mesmo lado e todos ocupamos os assentos próximos às janelas. Conseguem
imaginar isso? Coll10! Agora vamos olhar pelas janelas e descrever, uns para os outros o que “estamos
vendo”. Será que descreveremos as mesmas coisas, do mesmo modo, com as mesmas palavras? Com
certeza algumas informações se aproximarão, porque de certa forma nosso imaginário já está
“contaminado” pelo nosso conhecimento de mundo, que nos restringe a certas possibilidades. Mas,
mesmo assim, alguns de nós irão descrever algo que não percebemos. Parodiando Vasques11, alguns de
nós poderemos ver, por exemplo, “um coelho branco sobre as nuvens”, e como as questões da
percepção são questões subjetivas, não podemos simplesmente dizer que aquele que vê algo que não
vemos está certo ou errado. Alguém pode estar se perguntando qual o objetivo de olharmos pela janela
e descrevermos o que estamos vendo? A resposta é simples, tomarmos consciência de que cada um de
nós é um sujeito único e capaz de descrever uma percepção que também é única.
Aproveitar a paisagem significa então se deixar levar pelas possibilidades que a teoria da estética
da recepção nos possibilita em sala de aula. Sem preconceitos, sem idéias pré-concebidas, sem
concepções e motivações skinnerianas. Há que se avaliar, eu sei. Como professores, estamos presos a
um sistema educacional que necessita de adaptações e reformas e que faz com que os alunos “viajem”
diariamente “saindo de uma aula de determinada disciplina e entrando em outra, completamente
diferente da primeira, sem nenhuma escala ou conexão entre elas”12.
Atualizando as coordenadas do nosso destino, retomo Mesquita (2003) que coloca que é preciso
reivindicar a autenticidade de literatura infantil, delimitar seus limites e eliminar possíveis formalidades de
confusão. Não podemos simplesmente teorizar sobre ela, utilizando reducionismos infantilizantes, nem
esquemas banais, uma vez que pretendemos a revalorização do discurso. “Revalorizá-lo para que a
literatura infantil, num processo de fusão estética, se identifique como literatura sem incidências
semânticas restritivas. Só assim se poderá recorrer a um itinerário sem limitações nem fronteiras
(Mesquita, 2003:3)”.
A tarefa da pragmática literária infantil deve iniciar considerando a posição que o sujeito receptor
deve ocupar no discurso e promover, tanto quanto possível, uma coordenação entre os paradigmas da
psicopedagogia e os paradigmas da estética.
10 Legal.
11 Carla Vasques, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação/ UFRGS, autora
da
Dissertação de Mestrado intitulada Um Coelho branco sobre a neve (2004).
12 Colocações feitas pelo professor inglês Andy Hargreaves em Seminário Internacional de Educação,
realizado na PUC/RS em 2003.
Algumas considerações sobre a experiência estética:
Quadro 1:
Porém para Mesquita esta teoria apresenta algumas questões que devem ser mais bem
desenvolvidas:
Quadro 3:
Tem-se observado que a criança sofre uma evolução psicolingüística que se reflete na sua forma
de se comunicar através de elaborações mentais mais complexas, que a capacita a realizar construções
sintagmáticas mais estruturadas, tanto na fala quanto na escrita. Essa evolução psicolingüística inicia na
fase do balbucio, quando a criança é capaz de realizar sons e ruídos com o objetivo de chamar a
atenção de seus pais e/ou adultos cuidadores, informando suas queixas, suas vontades ou simplesmente
sua necessidade de afeto.
(...) do ponto de vista receptivo, inclui-se, também, a competência lingüística, como
condição prévia e com desenvolvimento posterior. No entanto, esta competência ver-se-á
acrescentada pela competência literária, como é lógico, e sem estabelecer mais
dificuldades do que as da normal aprendizagem (Mesquita, 2003:1).
A etapa seguinte, quando a criança passa do balbucio à oralização das primeiras palavras, já
reflete um amadurecimento lexical e organizacional das estruturas orais da língua portuguesa, processo
esse que é realizado inconscientemente pelas crianças. É importante salientar que, para que esse
processo ocorra, as crianças precisam estar constantemente sendo estimuladas pelo meio em que
vivem. Aos dois anos e meio de idade, em média, as crianças já possuem interiorizada a estrutura
interna básica da língua portuguesa (SVO – sujeito + verbo + objeto), realizando sentenças curtas, que
são facilmente entendidas pelos adultos. A partir dos quatro anos de idade, a criança realiza sentenças
mais longas e organiza seu pensamento de maneira estruturada.
Os resultados da actividade produtiva da competência literária da criança
ganharão importância, se considerarmos que podem servir de avaliação do aspecto
receptivo. Por exemplo, nos casos das narrativas orais, é sabido que, quando a criança
escuta um conto, a sua mente está a produzir outro. Isto sem reforçar a idéia de que por
um lado, a narrativa oral opera como um veículo de emoções e, por outro lado, inicia a
criança na palavra, no ritmo, nos símbolos, na memória; desperta a sensibilidade,
conduzindo à imaginação através da linguagem global. Pois, escutar histórias é uma das
primeiras experiências literárias. (Mesquita, 2003:1).
Com o início do processo de escolarização, a criança passa a ter contato com a alfabetização e
passa a perceber que os conceitos internalizados durante sua evolução psicolingüística inicial têm uma
nova função que é a da escrita.
Durante o processo de escolarização, a criança efetivamente tem contato mais direto com os
eventos de letramento que, segundo Terzi (2002), ocorrem quando esta criança tem à sua disposição
material em língua portuguesa escrita como: livros, jornais, revistas, entre outros.
Estes eventos de letramento exigem ainda, segundo a autora, a mediação de uma outra pessoa
capaz de interagir com a criança e com o texto. Quanto maior tiver sido a exposição da criança a estes
eventos de letramento, maior terá sido seu desenvolvimento psicolingüístico. É a partir destes eventos de
letramento aos quais a criança está/foi exposta que ela desenvolverá sua leitura que, num primeiro
momento, segundo Freire (1987), será leitura de mundo. Esta leitura de mundo precede a leitura da
palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura de mundo.
Para Freire (1987), a compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura da
palavra escrita e/ou da linguagem falada, na verdade vai, além disso, desenvolvendo-se na “inteligência
de mundo”. Ainda de acordo com o autor é preciso, portanto, que o leitor faça primeiro uma leitura de
mundo imediato, levando em conta o contexto em que está inserido, para que esse mesmo leitor possa
ir compreendendo e apreendendo, reconhecendo que tudo está ligado a contextos mais amplos que o
de mundo imediato.
(...) ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da
linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência de mundo. A leitura de
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir
da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A
compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto (Freire, 1987:11-12).
Continuando nesta linha de raciocínio e refletindo sobre a evolução psicolingüística da criança,
podemos entender que, nesta etapa do desenvolvimento infantil, a alfabetização se constitui num ato
político, de reconhecimento – é, portanto um ato criador, onde o papel do alfabetizador está bem
definido: ajudar a não anular a criatividade e o imaginário infantil. A responsabilidade do alfabetizando
está na construção da linguagem e na leitura dessa linguagem (Freire,1987).
Segundo Sarmento (2003), o imaginário infantil é
uma das características mais estudadas das
formas específicas de relação das crianças com o mundo. É preciso ressaltar que esta investigação tem
sido dominada pelas correntes teóricas presentes na Psicologia, sob duas grandes perspectivas: a
psicanalítica (freudiana) e a construtivista (piagetiana). Para Freud, o imaginário infantil tem
correspondido à expressão do principio do desejo sobre o princípio da realidade, fazendo do jogo
simbólico uma expressão do inconsciente, para além da formação da censura. Já para Piaget, o jogo
simbólico é a expressão do pensamento autístico13 das crianças, progressivamente minimizado pelo
processo de desenvolvimento e construção do pensamento racional e abstrato. Apesar das diferenças
entre as diversas abordagens teóricas, existe um elemento comum inerente à própria concepção
moderna da infância: o imaginário infantil é concebido como expressão de um déficit14 – as crianças
imaginam o mundo porque têm necessidade de um pensamento objetivo ou ainda porque não têm
perfeitamente formados seus laços racionais com a realidade. Esta idéia de déficit é inerente à
negatividade na definição da criança, que constitui um pressuposto epistemológico na construção social
da infância na modernidade: “criança é o que não tem voz (infans), o que não tem luz (o a-luno), o que
não trabalha, o que não tem direitos políticos, o que não é imputável, o que não tem responsabilidade
parental ou judicial, o que não tem razão, etc.” (Sarmento, 2003).
Porém, uma revisão recente dos conceitos psicanalíticos e construtivistas sobre o simbólico no
jogo da criança e no jogo do adulto postula que, ao contrário da idéia de uma diferença radical, o que
existe é um princípio de transposição imaginária do real, comum a todas as gerações e que se exprime,
por exemplo, tanto nas narrativas literárias quanto nas brincadeiras das crianças, constituindo assim uma
“capacidade estritamente humana” (Harris, 2002), que é realizada de forma exagerada pelas crianças.
Isto faz com que seja da ordem da diferença e não do déficit o que foi falado do imaginário infantil, em
relação ao imaginário dos adultos.
Existe ainda uma outra vertente, da ordem do social e do antropológico, que pode fazer com que
essa diferença tenha mais sentido. Dela resulta o imaginário infantil como algo inerente ao processo de
formação e desenvolvimento da personalidade e racionalidade de cada criança (Sarmento,2003). Mas
isso acontece num contexto social e cultural capaz de fornecer as condições e as possibilidades desse
processo. Não podemos pensar nessas condições sociais e culturais como algo homogêneo, pelo
contrário, são condições heterogêneas que incidem sobre uma condição infantil comum: que é a de uma
geração que está, aparentemente, sob o controle de uma outra geração, adulta. Esta geração depende
da outra para se desenvolver e crescer. E é essa dimensão simbólica que permeia o imaginário da
criança.
13 Esta palavra é utilizada pelo autor no sentido de que a criança expressa seu pensamento de forma centrada
nela mesma.
14 Apesar de achar esta palavra muito forte e pesada, mantenho no texto por ter sido este o termo utilizado por
Sarmento em seu artigo.
Precisamos pensar as crianças como construtoras de cultura, valorizando sua criatividade, sua
capacidade imaginativa, sua ousadia e sua liberdade, que permitem a transposição das barreiras da
realidade imediata para o imaginário. A capacidade das crianças de interagirem com a sua percepção
da realidade e com a fantasia faz com elas possam construir conceitos e, a partir disso, constituírem-se
como sujeitos capazes de refletirem e atuarem nesta sociedade. Essa relação particular que as crianças
estabelecem com a linguagem, através da sua evolução psicolingüística, dos eventos de letramento aos
quais foram expostas e da manutenção do seu imaginário infantil, permite a aquisição e a aprendizagem
dos códigos que refletem e configuram a percepção do real e sua utilização criativa. Segundo Sarmento
(2002:4): “... esta aquisição e aprendizagem é desenvolvida predominantemente nas instituições
educacionais (jardins de infância e escolas), tanto quanto nas interações realizadas no espaço
doméstico, através da educação familiar”.
Agora que já teorizamos sobre a estética da recepção na literatura infantil e esclarecemos as
questões levantadas por Mesquita com relação à evolução psicolingüística das crianças, aos eventos de
letramento aos quais a criança está/foi exposta e a manutenção do imaginário infantil, podemos verificar
a possibilidade/relevância da utilização desta teoria na sensibilização das crianças nas classes comuns de
ensino e analisar os efeitos da convivência com as marcas identitárias que configuram a “diferença”.
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KIRCHOF, Edgar Roberto. Estética e Semiótica de Baumgarten e Kant a Umberto Eco.
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SARMENTO, Manuel Jacinto. As Culturas da Infância nas Encruzilhadas da 2ª Modernidade.
IN: SARMENTO, M.J. e CERISARA, A.B. (org), Crianças e Miúdos. Perspectivas Sócio-Pedagógicas da Infância e Educação. Porto: Asa, 2003.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura – Série
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TERZI, Sylvia Bueno. A construção da leitura.
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http://www.vagalume.uol.com.br Acesso em: 30 de Dez. 2006.