http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/182.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

A PRÁTICA DA AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: DIRECIONAMENTOS PARA O PROFESSOR E PARA OS FAMILIARES.
                                    Regina Keiko Kato Miura
Departamento de Educação Especial- Faculdade de Filosofia e Cièncias- Unesp- Marília


RESUMO

Programa de ensino de novas habilidades, avaliado sistematicamente, para algumas áreas do desenvolvimento humano, bem como, a orientação educacional a família podem melhorar o desempenho de crianças com deficiência mental. O presente estudo analisa dados de implementação da avaliação pedagógica para dois alunos com deficiência mental. Foi utilizado o inventário Portage para avaliação nas áreas de socialização, linguagem, cognição, desenvolvimento motor e autocuidados. Os participantes foram dois alunos com hipótese diagnóstica de psicose infantil e com Síndrome de Kabuki, cinco e seis anos de idade, respectivamente, e familiares responsáveis (mãe, avó). O planejamento da avaliação pedagógica iniciou com um levantamento de dados sobre a rotina dos alunos e interação pessoal com os mesmos. Em seguida, a partir de observação direta do desempenho dos alunos em atividades foram coletados dados para avaliação inicial utilizando o Inventário Portage. Os planos de ensino individualizados foram elaborados, priorizando objetivos para as áreas com maior déficit, uma menos defasada e uma intermediária. Concomitantemente, as famílias observavam os atendimentos educacionais e foram oferecidas orientações para continuidade do trabalho no lar, objetivando o pleno alcance dos objetivos de ensino planejados conjuntamente. Ao término de um semestre letivo, novamente, os dados de desempenho foram coletados utilizando o Inventário Portage. Os resultados da avaliação pedagógica nas áreas especificadas mostraram avanços significativos no desempenho dos alunos, não só nas áreas em que os objetivos educacionais foram almejados, mas também, nas demais áreas em que os itens não foram desenvolvidos. Houve desenvolvimento dos alunos de forma global, constatando a extinção de comportamentos inadequados inicialmente apresentados. Observou-se também a apresentação de habilidades e condutas adequadas na rotina dos alunos. Além disso, a coleta de dados de avaliação diariamente e análise de estratégias de ensino durante a implementação do plano de ensino, permitiram a revisão constante do desempenho dos alunos em atividades previamente selecionadas e aumento na aquisição de novos repertórios.


1- INTRODUÇÃO
As crianças cujas faixas etárias pertencem as idades entre zero e seis anos necessitam de estímulos e oportunidades de exploração do mundo ao seu redor, favorecendo seu crescimento pessoal e sua relação social. Crianças com deficiência mental necessitam de intervenção pedagógica e estimulação infantil que são fundamentais para auxiliá-las no desenvolvimento das áreas deficitárias. Há, na literatura sobre educação infantil e educação inclusiva,  indicativos de que o programa Portage de educação pré-escolar foi bastante inovador e resistiu a uma série de práticas tradicionais de formas diferentes (Mittler, 2003). Segundo Mittler, (2003)  tal programa de educação levou o serviço para dentro do lar, em vez de assumir que as famílias sempre deveriam deslocar-se para encontrar profissionais no seu próprio ambiente; que o conhecimento detalhado que a família possui acerca de seus filhos poderia ser utilizado para avaliar as potencialidades e as necessidades das crianças, a partir das quais seria decidido um plano de ensino apropriado de curta duração; ressalta a importância dos membros da família serem altamente efetivos para ensinar tais objetivos para as crianças; e, finalmente que não são necessários muitos anos de capacitação e estudo para tornar um agente familiar com habilidades. Qualquer pessoa com experiência com criança, incluindo os próprios pais e as mães de crianças com necessidades especiais, pode aprender em um curto período de tempo a ser um agente familiar competente.  O presente estudo teve como objetivo geral, aplicar uma avaliação informal utilizando-se do guia Portage e implementar um plano de ensino individualizado a dois alunos que apresentam hipótese diagnóstica de psicose infantil e síndrome de Kabuki com idade de 5 e 6 anos, respectivamente. A meta principal foi proporcionar oportunidades para interação interpessoal, estudar, brincar, jogar, elaborar e/ou obedecer a regras sociais e outros.
 
2- MÉTODO
Participantes: - dois alunos que apresentam hipótese diagnóstica de psicose infantil e síndrome de Kabuki com idade de 5 e 6 anos, respectivamente e seus familiares e duas estagiárias do curso de pedagogia, habilitação em educação especial, área deficiência mental
Local: o estudo foi realizado no centro de estudos da educação e saúde – Unesp - Marília /SP
Material: utilizou-se o inventário Pórtage para avaliação informal nas áreas de socialização, linguagem, cognição, desenvolvimento motor e auto-cuidado.
Procedimento: O estudo foi conduzido por meio das seguintes etapas:
- Levantamento de dados sobre a rotina dos alunos e interação pessoal com os mesmos por meio de jogos e brincadeiras recreativas;
- Observação direta do desempenho dos alunos em atividades, utilizando o inventário Pórtage na coleta de dados para avaliação inicial;
- Elaboração dos planos de ensino individualizados, priorizando objetivos para as áreas com maior déficit, uma intermediária e uma menos defasada, concomitantemente;
- Oferecimento de orientações às famílias para continuidade do trabalho na rotina da casa,;
- Nova coleta de dados ao término de um semestre letivo, utilizando o inventário Pórtage.

3 – RESULTADOS  E DISCUSSÃO
Os resultados da avaliação informal nas áreas especificadas mostraram avanços significativos no desempenho dos alunos, não só nas áreas em que os objetivos educacionais foram almejados, mas também, nas demais áreas em que os itens não foram desenvolvidos. Para melhor visualização dos dados representados nos gráficos, utilizou-se da legenda: p1 para o aluno 1 e p2 para o aluno 2.
3.1- Desenvolvimento motor
Os gráficos mostram um avanço no desempenho destes participantes na área de desenvolvimento motor. Visando a autonomia na elaboração e execução de movimentos, o trabalho estimulou ações em que se exigissem o raciocínio e coordenação motora de uma forma funcional. Por meio de atividades cotidianas que os alunos adquiriram grande parte dos resultados positivos, realizando-as de forma natural, utilizando e adequando-as em situações diferentes, percebendo suas necessidades.

Figura 1. Porcentagem de acertos de acordo com a faixa etária na área de desenvolvimento motor apresentadas por P1 e P2, durante a primeira e a segunda avaliação.

3.2- Socialização
Os dados contidos no gráfico da 1ª e 2ª avaliação na área de socialização demonstram que os alunos obtiveram um progresso significativo. Pode-se afirmar que os comportamentos inadequados dos alunos se extinguiram, facilitando assim sua interação social diante as orientações e intervenções. Como mostram os gráficos, passou-se a socializar-se mais, mantendo um contato maior e mais intensivo com o meio, facilitando também o desenvolvimento em outras áreas de conhecimento.  

Figura 2. Porcentagem de acertos de acordo com a faixa etária na área de socializaição apresentadas por P1 e P2, durante a primeira e a segunda avaliação.

3.3- Linguagem
Em relação a área de desenvolvimento da linguagem, as informações dos gráficos nos mostram significativos avanços Constata-se que os alunos passaram a utilizarem-se da verbalização em mais situações que inicialmente. Durante os atendimentos, procurou-se constantemente provocar a necessidade de uma comunicação verbal, considerando é claro, os limites apresentados devido as características  próprias da patologia.
Figura 3. Porcentagem de acertos de acordo com a faixa etária na área de linguagem apresentadas por P1 e P2, durante a primeira e a segunda avaliação.

3.4 – Cognição
Os dados apontam o desenvolvimento relevante no que diz respeito a cognição. Houve um desempenho progressivo no decorrer da intervenção pedagógica cuja estratégia previa  oportunidades para estimular o raciocínio, a percepção, a atenção e elaborar e executar soluções, frente a situações de desafio, de forma autônoma.
Figura 4. Porcentagem de acertos de acordo com a faixa etária na área de cognição apresentadas por P1 e P2, durante a primeira e a segunda avaliação.

3.5 - Autocuidados
Verifica-se nas figuras 9 e 10, apresentadas na área de autocuidados, o desenvolvimento dos alunos pela alteração na porcentagem de desempenho na maior parte das faixas-etárias. Determinadas ações que inicialmente eram realizadas com ajuda total, passaram a se realizar com ajuda parcial, obtendo-se progresso e certa autonomia em suas atitudes, até a realização de forma independente.
Figura 5. Porcentagem de acertos de acordo com a faixa etária na área de autocuidados apresentadas por P1 e P2, durante a primeira e a segunda avaliação.

Visualizou-se, a partir dos dados de desempenho em atividades, o desenvolvimento dos alunos de forma global, constatando a extinção de comportamentos inadequados inicialmente apresentados e a instalação de habilidades e condutas adequadas na rotina dos alunos.
A avaliação diária e análise de estratégias de ensino durante a implementação do plano de ensino, permitiram a revisão constante do desempenho dos alunos em atividades previamente planejadas e melhoras na prática pedagógica do professor.
Quanto aos familiares, observou-se a motivação em aprender mais para uma intervenção adequada e efetiva com a criança durante a rotina diária.

4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSUMPÇÃO Júnior, FB. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento Infantil. S.P.: Ed. Lemos, 1997
BARNARD, K. E. & Erickison, M. L. Como educar crianças com problemas de desenvolvimento. Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.
CENTRO NACIONAL DE INFORMAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS. Síndrome de Kabuki.
Disponível em:  <www.omim.com.br/sindromekabuki.htm> Acesso em: 13 maio de 2002.
LABOVER, M. Autismo Infantil: fatos e modelos. 2ed. Caminas: Papirus, 1995
MITTLER, P. Educação Inclusiva: contextos sociais. Tradução Windyz Brazão Ferreira-Porto Alegre: Artmed,2003
PROJETO GENOMA HUMANO. Síndrome de Kabuki. Disponível em: www.projetogenomahumano/sindromekabuki.htm Acesso em: 20  maio de 2002.
WILLIAMS, Lúcia Cavalcante de Albuquerque. O Inventário Portage operacionalizado: intervenção com famílias. São Paulo: Ed. Memnon, 2001.