http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/199.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

INCLUSÃO DE DOIS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL: ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR
Vanessa Aparecida Mariano Peluccio
Regina Keiko Kato Miura
Faculdade de Filosofia e Ciências-UNESP/ Marília


RESUMO

Há, na literatura da área de educação especial, muitos os relatos sobre a inclusão dos alunos com deficiência na escola regular, mas poucos ressaltam e analisam à prática pedagógica do professor com esses alunos. O presente estudo tem por objetivo analisar as competências e habilidades aprendidas por dois alunos com deficiência mental, após uma seqüência de estratégias de intervenção, nos aspectos comportamentais e pedagógicos. Participaram deste estudo dois com alunos com deficiência mental de uma 1ª série de uma EMEF do município de Marília. Os procedimentos utilizados contemplaram as observações em sala de aula, uma avaliação informal para o levantamento de informações das competências e habilidades desenvolvidas e as não desenvolvidas para a definição das estratégias de intervenção com cada um dos alunos. Os dados iniciais foram comparados com os dados posteriores as intervenções. Os resultados das estratégias de intervenção mostraram avanços significativos no desempenho não só nos objetivos definidos, mas em diferentes contingências no ambiente escolar.

INTRODUÇÃO

Buscando desenvolver uma prática inclusiva a escola deve ter claramente quais são suas obrigações e papel no ensino e aprendizagem das crianças com necessidades educativas especiais. Antes de qualquer proposta de trabalho é preciso ressaltar e discutir qual o conceito de inclusão que a escola tem, e posteriormente buscar linhas de ações para promovê-la.
Segundo Stainback e Stainback (1999, p.31), a inclusão é:

[...] mais que um modelo para prestação de serviços de educação especial. É um novo paradigma de pensamento e de ação, no sentido de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se tornando mais norma do que exceção.

Mittler (2003) ressalta que a inclusão envolve um processo de reforma e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola. Isto inclui o um currículo adequado e uma avaliação sistematizada.
Para Leão (2004) a escola com uma educação inclusiva é aquela que está propícia a transformações, aberta a lidar com as diferenças. A escola não pode estar fundamentada na hegemonia e em preconceitos, mas buscando a aceitação e a prática da diversidade e um ensino de qualidade.
O ensino de competências que deve ser apropriado à idade cronológica e imediatamente útil ou que sirva para uma função específica para a vida do aluno com necessidades educativas especiais. Se necessário, promover as adaptações curriculares que aumentam sua participação no ambiente escolar, bem como, a aquisição de novos conceitos e habilidades. (Bautista,2002; LeBlanc, 1991; Miura, 2004)
Nessa concepção a ação pedagógica deve propor situações didáticas, as quais os alunos possam trabalhar, aprender e se perceber como sujeito ativo na busca pela aprendizagem.
O presente estudo buscou analisar as competências e habilidades aprendidas por dois alunos com deficiência mental, após uma seqüência de estratégias de intervenção, nos aspectos comportamentais e pedagógicos.

2- MÉTODO

Participantes: Participaram deste estudo dois com alunos com deficiência mental de uma 1ª série de uma EMEF do município de Marília. Estes alunos estão matriculados em série regulares no período vespertino. Um dos alunos (A1) tem 7 anos, diagnóstico de deficiência mental e com histórico de deficiência na família, documentos encaminhados da educação infantil, não descrevem claramente a hipótese diagnóstica. Através de constantes observações das situações em sala de aula, foi possível, identificar, comportamentos inadequados, dentro e fora da sala de aula. Observaram-se também constantes gritos principalmente após o horário de recreio, permanecia a maior parte do tempo caminhando entre as carteiras e quando questionado “porque você está andando pela sala?” respondia “não sei” e voltava para o lugar, passavam-se aproximadamente 20 segundos e ele repetia a mesma ação e a mesma resposta. Esse fato acontecia com muita freqüência, principalmente, quando estava em situação acadêmica e era acompanhado de se jogar ao chão e dar gargalhada sem motivos. Outro comportamento muito persistente era o de colocar os materiais na boca como, lápis, borrachas e giz de cera, ficando todo o seu material escolar e a face com aspecto de sujo. Na área pedagógica foram levantadas através de situações de leitura e escrita que A1 não apresentava registro das atividades no caderno com pauta, o registro começava em uma folha e no meio de uma frase viravam várias folhas e escrevia tudo de novo.
O aluno 2 (A2) tem 6 anos que apresenta diagnóstico de síndrome do alcoolismo fetal Smith (1989), essa síndrome é um grupo de defeitos encontrados no nascimento. Os defeitos podem ser físicos e mentais, resultados do consumo de álcool durante a gravidez. Como citado anteriormente, estes defeitos incluem atraso mental, déficit de crescimento, mau funcionamento do sistema nervoso, anomalias cranianas e desajustes de comportamento. Através de uma avaliação informal envolvendo a escrita de letras, palavras e frases observaram-se dificuldades na coordenação motora, pois, o aluno utilizava de 5 a 7 linhas para escrever e não conseguia até o momento diferenciar letras de outros tipos de caracteres, como números; com as observações em sala de aula. Verificou-se, nesse caso, que o aluno deixava o material cair constantemente no chão. Outro comportamento observado foi a ausência de seguimento de instruções simples com apenas um comando verbal, “como pega o papel que está em cima daquela carteira, ou, entrega esse caderno para a professora ao lado”.
Local: Emef da cidade de Marília
Procedimento: Visando uma prática inclusiva o presente estudo iniciou com uma avaliação informal nas áreas de socialização, linguagem, cognição, desenvolvimento motor e auto-cuidados de cada um dos alunos e que ofereceram subsídios para uma intervenção individualizada,
 A segunda etapa foi definir a linha de trabalho dentro da rotina escolar que atendesse as necessidades educacionais de cada um deles, que por sua vez, com o aluno 1 o trabalho deveria ser, primeiramente aumentar os comportamentos adequados no ambiente escolar e com o aluno 2 o trabalho era voltado mais para o pedagógico.
Para o trabalho com o aluno 1 foram propostas as seguintes estratégias:
- Buscar ações eficazes para diminuir os comportamentos inadequados dentro e fora da sala de aula, através de ajudas parciais e totais; pegar na mão, comando verbal, utilizar um amigo para acompanhá-lo nos ambientes fora da sala, como banheiro e refeitório, identificada as freqüências (horário) dos comportamentos inadequados e envolver aluno em uma situação de interesse do mesmo ( distribuir cadernos, crachás, trabalhos com alfabeto móvel) e que tenha um objetivo envolvido.
- Ignorar os gritos e redirecionar sua atenção para a situação de aprendizagem, ou seja, não enfatizar o grito, mas  buscar soluções que chame a sua atenção;
- Desenvolver ações que promova a oralidade, através de situações de leitura individuais, em grupo, dramatizações e rodas de conversas;
            As intervenções com o aluno 2 foram:
- Modelos de fala, não através de repetições, mas dando exemplos em diferentes situações e com outros alunos, “sempre que você quiser ir ao banheiro tem que pedir – Posso ir ao banheiro?”
- Definição de um único objetivo por vez, sendo em alguns momentos preciso realizar adaptações curriculares, principalmente nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa.
- Níveis de ajuda total (pegando sobre a mão do aluno) e parcial ( pontilhado e um número mais reduzido de escrita no início e depois ir aumentando )principalmente nas atividades de cópia da lousa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados deste estudo piloto são parciais. Neste momento será apenas descrito, de forma resumida, os resultados após a utilização das estratégias acima descritas:
ALUNO 1

- Diminuiu a quantidade de gritos e as mudanças constantes de comportamento na sala de aula, possibilitando ao aluno participar mais das atividades propostas;
- Mudança de postura da turma valorizando os comportamentos adequados desse aluno com elogios sobre o caderno e os materiais;
- Maior independência nas atividades pedagógicas e sociais desenvolvidas na escola, consegue ir ao banheiro sozinho, e dar e receber recados  com frases simples;
- Um pouco maior o tempo de concentração nas atividades de produção escrita, atribuindo um valor sonoro as palavras.

ALUNO 2

- Verificou-se com questionamentos com alfabeto móvel que reconhece as letras do alfabeto e a maioria das sílabas simples;
- Diminuiu a quantidade de linhas para escrever, fato observável com facilidade nas produções de textos;
- Realiza a contagem de rotina de 0 a até 9, com facilidade em situações lúdicas
- Está começando a escrever os símbolos numéricos de 0 a 5, tendo assim uma melhora na coordenação motora;
- Necessita de apenas ajudas parciais para algumas situações didáticas;
-,Aumentou a participação em atividades de oralidade, como em rodas de leitura , relatos de opinião sobre um livro.
Os resultados das estratégias de intervenção mostraram um avanço significativo no desempenho não só nos objetivos definidos, mas em diferentes atividades no ambiente escolar.
A principal função da 1ªsérie é o letramento, mas, no entanto, anterior a esse processo outros requisitos em termos, da escola do currículo de do manejo de sala de aula devem ser levados em conta, analisados e definidos  anteriores ao procedimentos de intervenção.
Leão (2006) ressalta que por lidar com a formação de pessoas, a escola dispõe de oportunidades riquíssimas que, se bem aproveitadas, podem transformar conceitos e práticas sociais. É preciso valorizar e oportunizar constantemente situações que contribuam cada vez mais para uma formação funcional e responsável de nossos alunos. A escola é um dos meios eficazes para transformar a realidade da exclusão social, e para se construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos, sem exceção, possam gozar os mesmos direitos e oportunidades.
Os resultados obtidos até o momento, demonstraram um avanço significativo dos dois alunos, confirmando assim que, embora seja trabalhoso, é possível nesse caso que duas crianças com necessidades educativas especiais possam freqüentar a mesma sala com estratégias de intervenção de acordo com a necessidade imediata de cada um, ou seja, não adiantar um professor tentar ensinar seu aluno a ler e escrever, se ele não consegue parar na carteira, ou não consegue se concentrar naquilo que está fazendo.
A avaliação, mesmo que informal, possibilita ao profissional definir, qual será a linha de intervenção a seguir, podendo ainda um trabalho conjunto entre  a escola e a família.
Assim esses alunos passam a ser vistos como pessoas capazes de aprender e de agir com independência. (Sassaki,1999)


REFERÊNCIAS

BAUTISTA.R. Necessidades educativas especiales. Archidon. Málaga: Ediciones Aljibe,2002.

LEÃO, A.M.C. O processo de inclusão: a formação do professor e sua expectativa quanto ao desempenho acadêmico do aluno surdo. 2004.120f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.

LEBLANC, J.M. Functional Curriculum in the Education of Persons With Mental Retardation. Invited address, International Symposium - COANIL, Santiago, Chile. 1991.

MIURA, R.K.K. Perspectivas para o atendimento educacional de pessoas com necessidades educacionais especiais por meio do currículo funcional natural.  9º Congresso Estadual das APAEs do Estado de Minas Gerais Minas Centro. Belo Horizonte - MG. Novembro, 2004.

LEITE. S. A. S. Alfabetização e Letramento: contribuições para as práticas pedagógicas
Campinas, SP: Komedi: Arte Escrita, 2001.

MITTLER, P. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. 264p.

SMITH, D.W. Síndrome de malformações congênitas. São Paulo. Manoele, 1989

STAINBACK,S; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores.Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1999.