http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/200.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

INFLUÊNCIA DA TEXTURA DO RECURSO PEDAGÓGICO EM ATIVIDADE DE ENCAIXE REALIZADA POR ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL
Paula do Carmo Paiva - FFC – UNESP - ppaiva@marilia.unesp.br
Lígia Maria Presumido Braccialli - FFC – UNESP - bracci@marilia.unesp.br
Agências financiadoras: MEC/SEESP/CAPES/PROESP e CNPq


RESUMO

O estudo analisou a influência de diferentes texturas do recurso pedagógico, no desempenho do membro superior durante uma atividade de encaixe realizada por alunos com paralisia cerebral. Participaram do estudo seis alunos com seqüelas de paralisia cerebral do tipo espástica, diplegia e quadriplegia, com idade entre 7 anos e 8 meses e 28 anos e 1 mês. A atividade de encaixe solicitada aos participantes foi realizada com o recurso apresentado em 3 diferentes texturas, aleatoriamente: 1) lisa, 2) intermediária e 3) áspera. Para a coleta de dados foram utilizados transdutor de força, eletromiógrafo e filmagem. A comparação entre as texturas lisa, intermediária e áspera para as variáveis: força, atividade eletromiográfica, tempo despendido e índice de retidão, foi realizada pela análise de variância de medidas repetidas, com nível de significância de 5%. Os resultados mostraram que não houve diferença estatística para as variáveis estudadas com o recurso apresentado nas 3 diferentes texturas. Porém, os dados da estatística descritiva permitiram observar que: 1) a textura áspera foi a que exigiu menor quantidade de força de preensão palmar; 2) a textura lisa requisitou menor atividade eletromiográfica dos músculos estudados, e despendeu um tempo menor para a execução da tarefa e, também, foi a que determinou melhor desempenho dos participantes com relação à trajetória do movimento executado.
                                                                                                                          
1 Introdução
Crianças com seqüelas de PC que apresentam alterações motoras podem ser incluídas na população de alunos com deficiência física. Desta forma, essas crianças, por meio de dispositivos legais das políticas educacionais, principalmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001 (BRASIL, 2001), devem ter garantido acessibilidade referente às instalações, equipamentos e mobiliários, além de provimento de recursos humanos e materiais necessários, de forma a contemplar o desenvolvimento de suas capacidades físicas, cognitivas, sociais e emocionais, de acordo com suas necessidades especiais.
O ambiente escolar, principalmente a sala de aula, é o local no qual o aluno desenvolve diversos tipos de atividades pedagógicas que devem lhe proporcionar as mais diversas experiências. Para o aluno com deficiência física participar de algumas dessas atividades ele necessita de recursos pedagógicos adaptados para atender as suas necessidades específicas e, deste modo, propiciar situações estimulantes e motivacionais que cooperem com a eficácia de seu aprendizado. Recurso pedagógico foi definido por Manzini (1999) como um estímulo concreto que pode ser manipulável e que possui finalidade pedagógica.
A utilização de recursos adaptados pode contribuir para aquisição de habilidades funcionais que a criança não seria capaz de realizar sem o uso destes. Uma das formas para adequar o recurso pedagógico às necessidades específicas do aluno pode ser realizada por meio de adaptações, as quais, segundo Araújo e Manzini (2001), podem ser dirigidas a materiais pedagógicos, como lápis, caderno, livros, quadro negro, entre outros utilizados pelo aluno.
De acordo com os relatos de Manzini e Santos (2002), as adaptações com relação à textura do recurso pedagógico, são usadas para proporcionar o desenvolvimento da percepção tátil-cinestésica, de forma a propiciar a vivência de várias sensações táteis, as quais podem servir de estímulo para as funções manuais presentes nas atividades do cotidiano escolar e nas atividades de vida diária. Desta forma, pequenas modificações no recurso pedagógico e, ainda, a prática e experiências repetidas, podem produzir maiores êxitos no desempenho motor desses alunos.
Os alunos com PC podem apresentar algumas dificuldades relacionadas à preensão de objetos, em virtude dos comprometimentos motores apresentados. Assim, algumas vezes, não adaptar as características físicas desses recursos, como formato, peso, tamanho e textura, poderá culminar no insucesso durante atividades específicas que envolvam movimentos com os membros superiores, já que estes também podem ser considerados importantes ferramentas para a exploração do meio e aquisição de novos conhecimentos.
Shumway-Cook e Woollacott (2003) destacaram a importância da percepção individual das características do objeto a ser pego para a preparação do movimento, de forma que o resultado final seja melhor, ou no mínimo, menos prejudicado. Dessa maneira, adaptações realizadas nos recursos pedagógicos usados pelo aluno com PC, quando atendem as suas necessidades específicas, podem contribuir para evitar frustração no desempenho da atividade pedagógica.
Muitas ações pedagógicas praticadas em sala de aula estão alicerçadas em determinadas concepções sobre o uso de adaptações nas características físicas do recurso pedagógico, com base em observações diretas durante a prática pedagógica cotidiana do professor ou profissionais da área. Desta forma, o estudo buscou oportunizar subsídios científicos, por meio de dados quantitativos, aos profissionais da área da educação, em destaque a Educação Especial, e também àqueles que possuem contato com a população estudada, no processo de adaptação de objetos no que se refere à textura destes.
Por conseguinte, o estudo levantou o seguinte questionamento: a textura do recurso pedagógico interfere no desempenho funcional de membros superiores em crianças com paralisia cerebral espástica?
Deste modo, o estudo teve o propósito de analisar a influência de diferentes texturas do recurso pedagógico, no desempenho do membro superior durante uma atividade de encaixe realizada por alunos com paralisia cerebral. Para tanto, as seguintes variáveis foram investigadas: força de preensão palmar; atividade eletromiográfica dos músculos deltóide fibras anteriores, tríceps braquial e bíceps braquial, envolvidos no movimento da tarefa solicitada; tempo despendido para a atividade; índice de retidão.

2 Método                     
2.1 Participantes
Participaram do estudo 6 indivíduos do gênero masculino e feminino, com idade entre 7 anos e 8 meses e 28 anos e 1 mês, que apresentavam seqüelas de PC espástica dos tipos quadriplegia e diplegia, recrutados no Centro de Estudos da Educação e da Saúde (CEES), UNESP, Campus de Marília. Os participantes foram avaliados e classificados pelo Gross Motor Function Measure Classification System (GMFMCS), Sistema de Classificação da Medida da Função Motora Grossa, para identificação do nível de comprometimento motor (RUSSEL et al., 2002).
 
2.2 Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Análise do Movimento (LABAM) da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Unesp, Campus de Marília, localizado no Centro de Estudos da Educação e da Saúde (CEES).

2.3 Equipamentos e materiais
Os equipamentos e materiais utilizados foram: 1) filmadora digital Sony Handycam, modelo DCR-HC21; 2) fita de vídeo compatível com a filmadora; 3) computador com placa de captura de vídeo; 4) programa para análise de movimento Kavideo; 5) suporte para filmadora; 6) marcadores reflexivos; 7) fita métrica; 8) mobiliário adaptado; 9) eletromiógrafo modelo EMG800C (8 canais) da EMG System do Brasil Ltda; 10) eletrodos ativos auto-adesivos com sistema de botão; 11) programas para captura e análise dos dados eletromiográficos DI-148Acquisition 44A11DF3 e WINDAQ32, respectivamente, ambos da EMG System do Brasil Ltda; 12) transdutor de força modelo TRF_MAD da EMG System do Brasil Ltda; 13) lixa com gramatura n. 200, pintada na cor amarela; 14) papel camurça e papel verniz na cor amarela; 15) dois objetos no formato de torre, feitos em papel cartão. Um na cor vermelha com formato triangular, medindo 10 cm de altura com os três lados de 5 cm cada um, e outro na cor azul no formato retangular, medindo 7 cm de altura com 4 cm de largura cada lado; 16) três caixas de papel cartão confeccionadas, usadas para encaixar os objetos. Encaixe vermelho triangular para caixa triangular vermelha; encaixe retangular azul para caixa retangular azul; e, encaixe redondo amarelo para o transdutor que foi revestido na cor amarela com a lixa, o papel camurça e o papel verniz, designando as diferentes texturas utilizadas.

2.4 Procedimentos para coleta de dados
2.4.1 Registros eletromiográficos e de força de preensão palmar
Foi realizado um registro eletromiográfico com eletrodos de superfície, localizados sobre o ponto motor dos principais músculos do membro superior requisitados durante a execução da tarefa solicitada a cada participante, a saber: 1) músculo tríceps braquial; 2) músculo bíceps braquial; e 3) músculo deltóide – fibras anteriores.
Para o registro da força de preensão palmar foi utilizado um transdutor de força modelo TRF_MAD da EMG System do Brasil Ltda, conectado a um canal do eletromiógrafo.

2.4.2 Registro dos dados cinemáticos
Para o registro dos dados cinemáticos, foi utilizada uma câmera digital Sony Handycam, modelo DCR-HC21, suspensa a uma altura de 1,58m do tampo da mesa, sobre a qual foram dispostos os objetos e realizada a tarefa solicitada, de forma a permitir a visualização do participante e da tarefa por ele executada a partir de uma vista superior. Foi utilizado o programa Kavideo para análise de movimento em duas dimensões (2D), o qual requereu demarcação de pontos anatômicos previamente selecionados que contemplassem as articulações do membro superior estudado, com a principal finalidade de digitalização destes pontos para os cálculos dos dados cinemáticos, realizados pelo programa.

2.4.3 Situação experimental
Foi utilizado um mobiliário adaptado com opção para ajuste da altura da mesa e do apoio para os pés, de acordo com as necessidades antropométricas de cada participante. Esse mobiliário adaptado constava de uma cadeira e uma mesa com recorte em semicírculo no tampo. Os objetos ficaram dispostos à frente do participante, sobre a mesa. Os registros foram feitos com as três texturas, lisa, intermediária e áspera, a partir do posicionamento descrito acima, durante as seguintes situações: preensão do transdutor, encaixe e preensão e retorno do transdutor no ponto inicial. A tarefa solicitada foi realizada com três repetições em cada uma das três texturas, ou seja, um total de 9 repetições para cada participante.

2.5 Procedimentos para análise de dados
2.5.1 Análise eletromiográfica e da força de preensão palmar
Para a análise dos dados eletromiográficos e dos dados de força foi realizada uma análise quantitativa em duas situações: 1) do momento em que o participante realizou a preensão do transdutor até o encaixe, considerado como movimento de ida, e, 2) do momento da preensão do transdutor até o retorno à posição inicial, considerado como movimento de retorno.
Os valores foram dados em microvolts (mV) na eletromiografia, e, para os dados de força, em kilograma-força (Kgf).

2.5.2 Análise cinemática
Por meio do programa Kavideo foram obtidas a quantidade de frames e a velocidade escalar. A partir desses dados, foram calculados: 1) tempo despendido para a execução da tarefa; 2) velocidade escalar média; 3) distância percorrida pela mão durante a execução da tarefa; e 4) índice de retidão (CARVALHO, 2004), o qual fornece a trajetória do movimento, de forma a verificar o controle do mesmo. Os respectivos valores foram transferidos para uma planilha do Microsoft Excel para posterior análise estatística.

2.5.3 Análise estatística
Devido à natureza dos achados os mesmos foram resumidos por meio de média e desvio-padrão. O estudo da normalidade das distribuições em estudo foi verificado por meio do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov (Teste KS) e a comparação entre os grupos segundo as texturas, lisa (T1), intermediária (T2) e áspera (T3), no movimento de ida e no de retorno, foi realizada por meio da análise de variância de medidas repetidas e se necessário complementada por meio do teste de comparações múltiplas de Tukey. Adotou-se para todos os testes o nível de significância de 5% de probabilidade para a rejeição da hipótese de normalidade.

3 Resultados
3.1 Resultados da análise de força de preensão palmar
Os resultados da estatística analítica mostraram que não houve diferença estatística entre as texturas para os movimentos de ida e de retorno. Os resultados da estatística descritiva mostraram que, em relação à média, tanto para o movimento de ida quanto para o movimento de retorno, a textura áspera (T3) apresentou a menor força de preensão palmar, com 0,450 kgf e 0,436 kgf, respectivamente.

3.2 Resultados da análise da atividade eletromiográfica
Os resultados da estatística analítica mostraram que não houve diferença estatística entre as texturas para os movimentos de ida e de retorno, para os músculos estudados.
Os resultados da estatística descritiva mostraram que, em relação à média, tanto para o movimento de ida como para o movimento de retorno, a textura lisa (T1) apresentou menor atividade eletromiográfica do músculo deltóide fibras anteriores, com 79,211 mV e 70,212 mV, respectivamente.
Com relação à atividade eletromiográfica do músculo tríceps braquial, os resultados da estatística descritiva mostraram que, em relação à média, tanto para o movimento de ida como para o movimento de retorno, a textura intermediária (T2) apresentou menor atividade eletromiográfica, com 16,766 mV e 16,346 mV, respectivamente.
A análise descritiva dos dados da atividade eletromiográfica do músculo bíceps braquial, durante o movimento de ida e de retorno, mostrou que houve uma menor atividade eletromiográfica para a textura lisa (T1), com valores de 33,994 mV e 40,338 mV, respectivamente.

3.3 Resultados da análise do tempo despendido para a realização da tarefa
Os resultados da estatística analítica mostraram que não houve diferença estatística entre as texturas para os movimentos de ida e de retorno. Os resultados da estatística descritiva mostraram que, em relação à média, tanto para o movimento de ida como para o movimento de retorno, a textura lisa (T1) apresentou o menor tempo despendido, com valores de 3,245 s e 2,712 s, respectivamente.

3.4 Resultados da análise do índice de retidão obtido pela execução da tarefa
Os resultados da estatística analítica mostraram que não houve diferença estatística entre as texturas para os movimentos de ida e de retorno. Os resultados da estatística descritiva mostraram que, em relação à média, tanto para o movimento de ida como para o movimento de retorno, a textura lisa (T1) apresentou o menor índice de retidão, com valores de 1,751 e 1,594, respectivamente.

4 Discussão
4.1 Análise de força de preensão palmar, durante os movimentos de ida e de retorno, com o recurso pedagógico apresentado em diferentes texturas
Os resultados da estatística descritiva mostraram que a média dos resultados foi semelhante para o movimento de ida e de retorno, com maior aplicação de força para a textura intermediária (T2) e menor para a textura áspera (T3). Esses achados podem sugerir que os participantes utilizaram a informação sensorial fornecida pela textura como mecanismo para o controle da força necessária à preensão do objeto, como relatado por Shepherd (1995) e Brandão (1984). Semelhantemente, Shumway-Cook e Wollaccott (2003) relataram que a sensação tátil das pontas dos dedos é importante para o ajuste da amplitude da força necessária para pegar e levantar o objeto. Assim, quando o objeto foi apresentado nas texturas T2 e T1, os valores para a força de preensão palmar foram mais altos, o que pode ser explicado pelo fato de que essas texturas apresentam sensação de serem mais escorregadias, requisitando maior força sobre o objeto para este não escorregar.

4.2 Análise da atividade eletromiográfica dos músculos deltóide fibras anteriores, tríceps braquial e bíceps braquial, durante os movimentos de ida e de retorno, com o recurso pedagógico apresentado em diferentes texturas
Quando foram comparados os movimentos de ida e retorno, a atividade eletromiográfica do músculo deltóide fibras anteriores mostrou-se mais intensa no movimento de ida que no movimento de retorno, sendo que, em ambos, a maior intensidade foi encontrada para a T3 e a menor para a T1. A intensa atividade eletromiográfica do músculo deltóide fibras anteriores, em ambos os movimentos, pode ter sido determinada pelo fato de que a ação solicitada, além de envolver a requisição da principal ação muscular dessas fibras, a flexão do ombro, exigiu concomitantemente a ação de manter o membro superior contra a gravidade e, ainda, intensidade tal para sustentar o peso do transdutor apreendido durante a tarefa de encaixe. De acordo com Brandão (1984), nos movimentos executados contra a ação da gravidade ou de uma resistência qualquer, é necessário que a força de contração muscular dos agonistas seja superior à resistência oferecida ao movimento.
Em relação aos movimentos de ida e de retorno, a média dos resultados da atividade eletromiográfica do músculo tríceps braquial foi semelhante para os dois movimentos, sendo que, para o movimento de retorno, ela apresentou-se discretamente inferior. Esse resultado mostrou-se como esperado, já que o movimento de ida requer uma atividade mais intensa do músculo tríceps braquial, agindo como agonista do movimento ao realizar a ação de extensão do cotovelo, e o movimento de retorno exige uma menor intensidade de contração muscular.
Quando as médias da atividade eletromiográfica dos músculos tríceps braquial e bíceps braquial foram comparadas, notou-se que o comportamento do músculo tríceps braquial não se mostrou como esperado, ou seja, durante a ida, ele deveria apresentar maior intensidade que o músculo bíceps braquial, como agonista do movimento. Essa ocorrência pode ser explicada pelo fato de que, durante o movimento de ida, o músculo bíceps braquial, cuja ação foi antagonista ao movimento do músculo tríceps braquial, ficou sujeito a um torque externo maior que o interno dentro do músculo, o que pode ter provocado um alongamento deste, ação esta a que chamamos de excêntrica, cuja fonte geradora geralmente é a gravidade ou a ação muscular de um antagonista. Para Hamill e Knutzen (1999), na ação excêntrica, os antagonistas são os músculos controladores da força muscular, pois ao estender o braço da posição fletida, a ação muscular precisa ser controlada excentricamente pelos flexores, ou pelo grupo muscular antagonista, de forma que essas ações excêntricas também são usadas para reduzir a velocidade do movimento, o que na atividade solicitada, serviu como um sistema de frenação para reduzir a velocidade, pois o transdutor seria submetido ao encaixe. Outro fato que possa explicar a maior intensidade de contração do músculo bíceps braquial quando comparada à do tríceps braquial foi a presença de hipertonia da musculatura flexora do cotovelo dos participantes.
Em relação aos movimentos de ida e de retorno, a média dos resultados da atividade eletromiográfica do músculo bíceps braquial foi próxima para os dois movimentos, sendo que, para o movimento de retorno, ela apresentou-se maior. Esse resultado mostrou um comportamento esperado do músculo bíceps braquial, já que sua maior atividade foi encontrada durante o movimento de retorno, cuja ação requisitada é a principal, ou seja, de flexão do cotovelo. Comparando o comportamento muscular do músculo bíceps braquial mediante a utilização das três texturas, tanto para o movimento de ida quanto para o movimento de retorno, a maior intensidade da atividade eletromiográfica foi encontrada para a textura áspera (T3), seguida pela textura intermediária (T2) e, a menor intensidade, foi encontrada para a textura lisa (T1).

4.3 Análise do tempo despendido para atividade, durante os movimentos de ida e de retorno, com o recurso pedagógico apresentado em diferentes texturas
Em relação aos movimentos de ida e de retorno, a média dos resultados para o tempo despendido, mostrou-se mais elevada durante o movimento de ida do que para o movimento de retorno, sendo que em ambos os movimentos, o maior valor encontrado foi para a textura áspera (T3) e o menor para a textura lisa (T1).
A maior média do tempo despendido para a tarefa foi para o movimento de ida, que, talvez, possa ser explicada, pelo fato de que, durante o movimento de ida, a ação de encaixar tenha solicitado uma maior precisão para posicionar o transdutor dentro da caixa. Para Shumway-Cook e Woollaccott (2003), os movimentos que exigem uma parada exata são mais lentos. Nesse estudo, essa desaceleração pode ter sido representada pelo momento em que os participantes deveriam encaixar o objeto.
Nesse estudo, também pode ser considerado que, em virtude da espasticidade dos participantes, durante o movimento de ida, a espasticidade dos flexores de cotovelo, podem ter apresentado uma resistência a ser vencida para a execução do movimento de alcance, preensão e encaixe do transdutor, por isso uma execução mais lenta para esse movimento de ida.

4.4 Análise do índice de retidão, durante os movimentos de ida e de retorno, com o recurso pedagógico apresentado em diferentes texturas
O uso de texturas no recurso pedagógico pode permitir experiências de sensações, as quais poderá ser mais favorável ou não na determinação de um bom desempenho do movimento executado. Nesse estudo, a textura lisa (T1) foi a que possibilitou um movimento executado com maior precisão e, conseqüentemente, melhor desempenho durante a trajetória do movimento realizado pela mão, embora, ainda assim, esses participantes obtiveram valores maiores que 1, valor esse que caracteriza como desempenho ideal.
Se a textura pode influenciar na força de preensão palmar, na atividade eletromiográfica dos músculos envolvidos e no tempo despendido para a realização da tarefa, também pode ser possível que influencie na trajetória do movimento e, conseqüentemente, no desempenho deste, já que o movimento está sujeito ao conjunto de todas essas variáveis e o seu resultado dependente da harmonia destes fatores. Para Brandão (1984), o início, a duração e a intensidade das contrações dos diferentes grupos musculares devem ser sinérgicos, associados e coordenados de tal modo que o deslocamento da mão no espaço seja uma linha contínua e harmoniosa e não se faça segundo um trajeto quebrado, o que aconteceria se estes movimentos fossem isolados e sucessivos, cada um a seu tempo. Ainda para o autor, informações como peso, consistência, aspereza e temperatura são de grande importância para a escolha do padrão de preensão a ser usado e da atividade e orientação que a mão deverá tomar ao tocar o objeto, pois, a cooperação da sensibilidade proprioceptiva, do tato e da visão contribui para que a aproximação possa se executar de modo eficiente.
De acordo com Shumway-Cook e Woollaccott (2003), em pessoas com comprometimentos neurais, os movimentos de alcance são caracterizados pela incoordenação multiarticular, que leva a trajetória anormal do movimento. Isso pôde ser mostrado nesse estudo, já que o índice de retidão para os seis participantes se apresentou com um valor alto, denunciando um desempenho deficitário com relação à trajetória do movimento.

5 Conclusão
O estudo mostrou, por meio do registro de força de preensão palmar, dos registros eletromiográficos e cinemáticos, que: 1) a magnitude da força de preensão palmar foi menor quando utilizada a textura áspera (T3); 2) a intensidade da atividade mioelétrica dos músculos deltóide fibras anteriores e músculo bíceps braquial foi menor quando utilizada a textura lisa (T1); 3) a intensidade de atividade mioelétrica do músculo tríceps braquial foi menor quando utilizada a textura intermediária (T2); 4) o tempo despendido para a realização da tarefa foi menor com o recurso apresentado na textura lisa (T1); 5) o melhor desempenho com relação à trajetória do movimento ocorreu com a textura lisa (T1), revelado pelo menor índice de retidão.

Referências
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BRANDÃO, J. S. Desenvolvimento psicomotor da mão. Rio de Janeiro: Enelivros, 1984.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
CARVALHO, R. P. A influência da postura corporal no movimento de alcance manual em lactentes de 4 meses de vida. 2004. 117 f. Dissertação (Mestrado) – Centro de ciências biológicas e da saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999.
MANZINI, E. J. Recursos pedagógicos para o ensino de alunos com paralisia cerebral. Mensagem da APAE, v. 36, n. 84, p. 17-21, 1999.
MANZINI, E. J.; SANTOS, M. C. F. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados. Brasília: MEC: SEESP, 2002, fascículo 1, 56p.: il.
RUSSEL, D. J.; ROSENBAUM, P.; GOWLAND, C. Gross motor function measure (GMFM66 & GMFM88) user’s manual. London: Mackeith Press, 2002.
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