http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/233.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
ANÁLISE E PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM
SÍNDROME DE DOWN
DUARTE, Márcia
Aluna do Programa de Pós Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Araraquara.
MANZOLI, Luci Pastor
Docente do Departamento de Didática e do Programa Pós Graduação em Educação Escolar da
Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de
Araraquara.
VELLOSA, Sandra Lúcio
Aluna do Programa de Pós Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Araraquara.
Os estudos bibliográficos a respeito da deficiência mostram que a trajetória através dos tempos em
relação à pessoa com Síndrome de Down é permeada por mitos, preconceitos e segregação. Por
suas características físicas como olhos arredondados puxados para cima, baixa estatura, orelhas e
mãos pequenas, eram chamados de mongóis devido a algumas semelhanças físicas com os povos da
Mongólia.
Segundo Schwartzman (1999) as denominações utilizadas eram: “imbecilidade mongolóide, idiotia
mongolóide, cretinismo furfáceo, acromicria congênita, criança mal-acabada e criança inacabada”
(Duarte 2003).
Ainda de acordo com o autor (ibid 1999), no ano de 1866 o médico John Langdon Down escreveu
pela primeira vez algumas características dessa síndrome que mais tarde recebeu o seu nome. A
partir de então, muitos estudos foram sendo realizados e no ano de 1932 surgiu a hipótese de uma
aberração cromossômica e no ano de 1956 estudos científicos visualizaram um número de 46
cromossomos em cada célula humana normal, iguais dois a dois, formando assim, 23 pares ou
duplas de cromossomos dentro de cada célula. No ano de 1959 os estudos de Lejeune mostraram
que a pessoa com essa síndrome apresentava um cromossomo extra em cada célula, ou seja, 47, ao
invés de 46, presenciando assim, três cromossomos 21 em cada célula, o que levou ao termo
trissomia 21.
De acordo com Lefévre (1988) as pessoas com essa síndrome apresentam défict no
desenvolvimento intelectual. Segundo Werneck (1993) e Pueschel (1998), o trabalho de
estimulação é um fator de grande influência no desenvolvimento físico, perceptivo, motor, cognitivo,
afetivo e social, devendo ser favorecidos desde o nascimento (Duarte, 2003).
Por mais diferença que uma síndrome possa trazer, as experiências de convivência e aprendizagem
no meio social e escolar devem ser garantidas para que todos possam usufruir de sua cidadania com
qualidade conforme dispostos em leis e demais documentos expedidos pelos órgãos federais e
estaduais, assegurando o direito de igualdade de condições e permanência na escola.
Portanto, o presente trabalho teve por objetivo fazer um estudo comparativo sobre o número de
alunos com síndrome de Down que se encontravam incluídos nas escolas da rede pública estadual
do ensino fundamental – Ciclo I (1ª a 4ª série), nos anos de 2002 e 2006, visando verificar o
processo de evolução de matrículas desses alunos nessa rede.
A escolha por esse ciclo de ensino se deu por acreditar que é nessa fase que as escolas realizam os
encaminhamentos de alunos com essa síndrome para o ensino regular. Segundo o artigo 44 da LDB
9.394/96, o ensino fundamental tem por objetivo desenvolver “o domínio progressivo da leitura, da
escrita e do cálculo, enquanto instrumentos para a compreensão e solução dos problemas humanos
e o acesso sistemático aos conhecimentos”, e essa fase (1ª à 4ª série) é de extrema importância
para o aluno com Síndrome de Down estabelecer suas bases no processo de escolarização.
O passo inicial para coletar os dados necessários para a realização do presente estudo foi contactar
a diretoria de ensino agendar um encontro para explicar o objetivo da pesquisa, esclarecer eventuais
dúvidas e obter autorização para coletar os dados referentes ao ano de 2006.
Após obter autorização foi marcada uma reunião com a Assistente Técnica pedagógica de
Educação Especial - ATP, que forneceu uma lista com os nomes das escolas do ensino fundamental
Ciclo I (1ª à 4ª série), num total de 14 escolas.
Os dados referentes ao ano de 2002 foram extraídos da dissertação de mestrado de Duarte (2003),
intitulada “Síndrome de Down: Um estudo sobre inclusão escolar na rede pública do ensino
fundamental na cidade de Araraquara/SP”, uma das autoras desse artigo.
Em relação à esses dados, pode-se afirmar que em 2002, havia 14 escolas estaduais do Ciclo I (1ª
à 4ª série) e foram encontrada uma única aluna com Síndrome de Down com 17 anos de idade
incluída nesse ensino.
Os dados foram colocados em um quadro mostrando a relação das escolas estaduais do ensino
fundamental- ciclo I - 1ª a 4ª série por números ordinais de 1 à 14, o número de alunos com
síndrome de Down incluídos no ano de 2002 nessa rede de ensino, bem como os dados sobre
idade, série e sexo.
Quadro 1: Escolas da Rede Estadual do ensino fundamental – 1ª à 4 série que possuíam alunos com
SD incluídos no ano de 2002.
Escola
|
Nº de alunos
|
Idade
|
Série
|
Sexo
|
1
|
-
|
-
|
-
|
-
|
2
|
-
|
-
|
-
|
-
|
3
|
-
|
-
|
-
|
-
|
4
|
1
|
17 anos
|
1ª série
|
feminino
|
5
|
-
|
-
|
-
|
-
|
6
|
-
|
-
|
-
|
-
|
7
|
-
|
-
|
-
|
-
|
8
|
-
|
-
|
-
|
-
|
9
|
-
|
-
|
-
|
-
|
10
|
-
|
-
|
-
|
-
|
11
|
-
|
-
|
-
|
-
|
12
|
-
|
-
|
-
|
-
|
13
|
-
|
-
|
-
|
-
|
14
|
-
|
-
|
-
|
-
|
TOTAL
|
1 aluno
|
Em relação ao ano de 2006, após obter a autorização, deu-se inicio à coleta de dados junto à
citada ATP. Esta informou que havia 4 alunos com síndrome de Down, oferecendo o nome e o
endereço das escolas para que as pesquisadoras pudessem manter os contatos.
Esses dados foram colocados em um quadro conforme abaixo, mostrando a relação das escolas
estaduais do ensino fundamental - ciclo I - 1ª a 4ª série, utilizando-se os números ordinais de 1 à
14, o número de alunos com síndrome de Down incluídos nessa rede no ano de 2006, bem como
os dados sobre idade, série e sexo dos alunos.
Quadro 2: Escolas da Rede Estadual do ensino fundamental – 1ª à 4 série que possuíam alunos com
SD incluídos no ano de 2006.
Escola
|
Nº de alunos
|
Idade
|
Série
|
Sexo
|
1
|
-
|
-
|
-
|
-
|
2
|
-
|
-
|
-
|
-
|
3
|
-
|
-
|
-
|
-
|
4
|
1
|
20 anos
|
4ª série
|
F
|
5
|
-
|
-
|
-
|
-
|
6
|
1
|
14
|
1ª séries
|
F
|
7
|
-
|
-
|
-
|
-
|
8
|
-
|
-
|
-
|
-
|
9
|
-
|
-
|
-
|
-
|
10
|
1
|
14 anos
|
2ª série
|
F
|
11
|
-
|
|
-
|
-
|
12
|
1
|
15 anos
|
3ª série
|
F
|
13
|
-
|
|
-
|
-
|
14
|
-
|
|
-
|
-
|
TOTAL
|
4 alunos
|
Os resultados mostraram que houve mudanças, embora tímidas, pois no ano de 2002, havia apenas
01 aluno e no ano de 2006 haviam 4 alunos com síndrome de Down. Conforme aponta o quadro, a
escola 4 se manteve com um aluno, a escola 6, 7 e 10 que antes não possuíam nenhum aluno
passaram a ter em seu quadro 1 aluno cada. E as demais, mantiveram-se sem alteração.
Diante dos dados apresentados, podemos afirmar que esse número não representa um universo
representativo de inclusão desses alunos. Em uma pesquisa desenvolvida por Duarte (2003), essa
realizou um levantamento das Instituições do Ensino Especial de caráter filantrópico e particular da
cidade de Araraquara no ano de 2002 e constatou que havia ao todo 45 alunos com Síndrome de
Down freqüentando essas escolas. Esses dados mostram a necessidade dos órgãos governamentais
realizarem ações planejadas para ir superando as exclusões e conscientizar a sociedade da
importância do cidadão exercer seus direitos de estudo, permanência na escola e de convívio social.
Convém observar aqui o descompasso entre idade/série desses alunos em relação aos seus colegas
de classe que nessa etapa geralmente, varia de 07 a 10 anos, pois, com 14 e 20 anos de idade,
esses alunos são adolescentes e possuem aspirações e desejos diferentes de seus colegas de classe,
o que seria uma situação a ser pesquisada, pois, acredita-se estar priorizando o processo de
aprendizagem e ignorando outros. Isso mostra que apesar das leis, não é possível garantir o sucesso
da inclusão escolar principalmente se não houver disposição e participação de todos os envolvidos
na educação desses alunos.
O direito das Pessoas com Deficiência à Educação comum, desde 1990 já se encontrava implícito
na Declaração Mundial de Educação para Todos, aprovada pela ONU. A Declaração de
Salamanca destacou pontos importantes na medida em que reafirmou o direito de todas as pessoas
à educação, respeitando as diferenças e particularidades de cada um, ressaltando ainda que a escola
regular representa o meio mais eficaz de combater atitudes discriminatórias, quer no âmbito
educacional ou social. (Duarte, 2003).
Segundo Mantoan (1997, p. 145), “a inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois
não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apóiam todos:
professores, alunos e pais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral”.
Conclui-se, portanto, que as escolas, principalmente as instituições especializadas necessitam
repensar as suas ações educativas como um espaço inclusivo e não segregado, uma vez que a
diversidade humana já foi desvelada, valorizando o ser humano em seu aspecto integral: moral,
social, afetivo e cognitivo, bem como uma reinterpretação da estrutura organizacional da escola de
forma mais inovadora e cidadã.
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