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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
ANÁLISES TEÓRICAS INICIAIS DA TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO DE UM
INSTRUMENTO PARA AVALIAR AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE ALUNOS
COM PARALISIA CEREBRAL PARA O ACESSO AO COMPUTADOR
Gerusa Ferreira Lourenço
Profa. Dra. Enicéia Gonçalves Mendes
Programa de Pós-Graduação em Educação Especial
Universidade Federal de São Carlos
Apoio PROESP/CAPES
RESUMO
A tecnologia assistiva é um termo utilizado para determinar um campo que engloba tantos os
equipamentos como também os serviços que promovam ao indivíduo um sucesso maior na
realização de atividades, aumentando, mantendo ou melhorando suas capacidades funcionais. Neles
estão incluídos os recursos de alta tecnologia assistiva, caracterizados por dispositivos e
equipamentos que envolvem sistemas computacionais. O processo de implementação de recursos
de tecnologia assistiva é complexo, pois envolve variáveis da pessoa, do equipamento e do meio
ambiente. Para o início desse processo é enfatizada a importância de uma avaliação inicial
adequada, com métodos sistematizados que consigam coletar informações sobre as demandas do
sujeito frente à tarefa a ser desempenhada. Tendo como intuito colaborar com a escolarização de
crianças com paralisia cerebral e com o avanço na área de conhecimento sobre recursos de alta
tecnologia assistiva, o objetivo geral desse artigo é apresentar os procedimentos iniciais do processo
de tradução e adaptação de um instrumento norte-americano para compor um inventário específico
que permita estabelecer estratégias de acesso ao computador a alunos com paralisia cerebral. A
metodologia utilizada se baseia em etapas de tradução e adaptação já consagradas na literatura,
tendo a validação teórica o respaldo da psicometria. Os resultados alcançados até o momento com
o início da análise teórica da adaptação do instrumento apontam para a pertinência desse tipo de
ferramenta na realidade nacional.
Introdução
A paralisia cerebral constitui um grupo de desordens neurológicas, com etiologias e quadros clínicos
diversos, em que predominam distúrbios motores e alterações posturais permanentes, podendo
apresentar desordens associadas nas áreas do desenvolvimento cognitivo, visual, auditivo e da
comunicação, secundárias à lesão não progressiva no cérebro imaturo considerado desde a fase
embrionária até os dois anos de idade (GAUZZI e FONSECA, 2005; GIANNI, 2003). Os
aspectos de mutabilidade no quadro clínico são decorrentes do desenvolvimento maturativo do
sistema nervoso central, do aprendizado de novos comportamentos motores e da interferência do
ambiente.
As diferentes formas de apresentação dos distúrbios motores podem levar a dificuldades no
desempenho funcional, principalmente dependendo da gravidade da alteração do tônus muscular, da
extensão do comprometimento motor e dos distúrbios associados ao quadro apresentado, como
déficits visuais, auditivos e cognitivos. Os indivíduos que apresentam grave comprometimento motor
podem evidenciar amplo prejuízo em desempenhar atividades cotidianas de cuidados pessoais, nas
habilidades acadêmicas, no lazer e no trabalho. As dificuldades na comunicação e na locomoção e
mobilidade acabam comprometendo seu aproveitamento escolar e levando à necessidade de apoio
especial para sua educação.
Autores como Rossi (1999), Bernal (2000), Lauand (2000) e Alpino (2003) investigaram como
ocorre o processo de escolarização de crianças com deficiência física/paralisia cerebral de acordo
com a percepção dos pais, dos professores e dos alunos, refletindo sobre as dificuldades
encontradas frente à falta de recursos humanos e materiais adequados para o atendimento dessa
população. Nesse sentido, literatura nacional e estrangeira aponta dificuldades na escolarização de
crianças com paralisia cerebral, principalmente em decorrência das barreiras frente à falta de
acessibilidade física no ambiente escolar.
Assim, os estudos acima direcionam que para o atendimento educacional efetivo às crianças com
paralisia cerebral, podem ser necessárias tanto a implementação de recursos de tecnologia assistiva,
como sistemas alternativos e aumentativos de comunicação, como também adequação da mobília,
espaços físicos e auxílios pedagógicos orientados ao desenvolvimento de suas possibilidades
intelectuais.
A tecnologia assistiva é um termo utilizado para determinar um campo que engloba tantos os
equipamentos/recursos como também serviços que promovam ao indivíduo um sucesso maior na
realização de atividades, aumentando, mantendo ou melhorando suas capacidades funcionais. É uma
área em crescimento exponencial em países desenvolvidos e está começando a ganhar notoriedade
e investimentos no Brasil.
O termo Tecnologia Assistiva é relativamente recente no Brasil, podendo ser associado com
ressalvas ao termo Ajudas Técnicas presentes na legislação nacional (BRASIL, 1999), uma vez que
na definição de Ajudas Técnicas não estão inseridos os serviços envolvidos nos processos de
planejamento, construção, financiamento, prescrição e implementação de tais recursos.
Tais recursos podem ser divididos e categorizados conforme o seu propósito final e também quanto
ao seu nível de complexidade e custo. Quando à classificação sobre o propósito do recurso, e
especificamente com relação aos possíveis de serem utilizados no ambiente escolar, Lauand (2005)
ao construir um banco de dados sobre os todos os recursos disponíveis no mercado nacional,
propõe as seguintes categorias: Dispositivos e acessórios computacionais especiais (utilitários e
acessórios para o computador); Mobilidade (equipamentos e/ou recursos para mobilidade e
posicionamento); Elementos sensoriais (recursos aplicados em casos de deficiências sensoriais como
a baixa visão e a surdez); Adaptações para atividades de vida diária (recursos para independência /
autonomia pessoal nas atividades do cotidiano); Adaptações pedagógicas (adaptações de baixo
custo para atividades de leitura, escrita e desenho); Elementos arquitetônicos (adaptações estruturais
no ambiente); Mobiliário e equipamentos modificados (mobiliário e equipamentos modificados ou
feitos sob medida); Controles ambientais (sistemas de controle e modificações do ambiente); e
Lazer/ Recreação/ Esportes (recursos para atividades de lazer, recreação e esportes).
Sobre o nível de complexidade e custo, os recursos podem ser divididos em baixa, média e alta
tecnologia (COOK e HUSSEY, 2001; LANGONE, MALONE, KINSLEY, 1999). Recursos de
Baixa Tecnologia são os recursos mais simples, que não fazem uso de energia, e, portanto,
apresentam uma função limitada, tendo como vantagem uma maior disponibilidade, com baixo custo
e requererem menos treinamento para o seu uso. Recursos de Média Tecnologia são recursos que
geralmente utilizam eletricidade para o seu funcionamento, porém não requisitam um sistema
computacional integrado. Recursos de Alta Tecnologia Assistiva são mais complexos,
multifuncionais, geralmente envolvendo sistemas computadorizados, operados através de programas
especiais de softwares, podendo ser usados por alunos com deficiências de fala, alunos com
dificuldades de aprendizagem, que requerem instrução individualizada, ou alunos com deficiências
motoras, que de outro modo não teriam acesso ao currículo, pela falta de movimentação para
manipular os materiais básicos de escrita (lápis, caderno, borracha, etc.).
A eficiência do uso de tais recursos junto aos alunos com necessidades especiais tem motivado cada
vez mais o desenvolvimento de pesquisas e a aplicação prática no cotidiano nacional.
Especificamente pensando na implementação dos recursos de tecnologia assistiva, a literatura
internacional demonstra que é um processo complexo, pois envolve variáveis da pessoa, do
equipamento, da tarefa a ser executada e do meio ambiente. Desde o final da década de 1990,
principalmente nos EUA, muitos esforços estão sendo direcionados para buscar formas de uma
implementação mais eficaz visto o alto grau de abandono dos recursos pelos usuários. Nesse
sentido, diversos modelos teóricos e práticos estão sendo discutidos em busca de caminhos mais
assertivos, diminuindo custos e frustrações (LENKER e PAQUET, 2004; FUHER et al, 2003).
Em todos esses modelos, é enfatizada a importância de uma avaliação inicial adequada, sendo o
ponto de partida a verificação da elegibilidade do potencial usuário de determinado recurso. Essa
avaliação deve ser baseada na análise das demandas apresentadas pelo indivíduo que o tornam
predisposto ao uso de algum tipo de recurso de tecnologia assistiva. Para tanto, são necessários
métodos sistematizados que consigam coletar informações sobre as demandas do sujeito frente à
tarefa a ser desempenhada.
No caso da escolarização de crianças com paralisia cerebral, as principais atividades visadas são a
escrita e a leitura, e seria necessário avaliar as características do aluno para verificar se há a
necessidade e possibilidade de implementação de recursos mais complexos de alta tecnologia
assistiva, como os dispositivos computacionais, e determinar quais são esses recursos.
Pensando em contribuir com a produção de conhecimento nacional sobre como realizar a
implementação de recursos de alta tecnologia no ambiente escolar, está sendo realizada uma
pesquisa de mestrado com o objetivo de construir procedimentos específicos e sistematizados que
permitam estabelecer estratégias de acesso ao computador a alunos com paralisia cerebral. Dessa
forma, será possível verificar a elegibilidade desses alunos ao uso de recursos de alta tecnologia
assistiva (recursos computacionais) e contribuindo com a implementação adequada desses
dispositivos.
Nessa pesquisa está sendo proposto um inventário que avalia as características físicas e posturais da
criança para determinar a melhor forma de acesso às ao computador, tendo como pano de fundo o
leque de possibilidades de recursos de alta tecnologia assistiva, especificamente utilitários
computacionais, existentes no mercado nacional e o interesse e disponibilidade do uso desses
recursos dentro do ambiente escolar do aluno.
O inventário, que será acompanhado de um manual, será composto por cinco partes: Identificação
do Aluno, Desempenho nas Atividades Acadêmicas em Sala de Aula, Interesse na Implementação
do Computador, Checklist de Avaliação das Características Físicas de Alunos com Paralisia
Cerebral para o Acesso ao Computador (baseado na tradução e adaptação transcultural de um
instrumento norte-americano denominado PCA: Physical Characteristics Assessment –
Computer Access for Individuals with Cerebral Palsy de MCGREGOR, ARANGO, FRASER
e KANGAS, 1994) e a Conclusão. Além disso, o inventário contará com dois apêndices contendo
informações referentes a considerações sobre a postura sentada e também sobre as alternativas de
recursos disponíveis no mercado nacional.
Para esse artigo, estará sendo apresentado o processo de tradução e adaptação teórica autorizada
do instrumento PCA: Physical Characteristics Assessment – Computer Access for Individuals
with Cerebral Palsy (MCGREGOR, ARANGO, FRASER e KANGAS, 1994), constituinte da
quarta parte do inventário.
Método
O PCA foi desenvolvido e validado nos EUA devido à necessidade de sistematização do processo
de identificar como um indivíduo com limitações físicas típicas da paralisia cerebral poderia
confiavelmente acessar as ferramentas computacionais básicas. Assim, através de um checklist
ilustrado, ele tem sua aplicação destinada aos profissionais tanto da área da saúde como da
educação que estão envolvidos nesse processo de facilitação do acesso ao computador por
pessoas com paralisia cerebral. O objetivo dele é guiar os avaliadores durante o processo de
identificação de um método de input (entrada de informação no computador) para o acesso ao
computador.
A versão original é composta por setenta questões seqüenciais divididas em oito seções. Um
processo de eliminação é direcionado para permitir que algumas questões sejam ultrapassadas se as
respostas registradas forem positivas. Este formato dinamiza o processo de seleção de uma
estratégia de acesso, coletando informações sobre:
a) partes do corpo e movimentos que podem realizar a ativação do computador;
b) o tipo de recurso que pode facilitar essa ativação; e
c) considerações posturais básicas relacionadas com o acesso ao computador por indivíduos com
paralisia cerebral.
Para o processo de tradução e adaptação teórica desse instrumento a metodologia utilizada baseou-se no modelo de Guillemin, Bombardier e Beaton (1993) revisado por Beaton et al (2000), o qual
estabelece critérios no sentido de garantir a equivalência de conteúdo, equivalência semântica, a
equivalência técnica e a equivalência conceitual do instrumento.
O processo de tradução e adaptação segundo esses autores é composto por seis etapas: Tradução
inicial, Síntese da tradução, Retrotradução ou tradução reversa, Comitê de especialistas, Pré-teste
ou teste da versão pré-final e Submissão da documentação de cada uma das etapas para os autores
originais do instrumento ou para o comitê coordenador do processo.
Para essa pesquisa, está sendo seguida a metodologia acima mencionada através dos
procedimentos descritos a seguir. Para a tradução foram realizadas as seguintes etapas: contato com
os autores do instrumento original, tradução inicial realizada pela pesquisadora e por dois tradutores
com auxílio de uma docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de
São Carlos para os termos técnicos, tradução reversa por um terceiro tradutor e submissão da
versão final ao comitê de especialistas composto pelo GP-FOREESP/UFSCar1. Para a adaptação
já foram executas as etapas de: sugestão de modificações pelo comitê de especialistas, análise e
contraposição dos recursos disponíveis no mercado nacional com os mencionados no instrumento
original, construção da primeira versão do instrumento adaptado, análise de conteúdo dessa versão
por um segundo comitê de juízes especialistas.
1 Grupo de Pesquisa em Formação de Recursos Humanos e Ensino em Educação Especial / Universidade Federal
de São Carlos cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas no Brasil - CNPq.
A análise de conteúdo, de constructo, ou dos juízes é parte da Análise Teórica de itens conforme os
referenciais da Psicometria e procura verificar a adequação e pertinência dos itens de um
instrumento para avaliarem o atributo que pretendem medir (PASQUALI, 2003). Ou seja, ela tem
por objetivo apurar a pertinência e a capacidade dos itens de medirem aquilo que o instrumento se
propõe, que nessa pesquisa é avaliar se a adaptação do instrumento fornece meios sistemáticos para
verificar possíveis estratégias de acessibilidade ao computador por alunos com paralisia cerebral. Os
juízes poderiam avaliar o item enquanto pertinente ou impertinente para o objetivo do inventário.
Além disso, o juiz também poderia omitir a sua opinião sobre determinado item caso não se sentisse
apto a avaliá-lo, sem prejudicar a concordância com os demais juízes. Assim, com a devolução das
análises pelos juízes, procedimentos de análise de concordância estatística sobre a pertinência de
cada um dos itens foram realizados, fornecendo parâmetros para que esse item possa ser mantido
ou excluído do instrumento proposto.
As etapas que ainda serão realizadas para a finalização da versão traduzida e adaptada do PCA são
a análise semântica também referente a Analise Teórica (PASQUALI, 2003), a realização da
aplicação do instrumento na realizada nacional para verificar as propriedades psicométricas e o
envio da versão finalizada aos autores do instrumento original.
Resultados
Os resultados apresentados caminharão no sentido de demonstrar todas as etapas realizadas, até o
momento, para a construção da versão traduzida e adaptada do instrumento PCA, passando pela
tradução e pela adaptação. Conforme a metodologia aplicada, inicialmente foi realizado o processo
de tradução do instrumento. Após as etapas de tradução e tradução reversa, pode-se concluir que
o instrumento original realmente apresenta uma linguagem simples, sem jargões técnicos. Os únicos
termos específicos da área diziam respeito a alguns equipamentos de tecnologia assistiva que
puderam ser facilmente traduzidos com o auxílio de um dicionário e com a colaboração de uma
professora da área da terapia ocupacional.
Uma vez que não houve dúvidas ou discordância sobre os termos utilizados, foi construída uma
primeira versão traduzida do instrumento, a qual foi submetida aos membros do GP-FOREESP
para que verificassem se as frases e partes do instrumento traduzido correspondiam ao mesmo
sentido proposto no instrumento original. Além das alterações referentes à tradução, esse grupo
também sugeriu algumas alterações que poderiam ser realizadas pensando na adaptação do
instrumento para a realidade brasileira.
Finalizada a versão traduzida do instrumento deu-se início à sua adaptação. O processo de
adaptação do instrumento para os objetivos do inventário buscou conferir legitimidade à sua futura
aplicação, de modo a não descaracterizá-lo. A participação de um comitê de especialista de
diversas áreas possibilitou a reflexão sobre a aplicabilidade do instrumento no país e quais seriam as
adaptações necessárias.
A adaptação do instrumento foi voltada principalmente para as adequações do com relação aos
equipamentos e recursos computacionais e de posicionamento nele mencionados. Para tanto, o
banco de dados de recursos existentes no mercado nacional construído em um estudo preliminar foi
imprescindível, uma vez que apresentava quais eram os recursos que deveriam permanecer na
versão em português devido ao acesso para a aquisição. Além disso, o banco possibilitou através
da análise do funcionamento do equipamento e de suas características, localizar possíveis recursos
que poderiam ser substituídos por serem similares.
As adaptações mais diretas realizadas foram a exclusão de duas questões do questionário original
que correspondiam a recursos inexistentes no mercado nacional e que não poderiam ser
imediatamente substituídos por outros similares. São elas: a questão presente na seção 2 (Ativação
Digital) sobre a possibilidade de acesso ao computador via Código Morse com um equipamento de
ativação múltipla e rápida e a questão na seção 3 (Ativação Via Ponteira Sustentada pela Cabeça,
Boca ou Via Comando por Voz) que dizia respeito à possibilidade de ativação através do uso de
uma ponteira luminosa.
Com relação à primeira questão, optou-se por sua exclusão basicamente por dois motivos.
Primeiramente porque não foram localizados estudos ou relatos sobre a aplicação do Código Morse
enquanto forma de acesso ao computador na realidade brasileira. E também, porque esse tipo de
acionador que possibilita o uso do Código Morse via computador não foi encontrado para a
comercialização no país. Sobre a utilização da ponteira luminosa, essa se caracteriza por um
equipamento que emite um feixe de luz que inside diretamente na tela de um monitor sensível que
reconhece o sinal e executa a ativação (rever essa definição).
Apesar do banco de dados construído apontar que não existe o teclado expandido disponível no
mercado nacional para pronta entrega, optou-se por mantê-lo no inventário uma vez que ele pode
ser adquirido sobre encomenda e também porque sua forma de ativação é similar a outros tipos de
teclado encontrados no mercado, por exemplo um teclado sensível ao toque que possibilita a
customização de pranchas personalizadas para a ativação conforme a necessidade do usuário.
Uma última adaptação realizada diz respeito ao resultado final da aplicação do instrumento.
Conforme o instrumento original, após a conclusão das estratégias de acesso ao computador
obtidas com a aplicação do instrumento, deve-se levar em consideração também a opinião do
usuário. A adaptação realizada foi a inserção de um espaço para a opinião também da família e
sobre a disponibilidade de implementação do recurso na escola do aluno alvo da aplicação do
inventário.
Com essas modificações, a primeira versão adaptada do instrumento passou de setenta questões
originais para setenta e oito questões, mantendo-se a mesma seqüência entre as oito seções
propostas. Essa primeira versão foi então submetida a um segundo comitê de juízes especialistas,
para o início do processo de análise teórica, especificamente a análise de conteúdo. Assim, oito
juízes que mantém pesquisas na área de educação especial e uso de computadores para alunos com
paralisia cerebral, avaliaram todos os itens enquanto a sua pertinência e adequação à realidade
brasileira, contribuindo inclusive com a inserção de novos itens que poderão fazer parte da versão
final dessa parte do inventário.
Dos itens avaliados enquanto pertinência, todos apresentaram concordância de 100% conforme os
objetivos estabelecidos para o inventário. Uma pequena minoria de omissões foi apresentada pelos
juízes, sendo justificadas principalmente pela falta de compreensão do item pelo juiz, remetendo-se
à necessidade de reformulação semântica do mesmo. É importante afirmar que a análise semântica
será a próxima etapa a ser realizada, com um novo corpo de juízes e procedimentos específicos
para a sua execução.
Além disso, os juízes puderam contribuir com críticas e sugestões de novos itens para comporem
essa parte do inventário, complementando a adaptação do instrumento PCA. Todas as falas dos
juízes foram analisadas pela técnica de Análise de Discurso (BARDIN, 1977), pela qual puderam
ser derivadas categorias. De uma maneira geral, com relação às sugestões de novos itens,
destacaram-se as categorias Outros Tipos de Recurso (com sugestão de outros equipamentos não
mencionados, principalmente estabilizadores corporais e acionadores específicos) e Partes do
Corpo para Ativação (sugestões principalmente da ativação via olhos – piscar, e boca – sopro).
Todas essas sugestões estão sendo contabilizadas e serão integradas ao instrumento como novos
itens ou no decorrer do manual. Para constituírem novos itens, as sugestões devem manter uma
concordância de pertinência superior a 75% entre os juízes.
Discussão
Os resultados alcançados até o momento no processo de análise teórica apontam para a pertinência
da proposta do inventário à realidade dos profissionais envolvidos com a escolarização de crianças
com paralisia cerebral.
Especificamente com relação ao PCA, modificações pontuais foram necessárias em seu processo
de tradução e adaptação para ir ao encontro do objetivo de auxiliar no processo de definição de
estratégias de acesso ao computador a esses alunos. As etapas ainda a serem realizadas,
principalmente de análise semântica e aplicação do instrumento, fornecerão novos dados para
aprimorar o instrumento para a realidade nacional. Mas vale ressaltar que, apesar do instrumento
original ter sido criado a mais de 10 anos, ele ainda se mantém viável para a realidade brasileira.
Encerrado esse processo de adaptação do PCA e a conclusão do inventário, espera-se ao final da
pesquisa a viabilização de um instrumento para a avaliação e a prescrição de recursos de alta
tecnologia assistiva que viabilizem o acesso ao computador e, dessa forma, contribua para o acesso
à educação de qualidade por esses alunos. Além disso, busca-se realizar uma contribuição à prática
dos profissionais que lidam com essa temática ao disponibilizar esse tipo de instrumento até então
em falta no país, colaborando para o desenvolvimento teórico da área.
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