http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/277.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
EFEITOS DE ARRANJO INSTRUCIONAL PARA EXECUÇÃO DE TAREFA DE
TRABALHO EM ADULTOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL1
Paula SASSAKI2
2Aluna de Graduação, Departamento de Psicologia, Universidade Federal de São Carlos.
Giovana ESCOBAL3
3 Aluna de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal
de São Carlos.
Celso GOYOS4
4 Docente e orientador, Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Educação
Especial, Universidade Federal de São Carlos.
RESUMO
O ensino de habilidades para o trabalho é um processo através do qual um indivíduo é auxiliado a
desenvolver habilidades relevantes para o mercado de trabalho e para a garantia de um emprego
seguro e remunerado. Esse estudo teve como objetivo ensinar uma tarefa e avaliar o desempenho
dos participantes em duas diferentes condições para desempenho da tarefa: com e sem arranjo
instrucional. O arranjo teve como objetivos específicos prover assistência imediata; aumentar ou
manter a freqüência do comportamento e prevenir erros na rotina da tarefa. Foram utilizados na
pesquisa: videocassete, filmadora, adaptador, fitas de vídeo, computador, papel cartão, papel
dobradura picado, cola, e itens variados. Três adultos com deficiência mental aprenderam a tarefa
de trabalho sob as duas condições, através de técnicas de controle de estímulos, modelação,
modelagem, esvanecimento e níveis de ajuda. As variáveis de interesse foram o tempo de execução
da tarefa e a quantidade de assistência recebida. O delineamento experimental consistiu da
apresentação de três estudos de caso. Os resultados mostraram que todos os participantes
aprenderam os seis passos da tarefa. A tarefa completa foi executada, independentemente, com
exceção do Passo 6, com arranjo instrucional, em que todos, em algumas sessões, precisaram de
níveis de ajuda para completarem. O tempo de realização da tarefa e a quantidade de ajuda
fornecida não diminuíram com o arranjo instrucional. A variação de tarefas pode ter reduzido
comportamentos inadequados e pode ter possibilitado que os participantes trabalhassem mais
estimulados.
PALAVRAS-CHAVE: arranjo instrucional, trabalho, adultos deficientes mentais.
1 INTRODUÇÃO
O ensino de habilidades para o trabalho é um processo através do qual um indivíduo é auxiliado a
desenvolver habilidades relevantes para o mercado de trabalho e para a garantia de um emprego
seguro e remunerado. Os serviços de preparação para o trabalho para pessoas com deficiência
mental são consistentes com a legislação corrente, com a crescente necessidade de serviços para
esses indivíduos e com a expansão de tecnologia para o desenvolvimento de serviços efetivos
(ARAÚJO; ESCOBAL; GOYOS, 2006). Na falta de critérios de desempenho mais rigorosos, a
pessoa com deficiência é encaminhada aos “serviços de preparação para o trabalho” ao completar
18 anos de idade. No Brasil, este ensino enfrenta grandes dificuldades, devido à assistência
inconsistente, tardia e muitas vezes inexistente que as pessoas com deficiência mental recebem
durante a infância. Para aumentar ainda mais a gravidade da situação, essas pessoas, com
freqüência, se desenvolvem em um contexto repleto de limites econômicos e sociais e muitas vezes
permanecem segregadas da comunidade em que vivem. Dadas essas condições, é comum que essas
pessoas apresentem, em tais serviços, problemas como analfabetismo; baixa auto-estima;
dificuldades de comunicação; ausência ou instabilidade de relacionamentos sociais; falta de
repertório básico para o trabalho; distúrbios físicos e de saúde; comportamentos aberrantes, dentre
outros (ARAÚJO et al., 2006).
A área de formação do deficiente mental para o trabalho tem sido alvo de diversas pesquisas na
Análise do Comportamento. Reid; Parsons; Green e Browning (2001) estudaram a questão da
escolha aplicada ao trabalho de deficientes mentais. A metodologia utilizada por esses autores
consistiu em analisar três aspectos de comportamento do trabalho apoiado: escolha; trabalho e
produtividade, além de dois aspectos do comportamento de trabalho do instrutor, refletindo os tipos
de intensidade de ajuda providenciada para os participantes: assistência e instruções. É de particular
interesse nos resultados apresentados que as tarefas estruturadas e que possibilitaram maior
independência na sua execução foram as mais preferidas pelos participantes, dando ao trabalhador
um maior controle da situação de trabalho, e que o comportamento de escolha deve ser diretamente
ensinado, como parte de um processo de tomada de decisão, e não simplesmente aguardado como
derivado do ensino de outras habilidades. As preferências por condições de arranjo instrucional
estão em consonância, portanto, com a visão de que independência deve ser um componente
desejável na formação do deficiente mental para o trabalho. À medida que adultos com deficiência
mental recebem cada vez mais oportunidades de treinamento para o trabalho e, conseqüentemente,
de empregos na comunidade, torna-se também cada vez mais importante o ensino de habilidades
que aumentem as possibilidades de inclusão desses indivíduos na sociedade de maneira o mais
independente possível, com a inclusão de procedimentos eficazes para a melhora no desempenho
nos treinamentos para o trabalho. Têm sido comuns os desajustes, os abandonos, as demissões dos
indivíduos deficientes mentais e os descontentamentos das partes envolvidas no preparo do
deficiente mental para o trabalho (ARAÚJO et al., 2006). Várias alternativas têm sido
desenvolvidas para evitar esses problemas. Estudos sobre suporte e apoio para o trabalho de
deficientes mentais e ergonomia têm desenvolvido arranjos instrucionais que são promissores para a
promoção do desenvolvimento desses indivíduos. Arranjos instrucionais são alterações ambientais
utilizadas em programas educativos com o intuito principal de prover assistência imediata, aumentar
ou manter a freqüência do comportamento e prevenir erros na rotina da tarefa (ESCOBAL;
ARAúJO; GOYOS, 2005). Guimarães (2003) desenvolveu um arranjo instrucional para a tarefa de
confeccionar capas de blocos de anotações. O arranjo, mostrado na Figura 1, possui dimensões
gerais de 300 x 400 mm de diâmetro e foi desenvolvido em uma placa de madeira, do tipo MDF
(medium density fiber ou fibra de média densidade), com três recipientes em baixo relevo
específicos para capas de blocos e para colocação de papel picado, e cola, e cinco ranhuras para
colocação das capas de blocos já confeccionadas de acordo com a tarefa (ver Procedimento). Em
seu estudo, a tarefa de trabalho realizada na nova condição foi comparada com a tradicional, em
que os indivíduos trabalhavam sem o arranjo instrucional. Os resultados mostraram que a
produtividade durante as condições tradicionais foi muito baixa, e o número de erros cometidos
durante a execução da tarefa foi bastante alto. Com a implementação do novo arranjo instrucional,
houve um aumento na produtividade e diminuição no tempo e no número de erros durante a
execução da tarefa.
Figura 1- Arranjo instrucional com dispositivos sendo utilizados para confecção das capas de bloco
de anotações.
Os resultados de Guimarães (2003), entretanto, podem ter sido conseqüência de características
idiossincráticas da metodologia utilizada, dada a variação não sistemática dos procedimentos
empregados. O tamanho da capa de papel cartão utilizado na realização da tarefa com o arranjo
instrucional era menor, levando o participante a emitir um número menor de respostas de colagem
de papel picado que na realização da tarefa sem arranjo instrucional, a receber um número menor
de instruções, e a concluir a tarefa mais rapidamente. Desta forma, o custo de resposta para
execução da tarefa com arranjo instrucional era menor, e a taxa de reforçamento maior, dentre
outras possibilidades. Outra possível influência nos resultados pode ter sido ocasionada pelo
fornecimento de conseqüência social aos participantes pelo experimentador que variou ao longo do
estudo sem ter uma relação direta apenas com erros ou acertos.
Sugeriu-se, assim, que um estudo sistemático para controle dessas variáveis fosse desenvolvido a
fim de validar a pesquisa. O principal questionamento desta pesquisa se dá no sentido de observar
se um ambiente devidamente planejado será capaz de prover contingências que mantenham
comportamentos de trabalho dentro de uma rotina comportamental, podendo este ambiente
especificar cada passo dessa rotina, diminuindo assim a necessidade de supervisão individualizada,
promovendo maior autonomia em relação à tarefa de trabalho para deficientes mentais severos,
depois que estes tiverem aprendido a utilizar-se desse novo ambiente por meio do ensino
sistematizado, utilizando-se de técnicas comportamentais para isso. O presente estudo, portanto,
teve como objetivo ensinar uma tarefa de trabalho de duas maneiras diferentes, com e sem arranjo
instrucional e avaliar o desempenho dos participantes nessas duas diferentes condições.
2 MéTODO
PARTICIPANTES
Participaram desta pesquisa três indivíduos adultos com deficiência mental, com idades entre 16 e
20 anos, de acordo com informações obtidas pelos seus respectivos prontuários na instituição que
freqüentavam. Os participantes foram recrutados em uma instituição filantrópica especializada no
atendimento de deficientes mentais, em uma cidade do interior paulista.
LOCAL E RECURSOS MATERIAIS
A pesquisa foi realizada na própria instituição freqüentada pelos participantes. Foram utilizados um
arranjo instrucional, videocassete, filmadora, adaptador, fitas de vídeo, cronômetro, papel cartão,
papel dobradura picado, cola, itens comestíveis e outros utilizados como conseqüências para os
comportamentos dos participantes.
TAREFA DE TRABALHO
A tarefa consistia em montar capas de blocos de anotações por meio da colagem de quadrados de
papel dobradura picado, 2 cm X 2 cm, dentro de espaços definidos por linhas horizontais sobre
papel cartão, cortado em pedaços de aproximadamente 10 cm por 8 cm. Cada linha deveria conter
quatro pedaços de papel dobradura, colocados de forma a preencher toda a extensão do papel,
sem aparecer o fundo. Esta seqüência de preenchimento da linha era repetida quatro vezes até que
uma capa de papel cartão estivesse totalmente coberta, encerrando a tarefa de trabalho. A Tabela 1
ilustra os passos da tarefa conduzidos sem e com o arranjo instrucional.
Tabela 1 - Análise da tarefa de trabalho com a identificação dos comportamentos motores
necessários para a sua execução em cada passo e as respectivas instruções.
Passos
|
Instruções
|
Descrição
|
1
|
“Pode começar”
“Pegue a capa”
|
Pegar o papel cartão, previamente recortado
no tamanho de 10cm X 8cm
|
2
|
“Pegue a cola”
|
Pegar a cola
|
3
|
“Passe a cola sobre toda a linha”
|
Passar a cola em toda a extensão de cada uma
das cinco linhas horizontais e limitadas do
papel cartão
|
4
|
“Pegue um quadradinho”
|
Pegar um pedaço de papel dobradura picado
|
5
|
“Cole o quadradinho sobre a linha”,
|
Colar o papel dobradura no papel cartão
|
6
|
A “Coloque o papel cartão ao seu lado”,
B “Coloque o papel cartão na ranhura”.
|
Colocar o papel cartão sobre a mesa ao lado
do participante (na condição sem arranjo
instrucional), ou
Colocar o papel cartão na ranhura (na
condição com arranjo instrucional)
|
A: Sem arranjo instrucional
B: Com arranjo instrucional
|
PROCEDIMENTO GERAL
IDENTIFICAçãO DE ITENS DE PREFERêNCIA
Para estabelecimento da hierarquia de itens de preferência dos participantes, a serem
posteriormente usados como possíveis estímulos reforçadores, realizou-se um teste de escolha
forçada segundo Escobal (2007). Os itens foram classificados de acordo com o número de escolhas
para cada item, em níveis de preferência alto, médio e baixo, e disponibilizados sobre uma mesa,
para escolha dos participantes imediatamente após o término de uma capa. O participante teve 15
segundos a partir de sua escolha para consumir ou ter contato com o item.
ENSINO PRELIMINAR
ENSINO DA TAREFA
As sessões foram realizadas individualmente, e iniciadas, com a instrução: “Pode começar”. Para
cada passo da tarefa era apresentada uma instrução específica, conforme ilustrado na Tabela 1.
Também foram utilizadas como ajuda as técnicas de modelação, modelagem, níveis de ajuda e
esvanecimento. Após a conclusão correta de um passo eram apresentadas verbalizações em forma
de elogio (“Certo!”, “Muito Bem!”, etc.), juntamente com a oportunidade de escolha de um dos
itens de preferência. Quando o desempenho na tarefa passava a ser apresentado de forma
independente, as conseqüências sociais eram gradualmente retiradas. Em seguida, era feita a retirada
gradual das contingências ao final de cada passo, passando essas apenas para o término da tarefa.
A partir deste ponto, foi utilizado o esquema de reforçamento contínuo (FR 1), sendo o número de
reforços igual ao número de capas concluídas e foram utilizados níveis de ajuda quando o
participante errasse. O ensino se fazia ora com arranjo instrucional, ora sem arranjo instrucional.
Antes de iniciar as tentativas, o experimentador balanceou a quantidade com e sem arranjo e
estabeleceu uma ordem para que ambas as condições fossem apresentadas o mesmo número de
vezes. A condição de trabalho com que o participante deveria trabalhar era designada no início de
cada tentativa durante essa fase. O critério para considerar a fase de ensino concluída foi de
variação máxima de um minuto em torno da média para três tentativas consecutivas para o
parâmetro tempo de realização de cada capa; e variação máxima de um erro para cima ou para
baixo em torno da média para três tentativas consecutivas para o parâmetro número de erros.
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
Serão apresentados três estudos de caso (TAWNEY; GAST, 1984).
PROCEDIMENTO PARA REGISTRO E ANáLISE DE DADOS E PARA CáLCULO
DE FIDEDIGNIDADE
Os dados de interesse foram o desempenho dos participantes na realização da tarefa sob as
condições sem e com arranjo e a escolha de itens de preferência. Para a análise do desempenho, foi
considerado o tempo de produção de cada capa e o número de erros. O número de erros foi
definido como a quantidade de níveis de ajuda fornecida ao participante durante a execução da
tarefa. Para a análise do comportamento de escolha, a variável dependente foi a porcentagem de
escolhas para cada item de preferência em relação ao total de oportunidade de escolha. Todas as
tentativas foram cronometradas e 20% de todas as tentativas referentes à fase de ensino da tarefa
foram filmadas. Os dados foram coletados a partir dos registros em filme, por meio de protocolos
para registro observacional contendo a análise de tarefa das etapas comportamentais estabelecidas
na fase de ensino. Tais observações e registros, referentes ao cálculo de fidedignidade foram feitos
pela experimentadora e por uma observadora independente, treinada para fins de teste de
confiabilidade. A produtividade foi registrada no final de cada sessão. O cálculo de fidedignidade foi
obtido através da fórmula: número de concordância entre os dois observadores, dividido pelo
número de concordância mais discordância, multiplicado por 100% (HALL, 1974). A média dos
resultados do cálculo de fidedignidade para as tentativas da fase de ensino, sem arranjo instrucional,
foi de 92,4% e, com arranjo instrucional, foi de 98,6%.
3 RESULTADOS
Todos os participantes aprenderam os seis passos da tarefa. Ao longo da fase de ensino os
participantes executaram a tarefa completa, independentemente, com exceção do Passo 6, com
arranjo instrucional, em que todos, em algumas sessões, precisaram de níveis de ajuda para
completarem. Foram conduzidas 14, 14, e 34 sessões para os participantes 1, 2 e 3,
respectivamente, ao longo de todo o estudo, totalizando 62 sessões.
NíVEIS DE AJUDA
FASE DE ENSINO DA TAREFA
A Tabela 2 apresenta a quantidade de ajuda que os participantes necessitaram ao longo da fase de
ensino da tarefa.
Tabela 2 - Quantidade de ajuda necessária a cada participante ao longo da fase de ensino da tarefa
|
Subtotal de ajuda
|
Total geral de
ajuda
|
Participantes
|
Com arranjo
|
Sem arranjo
|
P1
|
10
|
4
|
14
|
P2
|
4
|
4
|
8
|
P3
|
6
|
4
|
10
|
Total de ajuda
|
20
|
12
|
32
|
Os participantes, de um modo geral, receberam ajuda eventualmente, e a diferença de ajuda nas
condições foi pequena. Todos receberam maior quantidade de ajuda verbal, em ambas as
condições de arranjo ou sem arranjo, porém, além de ajuda verbal, na condição com arranjo,
necessitaram de ajuda gestual e verbal mais gestual.
TEMPO
FASE DE ENSINO
A Tabela 3 apresenta o tempo médio, em minutos, para conclusão de uma capa nas condições de
ensino com e sem arranjo instrucional, para os quatro participantes.
Tabela 3 - Tempo médio em minutos e segundos para conclusão da tarefa dos participantes nas
condições de ensino de trabalho com e sem arranjo instrucional.
Participantes
|
Ensino
|
Sem arranjo
|
Com arranjo
|
P1
|
3,6
|
4,2
|
P2
|
6,3
|
6,2
|
P3
|
17,5
|
19,8
|
Total
|
27,4
|
30,2
|
P1 e P3 executaram a tarefa na condição de trabalho sem arranjo instrucional mais rapidamente que
na condição com arranjo instrucional, enquanto P2 executou a tarefa na condição de trabalho com
arranjo instrucional mais rapidamente que na condição sem arranjo instrucional.
Foram necessários, em média, 9,1 min para se concluir a tarefa sem o arranjo instrucional e 10,1
min para se concluir a tarefa com arranjo instrucional.
O tempo de realização da tarefa pode ter sido influenciado pelas interrupções ocasionadas pelo
fornecimento de níveis de ajuda durante sua execução, e na medida em que os comportamentos dos
participantes podiam ser reforçados pelos períodos de espera pela ajuda verbal.
Com relação ao desempenho geral individual, P3 mostrou, nas diferentes fases, comportamentos
diversos, tais como parar de realizar a tarefa e olhar para os lados, provavelmente sob controle de
ocorrências externas ao ambiente de trabalho. Embora o objetivo específico do presente trabalho
não envolvesse o controle de comportamentos inadequados, como os observados, é possível que
tenha havido uma redução desses ao longo do estudo, a partir da instalação dos comportamentos
relacionados à execução da tarefa, e incompatíveis com os inadequados (GUIMARÃES, 2003).
Segundo Munk e Repp (1994), a variação de tarefas pode reduzir comportamentos inadequados e
pode possibilitar que os participantes trabalhem mais estimulados. Dentre o repertório já limitado de
indivíduos deficientes mentais, especialmente os moderados e severos, soma-se o conjunto de
comportamentos inadequados, tais como, autolesivos, agressões e estereotipias (ESCOBAL,
2007). Assim, é de fundamental importância a instalação de novas habilidades que sejam adequadas
para o seu desenvolvimento cognitivo, físico e social, mas é, também, fundamental reduzir ou
eliminar comportamentos inadequados.
4 DISCUSSãO
A introdução do arranjo não diminuiu o tempo de realização da tarefa, tampouco a quantidade de
ajuda fornecida. Sua introdução implicou em uma condição de trabalho diferente da condição sem
arranjo em que os participantes aprenderam a trabalhar e que exigiu novos comportamentos, o que
pode justificar a maior quantidade de ajuda fornecida e o maior tempo gasto para executar a tarefa.
O aumento do número de sessões poderia produzir resultados diferentes em função de uma possível
familiarização dos participantes com a condição com arranjo. A maior quantidade de ajuda
fornecida nessa condição pode ainda ser explicada pelo caráter reforçador que o experimentador
pode ter tido uma vez que quanto maior a quantidade de ajuda fornecida, maior o contato. Novos
estudos poderiam controlar a variável instrução, por exemplo, não as fornecendo a partir do
momento em que o participante aprendesse a executar corretamente a tarefa.
Guimarães (2003) afirma que um arranjo especificamente desenvolvido a partir da análise adequada
da tarefa pode prover contingências ambientais que aumentam a probabilidade de que a rotina
comportamental envolvida numa tarefa de trabalho seja completada, evitando erros em seu
transcorrer e aumentando o valor reforçador da mesma. O experimentador, neste caso, ao utilizar
uma tecnologia comportamental apropriada, aplicou procedimentos desta tecnologia, combinando-os de acordo com cada participante, e promoveu um ganho no aprendizado da nova organização do
ambiente laboral. Isto possibilitou aos participantes se adequarem rapidamente e de forma
consistente à nova tarefa. Definiu-se, aqui, a prioridade do ensino em uma perspectiva inovadora,
que levasse em consideração algumas possibilidades de facilitação consideradas críticas, a partir do
planejamento do ambiente de trabalho, e que produzisse indivíduos mais independentes na tarefa, e
que pudesse ficar a cargo dos instrutores a supervisão da tarefa, reduzindo-se, assim, a necessidade
de acompanhamento passo a passo da mesma, e o uso de instruções de difícil compreensão para o
deficiente mental. Nesse estudo, utilizou-se instruções mínimas, Tabela 1, para garantir maior
compreensão e aprendizagem de cada comportamento necessário à execução da tarefa de trabalho.
Enfim, a metodologia empregada nesta pesquisa, promoveu a inter-relação entre diversas áreas do
conhecimento (Psicologia, Ergonomia, Educação Especial), e viabilizou um pacote de intervenção
capaz de possibilitar uma nova forma de planejamento de treino para o trabalho do deficiente mental
moderado e severo, partindo do ensino de repertórios comportamentais mais básicos, em direção
ao ensino da cadeia comportamental complexa que representa uma tarefa de trabalho. Com a
análise pormenorizada da tarefa, o planejamento ambiental desenvolvido especificamente para a
tarefa prescrita e para seus aprendizes a partir da observação do ambiente no qual esta tarefa
ocorre então podemos dizer que este foi um pacote eficaz na produção de indivíduos deficientes
mentais mais produtivos, autônomos e eficientes, promovendo assim, a possibilidade de futuras
integrações sociais destes indivíduos.
O presente estudo possui implicações práticas importantes para o planejamento de ensino para
pessoas com deficiência mental por mostrar que a adaptação de uma tarefa para escolha pode ser
viável e simples. O estudo contribui com a corrente da literatura que sugere que ensino de
habilidades para o trabalho e comportamentos complexos como uma tarefa de trabalho, em
deficientes mentais, pode ser mais uma questão de procedimento, que uma questão relacionada a
características da população estudada.
REFERÊNCIAS
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para o trabalho do adulto deficiente mental. Revista Brasileira de Educação Especial, 12 (2), 221
– 240, 2006.
ESCOBAL, G.; ARAúJO, E. A. C.; GOYOS, C. Escolha e desempenho no trabalho de adultos
com deficiência mental. Revista Brasileira de Educação Especial, 11 (3), 355 – 372, 2005.
ESCOBAL, G. Escolha e desempenho no trabalho de adultos com deficiência mental. 2007.
94f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação
Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
GUIMARãES, R. S. Efeitos da análise e organização do ambiente de trabalho no
desempenho de deficientes mentais severos. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação
Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos.
HALL, R. V. Managing behavior – behavior modification: The measurement of behavior.
Lawrence, Kansas: H & H Enterprises,1974.
MUNK, D. D.; REPP, A. C. The relationship between instructional variables and problem behavior:
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REID, D. H.; PARSONS, M. B.; GREEN, C. W.; BROWNING L. B. Increasing one aspect of
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TAWNEY, J. W.; GAST, D. L. Single subject research in special education. Columbus, OH:
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