http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/29.htm | 
     | 
  

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
PSICOLOGIA E TEATRO: MOBILIZANDO SENTIMENTOS E RECONSTRUINDO 
POSTURAS FRENTE À DEFICIÊNCIA MENTAL
Solange Leme Ferreira
Pedro Amado Borges
Fernanda Ferreira e Silva
Universidade Estadual de Londrina
RESUMO
Assim como quase tudo que é diferente provoca a hegemonia das sensações e emoções sobre a 
razão, os sentimentos mobilizados pela deficiência mental têm desencadeado  formas de agir nem 
sempre favoráveis para o desenvolvimento e felicidade dos indivíduos com esta condição. O Grupo 
de Teatro para Atores Especiais – GTPAÊ -, formado por jovens e adultos com deficiência mental, 
foi criado em 1997 a fim de que cada espectador de suas apresentações pudesse rever sua 
concepção, seus sentimentos e suas condutas frente à questão. Com este intuito de desmistificar a 
deficiência mental, optou-se pelo universo das artes por oferecer múltiplas oportunidades de 
expressão (para o artista) e ser de grande amplitude democrática, na medida em que pode ser 
acessível a todas as classes sociais (espectadoras do artista). Ainda, das diferentes linguagens pelas 
quais se manifestam as artes, elegeu-se o teatro como estratégia reveladora das reais possibilidades 
e limitações de pessoas com deficiência mental, bem como catalisadora da mobilização social 
indispensável à concretização da sociedade inclusiva. Alguns resultados observados junto aos atores 
do GTPAÊ e junto à amostra de sociedade que tem sido a sua platéia são aqui registrados. 
INTRODUÇÃO
Para Omote (1980), os componentes orgânicos patológicos realmente presentes numa condição de 
deficiência podem gerar incapacidades para o indivíduo que a apresenta, as quais, por si só, não 
determinam o seu nível de funcionamento no meio em que está inserido. O autor afirma, em 1994, a 
diferença existente nas condições de deficiência e de não deficiência é apenas quantitativa, não 
sendo a primeira uma exceção da normalidade, mas sim destacada da normalidade em função de 
critérios sociais. Assim, os indivíduos que não correspondem às expectativas sociais normativas são 
considerados desviantes do grupo dominante e as suas diferenças são interpretadas como 
deficiências. Essa concepção produz um tratamento diferenciado - geralmente de descrédito e 
exclusão - nas relações cotidianas com a pessoa deficiente, gerando sentimentos de inferioridade, 
impotência e dependência. Como resultado deste processo, afirma Omote (1999), o indivíduo 
deficiente acaba por incorporar o papel de desviante e, desta forma, qualificando a condição pela 
qual é identificado socialmente. 
A desinformação a respeito das reais capacidades das pessoas com deficiência mental impede a 
identificação dos aspectos sociais relevantes para a compreensão e minimização das dificuldades e 
limitações por elas vivenciadas, além de tornar insipientes as ações políticas, sociais e educacionais a 
elas destinadas. Por conseguinte, os resultados são também indesejáveis: pessoas com deficiência 
mental apresentando déficits desnecessários em determinados aspectos de seu desenvolvimento. O 
raciocínio para compreender esta constatação é bastante simples: sem informações apropriadas, a 
concepção da deficiência mental afasta-se da realidade que tal condição representa; sem adequação 
nesta concepção, a percepção sobre os indivíduos com deficiência mental torna-se a menos 
fidedigna; por conseguinte, descrédito social gerado pela forma equivocada de conceber a 
deficiência mental e a forma inapropriada de perceber essas pessoas produzem uma baixa 
expectativa concernente ao seu potencial, resultando em que pouco ou nada é feito para que se 
contrarie tal previsão. 
As formas de transmissão de conhecimento e os meios de comunicação também contribuem para o 
atual estágio de posturas frente à deficiência mental e às pessoas que a possuem. Durante muito 
tempo as “anormalidades”, enfim, as diferenças humanas, foram divulgadas como horrores, 
perpetuando-se no imaginário coletivo por meio de péssimos recursos de comunicação, não apenas 
nos de senso comum, tais como os contos, filmes e livros, mas até mesmo em livros acadêmicos. 
Não é infrequente encontrar textos de biologia do ensino médio com fotografias divulgando 
aberrações, quando estes materiais poderiam mostrar facetas mais positivas da realidade 
comunicada, tal como a imagem de indivíduos com síndromes trabalhando, exercendo a sua 
cidadania, enfim, sendo humanos. Exemplo antagônico a este é livro, e seu respectivo vídeo, 
“Contem Comigo” (Ziraldo, 1994), com mensagens claras sobre alguns tipos de deficiências, 
apresentadas por um personagem midiático que, sem nenhuma forma de apelo emocional, cumpre o 
objetivo de chamar a atenção para o fato de que as limitações são compensáveis e que eficiências 
podem ser manifestadas e aperfeiçoadas quando se propicia o respeito e oportunidades para a 
acessibilidade.
Enfim, há que se evoluir na concepção e percepção da deficiência mental para que, a despeito de 
suas dificuldades, os indivíduos com esta condição possam expressar e vivenciar em plenitude o 
potencial que cada um traz dentro de si. 
Um segundo aspecto interferente no relacionamento de pessoas com e sem deficiência, diz respeito 
aos sentimentos, aqui definido como o conjunto de sensações e emoções. É importante ressaltá-lo, 
pois tanto a concepção de deficiência, como o julgamento para considerar um indivíduo como 
sendo de tal condição, são permeados pelas sensações1 e emoções2 produzidas no outro pelo ser 
em questão. De acordo com Saeta (1999), as pessoas e grupos têm necessidade de se proteger 
daquilo que lhes é desconhecido, por representar uma ameaça de desestabilização de seus valores e 
critérios, por exemplo, de beleza e normalidade. Ao entrar em contato com a deficiência, segundo 
Omote (1980), as pessoas buscam criar categorias e classificações para posicionar o outro e a si 
próprio, o que poderia aqui ser interpretado como uma busca de um equilíbrio que permite 
perceber-se distante desse outro que não corresponde às expectativas sociais positivas. Para Glat 
(1995), quando nos deparamos com indivíduos que, por suas características ou comportamentos, 
não se enquadram em nossa representação de normalidade, ocorre uma ruptura na rotina da 
interação social. Segundo a autora, essa inércia acontece seja por não sabermos como agir, seja 
pela repulsa e medo, pois a presença de uma pessoa que se desvia da norma ameaça a nossa 
estabilidade social. Montagu (1988) afirma que as percepções não resultam apenas de sensações 
físicas visuais, olfativas, auditivas e táteis, mas também do conforto, ou desconforto, gerado no 
contato com harmonia, ou desarmonia, de uma imagem. Quando as pessoas têm que entrar em 
contato com a deficiência, segundo Amaral (1992), entram em ação vários mecanismos de defesa, 
que se expressam por modos alternativos de lidar com os sentimentos diante da ameaça que a 
deficiência representa. Pode aparecer o ataque por meio de ações hostis, ou a fuga mediante a 
rejeição, abandono, afastamento, negação ou superproteção do deficiente. 
É importante destacar que qualquer que seja a denominação dos aspectos acima apontados – 
sentimentos, sensações, emoções, mecanismos de defesa, ou outro -, o fato é que, aliados à 
desinformação, ou talvez por ela desencadeados, são fatores mantenedores de preconceitos e da 
marginalização a que são submetidas as pessoas com deficiência mental, limitando ainda mais o 
desenvolvimento e expressão de seu potencial e dificultando o processo de sua inclusão social.
1 conhecimento imediato que mobiliza a emoção
2 reações desencadeadas pelas sensações  
Um terceiro aspecto a ser considerado na análise do contexto da deficiência mental e das pessoas 
que apresentam esta condição diz respeito às suas habilidades sociais. Para Caballo (1996), as 
habilidades sociais são um elemento essencial para o desenvolvimento das relações interpessoais. 
Del Prette, A. e Del Prette, Z.A.P (2001) afirmam que a falta deste tipo de habilidade resultam em 
relações sociais restritas, conflitantes e sem autenticidade, que  interferem de modo desfavorável 
sobre o grupo e sobre a saúde emocional do indivíduo. Para os autores, essas habilidades podem 
ser organizadas em seis conjuntos: de comunicação, de civilidade, de assertividade, de empatia, de 
trabalho e de expressão de sentimento positivo. Pelo exposto, depreende-se que de nada adiantaria 
educar a sociedade para a diversidade, o que obviamente incluiria a convivência com as pessoas 
que têm a deficiência mental, se estas não apresentarem comportamentos sociais habilidosos que 
são indispensáveis para o êxito da interação. 
A constatação da desinformação e dos sentimentos frente à deficiência mental e do despreparo 
referente às habilidades sociais dos indivíduos desta condição, levou a pressupor de que estes 
fatores poderiam ser abordados num trabalho coletivo, interativo e gradual, que oportunizasse a 
construção de uma nova identidade para estas pessoas, pela qual elas pudessem ser reconhecidas e, 
a partir da qual, tivessem respeitadas as suas dificuldades e limitações, mas, sobretudo, que a elas 
fossem propiciadas oportunidades para a manifestação do seu potencial. Assim, para efetivar um 
espaço propício a mudanças na concepção, sentimentos, atitudes e ações discriminatórias, que 
resultasse numa mobilização para a valorização e respeito às características da pessoa com 
deficiência mental, foi elaborada e efetivada a proposta do GTPAÊ – Grupo de Teatro para Atores 
Especiais (FERREIRA, 2002).
METODOLOGIA
IDENTIFICAÇÃO CONTEXTUAL DA PROPOSTA: Dentre as possibilidades existentes, escolheu-se o 
campo profícuo das artes para desenvolver os objetivos pretendidos, pois, conforme aponta Costa 
(2000), por meio da arte o indivíduo com necessidades educacionais especiais pode não apenas 
trabalhar os seus sentimentos em relação à sociedade, que pelos seus preconceitos na maioria das 
vezes o discrimina e segrega, como também transformar-se em um ser humano com auto-estima 
positiva e uma função social ativa. De acordo com o autor, o trabalho com a arte pode deflagrar o 
potencial latente de cada pessoa, por possibilitar o trabalho das próprias emoções, o 
desenvolvimento da imaginação, criatividade e outras habilidades, desta forma exteriorizando o seu 
íntimo e suas singularidade. Além disso, a arte foi selecionada também porque, segundo Martinez 
(2001), o desenvolvimento da criatividade ajuda a diminuir a vulnerabilidade aos agentes estressores 
que os indivíduos com deficiências têm que enfrentar, devido aos estereótipos e preconceitos 
presentes em nossa cultura. 
ESPECIFICAÇÃO CONTEXTUAL DA PROPOSTA: Do universo das artes, optou-se pelo teatro 
por ser, 
segundo Roubine (2003), uma outra maneira de mostrar o real, de esfacelar as aparências, pois 
mobiliza o senso crítico dos espectadores, incitando-os a descobrir por si mesmos uma verdade 
mais complexa do que aquela existente antes do espetáculo. Se “É espetáculo tudo o que se oferece 
ao olhar” (Pavis, 1999, p. 141), então, ele constituiria o espaço e a estratégia pelos quais o 
indivíduo com deficiência mental poderia representar diversos significados de sua existência. Por 
conseguinte, seria a oportunidade para o espectador melhor compreender esse outro e a si mesmo 
frente a ele; um outro que assume seus próprios limites e potencialidades, que lida com as 
vicissitudes de viver e ser como qualquer pessoa. Assim, a premissa era a de que o espetáculo seria 
o catalisador do diálogo entre ambos – um requisito para o estabelecimento e prática do 
entendimento para, finalmente, reconhecerem-se capazes de transformação da realidade à sua volta. 
Boal (1996a) propõe o teatro como forma de dar ao oprimido – aquele despossuído do direito de 
ser – o direito de falar e expressar sua personalidade. Para o autor, a oportunidade de ser, ao 
mesmo tempo, protagonista dos próprios atos e seu principal espectador propicia ao ator imaginar 
possibilidades, reinventar o passado e inventar o futuro, ao invés de esperar por ele. Em uma outra 
obra, Boal (1996b, p.27) afirma que pelo teatro o ser humano pode observar a si mesmo e “ao 
ver-se, percebe o que é, descobre o que não é e imagina o que pode vir a ser; percebe onde 
está, descobre onde não está e imagina onde pode ir”. Assim pensando, acreditava-se que, no 
palco cênico, ao manifestar-se como um personagem – criado a partir de seus próprios conceitos e 
idealizações sobre o mundo – o deficiente mental poderia ser compreendido, humanizado e acolhido 
pelo espectador. Quando assim fosse, ocorreria o aplauso, fenômeno universal, que conforme Pavis 
(1999, p. 22), além da função física de liberar energia após uma imobilidade necessária, por ser, o 
encontro desarmado entre espectador e o artista para além da ficção, tem também a função fática 
de transmitir a mensagem “Eu os recebo e os aprecio”. Esta é também a convicção de Ferreira 
(2003), ao afirmar que por meio das linguagens expressivas é possível abordar aspectos da 
sociabilidade (eu no grupo), de identidade (quem sou eu), da emocionalidade (de quem eu gosto) e 
de alteridade (quem é o outro), porquanto a linguagem teatral propicia, a cada ser, expressar algo 
de si mesmo como ser único que é. Uma outra expectativa ao se elaborar a proposta do trabalho 
era a de que, ao ser no teatro desta forma revelado, o deficiente mental tornar-se-ia partícipe do 
processo de sua própria inclusão social.
TRAJETÓRIA DO GRUPO: O trabalho com o GTPAÊ iniciou-se em 1997, com a constituição 
do 
grupo, construção, preparação e apresentação pública do primeiro texto cênico. No ano de 2000, 
deu-se início à fase “GTPAÊ nas escolas”, junto aos alunos da 4ª. série de escolas regulares 
municipais, que após as apresentações e debate com os atores redigiam o texto “Meu amigo 
diferente”, para que se avaliassem aspectos de sensibilização e concepção acerca da deficiência 
mental e das pessoas que apresentam tal condição. Em 2003, a proposta passou a ser “GTPAÊ nas 
Empresas”, pretendendo-se, entre outros objetivos, que o contato entre os atores especiais, 
empresários e funcionários, facilitasse o processo de inclusão da pessoa com deficiência mental no 
mercado competitivo de trabalho. A partir de 2006 o trabalho estendeu-se para todos os segmentos 
da população, desta vez denominando-se “GTPAÊ para Todos!”
PROCEDIMENTOS: o trabalho junto 
ao GTPAÊ constitui um espaço para que jovens e adultos com 
deficiência mental possam expressar seus limites e possibilidades, bem como seus sentimentos e 
peculiaridades de seres únicos que são. O desenvolvimento de tal espaço se dá mediante diferentes 
atividades, conforme a seguir são explicitadas.
Laboratórios de teatro: ocasiões nas quais são desenvolvidas e refinadas habilidades 
concernentes à expressão cênica, tais como: comunicação verbal, facial, gestual e corporal, 
improvisação e criatividade. Para o aprimoramento das relações interpessoais, o treino de 
habilidades sociais, nos últimos dois anos, tem enfocado principalmente a expressão de sentimentos. 
Tal ênfase tem sido praticada a fim de que, mantendo-se o respeito a si próprio e aos outros, os 
atores possam manifestá-los em situações embaraçosas ou de conflito, de maneira suficientemente 
adequada para atender às suas necessidades imediatas e, ainda, diminuir a probabilidade de 
ocorrência de problemas futuros. O espaço para o refinamento deste tipo de expressão por parte 
dos indivíduos com deficiência mental é importante para que se reconstrua a equívoca concepção da 
maioria das pessoas de que existe uma relação entre deficiência mental e incompetência social.
Nos laboratórios de teatro semanais também são retomadas e discutidas as vivências que são 
cotidianas no âmbito familiar, escolar e social, que propiciam e contextualizam as idéias sugeridas 
pelos atores durante a construção do texto cênico e mesmo a sua atuação apresentação dos 
espetáculos. Um tema que frequentemente emerge nestas ocasiões refere-se à sexualidade, namoro 
e casamento, cujas questões são lidadas conforme propõe Ferreira (2007): da maneira o mais 
natural possível, não se negligenciando o fato de que o QI (quociente intelectual) das pessoas com 
deficiência mental não tem correspondência direta com o seu QA-E (quociente de afetividade-sexualidade).  Para tal, é oportunizado um espaço isento de represálias e bastante confortável para 
interações dialéticas, a fim de que, com liberdade e seriedade, os atores possam expressar suas 
emoções e interesses relativos ao tema. Desta forma, os esclarecimentos vão sendo paulatinamente 
construídos, sempre numa linguagem consonante à idade mental dos integrantes do grupo, por ser 
indispensável considerar o grau de seu comprometimento cognitivo, para que haja o entendimento e 
apreensão dos conteúdos trabalhados. Por ser o amor um sentimento universal, quando ele surge 
entre duas pessoas com deficiência mental é preciso, conforme afirmam Ferreira e Arragon (2005), 
que sejam propiciadas oportunidades para que pessoas com deficiência mental aprendam como 
expressá-lo afetivo-sexualmente, a fim de que não sejam alvos de inconsistentes julgamentos e 
represálias sociais.
São os próprios atores que constroem o texto cênico, num processo que se desenvolve nos 
laboratórios de teatro, por meio de ações tais como: seleção do tema central, identificação dos 
personagens necessários para desenvolvê-lo, atribuição destes personagens aos componentes do 
grupo que mais apresentem requisitos para caracterizar o personagem idealizado e, a partir daí a 
criatividade e improvisação vai entrando em cena até que a participação de cada um na peça esteja 
totalmente construída. Então, outras ações são desencadeadas: seleção do figurino, sonoplastia, 
objetos de cena, trilha sonora e o nome para o novo espetáculo. Todas as etapas da construção 
coletiva de um texto cênico são oportunidades para o desenvolvimento constante dos aspectos 
indispensáveis de serem manifestados também no palco da vida: acato e respeito às normas do 
contexto em que se está inserido, disciplina, autoconfiança, valorização das habilidades e respeito às 
dificuldades do outro, solidariedade, saber fazer e receber críticas, conhecimento e avaliação do 
mundo e fatos à sua volta e autonomia, entre outros.
Apresentações Públicas: acontecem em eventos científicos e culturais, escolas, empresas, clube 
de serviços, entre outros, em âmbito local, regional e nacional, seguidas de debate livre com a 
platéia. Este é um momento muito rico do espetáculo, dado que, ao formular qualquer modalidade 
de perguntas aos atores, os espectadores têm, além do que foi constatado durante a encenação do 
grupo, a oportunidade impar de estabelecer estreito contato com cada um dos mesmos e, assim, 
poder rever e readequar seus sentimentos e posturas frente a esta população. É interessante 
assinalar que, apesar de o texto cênico por eles criado ter um roteiro geral, a cada apresentação os 
atores o modificam, inserindo novos monólogos e diálogos, gestos e expressões, conforme o que vai 
sendo incorporado em suas vidas pessoais e coletivas. O trabalho do diretor do grupo é o de, tão 
somente, garantir que a peça mantenha a coerência entre o começo, o meio e o final; o que os 
atores farão e alterarão durante este percurso é por conta exclusiva de sua criatividade e autonomia, 
enfim, de sua competência pessoal e artística.  
Inclusão social noturna: para estender o contato da sociedade geral junto aos indivíduos com 
deficiência mental, uma outra atividade desenvolvida pela proposta do GTPAÊ refere-se aos 
entretenimentos que normalmente não são propiciados a estas pessoas. Para tal, são concretizados 
passeios do grupo a boates, bares, videokês, restaurantes com música ao vivo, entre outros locais, 
quando podem ter experiências características de pessoas com a sua idade cronológica: dançar, 
paquerar, conhecer pessoas interessantes e novos ambientes, voltar tarde para casa sem que os 
familiares tenham que buscá-los! É assaz interessante ressaltar que essa forma de independência 
tornou-se possível devido ao cachê que os integrantes do grupo recebem por suas apresentações, o 
qual é utilizado no pagamento das despesas geradas nestas ocasiões e no transporte contratado 
para o retorno dos mesmos aos seus lares.  
RESULTADOS
O trabalho desenvolvido nos laboratórios de teatro tem propiciado condições para que os 
integrantes do GTPAÊ manifestem suas individualidades, troquem experiências, vivenciem situações 
de erros e acertos, apóiem-se mutuamente e lidem de modo mais hábil com insucessos e frustrações 
pessoais e interpessoais. Trata-se de um espaço para que jovens e adultos com deficiência mental 
analisem os modos de manifestar seus comportamentos e as conseqüências dos mesmos para si e 
para o outro, levando-os a uma forma mais segura de expressar sentimentos e pensamentos. Por 
sua vez, possibilitando à sociedade perceber que quando este tipo de habilidade não está presente 
não é decorrente da deficiência mental que apresentam, mas sim da não modelagem de 
comportamentos que atendem às normas sociais.
O refinamento da expressão de sentimentos e pensamentos, aliado à possibilidade de atuar num 
contexto teatral, tem favorecido a manifestação de conteúdos muitas vezes negados por outras vias 
de acesso. É muito comum aos atores com deficiência mental falar explicitamente de si através de 
seu personagem, desnuando-se e revelando-se aos espectadores que enfaticamente choram, riem, 
aplaudem, insistem em dar seu depoimento. Se, por um lado, os espectadores reagem de modo 
diverso, por outro lado são unânimes em admitir o impacto produzido pelo que assistiram, pois que 
até então se encontravam subjugados a uma concepção de deficiência mental que inferioriza aqueles 
que a apresentam, que nega existência de seu potencial, que dificulta vislumbra-los como seres 
humanos que são. 
Assim, nos espetáculos, os atores têm podido demonstrar que o seu “eu” vai muito além do ser 
deficiente mental e, desta forma, ser mais valorizados socialmente e sentir-se respeitados como 
cidadãos, acarretando o fortalecimento de sua auto-estima, indispensável para que se desvencilhem 
do sentido de inferioridade, socialmente imposto, que os incapacita ainda mais.   
Um outro resultado observado refere-se ao fato de os atores puderam exercer outros papéis sociais 
que não os inferidos para o deficiente mental - eles tornaram-se educadores sociais. Ao levar a 
informação sobre si mesmos e oportunizar a constatação das diferenças e semelhanças entre os 
indivíduos com e sem deficiência mental e, inclusive, as diferenças e semelhanças existentes entre os 
que têm esta mesma condição, os atores contribuem para desmistificá-la. 
Sobre a proposta de inclusão social noturna, é possível afirmar que as atividades empreendidas têm 
propiciado fortalecer a auto-estima, a autoconfiança, o autoconceito, a responsabilidade e a 
autonomia dos jovens e adultos integrantes do grupo. É uma prática cujos benefícios estendem-se 
também à sociedade, por ser uma oportunidade para conhecer e lidar, em ambientes públicos, com 
pessoas que geralmente são mantidas em locais segregados e, assim, desenvolver o respeito e 
admiração pela diversidade.
Para finalizar, um destaque merece ser dado à mídia, que tem sido uma importante aliada na 
divulgação do trabalho e das apresentações do grupo, por meio de matérias que mostram uma nova 
perspectiva para ensejar uma readequação na concepção da deficiência mental e dos sentimentos 
normalmente suscitados pela presença da mesma, ensejando a construção de  formas mais 
apropriadas de com ela lidar.
 
CONCLUSÃO
Os conhecimentos oriundos da Psicologia aliados ao teatro popular, pelo seu poder estratégico de 
problematizar questões que permeiam o cotidiano de grupos vulneráveis de opressão e exclusão 
social, tem se mostrado uma importante estratégia para fortalecer a auto-estima, desenvolver as 
habilidades sociais, e promover a cidadania e a inclusão social de pessoas com deficiência mental. 
Além disso, a mudança na representação social da deficiência mental, propiciada aos espectadores 
quando são mobilizados a repensar suas antigas concepções sobre esta condição, é o início de um 
processo de minimização do preconceito que, por sua vez, permitirá relações interpessoais mais 
límpidas e saudáveis – aquelas despojadas de preconceitos camuflados e de mecanismos de defesa 
lesivos, necessárias à manutenção da identidade e integridade da pessoa com deficiência mental 
perante a sociedade. Esta, então, será mais justa, possibilitando a cada integrante, igualmente, e ao 
seu modo, ter acesso ao espaço social e ao bem estar emocional.
Por ser um espaço coletivo, no qual podem expressar seus pensamentos e sentimentos e, assim, 
manifestar livremente o seu modo de ser, o teatro possibilita ao indivíduo com deficiência mental 
firmar a sua marca pessoal. Uma marca de ser diferente sim, porém um ser diferente capaz de 
transformar uma condição histórica e socialmente construída em uma realidade mais condizente com 
suas expectativas e necessidades, principalmente, de respeito e oportunidades. Enfim, a psicologia e 
o teatro têm propiciado a esta população a oportunidade para desenvolver, refinar e ampliar suas 
possibilidades de atuar no palco cênico e no palco do espetáculo que é a vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, L.A. Atitudes, preconceitos, estereótipos e estigma. In: AMARAL, L. A. O espelho 
Convexo: o corpo desviante no imaginário coletivo – pela voz da literatura infanto juvenil.
Tese de doutorado. Instituto de Psicologia da USP, 1992, p. 60-75.
BOAL, A. O teatro legislativo. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1996a.
 
______. O arco-íris do desejo: método Boal de teatro e terapia. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1996b.
CABALLO, V.E. O treinamento em habilidades sociais. In: CABALLO, V.E. (Org.) Manual de
técnicas de terapia e modificação de comportamento. São Paulo: Santos Livraria 
Editora, 
1996, p. 361-398.
COSTA, R.X  A socialização do portador de deficiência mental através da arte. IN: Revista 
Integração. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial. Ano 12. Edição 
Especial, p. 16-19, 2000.
CONTEM COMIGO. Produção de Ziraldo. Brasília: Ministério do Bem Estar Social/CORDE, 1994. 
Vídeo e livro.
DEL PRETTE, A. e DEL PRETTE, Z.A.P. Habilidades sociais para uma nova sociedade. In:
______. A Psicologia das relações interpessoais: vivências 
para o trabalho em grupo. 
Petrópolis: Vozes, 2001, cap. 4, p.58-101. 
FERREIRA, S.L. Teatro e deficiência mental: a arte 
na superação de nossos limites. São
Paulo: Memnon, 2002.
______. Eu amo, tu amas, eles amam: a afetividade-sexualidade de jovens e adultos com 
deficiência mental. In: FIGUEIRÓ, M.N.D. (org.) Educação sexual: múltiplos temas, compromisso 
comum. Londrina: Universidade Estadual de Londrina; Brasília: MEC/SECAD, 2007, cap. 3, no prelo. 
FERREIRA, S.L. et al. Linguagem Cênica: estratégia facilitadora da expressão afetiva e social do 
deficiente mental. Perspectivas Multidisciplinares em Educação Especial, Londrina: Eduel, 
2003, v. 9, p. 01-15.
FERREIRA, S. L.; ARRAGON, J. Fazendo “arte” com a deficiência mental na Psicologia.
Máthesis: Revista de Educação. Jandaia do Sul: FAFIJAN, v.6, n.2, p.103-122, 
2005. 
GLAT, R. A integração social dos portadores de deficiência; uma reflexão. Rio de janeiro: 
Sette letra, 1995.
GRIPP, R.E. e DE VASCONCELLOS, C. N. Um teatro muito especial. Rio 
de 
Janeiro: CORDE, s/d.
MARTINEZ, A. M. Inter-relações entre criatividade e saúde: sua significação para o trabalho
com pessoas portadoras de deficiência. XX CONGRESSO NACIONAL DAS APAEs: As 
APAEs e o novo milênio – passaporte para a cidadania. Anais. 
Fortaleza, jun/2001, p. 67-70.
MONTAGU, A. Tocar: o significado humano da pele. São 
Paulo: Summus, 1988, 7ª. ed.
OMOTE, S.A deficiência como fenômeno socialmente construído. XXI SEMANA DA 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA, CIÊNCIAS SOCIAIS E DA 
DOCUMENTAÇÃO.  Conferência. UNESP. 
Marília, nov. 1980.
______. Deficiência e não deficiência: recortes de um mesmo tecido. Revista Brasileira de
Educação Especial. UFSCAR, 1994, v.1, n.2, p. 65-73. 
______. Deficiência: da diferença ao desvio. In: MANZINI, E. J. BRANCATTI, P.R. (org.) 
Educação especial e estigma: corporeidade, sexualidade e expressão artística. Marília:
UNESP, 1999, p. 3-21.
PAVIS, P. Dicionário de Teatro. Tradução 
J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo:
Perspectiva, 1999.
ROUBINE, J. J.. Introdução as Grandes Teorias do Teatro. Tradução 
André Telles. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
SAETA, B.R.P. O contexto e a deficiência. Psicologia: Teoria e Prática. Brasília: Universidade 
de Brasília, v.1, n.1, p. 51-55, 1999.