http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/292.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

O DESENVOLVIMENTO DE UMA ESCALA DE ATITUDES SOCIAIS EM RELAÇÃO AO TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Eliza Dieko Oshiro Tanaka – Universidade Estadual de Londrina
Eduardo José Manzini – UNESP/Campus de Marília


RESUMO

O presente trabalho consistiu em desenvolver uma escala de atitudes sociais em relação ao trabalho da pessoa com deficiência. A partir de entrevistas realizadas em empresas, identificou-se temas e subtemas que forneceram subsídios para elaborar os enunciados do instrumento. A versão preliminar da escala, elaborada no formato Lickert, com 5 alternativas que expressam diferentes graus de concordância ou discordância com relação ao enunciado, foi composta de 64 itens. Esse instrumento foi aplicado em 234 estudantes universitários. Inicialmente, realizou-se a análise da discriminação dos itens pelo teste t de Student, que revelou 75% dos itens com boa capacidade discriminativa. Posteriormente, utilizou-se a correlação item-total, concomitantemente ao coeficiente alfa de Cronbach para obter uma escala com 30 enunciados. A versão final da escala foi aplicada em estudantes universitários, para a verificação da fidedignidade pelos métodos do teste-retete e das metades. A análise realizada pelo coeficiente de Spearman-Brown e o alfa de Cronbach revelou que o instrumento possui consistência interna, porém os resultados obtidos entre duas aplicações apresentaram flutuações, não garantindo a sua fidedignidade. A Escala desenvolvida pode ser considerada um instrumento importante para auxiliar pesquisas e intervenções que visam modificar atitudes sociais de empregadores frente a inserção da pessoa com deficiência no trabalho. Apesar da escala ter sido desenvolvida adotando-se rigorosamente todos os cuidados metodológicos necessários para a sua construção, alguns aspectos da análise da discriminação dos itens precisam ser reanalisados. A partir disso, a escala deverá ser novamente aplicada a várias amostras para a verificação da sua fidedignidade e validade.

Palavras-chave: atitudes sociais, escala, pessoa com deficiência, inserção no trabalho.

1  INTRODUÇÃO
A inclusão social da pessoa com deficiência é uma preocupação não apenas dos educadores e órgãos que tratam da educação, mas atualmente, as discussões sobre essa questão já estão se estendendo às empresas e outros organismos que visam a inserção dessa população no trabalho. Essa preocupação começou a fazer parte do cenário das empresas, a partir da promulgação da lei de cotas compulsórias para o emprego de pessoas com deficiência, tanto no setor público quanto no privado. A reserva de vagas na iniciativa privada consta na Lei nº 8213 de 24 de julho de 1991 e na Portaria nº 4677 de 29 de julho de 1998, a saber: de 2% a 5%, em empresas que possuem acima de 100 funcionários (BRASIL, 1999). Essa lei tornou-se um instrumento legal de luta importante para colocar em prática a política de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho. Em realidade, a lei acabou aparecendo no cenário nacional como mecanismo de compensação, embutido dentro de um contexto de ação que tem como meta a busca da equiparação de oportunidade e o reparo das injustiças a que esta população sempre esteve submetida, desde o início da civilização.
Para que o mercado de trabalho possa ser caracterizado como inclusivo, dentro dos princípios filosóficos delineados pela política de equiparação de oportunidades, o ambiente empresarial também deve estar devidamente preparado para receber o trabalhador com deficiência. Isso requer mudanças, tanto na área administrativa e na organização dos postos de trabalho disponíveis, quanto no ambiente físico, funcional e atitudinal das empresas.
Porém, os direitos de um trabalhador com deficiência não serão consolidados apenas pelos propósitos contidos em documentos e leis, mas mediante o envolvimento e a ação conjunta de todos os elementos que irão fazer parte do local de trabalho. Assim, tanto os empregadores, funcionários, quanto os demais indivíduos que compõem o ambiente empresarial precisarão respeitar as mais variadas diferenças que tal funcionário possa apresentar, bem como considerar que ele tem o direito de ocupar um posto de trabalho digno e compatível com os seus interesses e aptidões.
A admissão de pessoas com deficiência não implica em apenas cumprir o que uma lei determina, mas requer várias mudanças, entre elas, as atitudes das pessoas que irão empregá-las e, também, daqueles que farão parte de seu convívio no ambiente de trabalho.
A otimização do convívio dessas pessoas em tais situações talvez pudesse ser propiciada a partir do desvelamento das atitudes existentes a respeito do trabalho da pessoa com deficiência e a sua inserção no mercado competitivo. Inúmeras são as definições existentes para o termo atitude, porém em todas elas os elementos que as caracterizam envolvem componentes cognitivo, afetivo e comportamental.
Para se conhecer as atitudes, a fim de que se obtenha um preditor de comportamentos, são necessários instrumentos capazes de medi-las de modo fidedigno e válido. Com tal intento, são úteis as escalas de atitudes, porém, ainda não se dispõe de uma que pudesse oferecer as informações pretendidas.
Assim, a presente pesquisa teve a finalidade de construir uma escala para mensurar as atitudes sociais de empregadores, funcionários e outros elementos que compõe o ambiente empresarial em relação ao trabalho da pessoa com deficiência.
Posteriormente, esse instrumento poderá ser utilizado para medir as atitudes sociais de empregadores em programas de intervenção que visam modificar a sua concepção sobre deficiência e trabalho para a pessoa com tal condição.

2. PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DA VERSÃO PRELIMINAR DA ESCALA
A construção de uma escala de atitudes requer, inicialmente, a identificação de temas relacionados ao objeto psicológico selecionado para o estudo em questão. Assim, a partir dos dados obtidos em um estudo anterior, por meio de entrevistas realizadas junto aos responsáveis pelo setor de Recursos Humanos de empresas que empregam pessoas com deficiência, delimitou-se o universo de conteúdo da escala de atitudes sociais pretendida.
Para isso, analisou-se cuidadosamente cada trecho das falas dos entrevistados, tendo em vista os temas e sub-temas previamente identificados. Então, extraiu-se um conjunto de conteúdos relacionados ao objeto atitudinal do estudo, para elaborar a lista de enunciados que compuseram a versão preliminar da escala.
Por exemplo, em relação à concepção de trabalho da pessoa com deficiência, um dos participantes, verbalizou a seguinte opinião:
Eu acho que é maior a dedicação dele, entendeu? Porque às vezes ele acha tão difícil conseguir uma oportunidade, alguma coisa assim, porque as pessoas sempre vão....., parece que tão sempre olhando aquela deficiência que ele tem para dar uma oportunidade, né? Acha que ele vai ser um atrapalho ou alguma coisa assim dentro da empresa e, às vezes, eles mesmos se sentem dessa forma e tendem a tentar fazer o melhor deles..., que eles podem, dar uma continuidade maior, alguma coisa assim (P6).
Ao que se pode observar, o conteúdo dessa fala mostra que esse entrevistado defende a idéia que as pessoas com deficiência são mais dedicadas no trabalho, talvez, como forma de compensar a sua deficiência. A partir disso, elaborou-se os seguintes enunciados positivos sobre a questão: “As pessoas com deficiência são mais dedicadas no trabalho”, “Os funcionários com deficiência são mais disciplinados no trabalho”.
Outros enunciados foram elaborados a partir do sub-tema dificuldades de inserção da pessoa com deficiência no trabalho, conforme são mostrados a seguir:
A gente tem de tudo um pouco. Assim, às vezes a gente diz aqui, também, no ambiente organizacional, que muitos deles não querem trabalhar e eles se escondem um pouco atrás da deficiência, eles acabam vendo como uma desculpa (P1).
Eu acho que eles (as instituições) podiam fazer isso com um pouquinho mais de força, né? Assim até na qualificação mesmo, né? De estar buscando conversar com empresários para ver quais são as necessidades (P1).
Este entrevistado argumenta que a dificuldade em ocupar um cargo está no próprio indivíduo e que a deficiência é utilizada como anteparo quando o indivíduo não quer realizar o trabalho. O seguinte enunciado negativo foi extraído dessa fala: “Os funcionários com deficiência usam a sua deficiência como justificativa quando não conseguem realizar um trabalho independentemente”.
Ainda, para esse participante, as atividades oferecidas pelos cursos profissionalizantes de instituições especiais, muitas vezes, são incompatíveis com as necessidades das empresas, dificultando a generalização das habilidades profissionais aprendidas para a situação real de trabalho. Segue um exemplo de enunciado negativo retirado dessa fala: “As atividades ensinadas pelos cursos de formação profissional não condizem com as necessidades da empresa”.
Esses enunciados foram redigidos a partir das recomendações propostas por Bunchaft e Cavas (2002, p. 108), que determinam os seguintes critérios: a) a linguagem utilizada deve ser compreensível para a amostra dos sujeitos à qual a escala será aplicada; b) as frases elaboradas devem ser relativamente curtas e conter apenas uma idéia; c) evitar frases ambíguas, irrelevantes ou radicais e d) evitar frases factuais.
Esses enunciados foram discutidos e analisados por pessoas da área de Educação Especial, que serviram de juízes para avaliar a adequação dos itens frente aos critérios acima propostos. Mediante as avaliações e sugestões obtidas realizou-se as reformulações necessárias, alterando, readequando ou acrescentado itens.
A versão preliminar da escala ficou composta de 64 itens, cada uma contendo 5 alternativas: Concordo totalmente, Concordo, Não tenho certeza, Discordo, Discordo totalmente.
A identificação da valência desses itens, ou seja, a favorabilidade ou a desfavorabilidade da atitude nele subentendida, foi realizada por meio de juízes, profissionais ligados à área de Educação Especial. O item deveria ser considerado positivo se indicasse uma atitude favorável em relação à inserção de pessoas com deficiência no trabalho e negativo se indicasse uma atitude desfavorável com relação a essa questão. No julgamento final, 36 itens foram considerados positivos e 28 negativos em relação ao trabalho da pessoa com deficiência. A ordenação dos itens para compor a versão preliminar da escala, que seguiu o modelo Likert (KRECH, CRUTCHFIELD, BALLACHEY, 1973) foi realizada por meio de sorteio aleatório.

3. PROCEDIMENTO PARA A ANÁLISE DOS ITENS
Para selecionar os itens que apresentavam maior poder de discriminação, a versão preliminar da escala foi aplicada em 234 estudantes universitários, de ambos os sexos, matriculados nos cursos de Psicologia, Pedagogia, Fisioterapia e Serviço Social. Foram atribuídos pesos às alternativas de resposta para cada afirmativa, seguindo se os seguintes critérios: nos itens positivos foi atribuída nota 5 para a alternativa concordo totalmente, nota 4 à alternativa concordo, nota 3 para a alternativa não tenho certeza, nota 2 para a alternativa discordo e nota 1 para a alternativa discordo totalmente. Nos itens negativos a atribuição de valores aos itens foi realizada no sentido invertido, ficando o item discordo totalmente com a nota 5 e concordo totalmente com a nota 1.
Os participantes foram divididos em dois grupos, tendo em vista os escores individuais. Mediante o cálculo do quartil, escolheu-se 25% dos sujeitos com pontuação mais alta, que foi denominado de grupo superior e 25% com pontuação mais baixa, denominado de grupo inferior. Cada um dos grupos ficou constituído de 59 participantes, sendo o total da amostra de 118. Os escores individuais dos participantes do grupo superior variaram de 221 a 242 e do grupo inferior de 163 a 203.
A diferença entre as médias desses dois grupos foi testada pelo teste t de Student. Esse procedimento estatístico foi utilizado para verificar se em cada um dos itens da escala os pontos obtidos pelos participantes do grupo superior diferiam significativamente dos participantes do grupo inferior. Neste caso, quando o “t” fosse superior a 1,66, valor tabelado do t crítico unicaudal para 116 graus de liberdade e alfa igual a 0,05, o enunciado poderia ser utilizado no instrumento final.
Assim, pelo teste t de Student dos 64 itens da versão preliminar da escala 48 foram identificados como tendo boa capacidade discriminativa, sendo 32 (66,66%) positivos e 16 negativos (33,33%). Nesses itens, os escores obtidos pelos participantes do grupo superior foram significativamente maiores do que do grupo inferior, com p<0,05. Apenas 16 itens foram identificados como não discriminativos.
As escalas construídas dentro do modelo Likert normalmente são compostas, em sua forma final, por 20 a 30 afirmativas favoráveis ou desfavoráveis ao objeto atitudinal, conforme podem ser vistos pelos estudos de Faria (1987); Assmar e Rodrigues (1989); Bunchaft e Cavas (2002) e Omote, (2005). Como a finalidade era obter uma escala com 30 enunciados, 15 positivos e 15 negativos, utilizou-se, também, o procedimento da correlação item-total para selecionar os itens com boa capacidade discriminativa. A correlação item-total foi medida pelo escore do item e o escore total.
Para selecionar os itens, por meio desse procedimento estatístico, procedeu-se à depuração do instrumento, em etapas. Fez-se deste modo porque cada vez que os itens eram retirados o escore total modificava, ficando alteradas todas as correlações dos itens remanescentes com o novo escore total. Foram privilegiados os itens que tinham alta correlação com o escore total, lembrando que a correlação é uma estatística que varia de -1 a 1.
Os itens com correlação negativa foram os primeiros a serem descartados e, em seguida, aqueles com baixa correlação, pois não apresentavam qualquer consistência com o objetivo de aferição pretendido pelo instrumento.
Embora alguns enunciados não tenham sido avaliados por alguns participantes, ao invés de eliminá-lo da amostra, como medida de maximizar o uso dos dados existentes, optou-se por realizar os cálculos com a substituição dos dados faltantes pela média da questão, o que não afetou o valor da correlação. Dado que a eliminação de itens, consequentemente, alterava a consistência interna dos remanescentes, foi necessário utilizar o coeficiente Alfa de Cronbach para auxiliar a análise.
A partir da análise da correlação item-total e do alfa de Cronbach selecionou-se os 30 itens para compor a escala final, sendo 15 positivos e 15 negativos.
Por meio da análise realizada pelo teste t de Student, observou-se que os itens a serem descartados pela análise do teste t seriam: 3, 8, 9, 14, 15, 18, 26, 32, 34, 37, 39, 40, 41, 44, 45, 60, ou por não ter ocorrido diferença entre as médias dos grupos superiores e inferiores ou por essa diferença não ter sido significativa ao nível de 5%. A análise realizada pela correlação item-total e alfa de Cronbach, mostrou que, dos itens descartados pelo teste t de Student, apenas o item 3 foi preservado na lista final de questões. Na verdade, este item havia sido descartado, porém reintegrado ao conjunto de itens da escala final, para manter 15 questões negativas.
Comparando-se esses resultados com aqueles apresentados pelo teste t de Student, observou-se que apenas a questão 47 não foi apontada pelo mesmo como item não discriminativo. Entretanto, pelo teste t de Student, a probabilidade da diferença de média entre o grupo superior e o grupo inferior ter sido ao acaso para essa questão foi maior do que para as outras questões identificadas como discriminativas (4,4489%).

4. A ANÁLISE DA FIDEDIGNIDADE DA ESCALA
Para que a escala de atitude construída possa ser considerada um instrumento que assegure a confiabilidade dos resultados da mensuração que se propõe e possa ser utilizada em estudos que tratam de fenômenos relacionados a atitudes sociais frente ao trabalho da pessoa com deficiência, há necessidade de realizar a verificação da sua fidedignidade e validade. Para a realização do estudo da fidedignidade da escala, foram empregados o método das Metades ou Split-half method e o método do teste-reteste.
No Método das Metades ou Split-half method, utilizou-se uma amostra composta de 50 estudantes universitários. A partir de uma única aplicação do instrumento, os 30 itens da escala foram divididos em dois grupos, dos itens pares e dos itens ímpares, para a realização da análise. Esse procedimento foi adotado a fim de evitar os efeitos de fadiga dos respondentes, que poderia ocorrer se os itens fossem divididos em 15 primeiros e 15 últimos.
Mediante a análise dos dados obtidos verificou-se que o Alfa de Cronbach para os itens ímpares foi de 0,51 e para os itens pares de 0,44 e a correlação entre as partes de 0,61. A correlação é uma estatística que varia de -1 a 1, o que significa que quanto mais próxima de 1 maior é a consistência interna do instrumento.
Para este método, o coeficiente de Spearman-Brown deu uma estimativa da fidedignidade do instrumento como um todo, de 0,76. O Alfa de Cronbach para o instrumento completo, com 30 questões, foi de 0,70. Comparando o coeficiente de Spearman-Brown ao alfa de Cronbach, observa-se que as estimativas de fidedignidade estão próximas, mas o coeficiente de Spearman-Brown ainda traz uma estimativa maior.
Esses coeficientes são estatisticamente significantes ao nível de 1%, mostrando consistência nos resultados da mensuração entre as duas partes.
O método do teste-reteste teve o objetivo de verificar a estabilidade das respostas dos participantes ao instrumento em tela. Neste caso, o coeficiente de correlação mediu a estabilidade dos escores dos respondentes na primeira e segunda aplicação do instrumento. Na situação de teste a amostra foi composta por 53 estudantes universitários. Entretanto, no reteste, que ocorreu uma semana após a primeira aplicação, 10 desses alunos estavam ausentes e, além disso, 11 deixaram alguns itens sem resposta. Com isso, o total de casos válidos para compor a amostra para a análise por este método constituiu de 32 participantes. Preferiu-se adotar o critério mais estrito de descartar os participantes com respostas em branco a adotar a média do escore para estes itens.
Os resultados mostraram que o Alfa de Cronbach no teste foi de 0,54 e no reteste de 0,74 e a correlação entre as duas aplicações foi de 0,63. Pode-se verificar que o coeficiente Alfa de Cronbach foi maior no reteste. Embora o intervalo entre as duas aplicações tenha sido de uma semana, o aprendizado dos participantes em relação ao tema do instrumento pode ter sido um dos fatores que tenha influenciado nos resultados. Por outro lado, o coeficiente de correlação entre o teste e o reteste ficou acima de 0,63, o que indica uma boa estabilidade do instrumento. Este valor da correlação é também estatisticamente significativo ao nível de 1%.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que a escala desenvolvida possa ser considerada um instrumento que assegure a confiabilidade dos resultados da mensuração que se propõe e possa ser utilizada em estudos que tratam de fenômenos relacionados a atitudes sociais frente ao trabalho da pessoa com deficiência, há necessidade de rever alguns aspectos de sua estrutura, como por exemplo, os enunciados que a compõem.
Embora, inicialmente, havia sido idealizado um instrumento com 30 itens, 15 positivos e 15 negativos, essa definição da equidade, em termos da quantidade de itens, precisa ser retomada, pois a incorporação dos itens inicialmente descartados, resultou num comprometimento da consistência interna da escala.
Outro aspecto refere-se à utilização do alfa de Cronbach junto a correlação item-total para a análise da discriminação dos itens. Apesar de não ser um procedimento convencional para essa finalidade, o seu uso pode tornar-se interessante na medida em que, tanto a capacidade discriminativa dos itens, que pode ser medida pela correlação item-total, quanto a consistência interna da escala, medida pelo alfa de Cronbach, são dois requisitos importantes na construção deste tipo de instrumento.
Assim, a escala final poderia ser composta pelos 27 enunciados, ao invés de 30, sendo 15 positivos e 12 negativos, que revelaram boa capacidade discriminativa, segundo o procedimento acima comentado. Com isso, a seleção dos itens ficaria baseada na consistência interna da escala e não na equiparação do número dos enunciados positivos e negativos nela contida.
Caso a opção seja por manter a equidade de itens positivos e negativos, uma outra possibilidade seria a utilização do teste do qui-quadrado, usado para verificar se há diferença entre os grupos superior e inferior, quanto à concordância ou discordância em relação aos enunciados. Como o teste t de Student identificou 48 itens discriminativos, 32 positivos e 16 negativos, a aplicação do qui-quadrado, conforme sugere Omote (2005), poderá ser uma outra estratégia para verificar se os mesmos são discriminativos também por meio deste teste estatístico.
A revisão dos itens componentes da escala apontam para um outro aspecto a ser revisto, referente a análise da fidedignidade do instrumento. Os três métodos de análise da fidedignidade citado pela literatura, split-half, teste-reteste e formas equivalentes, possuem as suas vantagens e limitações. Portanto, seria ideal se todos eles pudessem ser utilizados nessa análise, já que cada um avalia diferentes situações1, tais como: a estabilidade temporal (método do teste-reteste e das formas equivalentes), a generalidade das diferentes amostras de itens (método das formas equivalentes) e a adequação da amostragem de itens (método das metades ou split-half).

1   A estabilidade temporal avalia as influências das flutuações diárias e acidentais oriundas da condição do sujeito e do ambiente de aplicação, sobre os resultados do teste.
A generalidade da amostra de itens indica a relação entre a amostra selecionada e os resultados do teste.
A adequação da amostragem de itens refere-se à homogeneidade em termos de conteúdo dos itens. (BUNCHAFATH e CAVAS, 2002).

Apesar de o método das formas equivalentes ser o mais completo na descrição da fidedignidade, nem sempre a sua utilização é possível, pois requer um teste paralelo que possua uma simetria bastante rigorosa quanto ao conteúdo, dificuldade, instruções, limite de tempo, número de itens etc (BUNCHAFT E CAVAS, 2002). Portanto, para que esse método possa ser utilizado, há necessidade da construção de duas formas equivalentes de escala, desde o início.
Além de fornecer medidas confiáveis o instrumento deve, realmente, medir o fenômeno que se propõe, portanto, necessita também de ser submetido a validação, como um outro aspecto a ser verificado. Good (1979) aponta alguns processos de validação da escala, tais como: a validade lógica ou aparente, a opinião de um júri de especialistas, grupos conhecidos e critério independente.
Bunchaft e Cavas (2002) defendem que a análise fatorial é o método mais científico para a validação de uma escala. A partir de uma matriz de correlações entre um conjunto de itens, reduz-se a multiplicidade inicial de itens existentes a pouco traços comuns ou fatores. Um fator é um constructo, uma entidade hipotética, uma variável não observada, que se supõe estar subjacente à escala, itens e medidas de qualquer espécie (SOCCI, 1983).
Um outro procedimento de validação é a aplicação da escala a uma amostra, por exemplo de empregadores, e em seguida realizar uma intervenção no sentido de modificar a sua atitude em relação à inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Após a conclusão da intervenção, aplica-se novamente a escala para verificar se ocorreram mudanças no fenômeno que está sendo medindo. Se ocorrerem alterações na atitude do empregador e a escala for capaz de acusar essa mudança, então, supõe-se que ela esteja medindo o fenômeno que se propõe medir.
A validação de um instrumento não deve ser realizada por meio de um único procedimento metodológico, pois, à medida em que o fenômeno em estudo sobreviver aos diferentes métodos de avaliação de sua validade, certamente, os seus resultados serão muito mais confiáveis.
Para a utilização do instrumento, é importante também que se estabeleça parâmetros populacionais, pois a sua disponibilização por si só acaba tendo uma utilidade limitada, dado que a comparação do indivíduo ou grupo será sempre com ele próprio, isto é, não existirá uma referência em termos de medida. A possibilidade de localizar uma pontuação obtida em uma escala dentro de um parâmetro populacional faz com que o instrumento de medida adquira uma utilidade mais ampla.
Concluindo, é possível afirmar que a escala desenvolvida neste estudo possibilita conhecer as atitudes sociais de empregadores em relação ao trabalho da pessoa com deficiência. Desta forma, poderá ser utilizada como uma ferramenta útil para auxiliar o pesquisador e/ou o profissional da área a compreender a disposição dos empregadores em ter a pessoa com deficiência como um trabalhador na sua empresa e, também, efetuar as possíveis mudanças requeridas pela admissão deste tipo de funcionário.
A partir dessa compreensão, será possível delinear estratégias que propiciem aos empregadores reflexões sobre a sua concepção de deficiência e trabalho para a pessoa com deficiência e, assim, possam ser planejadas e efetivadas ações que visem mudanças de atitudes de empregadores em relação à inserção deste tipo de funcionário em sua empresa.

6. REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério do Emprego e do Trabalho. Lei 8213 de 24 de julho de 1991. Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência: coletânea. Brasília: MTE, SIT/DSST, 1999.

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FERREIRA, S.L. Aprendendo sobre a deficiência mental: um programa para crianças.

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