http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/302.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
DESENVOLVENDO ATITUDES DE RESPEITO E EMPATIA
FRENTE ÀS DIFERENÇAS.
Sabrina Alves;
Angela Vicente Alonso;
Vanessa Aparecida Mariano Peluccio;
Joseléia Fernandes;
Regina Keiko Kato Miura.
Faculdade de Filosofia e Ciências-UNESP/ Marília.
RESUMO
A análise da prática pedagógica em escola inclusiva prevê participação de pessoas com
necessidades educacionais especiais em atividades regulares em qualquer escola do ensino regular.
Cabe ao professor o papel de facilitador das condições que oportunizam as interações pessoais
positivas entre os diversos alunos em sala de aula. Sob tal perspectiva, este trabalho, descreve
sobre os relatos de alunos de quarta série do ensino fundamental durante o encontro, dos mesmos,
com pessoas com deficiência mental em atividades de reciclagem de papel. Participaram deste
trabalho quatro alunas com deficiência mental e 28 alunos da quarta série de uma EMEF. O
pesquisador convidou pessoas com necessidades educacionais especiais a realizar uma oficina de
papel reciclável na escola regular para os alunos da quarta série. As oportunidades de comunicação
foram incentivadas entre os participantes na palestra inicial das pessoas com deficiência mental
sobre a produção do papel reciclável também nas atividades, colocando juntas díades de alunos
com necessidades educacionais especiais e alunos de quarta série em cada atividade do processo
de fazer papel reciclável. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista semi-estruturada com
os participantes, sobre o encontro realizado. Os resultados mostraram a ampliação de informações
positivas acerca de pessoas com necessidades educacionais especiais por alunos de quarta série,
bem como, incentivou-se habilidades de comunicação e melhora na auto-estima de pessoas com
necessidades educacionais especiais.
1- INTRODUÇÃO
Baseando-se em uma idéia que respeita e valoriza as diferenças e o direito à oportunidades iguais e
igualitárias para todos, a instituição escolar vem traçando caminhos e buscando difundir em seus
alunos atitudes de verdadeira inclusão. Como afirma Montoan (1997, p. 14)
[...] É através da escola que a sociedade adquire, fundamenta e modifica conceitos de participação,
colaboração e adaptação. Embora muitas outras instituições como a família ou a igreja tenham um
papel muito importante, é da escola a maior parcela.
Entende-se por educação inclusiva, o processo de inclusão dos portadores de necessidades
especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus. É
uma proposta de tornar a educação acessível a todas as pessoas. Propõe uma educação com
qualidade para todos, não exclui ninguém sob nenhum pretexto (Sassaki- 1997).
Acreditando na formação educacional das pessoas, é papel da escola oportunizar o conhecimento
de diferentes realidades, facilitando aos alunos desenvolver o potencial de atitudes positivas frente às
diferenças. Mantoan (2001, p.51) destaca ainda que “não lidar com as diferenças é não perceber a
diversidade que nos cerca, nem os muitos aspectos em que somos diferentes uns dos outros e
transmitir, implícita ou explicitamente, que as diferenças devem ser ocultas, tratadas à parte”.
O presente estudo buscou oferecer aos alunos da rede regular de ensino, uma oportunidade
funcional de valoração das pessoas com necessidades educacionais especiais. Em uma atividade
prática e objetiva, os alunos da quarta série do ensino fundamental puderam vivenciar uma situação
em que pessoas portadoras de NEES compartilharam suas capacidades e de forma autônoma
contribuíram para a aprendizagem dos alunos da quarta série.
2- MÉTODO
Participaram deste projeto quatro alunas com deficiência mental e vinte e oito alunos da quarta série
de uma EMEF do município de Marília. Tais alunos, estão matriculados em série regular no período
da manhã, possuem entre 9 e 10 anos e são todos alfabetizados.
Acreditando no papel esclarecedor da escola e principalmente de transformadora de conceitos e
atitudes, o estudo se desenvolveu utilizando como recursos: questionário investigativo, textos
informativos sobre a síndrome de Down, papel reciclado, bastidores para secagem do papel, folhas
secas, corantes e produções de textos. O trabalho seguiu as seguintes etapas:
1º - Questionário investigativo sobre o conhecimento dos alunos relacionados à Síndrome de Down:
PERGUNTA1: Você sabe o que é Síndrome de Down?
PERGUNTA2: Você conhece ou já teve contato com alguém que tenha Síndrome de Down?
PERGUNTA3: Você acha que as pessoas portadoras da Síndrome de Down podem estudar e
trabalhar?
PERGUNTA4: Você gostaria de conhecer e se tornar amigo de uma pessoa portadora da
Síndrome de Down?
PERGUNTA5: Um a criança com Síndrome de Down pode ser feliz como você?
2º- Produção de textos para que os alunos pudessem expressar o que sabiam sobre estas pessoas
portadoras da síndrome;
3º Leitura e discussão de textos esclarecedores do tema síndrome de Down;
4º Levantamento de dados sobre o conhecimento dos alunos relacionados ao tema reciclagem;
5º Exploração da receita para a confecção do papel reciclado;
6º Reflexão sobre o trabalho(profissão) das pessoas envolvidas no processo da reciclagem;
6º Oficina de papel reciclado: os alunos da EMEF tiveram orientações das quatro alunas com
síndrome de Down sobre os procedimentos do papel reciclado e puderam praticá-los;
7º Confecção de cartões, utilizando o papel reciclado.
8º Reaplicação do questionário inicial.
9º Produção de textos relatando a experiência.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
O interesse pelo tema surgiu dos próprios alunos da quarta série que questionaram a professora da
sala sobre o significado da palavra “Down”. A professora notou que a maioria da sala, além de não
saber o significado da palavra, nunca havia tido contato com pessoas portadoras da Síndrome.
Verificou-se também na fala de outros alunos da sala que o conceito era de “uma doença incurável
que deixava as pessoas bobas e incapazes.” (aluno F, 10 anos)
Nesse sentido, este projeto buscou no primeiro momento explorar os pré conceitos que os alunos
de 10 anos possuíam das pessoas portadoras da síndrome de Down. Sem a obrigatoriedade de
mudança de conceitos, os alunos vivenciaram experiências mútuas de ensino-aprendizagem,
envolvendo sentimentos de respeito e empatia
Os resultados do projeto puderam ser constatados na comparação do questionário inicial (fig. 1) e
em sua reaplicação ocorrida ao final do projeto (fig. 2), que revelou uma mudança significativa de
opinião dos alunos. Também observamos através das produções de textos, atitudes de empatia
frente ao contato com os portadores da Síndrome.
Os dados apresentados neste estudo mostram uma significativa mudança de atitudes de alunos do
ensino regular, frente aos portadores da Síndrome de Down, após o contato em uma oficina de
papel reciclado.
Na figura 1 observa-se a quantidade de respostas em cada pergunta. É possível verificar que apenas
32,1% dos alunos sabem sobre a Síndrome de Down, 14,2% conhecem pessoas portadoras da
Síndrome, 17,8% acreditam que os portadores da Síndrome podem trabalhar 50% gostariam de ter
um amigo portador e 28,5% acreditam que as pessoas com Síndrome de Down podem ser felizes.
Quadro 1- Respostas do questionário inicial aplicado aos alunos antes do desenvolvimento do
estudo.
PARTICIPANTES
|
PERGUNTAS
|
SIM
|
%
|
NÃO
|
%
|
TOTAL
|
28
|
P1
|
9
|
32,1
|
19
|
67,8
|
28
|
28
|
P2
|
4
|
14,2
|
14
|
50
|
28
|
28
|
P3
|
5
|
17,8
|
13
|
46,4
|
28
|
28
|
P4
|
14
|
50
|
4
|
14,2
|
28
|
28
|
P5
|
8
|
28,5
|
20
|
71,4
|
28
|
LEGENDA: P : pergunta
Quadro 2. Reaplicação do questionário inicial, após a interação pessoal com alunos com Síndrome
de Down.
PARTICIPANTES
|
PERGUNTAS
|
SIM
|
%
|
NÃO
|
%
|
TOTAL
|
28
|
P1
|
28
|
100
|
0
|
0
|
28
|
28
|
P2
|
28
|
100
|
0
|
0
|
28
|
28
|
P3
|
26
|
92,8
|
2
|
7,1
|
28
|
28
|
P4
|
28
|
100
|
0
|
0
|
28
|
28
|
P5
|
26
|
92,8
|
2
|
7,1
|
28
|
LEGENDA : P : pergunta
A figura 2 demonstra uma mudança significativa da porcentagem nas respostas após a oficina de
reciclagem. Nota-se que 100% dos alunos sabem o que é a Síndrome de Down, conhecem um
portador da Síndrome e acreditam na capacidade deles para o trabalho e estudo. Ainda 92,8%
desejam conhecer outro portador da Síndrome e os mesmos, acreditam na felicidade destes.
Estes dados demonstram claramente que, as oficinas e as discussões realizadas em sala, foram
momentos fundamentais para a mudança de opinião. Após o desenvolvimento destas, os alunos
puderam modificar conceitos e passaram a ter uma visão mais positiva em relação aos portadores
da Síndrome de Down (demonstrado nas respostas obtidas na P3, P4 e P5).
Ao final, pudemos registrar os relatos desses alunos que evidenciaram uma posição diferenciada no
convívio com os portadores da síndrome.
Por lidar com a formação de pessoas, a escola dispõe de oportunidades riquíssimas que, se bem
aproveitadas, podem transformar conceitos e práticas sociais. É preciso valorizar e oportunizar
constantemente situações que contribuam cada vez mais para uma formação funcional e responsável
de nossos alunos. A escola é um dos meios eficazes para transformar a realidade da exclusão social,
e para se construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos, sem exceção, possam
gozar os mesmos direitos e oportunidades (LEÃO et al., 2006).
Em consonância com Pereira (1980, p. 13), entendemos ser preciso que as escolas se adéqüem, de
forma a eliminar barreiras não somente físicas como atitudinais que possam impedir o acesso
igualitário a todos. Dentro do contexto escolar temos a oportunidade de valorizar a diversidade
humana como aspecto positivo e fundamental para o crescimento da sociedade.
4- REFERÊNCIAS
BAUTISTA.R. Necessidades educativas especiales. Archidon. Málaga: Ediciones Aljibe,2002.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Educação escolar de deficientes mentais: problemas para a
pesquisa e o desenvolvimento. Cadernos CEDES. Campinas - SP, n° 46, p. 93 - 107, 1988 a.(A
nova LDB e as necessidades educativas especiais).
___ Integração x Inclusão - educação para todos. Pátio, Porto Alegre - RS. n° 5, p. 4-5 maio /
jun, 1998 b.
___Pensando e fazendo educação de qualidade. São Paulo: Moderna, 2001.
___A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São
Paulo. SENAC, 1997.
PEREIRA, Olívia ET AL. Educação Especial: atuais desafios. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
Cap. 1, p.1-13: Princípios de Normalização e de Integração na educação dos excepcionais.
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL/ Universidade Estadual Paulista. V. 12,
n.2, 2006.
RODRIGUES, David Antônio. Avaliação e planejamento da intervenção pedagógica em
pessoas portadoras de necessidades educativas especiais. Vitória: UFES, Centro
Pedagógico, Laboratório de Aprendizagem, 1993. Vídeo cassete (120min). Palestra proferida no
II Fórum Capixaba de Estudos em Educação Especial, 29/07/93.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro:
WVA, 1999.
___Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Rio de janeiro: WVA, 1997.