http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/307.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
MENTAL: ESTUDO EXPLORATÓRIO DAS PESQUISAS BRASILEIRAS
Alexandra Ayach Anache, PPGEdu/UFMS
Albertina Martinez Mitjáns - Faculdade de Educação – UNB
RESUMO
Pretendemos desenvolver estudo sobre o processo de aprendizagem de sujeitos que
apresentam deficiência mental, a partir de um estudo exploratório sobre o direcionamento
teórico e metodológico das produções acadêmicas em nível de mestrado e doutorado no
período de 1990 à 2005/2006 registradas no Banco de Teses do Portal da Fundação
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Encontramos
122 referências, sendo 38 dissertações e 84 teses. No conjunto dessas produções, o tema
aprendizagem foi abordado em 7 (6%) dos trabalhos. Fizemos, inicialmente, algumas
reflexões as diferentes concepções que fundamentam as práticas que visam a promover o
processo de aprendizagem de alunos com deficiência mental.
INTRODUÇÃO
A população-alvo da educação especial no Brasil, desde o século XX, tem sido os
estudantes que não conseguem obter êxito no processo de ensino aprendizagem. De modo
geral, as classes especiais inseridas no ensino regular abrigavam os alunos que
fracassaram academicamente, e os considerados deficientes mais severos recebiam
atendimento em instituições especializadas. Do final do século passado, até os dias atuais,
as instituições especializadas reclamam atenção para com os estudantes mais
comprometidos, uma vez que os menos graves estariam incluídos no ensino regular. Assim
podemos afirmar que Historicamente, a preocupação da Educação Especial é com aquelas
pessoas que em decorrência de fatores intrínsecos, divergem da maioria da população, e
dependendo da situação podem precisar de meios especiais de educação.
Estudantes com necessidades educacionais especiais são aqueles que necessitam de
programas e de recursos individualizados, necessários para oferecer-lhes condições de
ensino e de aprendizagem adequados. No Brasil, consideram-se educandos com
necessidades educacionais especiais, os que no decorrer do processo educacional
apresentam:
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo do desenvolvimento
que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois
grupos:
) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;
) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações
ou deficiências;
II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos,
demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a
dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. (RESOLUÇÃO CNE/CEB N.º 2
de setembro de 2001).
Além de ser necessário transpor a visão classificatória, a prática dos profissionais que
atuam na área denuncia as dificuldades em torno da identificação das necessidades dos
estudantes, que ainda são considerados incapacitados, e alijados do processo educacional,
uma vez que a educação especial e as escolas de ensino regular continuam trabalhando na
perspectiva da homogeneização de suas turmas. Os estudos que realizamos sobre os
registros das avaliações educacionais constataram que a metodologia utilizada pelos
profissionais pautava-se em um modelo descritivo e classificatório, oferecendo pouca
visibilidade ao processo de aprendizagem dos sujeitos. Além disso, há uma estreita relação
entre as necessidades especiais apontadas e o retardo mental não declarado no conjunto
dos documentos analisados, que, de certa forma reafirma a idéia de um perfil de
normalidade. Tais procedimentos têm sido temas de estudos científicos, dentre eles, os de
Anache (1997), Dal Pogetto (1998) e Denari (1995). Esses autores criticam o modelo
médico adotado - que entenderem o retardo como uma doença crônica -, cabendo ao
psicólogo a identificação do nível de inteligência do sujeito. Tradicionalmente há tendências
em Educação Especial para a construção de um perfil psicológico para as pessoas com
retardo mental. Assim sendo, o nosso objetivo é desenvolver estudo sobre o processo de
aprendizagem de sujeitos que apresentam deficiência mental a partir do conjunto dos
trabalhos produzidos pela academia.
MÉTODO
A compreensão do processo da aprendizagem de sujeito com deficiência mental tem sido
um dos grandes desafios para a educação. Os diagnósticos disponíveis na educação
especial não apresentaram informações sobre o referido processo, portanto a deficiência
passa a ser encarada como um problema e não como um desafio a ser enfrentado por
todos. Baseamos-nos em um estudo exploratório realizado a partir das produções
registradas. Identificar o direcionamento teórico e metodológico das produções acadêmicas
em nível de mestrado e doutorado no período de 1990 à 2005/2006 registradas no Banco de
Teses do Portal da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema aprendizagem reuniu um conjunto de teses e dissertações que pesquisaram as
formas de aprender dos estudantes com deficiência mental que envolve aspectos
cognitivos, afetivos, motricidade, personalidade e criatividade. As teses com esta
temática foram as de Tijiboy (2001), Oliveira (2002), Piccolo (2004), Carvalho (2004) e
as dissertações Federico (1995), Luz (1999), Rubim (2003). Registramos 7 (6%)do
conjunto das produções que versaram sobre este assunto, conforme registrou a tabela
que se segue:
Tabela I - Objeto de Estudo das dissertações e teses sobre deficiência mental
registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1990-2005/2006)
Temas
|
Dissertações
|
Teses
|
Total
|
F
|
%
|
F
|
%
|
F
|
%
|
Avaliação e diagnóstico
|
13
|
15%
|
7
|
18%
|
20
|
16%
|
Ensino
|
11
|
13%
|
6
|
16%
|
17
|
14%
|
Interações sociais
|
11
|
3%
|
3
|
8%
|
14
|
11%
|
Saúde
|
9
|
11%
|
5
|
13%
|
14
|
11%
|
Inclusão
|
12
|
14%
|
1
|
3%
|
13
|
11%
|
Avaliação educacional
|
9
|
11%
|
0
|
0%
|
9
|
7%
|
Sujeito com deficiência mental
|
4
|
5%
|
4
|
11%
|
8
|
7%
|
Aprendizagem
|
3
|
4%
|
4
|
11%
|
7
|
6%
|
Formação de profissionais
|
4
|
5%
|
2
|
5%
|
6
|
5%
|
Ensino-aprendizagem
|
2
|
2%
|
3
|
8%
|
5
|
4%
|
Formação para o trabalho
|
2
|
2%
|
2
|
5%
|
4
|
3%
|
Sexualidade
|
2
|
2%
|
0
|
0%
|
2
|
2%
|
Tecnologia da informação e
comunicação
|
2
|
2%
|
0
|
0%
|
2
|
2%
|
Constituição do sujeito
|
0
|
0%
|
1
|
3%
|
1
|
1%
|
Total
|
84
|
100%
|
38
|
100%
|
122
|
100%
|
O resumo de Frederico (1995) não foi disponibilizado no Portal da Capes, limitando a nossa
análise, no entanto, através do título e dos descritores, inferimos que a referida pesquisas
abordou o papel de mediadores externos no processo de desenvolvimento das crianças com
deficiência mental. Esse assunto também foi abordado por Carvalho (2004).
Luz (1999) analisou as condições e possibilidades de abstração em jovens com deficiência
mental, à luz do referencial histórico-cultural, por meio de estudo bibliográfico e pesquisa de
campo realizada no interior de uma Escola Especial. Ela argumentou que a abstração, como
modo de funcionamento mental, é uma elaboração coletiva e histórica e não uma pré-condição para que estas pessoas sejam incluídas nas práticas sociais, e, portanto há que se
indagar sobre a efetividade das atividades propostas aos estudantes, que dissociavam a
teoria da prática, ou ainda, o abstrato do concreto.
Tijiboy (2001) estudou o modo como as pessoas com paralisia cerebral se apropriam dos
recursos tecnológicos de um ambiente computacional telemático e que processos de
desenvolvimento nessas quando se apropriam desses recursos. No entanto, não há alusão
no resumo se os 2 estudantes de 20 anos que freqüentavam o Núcleo de Informática na
Educação Especial da Universidade Federal do Rio Grande do Sul eram deficientes mentais.
Registre-se que a Paralisia Cerebral nem sempre está associada à deficiência mental.
Oliveira (2002) investigou o papel da familiaridade dos estímulos na emergência de
equivalência em pessoas surdas e com deficiência mental. A estratégia experimental
consistiu em ensinar os oito alunos, com idade variando ente 8 a 26 anos utilizando duas
relações condicionais envolvendo os conjuntos de estímulos familiares e abstratos, seguido
pelos testes das relações emergentes de equivalência. A relevância deste estudo está em
estudar procedimentos de ensino que possibilite a aprendizagem de pessoas com dupla
deficiência.
Rubim (2003) analisou o desempenho de jovens e adultos na faixa etária de 16 e 23 anos
com deficiência mental moderada no processo de aprendizagem da leitura, escrita e da
matemática, relacionados aos conteúdos das séries iniciais do ensino fundamental. Ela
constatou que ao receberem programas de intervenção que considerem a idade cronológica,
interesses e suas necessidades individuais, eles demonstraram potencial para a aquisição
de conceitos pertinentes às áreas mencionadas.
O trabalho produzido por Piccolo (2004), cujo descritor foi fiel ao título da tese Aprendizagem
observacional, formação e expansão de classes de equivalência. Ele se refere à
aprendizagem observacional e a expansão de classe de equivalência através do uso de
software de pesquisa de Spell, visou observar se as classes de equivalências estabelecidas
com base em discriminações condicionais aprendidas por observação, podem ser ampliadas
através de estímulos associados por meio de outras/novas discriminações condicionais
aprendidas por meio de observações.
Carvalho (2004) realizou sua pesquisa com jovens adultos que apresentam deficiência
mental no interior de uma escola especial, visando analisar a relação que eles estabelecem
com o conhecimento, e a importância das práticas educativas implicadas no processo de
desenvolvimento dessas pessoas. Ela apresentou as dificuldades enfrentadas pelos referidos
estudantes mediante as contradições vividas no processo de escolarização.
O conjunto das produções analisadas, com aportes teóricos e metodológicos baseados na
perspectiva comportamental e um trabalho na perspectiva sócio-histórica indicaram
investimento dos pesquisadores em produzirem conhecimentos sobre diversos aspectos que
expressam direta ou diretamente a crença nas possibilidades de desenvolvimento das
pessoas com deficiência mental. Acreditamos que temos muito que pesquisar sobre os
processos de aprendizagem de pessoas com deficiência mental, no entanto, estamos
considerando que as informações obtidas até o presente momento ofereceram subsídios
para refletirmos sobre o tipo de compromisso que assumimos com as nossas produções
acadêmicas. Concluiu-se que há escassez de pesquisas nesta área, e alertamos para a
necessidade de realizar estudos sobre processos de aprendizagem de pessoas com
deficiência mental, sobretudo daqueles considerados mais comprometidos, e que ofereçam
subsídios para possibilitar o seu desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
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