http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/315.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
O PAPEL DO PEDAGOGO EM UMA EQUIPE MUITIDISCIPLINAR DE
EQUOTERAPIA
Pesquisadora-Gisele Cristina de Boucherville
Orientador-Vicente de Paula Pinto
Instituição-UFJF-PPGE
Órgão Financiador-CAPES
RESUMO
Este estudo teve como objetivo investigar o papel do pedagogo dentro de uma equipe
multidisciplinar de Equoterapia. Compreendendo sua função, e as possibilidades de execução da
sua função. Atentando-se para as relações e co-relações estabelecidas entre os profissionais da
área de saúde e educação com a visão voltada para os portadores de necessidades especiais.
Este estudo de caso aconteceu na Apae de São João del –Rei no ano de 2002, com a
implantação da pista de Equoterapia e a capacitação dos profissionais das áreas de fisioterapia,
pedagogia, psicologia e médica.
Para tal estudo utilizou-se as estratégias da pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, utilizando-se da observação participante e de estudos de casos.
Na investigação ocorrida notou-se as dificuldades e as probabilidade de estruturação dessa
equipe, também ficou claro o papel desse pedagogo e as possibilidades do exercício da profissão
em um ambiente diferente da sala de aula visando melhorar o atendimento aos portadores de
necessidades especiais e sua qualidade de vida.
Palavras-chave- Equipe multidiciplinar, portador de necessidade especial, pedagogo e qualidade
de vida
INTRODUÇÃO
O que é equoterapia?
É um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem
interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais.Ela emprega o
cavalo como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais.Esta atividade exige
a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da força, tônus
muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da
coordenação motora e do equilibrio.A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, o
ato de montar e o manuseio final, desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e auto-estima. ANDE
A Equoterapia é uma ciência milenar, apesar de somente nas últimas décadas estar sendo
valorizada no ocidente, na Grécia antiga, por volta de 350 A.C. Hipócrates - o pai da medicina –
já aconselhava a sua prática na solução de problemas de saúde, em especial para a insônia e,
também para regular problemas comportamentais, como a melhoria da auto estima. Também os
árabes utilizavam-se da equoterapia como prática terapêutica. Porém, no ocidente essa terapia
ainda não havia sido divulgada,
foi apartir da II guerra mundial que a equoterapia foi mais firmemente divulgada e passou a ter
visibilidade, a partir de resultados passou a ser valorizada e estudada com a devida importância.
Passando a ser reconhecida e aplicada no tratamento de pessoas de todas as idades, com maior
ênfase para os portadoras de necessidades especiais, também com distúrbios psíquicos ou de
relacionamento social.
A equoterapia é composta por uma equipe multidiscplinar e profissional, constituída por
pedagogo, instrutor de equitação, psicólogo, fisioterapeuta, professor de educação física e o
médico. Podendo atuar com apenas três desses membros da equipe,um da área da saúde, um da
área da educação e um instrutor de equitação- regras da ANDE-Associação Nacional de
Equoerapia.
Hoje comprovou-se cientificamente os benefícios da equoterapia para praticantes com
deficiências motoras, paralisia cerebral, problemas na coordenação, equilíbrio, lesões medulares e
de nervos periféricos, patologias ortopédicas. e distúrbios de comportamento como a Síndrome
de Down e autismo.
A importância da equoterapia vem sendo cada vez mais reconhecida e, em alguns países, a sua
utilização vem crescendo a cada dia, no tratamento dos mais diversos males, chegando a algumas
centenas de centros especializados. É o caso da Alemanha, onde existem 925 locais para a
prática da ciência. Na França existem mais de 700 e, na Bélgica, mais de 300.
No Brasil o “ Conselho Federal de Medicina (CFM), em Sessão Plenária de 09 de abril de
1997, aprovou no Parecer 06/97,” os resultados obtidos pelo método de Equoterapia. Também
a “ Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação do DF reconhece, calcada nas
pesquisas realizadas pela ANDE-BRASIL e após 11 (onze) anos de convênio, que a
Equoterapia é um método educacional que favorece a alfabetização, socialização e o
desenvolvimento global de alunos portadores de necessidades educativas especiais.”
ANDE
“Não há nenhum tratamento que transmita ao praticante a quantidade de movimentos que o
cavalo transmite, pois em apenas um minuto, ocorrem de 1.800 a 2.200 estímulos na região do
pélvis e coluna e, em torno de 40 a 45 mil estímulos numa sessão de meia hora”,
explica Saldanha. Além disso, ele lembra que a relação cavaleiro/cavalo contribui
– comprovadamente - para elevar a auto-estima e sociabilidade dos praticantes de equitação.
Todos esses estímulos se refletem na coordenação motora e cognitiva trazendo benefícios para
o desenvolvimento do aprendizado cognitivo e intelectual, comprovando as inúmeras vantagens
da equoterapia aplicadas à educação proporcionando ao praticante com dificuldade escolar a
reestruturação e o desenvolvimento das fases motoras, da atenção e percepção.
O tratamento utilizando o cavalo é feito de forma lúdica, sendo assim oferece ao praticante
possibilidades muito maiores do tratamento dos consultórios. As crianças com problemas de
aprendizagem através da equoterapia apresentam excelentes resultados, pois a prática eleva a
auto-estima, melhora a concentração e a postura dos pequenos praticantes em relação à atitudes.
A novidade, o andar à cavalo, já é uma fonte de novas descobertas e as crianças sentem-se mais
seguras quando constatam a capacidade de lidar com o animal com tudo que isto implica:
afetividade, adquirir o controle, desenvolver a concentração. Se na educação os
benefícios da equoterapia são inúmeros, o mesmo ocorre com pessoas que buscam na terapia a
solução para problemas psicológicos ou sociais. O vínculo cavalo-cavaleiro, estabelecido desde
as primeiras sessões desenvolve a afetividade.
Sem dúvida, a equoterapia aliada a pedagogia torna-se bem mais atraente para quem necessita
de atendimento nestas áreas. O que muitos desconhecem são os resultados obtidos. Na Apae de
São João del-Rei , no ano de 2003, foram desenvolvidas atividades de equoterapia que se
demonstraram comprovadoras de resultados benignos na área educacional, provando -se como
um instrumento de valia para essa área.
Projeto aplicado na Apae de São João del-Rei
O Projeto “Viva Melhor” foi desenvolvido na Apae de São João del-Rei com o financiamento e
apoio do SERVAS, que prestigiou a capacitação dos profissionais da Apae na atuação com a
equoterapia. Vários profissionais foram capacitados, nas áreas de fisioterapia, educação,
psicologia e como havia carência profissional na área de recursos financeiros, também foi
capacitado profissionais para gerar recursos para o terceiro setor.
O interesse era montar uma equipe multidisciplinar de equoterapia para atender os portadores de
necessidades especial dessa Apae. Esse projeto durou 3 meses, acontecendo nos meses de
agosto , setembro e outubro do ano de 2002.
A Apae de São João del-Rei-MG, já oferecia um espaço rural muito grande que eram
desenvolvidas atividades de plantio para o sustento das merendas. Nesse espaço, com o apoio
do presidente da Apae foi iniciada a implantação da Equoterapia que teve seu inicio com o dito
projeto.
O projeto “Viva Melhor” teve uma dimensão muito grande, nosso olhar se fechará para as
atividades de correlações multidisciplinares dos profissionais e o beneficio da equoterapia na área
pedagógica com atuação dos pedagogos com os portadores de necessidades especiais dessa
Apae.
Equipe multidisciplinar
Com o projeto “Viva Melhor”as capacitações foram acontecendo com o decorrer dos meses e
vários profissionais participaram dessa capacitação. Assim consegui-se montar uma equipe que
trabalharia com a equoterapia. Essa equipe contou com fisioterapeutas, psicólogos, pedagogos e
um médico. Mas houve dificuldades de relações, pois a principio a hierarquia profissional
impunha uma certa distancia entre as profissões. Para que haja uma estreitabilidade e uma
afinidade é preciso que as barreiras hierárquicas profissionais se dissolvam. Atritos de interesses
entre as áreas profissionais são comuns numa equipe, mas é preciso vencer os interesses pessoais
para que haja de fato um benefício para o praticante de equoterapia. Várias são as funções da
equipe multidisciplinar no tratamento dos pacientes de equoterapia e de qualquer outro
tratamento que envolva uma equipe multidisciplinar. Cabe ressaltar que, para que aconteça um
tratamento bem sucedida, é necessário um plano de trabalho, e qualquer plano de tratamento
multidimensional deve ser baseado em intervenções embasadas na definição dos problemas e dos
objetivos a serem alcançados. Como regra geral, as ações a serem definidas e inúmeras funções
exercidas pela equipe multidisciplinar relacionam-se diretamente com o curso e prognóstico do
plano de tratamento. O trabalho multidisciplinar no tratamento se mostra necessário desde os
primeiros contato com o paciente, a começar pela avaliação inicial, que no caso da equoterapia
acompanha o paciente e o desenvolvimento deste. É importante, na avaliação inicial, estabelecer
o possível diagnóstico multiaxial, a lista de problemas e as metas do tratamento. Cada profissional
avalia e faz seu diagnostico que vai se juntar ao diagnostico e analise dos demais profissionais,
fazendo um dossiê que permita posteriormente, a execução do plano de trabalho, e concomitante
a este, é feita a avaliação do grau de progresso do paciente no tratamento com a equipe. Para
que haja facilidade da avaliação e ajustes no plano de trabalho é necessário o envolvimento de
todos os profissionais da equipe multidisciplinar.
O papel do Pedagogo na equipe multidisciplinar
Alguns testes de cognição e coordenação são executadas para que haja compreensão do grau de
comprometimento do paciente. Os testes desenvolvidos incluem cadernos ilustrados para avaliar
o vocabulário receptivo da criança, prova de consciência fonológica e provas de leitura e escrita,
com tabelas para comparar o desempenho da criança com o esperado para sua idade e
escolaridade. O problema é considerado patológico quando a criança está bem abaixo da média
de sua classe escolar ou de sua idade. As causas variam, incluindo desnutrição, privação cultural,
disfunções emocionais, rebaixamento mental e problemas sensoriais ou neurológicos. No caso de
crianças portadoras de necessidades especiais físicas os testes são feitos da mesma forma, pois
problemas físicos não tem necessariamente correlação com problemas de cognição, mas com
problemas de coordenação. Crianças portadoras de surdez apresentam grande dificuldade na fala
e no desenvolvimento da escrita por não entenderem os sons, mas isso não quer dizer que essa
criança apresenta dificuldades mentais. Esses dados devem ser coletados examinados e
analisados, posteriormente passados para a ficha de avaliação que será levado ao conhecimento
da equipe multidisciplinar. O profissional de educação, sendo um membro dessa equipe deve
contribuir para o diagnostico geral do paciente e para o desenvolvimento do plano de trabalho
para o tratamento.
MÉTODO
Este estudo utilizou o método qualitativo de pesquisa, tendo a etnografia como método de coleta
e de análise dos dados.Esta pesquisa foi realizada na Apae da cidade de São João del-Rei, MG.
Teve como campo de pesquisa a equoterapia e como sujeitos da pesquisa os profissionais e
alunos do projeto “ Viva Melhor”. As informações foram colhidas através das observações
participantes que aconteceram no decorrer da implantação e execução do projeto. Para a coleta
de dados, foram empregadas as seguintes técnicas:- Observação participante: neste estudo, a
observação participante iniciou-se pela observação do contexto. Posteriormente, com a interação
com os participantes do projeto “Viva Melhor” e relato dos acontecimentos.A fase do trabalho
de campo, o desenvolvimento da equoterapia e o trabalho da equipe multidisciplinar geraram
reflexões e tiveram como finalidade a continuação das informações sobre os dados já coletados e
sua validação.
RESULTADOS
A análise dos dados mostrou que o pedagogo envolvido na equipe multidisciplinar de
Equoterapia do projeto “Viva Melhor”da Apae de São João del-Rei-MG, teve papel importante
e definido nesta equipe. Que é de responsabilidade do pedagogo as análises cognitivas dos
pacientes e juntamente com outros profissionais o desenvolvimento do plano de tratamento para
os mesmos. Também provou-se a importância do trabalho pedagógico, que segundo afirmam
algumas mães dos portadores de necessidades especiais, “ aprender a ler e escrever para essas
crianças é um sonho difícil de ser alcançado.”
Na conclusão, os dados mostraram que a responsabilidade do pedagogo sobre a educação do
portador de necessidade especial é o suporte da confiança depositada pelos familiares na
melhoria da qualidade de vida do mesmo.
Também comprovou-se que existe eficiência no trabalho pedagógico fora do espaço da sala de
aula, sendo considerado mais produtivo por permitir possibilidades concretas da internalização
dos conceitos como lateralidade, desenvolvimento da coordenação motora e desenvolvimento
afetivo que proporciona melhora expressiva da auto-estima. Comprovou-se que a aprendizagem
possibilitada de maneira prazerosa é mais estimulante.
DISCUSSÃO
Este trabalho teve a pretensão de observar o trabalho do pedagogo dentro de uma equipe
multidisciplinar. Todos os resultados apresentados por essa pesquisa possibilitam uma nova
maneira de ensinar e educar. Mas também observou-se uma dificuldade que caracteriza-se na
falta de procura deste profissional na especialização do método de equoterapia, que apesar de
sua comprovada eficiência vem sendo mais procurados por profissionais da área de saúde. Os
fisioterapeutas , os fonodiólogos e psicólogos que tem recorrido a este método de tratamento
muito mais do que os pedagogos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Apostilas do Curso Básico de Equoterapia, 1995
Apostilas do Cursos de Capacitação- Servas, 2002
DIAS, Emilia e MEDEIROS, Equoterapia: Bases e Fundamentos, 2002
________________________,Distúrbios da Aprendizagem,2002
Site da ANDE-www.ande.org.br