http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/317.htm | 
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
CONCEPÇÕES INFANTIS SOBRE A DEFICIÊNCIA MENTAL E A INCLUSÃO: 
EFEITOS DE UM PROGRAMA INFORMATIVO
Camila Mugnai Vieira
Fátima Elisabeth Denari
Programa de Pós-Graduação em Educação Especial
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
A presente pesquisa descreveu concepções e atitudes sociais de crianças não-deficientes acerca da 
deficiência mental e da inclusão e analisou os efeitos de um programa informativo sobre elas.  
Participaram do estudo quarenta crianças de duas salas de primeira série de uma escola estadual de 
Marília-SP. Uma das salas participou como grupo controle. Todas as crianças passaram por um pré e 
um pós-teste, na forma de entrevistas individuais sobre o tema e de aplicação de uma escala infantil de 
atitudes sociais em relação à inclusão. O grupo experimental participou do programa informativo, 
composto por treze encontros semanais — de uma hora e meia de duração cada — nos quais foram 
discutidas as limitações e as possibilidades das pessoas com deficiência mental, o atendimento 
especializado, sua escolarização e aspectos familiares e sociais, utilizando estratégias lúdicas e 
educacionais variadas. Os resultados indicam que o programa informativo proporcionou um maior 
entendimento da deficiência mental, incluindo uma visão mais realista das possíveis limitações, das 
habilidades de pessoas deficientes e das necessidades de apoio e transformações do meio para atender 
às suas necessidades. Além disso, aumentou a percepção das similaridades entre pessoas com e sem 
deficiência, a aceitação social do deficiente e as atitudes favoráveis à inclusão. 
Introdução
A proposta da Educação Inclusiva baseia-se nos pressupostos de que todos podem e devem 
fazer parte da vida escolar comunitária, tendo suas necessidades educacionais, laborais e sociais 
atendidas. Nesse contexto, todas as crianças devem ser escolarizadas buscando recursos do ensino 
comum sempre que possível, na direção de uma participação cada vez mais integral com os demais 
alunos. 
Para a efetivação dessa proposta são necessárias muitas transformações, reestruturação das 
escolas em diferentes níveis, como curriculares, estruturais, ideológicos, de formação e capacitação 
profissional, além de discussões de questões econômicas e políticas envolvidas (STAINBACK e 
STAINBACK, 1999).
Um aspecto muitas vezes negligenciado em pesquisas e intervenções também deve ser 
considerado neste processo: o aspecto subjetivo, relacional, pois antes de tudo, o que se tem são 
pessoas, indivíduos, com valores e sentimentos, interagindo em um contexto em transformação (GLAT, 
1997).  É necessário que se desvele as concepções que a comunidade em geral carrega acerca dos 
deficientes, construídas histórico e socialmente, pois estas interferem nas interações estabelecidas no 
contexto escolar. Essa compreensão pode levar ao desenvolvimento de estratégias que facilitem o 
estabelecimento de relações mais justas para todos, a partir do respeito à diversidade (OMOTE, 1994).
Há um acúmulo progressivo de informações inadequadas sobre a deficiência que todos 
recebem desde a infância. Além da desinformação, a falta de contato entre pessoas com e sem 
deficiência pode contribuir para a construção de concepções inadequadas e atitudes negativas. Assim, 
segundo WERNECK (1997), a forma mais eficaz de se combater o preconceito é impedindo que ele 
se instale ainda na infância, através da informação adequada e ampliação do contato social.
Com vistas a incrementar as discussões sobre a temática da inclusão, especialmente sobre os 
aspectos relacionais e subjetivos muitas vezes negligenciados, o presente trabalho se propôs a estudar 
concepções, sentimentos e atitudes sociais de crianças sem deficiência com relação à deficiência 
mental e à inclusão, por meio da análise dos efeitos de um programa informativo sobre a temática.
O programa investigado foi descrito no livro Aprendendo sobre a deficiência mental: um 
programa para crianças (FERREIRA, 1998). Tal programa foi elaborado a partir de preocupações 
da autora com a intervenção junto a crianças não-deficientes desde cedo para que pudessem receber 
informações sistematizadas referentes à deficiência e contribuir para a inclusão social. 
A investigação deste tema junto a crianças não-deficientes pode levar à compreensão dos 
fatores que influenciam a formação inicial de suas idéias e condutas com relação à deficiência e à 
inclusão, bem como das possibilidades de mudanças efetivas destas, ainda no começo de sua 
construção, no sentido de debater a questão da diversidade e da deficiência desde a infância e de 
incentivar um envolvimento de todos na ampliação da acessibilidade dos deficientes às diversas esferas 
sociais e à construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
Método
Participaram da pesquisa 40 crianças não-deficientes de duas salas de primeira série (20 de 
cada sala), de uma escola estadual de Marília-SP que atendia alunos com deficiência mental em 
classes especiais, salas de recursos e salas comuns. Os alunos de uma das salas formaram o “grupo 
experimental” (GE) e, os da outra sala participaram como “grupo controle” (GC).
Todas as crianças passaram por um pré e um pós-teste, na forma de entrevistas individuais 
sobre o tema e aplicação da escala de atitudes. 
O pré-teste iniciou-se por uma contextualização da temática para as crianças por meio de um 
vídeo que apresentava crianças com deficiência em seu cotidiano escolar (FERREIRA, 1998). Após 
este, cada criança desenhou, ela própria e uma criança deficiente mental (como ela conhecia ou 
imaginava que fosse). A partir do desenho e de um roteiro de entrevistas, elaborado previamente, estas 
foram entrevistadas individualmente com objetivo de investigar o contato anterior e atual da criança 
com deficientes, o acesso a informações sobre o assunto e suas concepções, atitudes e sentimentos 
com relação à deficiência mental e à inclusão. As entrevistas tiveram duração de cinco a vinte 
minutos, aproximadamente, e foram gravadas. 
O roteiro abordava os seguintes blocos temáticos: (1) caracterização dos participantes quanto 
ao contato com deficientes e ao acesso a informações sobre o tema; (2) concepções sobre deficiência 
mental; (3) sentimentos em relação à deficiência mental; (4) escolarização das crianças com 
deficiência mental; (5) aspectos relacionados à inclusão e à amizade entre crianças com e sem 
deficiência; (6) vida adulta do deficiente mental; (7) família e deficiência mental; (8) livre expressão 
sobre o tema. 
Após as entrevistas, foi aplicada a Escala infantil de atitudes sociais em relação à 
inclusão (BALEOTTI e OMOTE, 2003), cujos resultados não serão abordados neste artigo.
O grupo experimental participou do programa informativo, baseado em Ferreira (1998), com 
algumas adaptações, composto por treze encontros semanais — de uma hora e meia de duração cada 
— nos quais foram discutidas as limitações e as possibilidades das pessoas com deficiência mental, o 
atendimento especializado, sua escolarização e aspectos familiares e sociais, utilizando estratégias 
lúdicas e educacionais variadas. Os encontros aconteceram na própria escola, no horário de aula das 
crianças e com a participação da professora da sala. Para os encontros, foram preparadas atividades 
variadas e materiais diversos, como fantoches, revistas, livros infantis, roupas e objetos para teatro, 
entre outros. 
Os dados coletados nas entrevistas foram categorizados e analisados em seu conteúdo. Com a 
escala, foram obtidos escores individuais. Foram realizados cálculos estatísticos para verificar a 
significância das diferenças entre os grupos. Aplicou-se a Prova de Fisher e para todos os cálculos 
estatísticos realizados foram registrados os “valores de p”. O nível de significância adotado em 
todos os testes foi de a = 0,051, ou seja, consideraram-se diferenças 
significativas aquelas cujo 
“valor de p” obtido foi menor que 0,05.
1  Probabilidade com que a hipótese de não existir diferença significativa entre as populações pode 
ser 
rejeitada, com segurança. Nesse caso, a probabilidade é de 0,95 ou 95%.
A seguir, será apresentada uma síntese dos principais resultados obtidos nas entrevistas.
Resultados e discussão
            A maioria das crianças disse ter contato com pessoas com deficiência (65% das crianças do 
GE e 85% do GC). Não é possível afirmar que se referiram a pessoas com deficiência mental, pois as 
crianças evidenciaram desconhecimento sobre o tema. A escola é o local de maior contato (3 crianças 
do GE e por 7 do GC), indicando que a presença de classes especiais, de salas de recursos e de 
alguns alunos com deficiência em salas comuns proporciona uma oportunidade para essa interação 
mista.
            Apesar disso, muitas crianças afirmaram nunca terem tido acesso a informações sobre o tema 
(55% de cada grupo). Entre as que tiveram, a televisão foi a fonte de informações mais citada (70% 
das respostas do GE e 40% do GC), revelando o potencial da mídia para a construção de 
concepções mais adequadas e atitudes mais positivas quanto aos deficientes, devido ao grande alcance 
que possui. Os dados também enfatizam a necessidade de a mídia ampliar sua preocupação com os 
conteúdos veiculados, cuidando para não transmitir mensagens que mantenham estereótipos e 
preconceitos, nem que incentivem apenas a piedade e a caridade, no lugar da empatia e da 
solidariedade. Os resultados evidenciam a necessidade de pais e professores envolverem-se mais com 
o tema, procurando se informar sobre o assunto e rever suas próprias concepções, com o intuito de 
transformar o tema em algo natural, que faça parte do cotidiano escolar e familiar. 
            As crianças, de modo geral, não apresentaram atitudes preconceituosas ou de rejeição em 
relação às pessoas deficientes. Apesar disso, constatou-se um grande desconhecimento da deficiência 
mental, sendo esta confundida com outras deficiências, como a física e a sensorial. A maioria das 
crianças de ambos os grupos (70% do GE e 60% do GC) apontou para entendimentos 
relacionados à deficiência física e sensorial, no pré-teste. Pode-se observar uma diferença entre os 
grupos do pré para o pós-teste com relação a estas respostas, pois no GE o número de crianças 
que se remeteu a entendimentos relacionados à deficiência física e sensorial diminui para 10%, 
indicando uma diminuição de 55%, enquanto no grupo controle esse número manteve-se o mesmo. 
Em sua maioria, as crianças pareceram perceber mais facilmente as deficiências que 
apresentam características de maior visibilidade, requerendo o uso de equipamentos ou evidenciando 
diferenças marcantes no corpo. Mesmo assim, já parecem perceber as distinções de pessoas com 
deficiência mental, apesar de terem dificuldade de compreendê-la, remetendo-se a comportamentos e 
traços da aparência que observam.
Algumas crianças relacionaram a deficiência mental a doenças (5% do GE e 20% do GC no 
pré-teste). Várias crianças indicaram uma concepção do deficiente como frágil, não podendo se expor 
a situações sociais comuns, consideradas por tais crianças como fatores de risco à saúde dos 
deficientes. Estas respostas diminuíram do pré para o pós-teste em ambos os grupos, tendo sido 
dada por uma criança do GC e extintas no GE. 
A maior diferença do pré para o pós-teste entre os grupos refere-se às respostas que 
indicaram entendimentos relacionados à deficiência mental. Em ambos os grupos essas respostas 
aumentaram no pós-teste, mas o aumento foi maior no GE. Nesse grupo, 90% das crianças deram 
essas respostas, ou seja, aumentou em 75%, enquanto no grupo controle essa mudança foi de 
apenas 20%, passando para 35%. 
Comparando-se o GE com o GC, no pós-teste, com relação às crianças que indicaram 
concepções relacionadas à deficiência física e sensorial e as crianças que indicaram concepções 
relacionadas a características da deficiência mental, a diferença entre os grupos é estatisticamente 
significante (p = 0,0008), tendo as crianças do GE indicado mais concepções relacionadas à 
deficiência mental, ou seja, concepções mais adequadas do que as crianças do GC (p = 0,0007).
As crianças que passaram pelo programa apresentaram um maior entendimento de aspectos 
importantes da deficiência mental, como a dificuldade de aprendizado, o desenvolvimento mais lento e 
possíveis dificuldades de adaptações ao meio. O programa permitiu a compreensão das limitações da 
deficiência mental, diminuindo as confusões com outras deficiências e a relação com doenças. As 
crianças passaram a entender as necessidades dos deficientes mentais e a observar sua relação com o 
meio social. 
            O programa parece ter proporcionado a várias crianças uma maior observação do meio e das 
dificuldades enfrentadas pelos deficientes, não apenas em virtude da deficiência, mas por sua relação 
com a sociedade, percebendo o tratamento recebido pelos deficientes e a necessidade de apoios e 
adaptações. 
            Além das limitações, o programa parece ter proporcionado às crianças uma percepção das 
habilidades e possibilidades dos deficientes mentais e uma observação maior de similaridades entre eles 
e as pessoas sem deficiência, o que pode fazer com que os deficientes deixem de ser considerados 
estranhos e as crianças aumentem as iniciativas de aproximação a eles.
No pré-teste, apenas 15% das crianças de cada grupo disseram que as crianças com 
deficiência eram iguais a elas e às demais crianças. Em contrapartida, a maioria de cada grupo 
(85%) respondeu que as crianças com deficiência mental não eram iguais às crianças sem 
deficiência. No pós-teste, os resultados indicam uma diferença entre os grupos: 45% das crianças 
do grupo experimental disseram que as crianças com deficiência mental eram iguais a elas e às 
outras crianças, indicando um aumento de 30% com relação ao pré-teste, enquanto no grupo 
controle a porcentagem de crianças que respondeu positivamente à questão diminuiu para 10%. A 
diferença entre os grupos no pós-teste é estatisticamente significante (p = 0,0310), tendo o grupo 
experimental apresentado mais respostas “sim” que o grupo controle (p = 0,0155), ou seja, as 
crianças que passaram pela intervenção indicaram que, de fato, observaram mais similaridades entre 
as pessoas com e as sem deficiência mental.
            A maioria das crianças relatou sentimentos relacionados à comiseração, que são muito comuns 
diante do tema. Esperava-se que as crianças que passaram pelo programa relatassem sentimentos 
diferenciados no pós-teste. Entretanto, os sentimentos de piedade não diminuíram com o programa, 
indicando que as informações não foram suficientes para atuar nessa esfera afetiva. Para justificar 
suas respostas, as crianças apontaram as impossibilidades de realização de algumas atividades em 
função da deficiência e a reação da sociedade aos deficientes, identificando que muitas vezes eles são 
alvo de exclusão e discriminação, o que gera os sentimentos de piedade relatados.
            De certa forma, tais sentimentos são compreensíveis, uma vez que são incentivados na 
sociedade, como demonstradores de sensibilidade e preocupação com o próximo. Além disso, as 
justificativas de várias crianças indicam desvantagens reais dos deficientes na realidade da sociedade 
atual. As crianças dessa idade têm a tendência de se imaginar no lugar do outro e seus sentimentos 
revelam isso. Apesar de compreensíveis, esses sentimentos não podem paralisar a ação ou levar a 
condutas que confirmem a dependência, a fragilidade e a incapacidade do deficiente mental. Trabalhos 
futuros devem considerar tais aspectos e buscar estratégias que atinjam aspectos cognitivos, sociais, 
afetivos e comportamentais.
            Quanto à educação formal dos deficientes, a maioria das crianças de ambos os grupos 
apresentou atitudes positivas e favoráveis (95% do GE e 90% do GC já no pré-teste), inclusive 
relacionadas à escolarização deles na escola comum (90% do GE e 80% do GC, no pré-teste e 
100% do GE e 80% do GC no pós). 
Com relação à escolarização na classe comum, houve divergência entre as crianças, 
inicialmente (55% do GE e 45% do GC no pré-teste). No pós-teste, houve um aumento das 
respostas positivas no GE, de 15%, passando as respostas a representar 70% das crianças. No 
entanto, no GC, ocorreu uma diminuição de 30%, passando a 15% as crianças que responderam 
positivamente. A diferença entre os grupos no pós-teste é significante estatisticamente (p = 0,0011), 
tendo o grupo experimental apresentado mais respostas “sim” que o grupo controle (p = 0,0005), 
ou seja, as crianças que passaram pela intervenção indicaram um posicionamento mais favorável à 
inclusão ou, mais especificamente, à escolarização de crianças com deficiência nas classes comuns.
Os relatos indicaram uma visão não apenas otimista, mas fundamentada na necessidade de 
apoio e nas adaptações na sala de aula, incluindo uma articulação entre o ensino comum e o ensino 
especial.
            As crianças de ambos os grupos indicaram uma aceitação do deficiente mental nas atividades 
de escola e uma visualização de habilidades deste para participar. Inicialmente, tal posicionamento 
revelava uma falta de conhecimentos das limitações e das possibilidades dos deficientes mentais, pois, 
por um lado, várias crianças não colocaram qualquer restrição à participação deles em todas 
atividades; por outro, várias crianças apontaram impedimentos relacionados a outras deficiências e à 
fragilidade do deficiente, como se fosse doente. As crianças que passaram pelo programa indicaram 
restrições em atividades de entendimento muito complexo e ampliaram a visão de possibilidades de 
participação nas atividades em que tivessem apoio, evidenciando que o programa proporcionou 
concepções mais adequadas sobre essa realidade.
            As sugestões para ampliar a participação dos deficientes nas atividades escolares foram 
variadas, indicando as possibilidades de as crianças, dentro de suas condições, participarem da 
elaboração e da execução das transformações necessárias para a construção de uma educação 
inclusiva. A proposta da tutoria entre crianças aponta a disponibilidade dos alunos em aceitar e ajudar 
os colegas com deficiência mental. As crianças que passaram pelo programa enfatizaram a 
necessidade de mudanças nas metodologias de ensino, aspecto fundamental para a inclusão de 
deficientes mentais.
            A maioria das crianças posicionou-se de modo favorável às amizades entre pessoas com e 
sem deficiência e revelou interesse em tais relações. As crianças que passaram pelo programa 
apontaram um interesse maior em função da interatividade, indicando que o programa proporcionou 
uma visão de que a relação com o deficiente pode ser de troca, e não apenas de doação.
            Com relação ao trabalho, as crianças mostraram uma visão bastante otimista da realidade, pois, 
de acordo com a maioria, os adultos deficientes podem trabalhar. O programa parece tê-la ampliado, 
mas propiciado também a atenção para as condições necessárias à concretização. O namoro ou o 
casamento de pessoas com deficiência também foram bem vistos pelas crianças, mais ainda após o 
programa, sem imposição de condições para sua concretização.
            Quanto ao nascimento de um bebê deficiente na família, as crianças novamente revelaram 
sentimentos de comiseração, que não foram alterados pelo programa, mas relataram também 
sentimentos relacionados à alegria e ao amor, indicando a hipótese de que uma maior intimidade com o 
deficiente geraria sentimentos ambivalentes. Com referência às ações que a família deve ter, as 
crianças apresentaram grande variabilidade de respostas, especialmente após o programa, quando 
diminuiu o apontamento de cuidados médicos, inclusive de busca da cura, e ampliou a referência à 
necessidade de atenção especial, de atendimento educacional de qualidade e de acesso a ambientes 
variados. 
            Quando solicitadas para se expressarem livremente sobre o tema, as crianças que passaram 
pelo programa pareceram ter maior facilidade, conseguindo explicar aspectos importantes da 
deficiência mental, incentivando atitudes de respeito e ressaltando as potencialidades dos deficientes. 
Esses resultados indicam a possibilidade de tais crianças multiplicarem o conhecimento adquirido.
            Pode-se afirmar, de modo geral, que o programa proporcionou um maior conhecimento sobre a 
deficiência mental, incluindo uma visão mais realista das possíveis limitações, das habilidades de 
pessoas deficientes e das necessidades de apoio e transformações do meio para atender às 
necessidades delas. Além disso, aumentou a percepção das similaridades entre pessoas deficientes e 
não-deficientes, a aceitação social do deficiente entre as crianças, a disponibilidade em ajudar e as 
atitudes positivas em relação à inclusão.
            Pôde-se perceber no presente estudo que a informação sistematizada sobre a deficiência é 
capaz de gerar transformações nas concepções e nas atitudes de crianças. As crianças parecem ainda 
estar dispostas a assimilar diferentes informações e idéias e a transformar suas atitudes. De tal forma, 
trabalhos dessa natureza, tão escassos no Brasil, devem ser ampliados e realizados em escolas e 
comunidades, não apenas pontualmente, mas de modo contínuo, fazendo parte do cotidiano das 
crianças, de modo a evitar que sejam formadas concepções equivocadas e atitudes negativas em 
relação aos deficientes ao longo dos anos. Ao receberem informações sistematizadas sobre o tema 
constantemente, as crianças terão a oportunidade de articular suas experiências cotidianas de 
interações diretas com pessoas deficientes, de acesso a programas televisivos, de visualização de 
placas de acessibilidade, do discurso de seus pais e mesmo de seus próprios sentimentos diante do 
tema, com seu conhecimentos, proporcionando tal articulação a construção de concepções mais 
adequadas e de atitudes de maior aceitação da diversidade e mais favoráveis à uma sociedade 
inclusiva. 
Ressalta-se que esse processo deve ocorrer com a participação ativa das crianças, em uma 
construção conjunta de conhecimentos, na qual as crianças sejam escutadas atentamente em relação a 
suas necessidades e a seus interesses e tenham espaço para se expressarem, não ocorrendo apenas o 
recebimento passivo de informações. As crianças podem e devem participar ativamente do processo 
de inclusão, havendo a necessidade de serem adequadamente informadas sobre a realidade de seu 
contexto escolar e sobre a diversidade humana, bem como preparadas para o processo e as interações, 
e podendo também contribuir de alguma forma com suas experiências e sugestões.
            Entende-se que a proposta da inclusão envolve uma série de mudanças de ordem política, 
estrutural e pedagógica. É essencial, porém, que ocorram também mudanças de ordem social e afetiva, 
pois a inclusão envolve pessoas em interação, indivíduos com valores, crenças e reações emocionais. 
Portanto, a inclusão deve ser entendida também em seu aspecto relacional, devendo ser ampliadas 
pesquisas e intervenções acerca das concepções, dos sentimentos e das atitudes das pessoas sem 
deficiência em relação aos deficientes e à inclusão, uma vez que eles provavelmente vão influenciar as 
interações sociais estabelecidas. 
            
Referências Bibliográficas
BALEOTTI, L. R., OMOTE. S. Atitudes sociais de alunos do Ciclo I do Ensino Fundamental em 
relação à inclusão: construção de uma escala infantil. In: V Simpósio em Filosofia e Ciência. Anais 
Eletrônico. Unesp, Marília, 2003.
FERREIRA, S. L. Aprendendo sobre a deficiência mental: um programa para crianças. São 
Paulo: Memnon, 1998.
GLAT, R. Um novo olhar sobre a integração do deficiente. In: MANTOAN, M. T. E. e col. A 
integração de pessoas com deficiência. São Paulo: Memnon, 1997.
OMOTE, S. Deficiência e não-deficiência: recortes do mesmo tecido. Revista Brasileira de 
Educação Especial. v.1, n. 2, p. 65-73, 1994.
STAINBACK, S., STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes 
Médicas, 1999.
VIEIRA, C. M. Programa informativo sobre deficiência mental e inclusão: efeitos nas atitudes e 
concepções de crianças não-deficientes. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) – 
Programa de pós-graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos 
(SP), 2006.
WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 
1997.