http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/319.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

DIALOGANDO: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Menezes, Vanessa de Aguiar. 1 Sá, Mônica Penna Firme.2
Prefeitura Municipal de Armação dos Búzios

1  Pedagoga – UFF- Niterói- RJ, Pós-Graduada em Educação pela UFF. Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial, é a idealizadora e realiza o Dialogando, Coordenadora da Divisão de Inclusão do Município de Armação dos Búzios. e-mail: vanes.menezes@bol.com.br

2  Psicóloga – USU- RJ-  Psicóloga com vasta experiência em trabalho com Deficientes Intelectuais, faz parte da Equipe de Inclusão e realiza  o Dialogando com Educadores nas Escolas da Rede de Armação dos Búzios. e-mail: monicapennafirme@hotmail.com

RESUMO

O presente pôster – Dialogando: Uma Proposta de Formação Continuada – representa o compartilhar de uma experiência vivenciada na Rede Pública Municipal de Armação dos Búzios, município em que atuamos na Divisão de Inclusão (com a abrangência dos segmentos: Creche a Ensino Médio). Tal experiência tem como proposta oferecer, principalmente aos professores/professoras desse município, uma oportunidade de formação continuada em serviço, a fim de conhecer um pouco mais da inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar, suas peculiaridades e promover a troca de experiência entre os professores/professoras de cada unidade escolar. O Dialogando com Educadores é realizado nas escolas da Rede, para todos do corpo escolar, a equipe de Inclusão sugere o tema do Dialogo e disponibiliza um pequeno texto sobre o assunto (sempre ligado à deficiência) e são discutidas as ações necessárias para que o aluno esteja incluído na proposta pedagógica. Além do Dialogando com Educadores, realizamos também: Dialogando sobre a Adaptação Curricular, Dialogando com as Auxiliares de Sala de Aula, Dialogando com a Equipe de Inclusão, todos com a proposta de ampliação de conhecimento e diálogo para atender aos alunos de forma realmente inclusiva, ou seja, que os espaços e tempos sejam pensados de forma que estejam incluídas as necessidades dos alunos. Nesses encontros – diálogos - são compartilhadas experiências, informações e dicas de ação e atividades. O pôster foi organizado de forma a contar um pouco de nossa experiência através de fatos e fotos, trazendo breve discussão da questão da formação do professor para lidar com as situações de inclusão presentes no cotidiano escolar, descrição do trabalho realizado e imagens dos diálogos realizados, propondo ao final, que o expectador dialogue conosco, deixando sua opinião ou compartilhando experiências.



Palavras Chave: Formação Continuada, Diálogo/Reflexão, Inclusão Escolar.


Por que chamamos de Dialogando?


“A dialética, na Grécia antiga era a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão... Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.” (KONDER, 1995)


Unindo as duas definições, podemos entender a Dialética em uma perspectiva de diálogo, de movimento, movimento esse que se pensado a partir da concepção de Aristóteles de que:

“Todas as coisas possuem determinadas potencialidades; os movimentos das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é, são possibilidades que estão se transformando em realidades efetivas”.
                                         (Aristóteles apud Konder, 1995)

 E nessa perspectiva, de movimento, buscamos compreender o processo de Inclusão3 Escolar,
a partir do diálogo pois,
 
“o método dialético nos incita a revermos o passado à luz do que está acontecendo no presente; ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que ainda não é”. (Ernest Bloch apud Konder, 1995)


O diálogo torna-se fundamental na busca do entendimento da nossa realidade e na possibilidade de transformação da mesma. Leva-nos a pensar a ação transformadora sem ignorar o passado, mas, “de olho no futuro”.
Dessa forma, mais do que proporcionar um espaço de diálogo para professoras/professores, pensamos em mobilizar todo o corpo escolar, como educadores que são todos aqueles que participam do processo de escolarização dos alunos no espaço escolar, surgindo assim o nome Dialogando com Educadores, para os diálogos realizados nas unidades escolares.

3  Quando utilizamos a palavra Inclusão, estamos trabalhando com a mesma no sentido mas restrito ligado a Inclusão de pessoas/alunos com deficiência no contexto escolar.


Por que dialogar? Dialogar com quem?


(...) Pensando a formação de professoras, precisamos compreender o quanto é importante que em todos os momentos e nos variados contextos de um curso de formação consigamos abrir novos espaçostempos para que, de todas as maneiras, aprendamos a ouvir e a falar, a criticar e a defender, a participar e a organizar, a ajudar a ser ajudado, a compartilhar, a dar e receber, em um processo sempre crescente de solidariedade intelectual, aprendendo a respeitar o outro enquanto legítimo outro, de acordo com Maturana (1997,1999) (GARCIA, 2005)


Diante da constatação4 de uma fala recorrente, principalmente dos professores/professoras, de que a formação recebida nos cursos de formação de professores, e até mesmo graduação e pós-graduação, não foram suficientes para atender a demanda de sala de aula, precisamos pensar e repensar a formação desses profissionais. 

4  Em 2005 foi feita uma pesquisa com os professores da Rede - que inclusive motivou a monografia de conclusão de curso de pós-graduação de Vanessa Menezes entitulada “A Inclusão Escolar no Cotidiano: Desafios Postos a Formação do Professor/Professora” – a respeito das dificuldades apresentadas para trabalhar com alunos incluídos e a respectiva formação recebida, onde foi possível constatar que mesmo aqueles que receberam algum tipo de informação nos cursos de formação, não sentiam-se preparados para atuar em sala com os alunos incluídos.

Os professores/professoras que trabalham em sua sala de aula alunos com algum tipo de deficiência que se vêem confusos e inseguros frente a essa realidade, que costumam chamar de nova, embora a legislação já tenha garantido os direitos das pessoas com deficiência a mais de dez anos, a proposta inclusiva tem ganhado força nos últimos anos gradativamente, por isso pode ser associada à idéia de movimento.
 Professores/professoras sentem-se desconfortáveis ao terem a obrigação de atender a essa demanda de alunos que julgam não estarem preparados para receber e que acreditavam que não chegariam a conquistar a escolaridade, o que vemos hoje, é que “estão indo cada vez mais longe” em sua escolarização, como é o caso de professores do ensino médio, por exemplo, que pensavam estar fora dessa questão.
Frente ao fato de dificuldade  em encontrar em nossa Rede de profissionais com “perfil” para inclusão e da solicitação de muitos em um espaço de discussão dessa “nova” realidade, começamos a pensar em estratégias que dessem conta dessa demanda.
Inicialmente, a forma encontrada no município de Armação dos Búzios para criar os espaçostempos, foi de realizar encontros de discussão e formação continuada no horário de coordenação das escolas, assim cada escola tem a oportunidade de pesquisar junto com sua equipe os temas mais próximos de sua realidade/necessidade, chamamos esses encontros de Dialogando com Educadores5, a equipe de inclusão conduz os encontros, e fora da escola, em outras propostas de Diálogo, também no horário de trabalho do professor/professora, com professores/professoras, Orientador/Orientadora Educacional, Supervisor/Supervisora Escolar ou Auxiliares de Sala de Aula, pois assim, acreditamos que poderemos contribuir para a construção de uma escola inclusiva nesse município.
Cabe fazer alguns destaques sobre nossos diálogos:

Ø              Dialogando com Educadores - é realizado nas escolas da Rede, para todos do corpo escolar, a equipe de Inclusão sugere o tema do Dialogo e disponibiliza um pequeno texto sobre o assunto (sempre ligado à deficiência) e são discutidas as ações necessárias para que o aluno esteja incluído na proposta pedagógica.
Ø               Dialogando sobre a Adaptação Curricular – esse momento é destinado os professores/ professoras de alunos incluídos, Supervisão e Orientação Educacional, no horário de trabalho do professor, mas fora da escola6, ocorre apenas duas vezes no ano, Março e Agosto, com o objetivo de informar sobre os tipos de adaptação possíveis e estratégias para registro das mesmas, sugestões de atividades, no segundo momento são discutidas as adaptações em andamento e feita uma avaliação em grupo das estratégias, troca entre os participantes e orientações por Vanessa e Mônica.
Ø              Dialogando com as Auxiliares de Sala de Aula – Segue a mesma metodologia do Dialogando com Educadores, sendo que é destinado as Auxiliares de sala de aula de alunos incluídos.
Ø              Dialogando com a Equipe de Inclusão – é destinado às reuniões da equipe de Inclusão (semanais) para estudos de caso, elaboração de material, discussão de textos e revisão de estratégias. Também convidamos a dialogar conosco nossos parceiros como por Exemplo APAE Búzios, Saúde, colegas do Departamento Educacional, entre outros.

O primeiro tema é obrigatoriamente o de Sensibilização à Inclusão, pensamos também na organização do espaço em círculo, de forma todos possam se olhar, que tenham o mesmo destaque e assim as informações circulem. Pensamos que a partir dessa discussão o professor/professora que hoje se encontra oprimido, com dificuldades em lidar com a situação de inclusão imposta perceba que é opressor desse aluno, trabalhamos a idéia de potencializar o professor para a ação pedagógica para que busque ser autônomo que contribua com o processo de autonomia de seu aluno, a partir dessa reflexão oportunizada.
Buscamos nesse diálogo, incluir informações novas acerca das diversas deficiências, dicas de como lidar com as situações de inclusão apresentadas, sugestões de atividades entre outros7, além de privilegiar a troca de experiências, mas acima de tudo, visamos à construção do encorajar, do engajamento para realização de uma prática pedagógica diária inclusiva.
Nossas discussões não se findam ao término do tempo estabelecido, pois delas nascem reflexões que vão e voltam com o professor da sala de aula para casa, de casa para sala de aula.

5  A coordenação acontece em todas as escolas, duas vezes por semana de 11h às 12h 30 min, sendo que o Dialogando com Educadores não é realizado em todas as reuniões de coordenação.
6  A Rede possui um local específico para reuniões, cursos e palestras; o CEPEDE.
7  A equipe de inclusão desenvolveu um material, baseado em pesquisa bibliográfica e aproveitando o conhecimento prático/teórico de cada integrante da equipe organizado de forma objetiva. Inicialmente chamamos de ficha auxiliar de adaptação curricular e depois transformamos em uma apostila que foi entregue à todas as escolas da Rede. Mônica e Vanessa produziram outro material na mesma linha onde consta a fala do responsável da equipe que conduz o tema do Dialogando, também disponibilizado para os professores.

A cada semana vamos a algumas escolas para dialogarmos sobre as angústias dos professores e trocarmos idéias e informações e discutimos a importância da formação permanente, pois já é sabido que a formação inicial não dá conta da complexidade de questões que surgem na prática. Dessa forma, temos tido a oportunidade de perceber, através de seus relatos, o quanto é difícil para os profissionais de educação colocar em prática a teoria, pois o caminho a percorrer da teoria para a prática não é linear ou paralelo, mas deve ser trabalhado de forma a considerar cada situação conjugando a teoria à situação prática.
Nesse momento, os professores e demais profissionais de educação se sentem inseguros e, muitas vezes, não sabem com quem contar para formular uma ação adequada, e acabam traçando um longo caminho, como destaca Menezes,

Na busca de encontrar um melhor caminho para trabalhar com a diversidade do cotidiano escolar, os professores/professoras participam de cursos de “capacitação”, na esperança de encontrar “todas” as respostas para suas angústias. Na verdade, esperam trazer para sua sala de aula um manual prático de como trabalhar com esse aluno/aluna, de como avaliar, como adaptar o currículo, uma receita pronta, e se frustram ao perceberem que “não conseguiram voltar com o que foram buscar”.
De acordo com a pesquisa realizada mesmo os professores/professoras que têm algum referencial teórico relativo à educação especial/inclusiva em sua formação, sentem muita dificuldade em articular com a prática cotidiana da sala de aula. (Menezes, 2006)

Diante de tal realidade apresentada, justificamos nossa proposta do Dialogando com o objetivo que possam a partir da reflexão de sua prática, considerar a possibilidade de que é possível realizar o trabalho inclusivo com prazer, aprender a fazer fazendo como destacado abaixo:
aprender a fazer fazendo pode ser interpretado como a observação do cotidiano escolar para aliar ao conhecimento já existente a outros conhecimentos, em um movimento dialético.(Menezes, 2006)

Para tanto, é necessário o despertar o desejo, para alcançar o comprometimento dos profissionais da educação com sua formação, é necessário ouvir para depois propor, mobilizar para depois pensar em resultados, dialogar a todo o momento com o desejo e o possível, o ideal e o real.


Resultados para (in)conclusão!

Após dois anos dessa experiência, é possível perceber que o movimento de inclusão escolar em Armação dos Búzios ganha força, que os professores/professoras, bem como o Corpo Escolar estão cada vez mais autores desse processo.
O Dialogando em 2007, ocorre nas escolas a cada trimestre, e nas visitas da equipe de Inclusão, há uma expectativa positiva quanto sua realização, fato que muito nos alegra e faz pensar que essa iniciativa deve permanecer em 2008.
Todas as modalidades de Dialogando, seguem a proposta de ampliação de conhecimento e diálogo para atender aos alunos de forma realmente inclusiva, ou seja, que os espaços e tempos sejam pensados de forma que estejam incluídas as necessidades dos alunos.
Nesses encontros – diálogos - são compartilhadas experiências, informações e dicas de ação e atividades, e já é possível perceber uma mudança de atitude nas relações interpessoais, no planejamento pedagógico e na organização do espaço escolar.
Parafraseando FREIRE (1996), diante de nossa própria inconclusão enquanto seres humanos, não poderíamos pensar em incentivar uma prática pedagógica que não privilegie a prática autônoma do professor e que o induza a pesquisar, pois para que possamos nos sentir preparados para a diversidade do cotidiano escolar, precisamos apostar em nossa inconclusão enquanto seres humanos e professores/professoras.
Enquanto responsáveis por mediar essa ação pedagógica e proporcionar espaços de formação continuada, apostamos na inconclusão de nosso trabalho.


Referências Bibliográficas:


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Paz e Terra, 1987.

GARCIA, Regina Leite; GIAMBIAGI, Irene;  ZACCUR, Edwiges(orgs). Cotidiano: diálogos sobre diálogos. Rio de janeiro: 2005.

KONDER, Leandro. O que é Dialética.  São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.

MENEZES, Vanessa de Aguiar. A Inclusão Eescolar no Cotidiano: Desafios Postos a Formação do Professor/Professora. Monografia apresentada ao curso de Pós –Graduação Alfabetização das Crianças das Classes Populares, Universidade Federal Fluminense, Niterói: 2006.