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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
TOPOGRAFIAS DE CONTROLE DE ESTÍMULOS NA APRENDIZAGEM DA TAREFA DE DISCRIMINAÇÃO SIMPLES POR UM BEBÊ DE 17 MESES COM ATRASO NO DESENVOLVIMENTO
Naiara Minto de Sousa
Universidade Federal de São Carlos


RESUMO

A aprendizagem de discriminações está relacionada à aquisição de capacidades complexas, como o comportamento simbólico. Bebês de risco apresentam atrasos ou cuidados nas áreas da linguagem e cognição, além de dificuldades na aprendizagem da tarefa de discriminação simples, que podem estar relacionadas à incoerência entre o controle de estímulos planejado pelo experimentador e as contingências que realmente estabelecem controle sobre o comportamento do bebê. Este estudou visou identificar o processo de estabelecimento e manutenção de diversas topografias de controle de estímulos no repertório de um bebê de 17 meses com atraso no desenvolvimento na aprendizagem da tarefa de discriminação simples. Foram realizadas 17 sessões de treino desta tarefa, nas quais os estímulos eram brinquedos industrializados e a brincadeira com o brinquedo e o adulto era a conseqüência planejada para a escolha correta pelo bebê. O bebê não atingiu o critério de aprendizagem da tarefa. A análise do desempenho do bebê demonstrou o estabelecimento de duas topografias de controle de estímulos: pela posição do estímulo no aparato e por preferência por um estímulo. Estas relações de controle não foram enfraquecidas pelos procedimentos remediativos planejados. Sugere-se o uso de medidas para identificar topografias de controle de estímulo incoerentes com a topografia desejada pelo experimentador para intervir antes do estabelecimento das mesmas e a análise e redefinição dos procedimentos obrigatoriamente a cada sessão.
Palavras-chave: discriminação simples, bebês de risco, topografia de controle de estímulos.

Uma das possibilidades de interpretar a aquisição da capacidade simbólica das pessoas é considerar que relações entre símbolos e seus referentes podem emergir de relação que não foram explicitamente ensinadas (SIDMAN; TAILBY, 1982), o que propõe o desafio de encontrar procedimentos que descrevam os processos básicos da aquisição da capacidade simbólica.
Considerando a teoria da Equivalência de Estímulos (SIDMAN, 1994), a discriminação tem sido considerada um dos processos básicos envolvidos na aquisição de linguagem e outras capacidades cognitivas.
Avaliações de bebês de risco têm identificado predominantemente cuidados ou atrasos nestas áreas específicas da linguagem e das habilidades cognitivas (VITAL, 2005). Um bebê é considerado de risco quando determinados fatores somáticos e/ou ambientais, que incidem especialmente nos períodos pré, peri e pós-natais podem provocar déficits duradouros no seu desenvolvimento motor, sensorial, mental e emocional (PÉREZ-RAMOS; PÉREZ-RAMOS, 1992). Esta relação íntima entre as o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem de tarefas de discriminação é ilustrada pela dificuldade que bebês de risco identificados com cuidados ou atrasos nesta área apresentam na aprendizagem de discriminação simples Em muitos estudos se verificou que os procedimentos empregados pelos experimentadores instalaram comportamentos no repertório destes bebês que eram incompatíveis com a aprendizagem das discriminações que se pretendia ensinar, resultando em desempenhos insatisfatórios (GIL; OLIVEIRA, 2003).
Alguns autores têm apontado que desempenhos baixos na aprendizagem de tarefas de discriminação podem resultar de procedimentos que selecionam e mantêm topografias de controle de estímulos que não são coerentes com as topografias especificadas pelo experimentador (MCILVANE; KLEDARAS; CALLAHAN; DUBE, 2002). O termo Controle de Estímulos especifica uma relação envolvendo uma classe de comportamentos e uma classe de eventos ambientais. Esta relação de controle estabelece que um determinado comportamento seja mais (ou menos) provável quando um determinado estímulo esteja presente. Não significa que o comportamento sempre (ou nunca) vá ocorrer em decorrência do estímulo-controle (MCILVANE; DUBE, 1992).
O treino de discriminação é um procedimento tradicional para estabelecer controle de estímulos: diante de um estímulo (designado S+), uma resposta é reforçada; diante de outro estímulo (designado S-), a mesma resposta não é reforçada. Com o tempo, a resposta passa a ser mais provável de ocorrer na presença do S+, que passa a controlar aquela resposta (SÉRIO; ANDERY; GIOIA; MICHELETTO, 2004). Como as relações de controle de estímulos são flexíveis, outras relações estímulo-resposta podem ser estabelecidas, como o controle da resposta por apenas uma dimensão do estímulo, como a cor, ou sua posição. Este tem sido o quadro observado no desempenho dos bebês de risco, que muitas vezes parece ser controlado por outros aspectos (posição dos estímulos, preferência por um dos estímulos) que não aquele planejado pelo experimentador para exercer controle – o estímulo comparação correto.
 Enquanto na maioria dos bebês de risco estudados (GIL; OLIVEIRA, 2003; GIL; OLIVEIRA; SOUSA; FALEIROS, 2006) observa-se apenas uma topografia (posição) que controla o baixo desempenho que não alcança o nível considerado satisfatório para a aprendizagem da tarefa, outros bebês apresentam desempenhos intermediários, com freqüências de acerto acima do nível do acaso, mas que ainda não alcançam os níveis esperados. A persistência do desempenho intermediário é explicada por Dube e McIlvane (1996) em decorrência de contingências de reforçamento que selecionam e mantêm diversas topografias de controle de estímulos (TCE) na mesma linha de base.
Os estudos ressaltam ainda que a variabilidade das respostas dos participantes de procedimentos de treino de discriminação é esperada e que padrões rígidos de controle de estímulos, como o controle exclusivo e persistente pela posição, podem estar relacionados à associação entre déficits neurológicos detectáveis e o nível de desenvolvimento, juntamente com diferentes histórias pré-experimentais (MCILVANE; KLEDARAS; CALLAHAN; DUBE, 2002).
O pouco conhecimento sobre o repertório desenvolvimental dos bebês, sobretudo quando são considerados de risco, aumenta as dificuldades para o pesquisador em planejar de condições de ensino eficientes. A carência de metodologias adaptadas para o ensino de relações complexas a bebês resulta em desempenhos inferiores da população de bebês de risco quando comparados ao desempenho de bebês com desenvolvimento típico em tarefas experimentais de treino destas relações, como descrito nos estudos de Gil e Oliveira (2003) e Gil, Oliveira, Sousa e Faleiros (2006). Neste conjunto de pesquisas, dentre 16 bebês de risco participantes, com idade entre nove e 19 meses, apenas seis, ou seja, pouco mais de um terço deles, realizaram com sucesso a tarefa de discriminação condicional considerada a mais elementar - o pareamento de identidade. Portanto, os procedimentos adotados não foram efetivos para 13 deles, o que requer uma análise detalhada das contingências que, de fato, estiveram em vigor nas tarefas de ensino/aprendizagem de discriminação pelos bebês.
O objetivo do presente estudo foi identificar quais topografias de controle de estímulos foram estabelecidas para um dos bebês estudados que não realizou as tarefas previstas.

MÉTODO

Participante
Um bebê do sexo masculino (G) freqüentador de uma creche filantrópica da cidade de São Carlos, com idade de 17 meses no início do estudo. O bebê foi avaliado pelo Teste de Triagem Denver II (FRANKENBURG; DODDS; ARCHER; BRESNICK, 1992) caracterizando um quadro de atraso no desenvolvimento, com um atraso na área motora.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da UFSCar (no. protocolo – 043/03).

Local e Material
 As sessões foram conduzidas em uma sala da própria instituição freqüentada pelo participante. A sala media 9m2, dividida ao meio por uma cortina; com iluminação e ventilação naturais. 
Os estímulos que exerceram a dupla função de antecedentes e reforçadores foram brinquedos industrializados cuja atratividade foi testada em estudo anterior (GIL; OLIVEIRA, 2003).
 O aparato utilizado consistiu em uma placa retangular de acrílico preto fosco com 110 cm de base e 77 cm de altura, com cinco janelas de 25 cm de base por 25 cm de altura por 26 cm de diâmetro, as quais expunham os brinquedos. As janelas permitiam três tipos de exposição: fechada com acrílico preto fosco; fechada com acrílico transparente e aberta (GIL; OLIVEIRA; SOUSA; FALEIROS, 2006),
            Foram utilizados para registro e análise duas câmeras de vídeo digitais, um microcomputador e protocolos de registro.

Procedimentos gerais
Houve um período de familiarização de três semanas, em que foram realizadas  brincadeiras no ambiente familiar ao bebê.
Foram realizadas 17 sessões de treino da tarefa de discriminação simples no período de cinco semanas. As sessões de treino consistiram em no máximo 10 tentativas consecutivas de treino da tarefa. O critério de aprendizagem da tarefa de discriminação foi estabelecido em quatro acertos consecutivos em uma mesma sessão, com pelo menos uma escolha prévia ao S- de acordo com estudo anterior (GIL; OLIVEIRA, 2003).
A primeira sessão teve por objetivo modelar o comportamento do bebê de pegar o brinquedo na janela e o comportamento de tocar o acrílico da janela (resposta de observação).
As tentativas começavam com a apresentação simultânea de dois estímulos diferentes, em duas janelas laterais vedadas com acrílico transparente. A experimentadora dava a instrução: “pode pegar” ou “pega um”. As respostas do bebê, com as respectivas conseqüências planejadas, foram categorizadas em:
1) acerto: em até 15 segundos, o bebê tocou o acrílico da janela contendo o estímulo designado S+, esta girou até a posição aberta e o bebê pegou o brinquedo e brincou com a experimentadora por cerca de 20-30 segundos; simultaneamente a janela contendo o estímulo comparação incorreto girou até a posição fechada (acrílico preto fosco);
2) erro: em até 15 segundos, o bebê tocou o acrílico da janela contendo o estímulo designado S-; as duas janelas giraram simultaneamente até a posição fechada;
3) não-escolha: o bebê não emitiu nenhuma resposta de escolha em até 15 segundos; as duas janelas se fecham simultaneamente.
Para garantir o reforçamento diferencial, na primeira tentativa de treino da tarefa de discriminação simples o primeiro estímulo escolhido pelo bebê era designado S- e ambas as janelas se fechavam simultaneamente e terminava a tentativa. Após o intervalo entre tentativas de 10 segundos, nas tentativas seguintes as duas janelas abriam-se expondo os mesmos estímulos em ordem pré-definida.
Procurou-se intercalar as categorias de brinquedos para maximizar a atenção do participante. O critério para trocar os estímulos era: 1) o bebê não teve contato com o brinquedo por três tentativas consecutivas (1ª escolha S- e duas escolhas erradas); 2) o bebê não atingiu o critério de aprendizagem durante a sessão, ou 3) o bebê emitiu três respostas consecutivas de não-escolha (possivelmente aquele conjunto de estímulos não estava exercendo controle sobre o comportamento do bebê; ele parou de realizar a tarefa).
O encerramento das sessões estava previsto para uma ou mais de três situações: 1) quatro erros consecutivos; 2) onze tentativas na mesma sessão sem atingir o critério de aprendizagem, ou 3) por sinais de cansaço e irritação por parte do bebê.
Ao término da sessão o bebê brincava livremente com a experimentadora e um brinquedo de encaixe por cerca de 3 minutos e depois era levado de volta ao berçário.
            Os registros em videoteipe do desempenho do bebê eram regularmente analisados para o planejamento das sessões seguintes, como a troca de estímulos, emprego de procedimentos remediativos etc.

RESULTADOS

            Com a finalidade de analisar o estabelecimento e a manutenção de diferentes topografias de controle de estímulos do desempenho de G, foram analisadas as oito sessões iniciais, descartando-se a primeira, que consistiu na modelagem de respostas.
            Foram estabelecidas duas topografias de controle de estímulos: 1) TCE pela posição do estímulo no aparato: diante dos dois estímulos comparação, o bebê escolhia consistentemente a janela do mesmo lado (só a janela da direita ou só a janela da esquerda) independentemente do estímulo apresentado (correto ou incorreto); 2) TCE por preferência por um dos estímulos: diante dos dois estímulos comparação, o bebê escolhia consistentemente o estímulo (brinquedo) de sua preferência, mesmo quando ele não podia ter acesso ao estímulo (S-).
            A Tabela 1 mostra como a topografia de controle de estímulos pela posição resultou dos procedimentos experimentais empregados. Apesar do balanceamento da exposição do estímulo correto (S+) em proporções aproximadamente iguais, desde a primeira sessão de treino da tarefa de discriminação simples (sessão dois) até a sexta sessão, o bebê escolheu o estímulo exposto na janela da esquerda em 26 das 35 tentativas (76%), sendo que em apenas11 dessas 26 vezes o estímulo comparação correto estava exposto nesta janela. As outras 15 escolhas do bebê pela janela da esquerda ocorreram em tentativas em que nela estava exposto o estímulo incorreto. Se o desempenho do bebê estivesse sendo controlado pelo estímulo comparação correto sua proporção de escolhas entre as posições das janelas no aparato também seriam balanceadas (em torno de 50 % das escolhas em cada posição).

TABELA 1 - Distribuição da posição dos estímulos e do desempenho do bebê nas tentativas das sessões de 2 a 6.
Posição no aparato
Escolhas
Acertos
Exposição S+
D
9 (24%)
5 (31, 25%)
17 (51, 5%)
E
26 (76%)
11 (68, 75%)
16 (48, 5%)
TOTAL
35 (100%)
16 (100%)
33 (100%)

            Na sexta sessão os experimentadores perceberam mais claramente o controle exercido pela posição do estímulo no aparato sobre o comportamento de escolha do bebê e planejaram um procedimento para alterar esta relação de controle. Nas últimas três tentativas desta sessão o estímulo designado S+ foi exposto na janela da direita e a janela da esquerda foi apresentada vazia. As três respostas de escolha do bebê foram para a janela da esquerda, que não continha brinquedo algum, o que demonstra a forte relação de controle estabelecida pela posição da janela no aparato, ao invés da TCE planejada pelos experimentadores para exercer controle – o controle das escolhas do bebê pelo estímulo comparação correto.
            Na sétima sessão o procedimento remediativo de janela vazia foi programado para que a janela que estava vazia não se fechasse caso o bebê a escolhesse (como ocorreu na sessão seis), mas para que as duas janelas permanecessem abertas até que o bebê escolhesse a janela contendo o estímulo comparação correto. O Quadro 1 mostra que na primeira tentativa desta sessão o bebê escolheu primeiramente a janela esquerda vazia. Entretanto, nas tentativas seguintes, o arranjo experimental foi suficiente para garantir a escolha do bebê pelo S+ na janela da direita. Nas tentativas de treino desta sessão pôde-se observar pelo desempenho do bebê a topografia de controle de estímulos por preferência por um dos brinquedos; o bebê escolheu o estímulo comparação incorreto nas quatro tentativas, independentemente da posição da janela em que o brinquedo era apresentado.

QUADRO 1 - Arranjo experimental e desempenho do bebê nas sessões 7 e 8.
Sessão
Estímulos considerados S+ e S-
Tentativa
Posição
dos
estímulos
Escolha
(correta)
Desempenho
 
 
 
E
D
 
 
     7
TV e Celular
1
vazia
S+
E   D
C
2
vazia
S+
D
C
3
S+
vazia
E
C
4
vazia
S+
D
C
5
vazia
S+
D
C
6
S+
S-
D
X
7
S+
S-
D
X
8
S-
S+
E
X
9
S-
S+
E
X
8
Bola Amarela e Bola Vermelha 
1
S+
S-
E
C
2
S-
S+
E
X
3
S+
S-
E
C
4
S-
S+
E
X
5
vazia
S+
D
C
6
vazia
S+
D
C
7
S+
vazia
E
C
8
vazia
S+
D
C
9
vazia
S+
D
C
10
S-
S+
-
NE
11
S+
S-
-
NE

Na sessão oito os estímulos foram trocados devido à topografia de controle de estímulos por preferência observada na sessão anterior. Nas tentativas iniciais de treino desta sessão a TCE pela posição do estímulo na janela esquerda do aparato reapareceu (o bebê escolhe por quatro vezes consecutivas a janela da esquerda) e foram realizadas cinco tentativas de remediativo. Nas duas sessões finais de treino o bebê não emite resposta de escolha a nenhum dos estímulos experimentais.
Estão descritos no Quadro 2 os outros procedimentos planejados nas sessões seguintes para alterar esta relação de controle estabelecida entre a resposta de escolha do bebê e a posição em que era exposto o estímulo. Entretanto, estas novas organizações dos estímulos experimentais não foram suficientes para alterar a topografia estabelecida e garantir a coerência da TCE do desempenho do bebê e da topografia planejada pelo experimentador. Em algumas sessões o comportamento do bebê continuou sendo controlado pela posição, como na sessão oito e 10, em que apesar de atingir uma freqüência de acertos próxima da medida ao acaso (50%), o bebê permaneceu respondendo em apenas uma das janelas (esquerda). O Quadro 2 mostra que nestas sessões o estímulo correto foi apresentado 50% das vezes em cada posição, entretanto o bebê não escolheu nenhuma vez a posição direita.

QUADRO 2 - Arranjo experimental geral e desempenho do bebê em todas as sessões realizadas.
Sessão
Procedimentos
Estímulos considerados S+ e S-
Acerto (%)
Escolha posição direita / exposição S+ direita (%)
1
Modelagem
Trem e Pato
-
-
2
Treino DS
Celular e TV
50
37,5 / 50
3
Treino DS
Piu-piu e Menina
50
16,6 / 66,6
4
Treino DS
Corneta e Urso
50
66,6 / 50
5
Treino DS
Flor e Zeca
44,4
11,1 / 33,3
6
Treino DS/Remediativo vazia e S+
TV e Celular
33,3
0 / 66,6
7
Remediativo vazia e S+ e não fecha se S-/Treino DS
TV e Celular
0
50 / 50
8
Treino DS/Remediativo vazia e S+/Treino DS
Bola Amarela e B.Vermelha
50
0 / 50
9
Remediativo vazia e S+/Remediativo não fecha S-
Piu-piu e Menina/Rádio e Borboleta
-
-
10
Remediativo não fecha S-/Treino DS/Remediativo não fecha S-
Direção e Computador
50
0 / 50
11
Modelagem janela meio/Treino DS janela meio e direita
Bola Vermelha e B. Amarela
14,2
28,5 / 57,1
12
Treino DS janela meio e direita/Remediativo não fecha S-/Treino DS janela do meio e direita
Bola Vermelha e B. Amarela
50
25 / 75
13
Treino DS janela do meio e direita
Flor e Zeca
66,6
33,3 / 66,6
14
Remediativo não fecha S-
Pato e Trem
-
-
15
Treino DS
Tartaruga e Gato
42,8
14,2 / 71,4
16
Treino DS estímulos na mão
Mickey e Chico
28,5
85,7 / 42,8
17
Remediativo vazia e S+ na mão/Treino DS estímulos na mão
Mickey/Zeca e Flor
20
80 / 40

            O controle pela posição é evidenciado em outras sessões ainda, como a sessão 16, em que G apresentou uma proporção baixa de acertos (28, 5%) devido ao controle exercido pela posição direita, escolhida em 85, 7% das tentativas, apesar desta posição exibir o estímulo correto em apenas 42, 8% das vezes.
            
DISCUSSÃO

A análise do desempenho do bebê realizada pelos experimentadores durante esta coleta de dados, apesar de ser realizada com freqüência (após quase todas as sessões), foi baseada exclusivamente na freqüência de acertos do participante, que como apontado por McIlvane e Dube (1992) não é suficiente e pode levar a decisões errôneas. A informação de que o bebê acertou 50% das tentativas pode referir-se a acertos exclusivamente em uma única posição. Este quadro ainda mantém esta topografia de controle pela posição devido ao reforçamento intermitente da topografia.
Assim, os experimentadores demoraram a detectar a topografia de controle pela posição até que ela estivesse bem instalada e mesmo com procedimentos alternativos este controle não pôde ser alterado. Essa fixação da TCE do desempenho do bebê pela posição não deve ser explicada pelo atraso no desenvolvimento do participante, mas pelo planejamento inadequado das contingências experimentais pelos experimentadores.
Sugere-se o uso de medidas como a proporção de escolhas do participante por posição em cada sessão para detectar esta TCE e programar procedimentos remediativos antes que esta topografia esteja bem instalada. Taxas de escolha pelo bebê acima de 70% (considerando o balanceamento de 50% de exposição do S+ em cada posição) em uma única posição devem basear a redefinição do procedimento, que deve ser realizado impreterivelmente a cada sessão. Como estas medidas não podem ser calculadas durante a realização da sessão, é preferível interrompe-la para a análise completa, ao invés de reformular o procedimento no decorrer da sessão baseado em uma análise superficial que pode contribuir na manutenção de topografias indesejáveis e incompatíveis com a aprendizagem da tarefa que está sendo ensinada. Estas providências podem ajudar a garantir a coerência entre a TCE planejada pelo experimentador e a TCE que realmente se estabelece no decorrer das sessões de treino da tarefa de discriminação simples.

Referências Bibliográficas

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GIL, M. S. C. A. ; OLIVEIRA, T. P. Um procedimento de treino de discriminação condicional com bebês. In: M. Z. da S. Brandão; F. C. de S. Conte; F. S. Brandão; Y. K. Ingberman; C. B. de Moura; V. M. da Silva; S. M. Olian. (Org.). Sobre Comportamento e Cognição. 1ª ed. Santo André: ESETec Editores Associados, v. 12, p. 469-477, 2003.
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PÉREZ-RAMOS, A. M. DE Q.; PÉREZ-RAMOS, G. Estimulação precoce. 2a. ed. Brasília, DF: Ministério da Justiça, CORDE, 1996. 255 p.
SIDMAN, M. Equivalence relations and behavior: A research story. Boston: Authors Cooperative Pub, 1994. 606 p.
SIDMAN , M.; TAILBY, W. Conditional discrimination vs. matching to sample: An expansion of the testing paradigm. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 37, p. 5-22, 1982.
VITAL, M. L. V. Estimulação de Bebês de Risco em Creches e Seus Efeitos na Promoção do Desenvolvimento. Relatório final de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Universidade Federal de São Carlos, 2005. 65p.