http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/334.htm |
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
CORRELAÇÃO ENTRE RESPIRAÇÃO ORAL E DISTÚRBIO DE LEITURA
ESCRITA EM CRIANÇAS DE SEGUNDA E TERCEIRA SÉRIE
Maquielli Salanti – Universidade Estadual do Centro-Oeste
Patrícia Aspilicueta - Universidade Estadual do Centro-Oeste
INTRODUÇÃO
Um padrão correto de face depende da boa relação entre os órgãos fonoarticulatórios (lábios,
língua, bochechas, dentes, oclusão) e do desempenho correto das funções estomatognáticas
(respiração, sucção, deglutição, mastigação e fonação).
A respiração nasal é dos fatores que contribui para a saúde e o bem estar de uma pessoa. Segundo
Gurfinkel (2004) ela fornece energia ao organismo, favorece na purificação do sangue, auxilia na
comunicação verbal (fonação) e permite a nossa sobrevivência.
Marchesan (1998) afirma que deixar de respirar pelo nariz para respirar pela boca provoca diversos
prejuízos ao ser humano. Para Felício (1999), a respiração nasal auxilia no desenvolvimento das
estruturas faciais, assessorando no vedamento labial e posição correta da mandíbula em repouso,
assim como no correto posicionamento da língua dentro da cavidade oral. Na presença de uma
obstrução ou inadequação em alguma das funções do nariz, o indivíduo pode ter sua respiração e
seu estilo de vida prejudicados. Isso se deve a causas do tipo: obstruções nasais, faríngeas, desvio
de septo, dificuldade de vedamento labial, entre outros. A respiração oral pode ser apenas um mau-hábito do indivíduo, entretanto pode ter uma causa orgânica.
A respiração oral ainda traz consigo diversas características associadas aos indivíduos que a
portam, as quais podem acabar por prejudicar o desenvolvimento facial, assim como provocar até
alterações estéticas. Autores como Freitas e Matsumoto (2002/2003) e Marchesan (1994; 1998)
descreveram tais características, destacando as principais como: sorriso gengival, lábio superior
hipertônico e inferior flácido, mandíbula caída e língua anteriorizada, entre outros.
Diversas conseqüências também podem aparecer em indivíduos com respiração oral, dentre elas
estão as descritas por Marchesan (1998), que cita cansaço rápido em atividades de esforço físico,
noites mal dormidas, boca seca, má-oclusão dentária, entre outros. Além disso, estes aspectos
podem vir a levar o indivíduo a apresentar sonolência durante o dia, ou mesmo, hiperatividade,
prejudicando sua vida diária. No caso de crianças, este hábito poderá prejudicar seu desempenho
escolar como conseqüência da sonolência, hiperatividade ou até mesmo dificuldade em prestar
atenção. Junqueira (2004) coloca que tudo isso pode ocorrer dependendo do indivíduo e da
genética de cada um, assim como da etiologia causadora da obstrução nasal.
A respiração oral pode prejudicar o bem estar físico do indivíduo, como também seu estado de
saúde geral. Zorzi (1996) afirma que alterações de saúde podem prejudicar qualquer tipo de
aprendizado, dentre os quais abarcam o da leitura e o da escrita, que são fundamentais para que a
criança, nos dias de hoje, tenha um futuro melhor.
A respiração oral pode ser considerada um problema de saúde, o qual é capaz de comprometer a
vida escolar de uma criança, é possível suspeitar que uma criança respiradora oral possa apresentar
uma maior dificuldade na escola, pois a sonolência causada por noites mal dormidas, a
hiperatividade, a irritação, o cansaço fácil em atividades físicas, a falta de apetite ou a obesidade e a
respiração ruidosa prejudicarão a vida social e acadêmica da criança. Assim, uma criança que não
apresenta estas características tem maiores chances de desenvolver com melhor condição o seu
aprendizado, levando em consideração a não existência de outra causa de distúrbio de leitura escrita
associada.
Em contraponto, Azcoaga apud Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000) afirma que mesmo que a
criança tenha um padrão correto de respiração, ela poderá apresentar um distúrbio de
aprendizagem de origem genética, lesão cerebral e/ou alterações do desenvolvimento.
Existem vários outros contextos que são causas fundamentais para desencadear um distúrbio de
leitura escrita. McCarthy apud Fonseca (1995) afirma que a etiologia mais freqüente dos distúrbios
de aprendizagem são: hiperatividade; problemas psicomotores; labilidade emocional; problemas
gerais de orientação; desordens de atenção; impulsividade; desordens na memória e raciocínio;
dificuldades específicas de aprendizagem (dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia); problemas
de audição e de fala; sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no
eletroencéfalograma.
Algumas alterações de aprendizagem podem ser devidas às diferenças entre ideologias e valores do
indivíduo com o meio escolar que provocam a não identificação do aluno com o meio e com as
metodologias utilizadas no processo de ensino (TEDESCO apud SACALOSKI, ALAVARSI e
GUERRA, 2000 ).
Tedesco (2005) relata que somente a identificação das manifestações de alterações de leitura e
escrita não são suficientes para um suposto distúrbio. Para a autora, a avaliação da linguagem é
imprescindível. Pode-se utilizar na avaliação conversa espontânea, jogos e atividades gráficas
promovendo maior descontração e possibilitando melhor execução de provas formais, quando
necessárias.
Mousinho (2003) afirma que é através de um processo lingüístico complexo que se dá a aquisição
da leitura e da escrita, logo, uma dificuldade pode fazer parte de uma deficiência na composição e
organização da linguagem em geral.
Levando em consideração o que foi relatado no decorrer do texto, o distúrbio de leitura escrita
pode, ou não, ser conseqüência da respiração oral. Portanto, o trabalho foi realizado para verificar
os índices e a relação existente entre ambas as patologias. Assim, puderam ser comparadas as
avaliações e os resultados obtidos, verificando-se a quantidade de erros apresentados por criança e
por grupo respiratório, assim como analisar se existe uma relação evidente que mostre uma ligação
entre a dificuldade em leitura e escrita e a respiração oral.
Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo correlacionar a presença de respiração oral
e distúrbio de leitura escrita em escolares de 2ª e 3ª série de uma escola do interior do Paraná.
MÉTODO
Participantes
Crianças de uma turma de 2ª e de uma turma de 3ª série do ensino fundamental de uma escola de
Irati. O número total de crianças nessas turmas é de aproximadamente 40 (quarenta), sendo cada
turma composta por cerca de 20 (vinte) alunos. Dentre as 40 crianças, estas foram divididas em 2
(dois) grupos respiratórios: as respiradoras orais e as respiradoras nasais. Destas foram sorteadas,
através de sorteio simples, apenas 12 (doze) crianças, sendo 6 respiradoras orais e 6 respiradoras
nasais. Cada grupo foi composto por 3 meninas e 3 meninos, com faixa etária entre 7 e 10 anos,
sendo que a média de idade dos respiradores orais foi de 8,5 anos, e a média de idade dos
respiradores nasais foi de 8,3 anos. Com relação às séries dos participantes, dos respiradores orais
5 (cinco) encontravam-se na segunda série e 1 (um) na terceira série, já dos respiradores nasais 4
(quatro) encontravam-se na segunda série e 2 (dois) na terceira série.
Local
Escola Municipal Pequeno Duque, localizada na região central da cidade de Irati, a qual contém
cerca de 50.000 habitantes e está localizada no interior do Paraná, na região central do estado,
cercada de florestas de araucárias. A escola tem cerca de 700 alunos no total e abarca o ensino
fundamental e médio, sendo que o primeiro segmento do ensino fundamental é municipal e o restante
é estadual. O período de realização da pesquisa foi entre os meses de junho à agosto de 2006.
Procedimentos
Primeiramente foram obtidas as autorizações da escola e dos pais para a participação das crianças
no projeto. Dentre as crianças que foram autorizadas, foi realizada, na própria escola, uma triagem
para identificar quais crianças possuiam respiração oral. Para isso o material utilizado foi o espelho
milimetrado de Altmann e observação da pesquisadora dentro de sala de aula. A prova foi realizada
dentro de sala de aula com a presença de todos os alunos. Cada criança que realizou a avaliação foi
orientada pela pesquisadora sobre como teria que permanecer. A criança ficou sentada em uma
cadeira com a coluna ereta, observando um clip de algumas figuras expostas em um notebook. Foi
solicitado à criança para que prestasse atenção nas figuras e contasse quantas vezes aparecia uma
certa figura no clip. Enquanto isso, a pesquisadora colocou o espelho milimitrado de Altmann em
algumas partes do corpo da criança, dentre estas partes, o nariz, pois se o espelho fosse colocado
diretamente no nariz a criança poderia ser induzida a respirar pelo nariz, mascarando os resultados,
já que as crianças que respiram pela boca apenas por hábito e não por obstrução nasal poderiam
acabar por serem desconsideradas.
Os resultados foram marcados em um protocolo. Foram consideradas crianças portadoras de
respiração oral aquelas que embaraçaram muito pouco e aquelas que não embaçaram o espelho,
confirmando-se tal dado a partir de observações em sala de aula.
Depois de realizada a triagem de respiração, as crianças foram divididas em 2 grupos, as
respiradoras orais (GI) e as respiradoras nasais (GII). Desses grupos, foram selecionadas todas as
respiradoras orais e o mesmo número de respiradoras nasais, sorteadas através de sorteio simples,
para que estas realizassem avaliação de leitura-escrita.
Para avaliação de leitura-escrita foram utilizados também os protocolos nos quais as crianças
realizaram as atividades propostas. Dentre as atividades que cada criança teve que realizar estavam
leitura de um texto (Coellho Cambalhota), o qual foi lido em voz alta e em seguida contado à
pesquisadora o que entendeu sobre o texto, e outro (As travessuras de Afonsinho) que a criança leu
silenciosamente e respondeu à questões relacionadas. Os textos escolhidos foram selecionados por
apresentarem linguagem acessível e serem de interesse para as crianças.
Quanto à escrita, o protocolo era composto de escrita semi-espontânea, ditado de palavras isoladas
e frases (proposto por Zorzi, 1998), cópia de letras, palavras, frases e parte de um texto. As letras,
palavras, frases e textos escolhidos para que a criança realizasse a cópia foram escolhidos de
acordo com o balancemento dos fonemas, tentando colocar nestas palavras todos ou a maior parte
dos fonemas presentes em nossa língua. A digitação das palavras em minúsculas e maiúsculas foi
proposital para poder analisar o tipo de letra que a criança iria utilizar, assim como também foi
proposital a ausência de linhas em parte das atividades para se poder avaliar a disposição das
palavras no papel. Além das atividades propostas foram considerados os cadernos das crianças, os
quais a pesquisadora examinou. Para análise dos dados, foram utilizadas as propostas de Capellini
(2000) e Condemarim e Blonquist (1989) para as provas de leitura e de Oliveira (2002) para a
análise da escrita.
Depois de colhidos os resultados, foi realizada uma comparação entre os grupos para verificar se as
crianças respiradoras orais apresentavam índice maior, menor ou igual de dístúrbio de leitura-escrita
do que as crianças respiradoras nasais. Além disso, realizou-se a comparação das crianças em cada
tipo de erro através de gráficos.
Após a conclusão da pesquisa, foi proposta à escola uma reunião convidando os pais das crianças
diagnosticadas com respiração oral e/ou com distúrbio de leitura-escrita, para que possam ser
discutidas possíveis causas e conseqüências, além das relações entre respiração oral e aprendizagem
e serem feitos os encaminhamentos pertinentes.
A presente pesquisa norteia-se pelas diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos, em conformidade à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto
de pesquisa foi analisado e considerado aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Centro Oeste
RESULTADO
Os erros apresentados em todos os aspectos da leitura mostram que, de uma forma geral, as
crianças respiradoras orais demonstraram maior dificuldade em leitura (em média, cometeram 34%
dos erros) do que as crianças respiradoras nasais (em média, cometeram 30% dos erros).
Os erros que foram na maior parte cometidos pelas crianças respiradoras orais, são:
· Substituição
de grafemas;
· Omissão
de vogal;
· Leitura
de palavras inventadas;
· Tipo
de leitura, sendo a maior parte leitura silabada;
· Velocidade
lentificada de leitura silenciosa;
· Maior
tempo para leitura oral;
· Tipo
de leitura, sendo a maior parte a alfabética.
No entanto, cabe destacar que mesmo quando o grupo de respiradores orais cometia, em
média, maior quantidade de erros, sempre havia uma ou mais alunos que cometeram poucos ou
nenhum erro daquele tipo.
Já as crianças respiradoras nasais, que num parâmetro geral tiveram um percentual menor de erros
na leitura quando considerados todos os tipos de erros juntos, erraram mais nos seguintes tipos de
erros:
· Omissão
de consoantes;
· Transposição
de grafemas;
· Ausência
de entonação;
· Ausência
de fluência na leitura;
· Nenhuma
compreensão da leitura silenciosa.
O erro do tipo adição de grafemas teve valor igual em ambos os grupos.
Fazendo uma síntese dos erros cometidos pelos alunos em relação à escrita, é possível notar que o
maior percentual de erros, independente de quantidade, deu-se entre os respiradores nasais,
entretanto, a maior quantidade de erros foi cometida pelas crianças respiradoras orais, assim como
a maior variedade de erros também foi cometida pelos respiradores orais, pois dos 19 tipos de
erros analisados, estes cometeram, na maioria, 9 tipos de erros. Comparando-se então ambos os
grupos, os erros na escrita que apareceram na maioria das vezes pelos respiradores orais
(variedade) foram:
· Falta
de sinais de pontuação;
· Troca
de letras surda/sonora;
· Troca
de letras por representações múltiplas;
· Troca
de letras por apoio na oralidade;
· Omissão
de sílabas;
· Aglutinação
de palavras;
· Troca
de am por ão;
· Confusão
de letras de formas parecidas;
· Ausência
de letras maiúsculas.
Quanto a variedade de erros que tiveram maior incidência entre as crianças respiradoras
nasais encontraram-se:
· Falta
de acentuação nas palavras;
· Substituições
de sílabas;
· Inversão
de letras;
· Omissão
de letras;
· Acréscimo
de letras ou sílabas;
· Generalização
de regras;
· Outros;
· Ausência
de palavras.
O erro do tipo repetição de sílabas foi cometido por igual entre os grupos e o erro 12, substituição
de palavras por outras, não foi cometido por nenhum aluno.
DISCUSSÃO
Com base nas avaliações e apresentação dos resultados a respiração oral parece ser um fator que
pode contribuir para acentuar o fracasso escolar, demonstrando as dificuldades encontradas.
Evidencia-se, no entanto, outros processos que estão envolvidos na aprendizagem, não se
estabelecendo uma relação direta entre a respiração oral e as dificuldades escolares.
Na pesquisa notou-se que as crianças respiradoras orais obtiveram maior quantidade (números) e
variedade de erros tanto na leitura quanto na escrita. Quanto aos percentuais de erros, ou seja, se a
criança cometeu ou não cometeu determinado tipo de erro, independente de quantidade, na leitura
foi maior nos respiradores orais, entretanto na escrita o maior percentual se deu entre os
respiradores nasais.
Quando a criança deixa de respirar pelo nariz e começa a respirar pela boca, há uma diminuição da
quantidade de oxigênio que entra pelo nariz, pois se o mesmo entrar pela boca, este vai estar
deixando de passar pela tuba auditiva, o que vai diminuir a pressão dentro da mesma, prejudicando
o aproveitamento dos sons que por ali vão passar. Santos et al (2005) relatam que a tuba auditiva é
um canal que estabelece a ligação entre a cavidade timpânica e a nasofaringe, com comprimento de
35 a 38 mm numa pessoa adulta. A tuba auditiva é formada por tecido ósseo (1/3) e em parte por
tecido cartilaginoso (2/3) e tem como função manter o equilíbrio das pressões de ar entre a orelha
média e a orelha externa propiciando a renovação de ar da cavidade timpânica, todas as vezes que
ocorre a deglutição.
A diminuição do aproveitamento do oxigênio promove maior necessidade de esforço respiratório,
principalmente durante os exercícios físicos. Levando isto em consideração, pode ocorrer
interferência no raciocínio, no humor, na saúde geral, podendo levar a criança a uma dificuldade
maior na escola (FREITAS e MATSUMOTO, 2002/2003).
Pois se para que aconteça o processo perceptual auditivo é necessária a detecção do som, torna-se
fundamental que as estruturas responsáveis pela transmissão e recepção destes estímulos auditivos
estejam em plena integridade, ou seja, orelha externa, média e interna encontrem-se em integridade
morfofisiológica. Qualquer alteração orgânica em algumas destas estruturas poderá implicar em
informações incorretas, distorcidas ou alteradas sobre os fonemas recebidos (RUSSO e SANTOS,
1994). Portanto a grande diferença de erros apresentada pelos respiradores orais no desempenho
em substituição de grafemas na leitura, apresentada no gráfico 4, pode ser advinda ao relatado
acima.
Tedesco (2005) afirma que as trocas, omissões ou inversões grafêmicas podem ocorrer por
natureza auditiva, visual ou mesmo de fala.
Portanto, as dificuldades maiores, na escola, dos indivíduos respiradores orais podem ser causadas
pela dificuldade de atenção, pela dificuldade em diferenciar os fonemas (via auditiva), causando
assim, um tempo maior para a leitura, além de omissão de letras e falta de sinais de pontuação, entre
outros, podendo estes serem causados também por problema de via auditiva.
No entanto, tanto crianças respiradoras orais, quanto respiradoras nasais obtiveram erros em
grande quantidade na leitura e na escrita, podendo caracterizar um distúrbio de leitura escrita com
outras causas diferentes da respiração oral, e como já foi citado no decorrer do trabalho mesmo
que a criança tenha um padrão correto de respiração, ela poderá apresentar um distúrbio de
aprendizagem de origem genética, lesão cerebral e/ou alterações do desenvolvimento (AZCOAGA
apud SACALOSKI, ALAVARSI e GUERRA, 2000).
Portanto, a respiração oral pode não ser um fator determinante para provocar um distúrbio ou
dificuldade de aprendizagem, já que o segundo pode ter muitos outros fatores que o influenciam,
haja vista que não foi determinante para todos os alunos, pois houve alunos respiradores orais que
não apresentaram muitos erros (aluno F) e alunos respiradores nasais que apresentaram muitos
erros (aluno G).
Assim, parte da dificuldade apresentada pelas crianças pode ser originada por problemas
pedagógicos da escola, assim como dependentes do processo de aquisição da leitura e da escrita,
que pode ter variações de criança para criança.
Segundo Zorzi (1998) o processo de construção do conhecimento leva-nos a crer que os erros
fazem parte de um processo de aprendizagem, não tendo, a princípio, um caráter patológico, como
muitas vezes se faz pensar. Os erros fazem parte da aquisição e são produzidos por todas as
crianças. A diferenciação do normal para o patológico deve ser observada pela quantidade e pela
freqüência de aparecimento dos erros.
Tanto as respiradoras orais, quanto as nasais, poderão apresentar um problema patológico de
leitura escrita, entretanto é importante observar se não está ocorrendo apenas um processo mais
lento de aprendizado e no caso de respiradores orais, verificar se a respiração oral não está
interferindo neste processo, observando o sono da criança, sua alimentação, atenção na escola,
assim como, o comportamento da criança.
É importante ainda, verificar as causas da respiração oral, encaminhar as crianças para avaliação e
conduta otorrinolaringológica, tratá-las e então reestabelecer a respiração nasal, para assim verificar
se as dificuldades das crianças vão estar sendo sanadas ou diminuídas.
Tendo em vista que o número de crianças foi pequeno em cada grupo, torna-se difícil uma
comparação entre ambos, entretanto a comparação foi realizada buscando explorar o máximo
possível. Cada gráfico e tabela apresentado mostrou e comparou os grupos de respiradores orais e
nasais.
Em certos itens houve diferenças grandes entre os grupos, em outros a diferença foi pequena.
Tiveram mais itens que se destacaram os erros apresentados pelos respiradores orais, assim como
tiveram itens que os respiradores nasais tiveram um maior destaque.
Conclui-se, portanto que a respiração oral não é determinante para causar uma maior dificuldade
escolar, visto que a criança que apresentou o menor índice de erros, tanto na leitura quanto na
escrita, é respiradora oral. E, embora, a criança que apresentou maior índice de erros na leitura
também seja respiradora oral, a que apresentou maior índice de erros na escrita é respiradora nasal.
Portanto é incorreto afirmar que todas as crianças respiradoras orais apresentam dificuldade
escolar. Embora haja crianças respiradoras orais que apresentam dificuldades na escola, também há
crianças respiradoras nasais que apresentam dificuldades na escola.
Entretanto a comparação realizada entre os grupos foi de grande valia, mostrando assim
características de cada um dos grupos analisados, e provando que não se pode afirmar que toda
criança respiradora oral terá dificuldades de aprendizagem, assim como, foi possível observar que
entre as crianças respiradoras nasais há crianças com e sem indicativo de dificuldades. E ainda o
fato de ter se constatado a presença de erros na leitura e na escrita em ambos os grupos, colabora
no conceito de que os erros fazem parte da aquisição normal da linguagem escrita.
Ficam as perguntas: será que se as crianças que tiveram dificuldades de leitura e escrita e são
respiradoras orais, depois de tratarem as causas da respiração oral e voltarem a estabelecer a
respiração nasal, vão ter suas dificuldades escolares amenizadas? E será que as dificuldades
apresentadas pelos respiradores orais podem ser advindas de problemas por via auditiva? Estes são
temas que podem ser discutidos em futuras pesquisas.
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