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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA 
ESCOLA ESTADUAL AUGUSTO CARNEIRO DOS SANTOS
Keegan Bezerra Ponce 
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos
RESUMO
Ao exercer seu papel social, a escola desempenha uma função muito importante na sociedade, 
pois desenvolve diferentes projetos pedagógicos que contribuem para o desenvolvimento, 
formação e transformação dos sujeitos envolvidos. Nesta perspectiva,  buscamos descrever um 
relato de experiência do projeto “Comunidade  e inclusão”, desenvolvido com alunos surdos na 
Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos no município de Manaus – Amazonas. Esta ação 
foi decorrente da constatação de que a maioria dos alunos ao saírem da escola ocupava espaços 
considerados de risco, devido à exposição a drogas, violência, bebidas alcoólicas e outrem. Em 
virtude da problemática passamos a desenvolver atividades físicas de cunho desportivo, o qual 
ocorre durante o turno noturno onde acontecem em dois momentos: o primeiro acontece com 
atividades desportivas de cunho participativo, educacional e recreacional como: futsal, voleibol e 
tênis de mesa, envolvendo os alunos oriundos do turno diurno, comunidade surda, comunidade 
ouvinte residentes próximos da escola e alunos com deficiência mental da Escola Especial 
Estadual Diofanto Vieira (EEDV). Outro momento é o atendimento dos alunos do turno noturno 
com aulas regulares de Educação Física e a implantação do projeto “Xadrez na Escola”, com a 
finalidade de reduzir o índice de evasão escolar, problemática decorrente de inúmeros fatores tais 
como: turno e carga horária de trabalho intensa,  baixa motivação, cansaço físico, questões 
sociais e econômicas. Como resultado temos maior participação dos alunos na escola, 
socialização e integração dos diferentes grupos e um ambiente lingüístico e cultural.
Palavras-chaves: Desporto, surdos, inclusão.
1 Introdução
A escola é sempre um lugar onde seus alunos se encontram não apenas para receber 
informações, mas principalmente para trocar experiências, estabelecer relações sociais e  
produzirem conhecimento. Para o aluno surdo torna-se também um espaço lingüístico e cultural, 
visto que durante muito tempo, esses direitos foram negados.
Entre os séculos XVI a XVIII, as crianças surdas eram, na Europa e nos Estados Unidos, 
freqüentemente, abandonadas por suas famílias ou confinadas no contexto doméstico 
(MONTEIRO, 2006). Hoje em dia essa realidade aqui no Brasil já está caminhando diferente, 
pois já existem projetos que buscam cada vez mais incluir o surdo na sociedade.
Nesta perspectiva, vários dispositivos legais apontam para a sociedade à questão da Inclusão 
como meio para aceitar as diferenças, eliminar o preconceito e a discriminação.
Para Sassaki (1999), a inclusão social vem acontecendo e se efetivando em países desenvolvidos 
desde a década de 80. De acordo com Aguiar (2002; 2004), no Brasil foi só a partir da 
Constituição da República Federativa de 1988 que aumentou o número de estudos voltados para 
essa área. Ainda segundo Aguiar, no campo da educação formal eles começaram a ocorrer, de 
forma mais sistemática, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de 
dezembro de 1996.
Para Quadros (2005), a “Inclusão” dos surdos está não no sentido de colocar o surdo entre os 
ouvintes, mas no sentido de garantir o exercício da cidadania do mesmo enquanto brasileiro. Esta 
inclusão tem sido traduzida de diferentes formas, mas, acontece de maneira a garantir que os 
mesmos venham a adquirir e ter acesso à sua própria língua, ou seja, através da Língua Brasileira 
de Sinais (LIBRAS), tenham “escutas” em sinais, tenham pares surdos, acesso ao ensino de 
português como segunda língua e acesso aos conhecimentos curriculares. Destacamos ainda a 
questão da recreação, do lúdico do esporte, enquanto prática educativa e participativa, e como 
direito de todo cidadão assegurado pela Constituição Federal Brasileira.
Com a finalidade de promover esse espaço, desenvolvemos o projeto “Comunidade e Inclusão”, 
na Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos (EEAC)1, onde atendemos  alunos oriundos do 
turno diurno, comunidade surda, comunidade ouvinte residentes próximos da escola e alunos com 
deficiência mental da Escola Especial Estadual Diofanto Vieira (EEDV), como também alunos do 
turno noturno.
Vale ressaltar que o primeiro grupo participava a dois anos do projeto “Segundo Tempo”2, com 
o término deste no fim de 2006, estes passaram a ficar ociosos, freqüentando espaços de riscos 
com violência, drogas, bebidas alcoólicas e outrem. Devido à problemática detectada pelos pais e 
professores, nos propomos a resgatar novamente esse grupo, por meio do referido projeto. 
Outro grupo atendido são os alunos do turno noturno que recebem aulas periódicas de Educação 
Física, fazendo portanto parte do componente curricular. Destacamos que a Educação Física 
legalmente no turno noturno é facultativa de acordo com a LDBEN n.º 9.394/96:
A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente 
curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da 
população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (Art. 26, § 3). 
Os pressupostos dessa lei são questionáveis, porque vinculam a área a um suposto gasto de 
energia que os alunos, já exaustos pelo trabalho, não teriam condições de suportar no período 
noturno. Tal conclusão reflete uma concepção ultrapassada de Educação Física, baseada 
exclusivamente em parâmetros energéticos e fisiológicos, e desconhece a possibilidade da 
adequação de conteúdos e estratégias às características e necessidades dos alunos que 
trabalham, bem como a possibilidade de inclusão de conteúdos específicos – aspectos 
ergonômicos dos movimentos e da postura, trabalho e lazer, exercícios de relaxamento e 
compensação muscular etc.
1  Instituição específica para atendimento de alunos surdos.
2  Projeto oriundo do Governo Federal.
Porém são poucas as escolas que mantêm um profissional a disposição dos educandos desse 
turno, na maioria das  vezes os professores que trabalham a noite são de projetos que têm por 
objetivo atender os alunos de outros turnos para escolinhas e treinos.
2 Construindo o projeto “Comunidade e Inclusão”
Com relação ao projeto “Comunidade e Inclusão”, temos como objetivo  geral possibilitar a 
prática de atividades físicas aos alunos surdos e comunidade buscando desenvolver atitudes 
favoráveis à socialização, relacionamento pessoal, interpessoal e a inclusão. Visa também 
desenvolver momentos culturais como danças,  encontros e palestras com temas relacionados à 
saúde como: prevenção de DST´S/ AIDS, hepatite, doenças, higiene (pessoal e coletiva) e 
cuidado com o meio ambiente.
2.1 Com relação aos objetivos específicos temos:
·          Oferecer a prática de Educação Física e 
esportes para a comunidade surda, comunidade 
geral e deficientes mentais;
·          Oportunizar ao aluno surdo adulto práticas e vivências 
físicas e motoras diversas;
·          Diminuir o índice de evasão escolar através 
de práticas prazerosas de atividades físicas;
·          Integrar, através das práticas desportivas entre 
surdos, a comunidade em geral e os 
deficientes mentais;
·          Diminuir o tempo de ociosidade entre os participantes, assim 
reduzindo o risco social;
·          Promover estudos e debates sobre as questões relacionados 
ao esporte e a Educação 
Física para surdos;
·          Realizar pesquisas com as pessoas envolvidas nesse projeto.
2.2 Caracterizando o trabalho desenvolvido
Número de participantes por modalidade praticada
  
    
        
        
        
        
    
    
    | 
     Participantes 
     | 
    
     Modalidade 
     | 
    
     Dias das atividades 
     | 
    
     Quantidade 
     | 
    
    | 
     Alunos oriundos do 
    turno diurno, 
    comunidade surda, 
    comunidade ouvinte 
     | 
    
     Futsal 
     | 
    
     Terça-feira e quinta-feira 
     | 
    
     35 
     | 
    
    | 
     Comunidade surda 
     | 
    
     Voleibol 
     | 
    
     Segunda-feira e quarta-feira 
     | 
    
     24 
     | 
    
    | 
     Alunos da Escola 
    Estadual Diofanto 
    Vieira 
     | 
    
     Futsal 
     | 
    
     Segunda-feira e quarta-feira 
     | 
    
     12 
     | 
    
    | 
     Alunos do turno 
    diurno 
     | 
    
     Aulas de 
    Educação Física 
     | 
    
     Segunda-feira e quarta-feira 
     | 
    
     62 
     | 
    
    | 
       
     | 
    
     Total  
     | 
    
       
     | 
    
     143 
     | 
 
2.2.1 Estrutura utilizada para as atividades
Para a realização das atividades a escola dispõe de uma quadra coberta para os jogos, desporto 
e recreações. Um pátio  para o tênis de mesa, xadrez e palestras, além de bolas de futsal, de 
voleibol, kits para tênis de mesa, kits para xadrez e outros materiais para as aulas de Educação 
Física.
2.2.2 Descrição das atividades por modalidade
A - Projeto “Comunidade e Inclusão”:
Na modalidade de Futsal, participam os alunos da  Escola Estadual Diofanto Vieira,  que 
apresentam dificuldades em algumas habilidades físicas como velocidade, velocidade de reação, 
agilidade, coordenação motora e equilíbrio. A referida modalidade tem contribuído como um 
meio para desenvolver tais habilidades, bem como para melhorar a auto-estima e sociabilização, 
estabelecendo assim, novos vínculos de amizades com surdos adultos.  
Na modalidade correspondente ao Voleibol participam a comunidade surda e alunos  oriundos 
do turno diurno.  
Com relação ao Futsal feminino, envolvemos as adolescentes e jovens com faixa etária  entre 15 
a 25 anos, com a finalidade de desenvolver suas habilidades desportivas, com noções de domínio 
de bola, passe, drible, tática e regras. 
Desenvolvemos  Futsal masculino com alunos oriundos do turno diurno, comunidade surda, 
comunidade ouvinte residentes próximos da escola  que  jogam entre si disputando partidas com 
regras pré-estabelecidas, e com a prévia organização das equipes, já que o horário é concorrido 
e o tempo curto.Mas, apesar de toda a competição há também espaço para gestos de 
solidariedade e integração, com o envolvimento de todos os grupos de participantes, inclusive do 
feminino e masculino, assim não gera conflitos e preconceitos em relação às diferenças e gêneros.
B - Aulas regulares com alunos do turno noturno 
Essas aulas são planejadas junto aos demais professores respeitando o cronograma dos 
diferentes projetos realizados pela escola. Durante as  atividades desenvolvemos práticas  
desportivas, ginástica e recreação.
Visando oferecer atividades que superem as necessidades individuais de cada aluno, buscou-se 
apresentar técnicas básicas de desportos coletivos (como voleibol e futsal), estafetas e 
brincadeiras que possam ser executadas por todos respeitando a idade, experiências vividas, e 
sem muita exigência física, buscando também a interdisciplinaridade. Durante as aulas procuramos  
proporcionar  prazer pelas atividades físicas, visando estimular  sua participação e freqüência na 
escola.
Vale ressaltar que está em iniciação o projeto “Xadrez na escola”, com atividades que visam 
contribuir com o desenvolvimento cognitivo dos alunos, oportunizando o aprendizado de uma 
nova modalidade desportiva que se mostra cabível a tal.
C - Atividades voltadas à cultura e manutenção a saúde
Tendo na prática de Educação Física, a possibilidade de contribuir para a formação de sujeitos 
críticos e participativos na sociedade, juntamente com os professores e equipe pedagógica 
desenvolvemos  periodicamente palestras com abordagem de diferentes temas  e atividades 
culturais, tais como:
Palestras de prevenção a DST´s e hepatite, onde foi convidada uma equipe de profissionais da 
saúde de um Centro de Testagem e Aconselhamento do Hospital Universitário com a finalidade 
de orientá-los sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis, uso de preservativos, contraceptivos e 
coleta para testagem sanguínea voluntária.
Organização de noites recreativas, que são atividades diversas que ocorrem simultaneamente 
entre os alunos. Nesta atividade realizamos brincadeiras e jogos de cooperação, com formação 
de equipes para as brincadeiras como: cabo de guerra, bola ao cesto, jogo das argolas, boliche, 
damas, dominó, jogos de cartas, gerontovoleibol e futsal.
Considerações finais
Com o desenvolvimento do projeto “Comunidade e inclusão” foi possível observar a participação 
efetiva de todos os envolvidos, além do corpo docente da escola e coordenação, tendo em vista 
a colaboração com as atividades propostas e na sua dinâmica de organização:
No aspecto comportamental, percebemos que havia muitas brigas entre os surdos e preconceito 
com os demais. Com a estratégia de organizar horários para cada modalidade, desenvolver o 
desporto de participação, reuniões periódicas e envolver diferentes grupos nas mesmas 
atividades, logo percebemos as mudanças de atitudes entre os surdos e os demais participantes.
Na questão da comunicação com a LIBRAS, percebemos a construção de um espaço lingüístico 
nas  aulas de Educação Física, a partir de práticas e  vivência do grupo.
Há, portanto, uma troca de conhecimentos entre os conteúdos da Educação Física e a Língua de 
Sinais mostrando-se importante para o desenvolvimento do surdo enquanto cidadão, podendo 
desta forma, vivenciarem práticas diversas de movimentos.
Portanto, concluímos que oferecer essa oportunidade de terem contato com uma cultura corporal 
de movimento serão experiências de responsabilidade, solidariedade, reciprocidade que 
carregarão para toda sua vida.
Referências Bibliográficas
BRASIL.  Lei n. 9.394, de 24 de dezembro de 1996, fixa as Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional/LDB. 
_________. Lei n. 10.436 de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – 
Libras.
_________. Proposta curricular para o segundo segmento da educação de jovens e adultos. Vol. 
3: Educação Física na educação de jovens e adultos. Brasília: MEC, 2002.
MONTEIRO, M. S. História dos movimentos dos surdos e o reconhecimento da LIBRAS no 
Brasil. Educação Temática Digital. v. 7, n. 2, p. 279-289, 2006.
SASSAKI, R. D. Inclusão - Construindo uma Sociedade para Todos. 3. ed. Rio de Janeiro: 
WVA, 1999.
QUADROS, R. M. de. A escola que os surdos querem e a escola que o sistema “permite” criar: 
estudo de caso do estado de Santa Catarina. Artigo submetido para a ANPED, 2005.