http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/341.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2

ESPAÇO INCLUSIVO
Coordenação Geral – Profa. Dra. Roberta Puccetti
Coordenação Do Projeto – Profa. Espa. Susy Mary Vieira Ferraz


RESUMO

A inclusão é uma realidade mundial.  Desde a Declaração de Salamanca em 1993, a inclusão deve ser uma prática nacional. Dirigentes do Brasil estavam presente nessa Convenção e assinaram o documento resultante desse encontro e como toda mudança, esse é um processo gradual.  Hoje, de acordo com a legislação, todas as escolas devem ser inclusivas.
Dentro desse processo de mudanças de paradigma, encontra-se um grande número de adolescentes, jovens e adultos com deficiência que não foram adequadamente estimulados para o desenvolvimento de seus potenciais cognitivos e tiveram pouca ou nenhuma credibilidade em suas capacidades de aprendizagem quando criança, ficando muitas vezes segregados em Instituições que dentro do momento histórico realizaram, em sua grande maioria, um trabalho de qualidade, mas que não enfatizava o desenvolvimento dos processos de aprendizagem principalmente das linguagens oral e escrita.  
Hoje, eles se sentem excluídos, sem oportunidades e com muita dificuldade em encontrar um espaço onde possam mostrar suas reais possibilidades, de forma que se sintam capazes e possam desenvolver-se dentro das diversas áreas: letramento, linguagem, comunicação, esporte, inclusão digital, artes, etc.
A atuação do CIAD (Centro Interdisciplinar de Atenção ao Deficiente), que é um Centro caracterizado como Órgão de Extensão existente dentro da PUC-Campinas, que tem como missão a facilitação da inclusão social das pessoas com deficiência. Na última década vem se configurando como órgão executor também das propostas de ensino e pesquisa da Instituição. No âmbito da extensão, o CIAD atualmente desenvolve projetos integrados pelas áreas de Artes, Pedagógica, Esporte, Psico-Social, Saúde e Profissionalização.
Esse atendimento às pessoas com deficiências possibilita o contato com a família dos atendidos e muitos são os pais que reivindicam uma ação efetiva da Universidade no que diz respeito à criação de um espaço pedagógico inclusivo efetivo.
Essas reivindicações assumem contornos bastante significativos, primeiro porque a família reconhece o potencial emancipador da educação no sentido de que fornece mais autonomia do sujeito e depois porque representa mais um desafio a ser colocado à Universidade e ao CIAD.
A proposta desse projeto foi efetivada em parceria com o Colégio PIO XII – Colégio de Aplicação da PUC-Campinas, almejando proporcionar uma ação educativa complementar à missão do CIAD, voltada para o respeito aos direitos humanos, o que significa atuar no sentido de buscar alternativas que representam a superação das situações de exclusão apresentadas em nossa sociedade.
Desta maneira, o Projeto se iniciou em Agosto de 2007, com a participação de 26 pessoas com Deficiência Física e Deficiência Mental e prevê a realização de atividades diferenciadas, que acontece em uma das salas do Colégio PIO XII, no período da tarde, horário das 13:30 – 16:30h, com uma carga horária que contemple as seguintes áreas:
·    Linguagens Oral e Escrita
·    Letramento
·    Literatura
·    Raciocínio Lógico Matemático
·    Ciências Biológicas e Sociais
·    Artes
·    Esportes
·    Inclusão Digital


INTRODUÇÃO

Historicamente o Brasil apresenta-se em débito com a educação. Trata-se de uma dívida social de grande relevância, responsável em parte pelas dificuldades do país em alcançar um patamar razoável de desenvolvimento com justiça social.
Acompanhando as evoluções e modificações que tem sofrido toda a sociedade, principalmente com o conceito da INCLUSÃO, uma nova concepção foi sendo consolidada em torno da valorização pessoal e respeito às diferenças.  Por conseqüência disso, os rumos da atuação profissional nas mais variadas áreas, também se alteraram e estão tendo grandes desafios.
Propostas de atuação, projetos diferenciados, vêm fazendo parte dos planejamentos e sendo discutidos e reorganizados nas áreas da educação, saúde, lazer, cultura, profissionalização,  etc
Partindo desse pressuposto, surge a proposta de criação do “ESPAÇO INCLUSIVO”, que visa promover um trabalho diferenciado, interdisciplinar, que favoreça o desenvolvimento pleno desses adolescentes e adultos, com uma visão de emancipação que lhes de condições de se colocarem frente aos problemas do cotidiano de forma mais autônoma, com possibilidades de conquista de uma cidadania plena, visto que promove o acesso e a produção de informações e conhecimentos, inclusive de seus deveres e direitos sociais, civis e políticos.
Este projeto tem como embasamento a teoria sócio-histórico-cultural de Vygotsky,  pela qual ele afirma que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e de outras formas de atividades mentais ocorrem como um processo ativo em que o contexto social, histórico e cultural tornam-se imprescindíveis.  (Vygotsky, 1984)
Na visão histórico-cultural, o processo de conhecimento é concebido como uma produção simbólica e material que tem lugar na dinâmica interativa da relação sujeito-sujeito-objeto, ou seja, a relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada, por dois tipos de elementos mediadores:  os instrumentos e os signos.  Isto significa dizer que é através do outro que o sujeito estabelece relações com os objetos de conhecimento, ou seja, que a elaboração cognitiva se funda na relação com o outro. (Smolka e Góes, 1993)
É fundamental, que se tenha uma abertura de espaço para as pessoas falarem e se relacionarem em sala de aula, pois o “outro” vem significar e mediar a construção de conhecimentos.  A produção coletiva pode alcançar grandes objetivos, como a construção conjunta e democrática, vivência da cooperação, e a aprendizagem das convenções da escrita, trabalhadas pouco a pouco.  Assim, o modo de perceber, sentir, viver, conviver, conhecer, pensar o mundo não só emergem, mas se constituem também na sala de aula.  Conhecendo e se relacionando com o aluno, o professor pode chegar mais perto de suas dificuldades e elaborar atividades contextualizadas e significativas, conseguindo ajudá-lo a progredir no seu processo de construção de conhecimento.
No entanto, a própria prática escolar, como se constitui atualmente, é a negação da leitura e da escritura como prática dialógica, discursiva, significativa.  É necessário transformar o espaço de aula em lugar e momento de encontro e articulação das histórias e dos sentidos de cada um e de todos. (Smolka, 1996)
Vygotsky sugere trazer a escrita para dentro da sala de aula, utilizando-a para registrar, marcar, interagir com a pessoa, enfim, desenvolver uma ação pedagógica numa relação dialógica propõe trabalhar de acordo com as funções desenvolvidas por cada pessoa e também levando em conta, simultaneamente, a estrutura e a função da linguagem escrita.  Ele afirma em sua teoria que toda pessoa passa por processos para construir seu conhecimento, para se desenvolver e aprender e enfatiza que todas têm um potencial de realização de tarefas por si mesma e uma capacidade de solução de tarefas com ajuda de outros. 
O potencial de realização de tarefas de forma independente é denominado de nível real de desenvolvimento e o potencial de realização de tarefas com a ajuda do outro, denomina-se nível potencial de desenvolvimento. 
O nível de desenvolvimento potencial é caracterizado pelas etapas posteriores às já consolidadas, onde a interferência de outras pessoas afeta significativamente o resultado da ação individual.  Quando o mediador propõe atividades que desenvolvam funções que estejam no nível de desenvolvimento potencial do indivíduo, pode-se dizer que ele está atuando na Zona de Desenvolvimento Proximal, ou seja, propiciando uma consolidação de funções emergentes. Esse é realmente um momento de desenvolvimento e não é qualquer indivíduo que consegue realizar qualquer tarefa, mesmo com ajuda de outro. (Oliveira, 1993)
Partindo dessas afirmações, fica claro que o professor deve ficar atento a essas transformações que ocorrem a todo o momento e proporcionar à pessoa condições para que possa sempre desenvolver as novas funções emergentes, ou seja as funções que fazem parte agora do seu nível potencial de desenvolvimento. 
Vygotsky (1989) destaca que, em razão da plasticidade cerebral, o deficiente não deve ser visto como alguém que se adapta ao meio com menos recursos do que o não deficiente, mas como uma pessoa que apresenta uma organização psicológica diferente e que se desenvolve dentro de uma dada cultura, com certos recursos semióticos especiais. Ele afirma que as leis de desenvolvimento são comuns às crianças com e sem deficiências e que as diferenças ficam por conta dos meios e do tempo de aprendizagem.
Este projeto tem como objetivos então, atuar como instrumento de inclusão e ação de responsabilidade social da PUC-Campinas, em consonância com os princípios e valores cristãos e humanísticos que orientam sua missão; conectar a educação às diferentes áreas sociais e culturais, com a finalidade de promover outros processos de intervenção e mudança social; criar possibilidades de aprendizagens através da interdisciplinaridade, desenvolvendo atividades conjuntas nas diferentes áreas de atuação do CIAD e  articular ensino, pesquisa e extensão ao criar possibilidades de interação entre esses eixos, em várias áreas do conhecimento.



METODOLOGIA

Procedimentos:  A equipe de trabalho é composta pela Coordenadora Geral do CIAD,  uma Assessora Técnica, uma Coordenadora Pedagógica, uma Professora, um Estagiário e Integradores de Áreas do CIAD, que desenvolvem atividades diferenciadas. Desta maneira, a metodologia utilizada prevê a realização de atividades diferenciadas, realizadas em uma das salas do Colégio PIO XII, no período da tarde, horário das 13:30 às 16:30h, com uma carga horária que contemple as seguintes áreas:
Grade curricular:
·    Linguagens Oral e Escrita
·    Letramento
·    Literatura
·    Raciocínio Lógico Matemático
·    Ciências Biológicas e Sociais
·    Artes
·    Esportes
·    Inclusão Digital

A metodologia utilizada prevê a realização de atividades diferenciadas:
·    Atividades grupais, coletivas com grande interação entre os participantes;
·    Atividades divididas em cantos de interesses diversificados, abordando diferentes competências, tais como comunicação oral, comunicação escrita, leitura, raciocínio lógico-matemático, ciências, etc
·    Desenvolvimento de projetos como de Meio Ambiente (animais, plantas, lixo), Cidadania, Mercado de Trabalho, etc
·    Oferecimento e participação em Palestras, Visitas, Concursos, etc
·    Utilização de estímulos variados como filmes, jogos, materiais impressos: jornais, revistas e outros;
·    Produções coletivas como textos, jornal da classe, livros;
·    Atividades com poesias, músicas;
·    Atividades sensoriais;
·    Atividades de desenvolvimento da linguagem oral e o registro de seus resultados;
·    Atividades esportivas e de lazer;
·    Desenvolvimento de atividades de artes plásticas, com utilização de materiais diferenciados.


RESULTADO

O Projeto se iniciou em Agosto de 2007, tem a participação de 26 pessoas com Deficiência Física e Deficiência Mental e o que se tem como resultado até o momento é a participação maciça de todos em todas as atividades, demonstrando um enorme prazer em realizá-las.  A atuação dos familiares, principalmente mães, também tem sido de grande importância, trazendo relatos sobre a importância que esse trabalho vem tendo no desenvolvimento, no aprendizado, enfim na vida dessas pessoas.


DISCUSSÃO

A escolaridade das pessoas com deficiência está num momento de mudança de paradigmas, os problemas educativos nos processos de aprendizagem também é tema de grandes estudos e discussões nos dias de hoje, principalmente as dificuldades presentes na aquisição da comunicação oral e escrita, ou seja, no período de alfabetização e letramento e utilização dessa linguagem no desenvolvimento pleno do ser humano.
O projeto tal vem realizar um trabalho diferenciado, interdisciplinar, que favoreça o desenvolvimento pleno desses adolescentes e adultos, com uma visão de emancipação que lhes de condições de se colocarem frente aos problemas do cotidiano de forma mais autônoma, com possibilidades de conquista de uma cidadania plena, visto que promove o acesso e a produção de informações e conhecimentos, inclusive de seus deveres e direitos sociais, civis e políticos.  É importante ressaltar que está sendo reescrito a todo o momento dentro dos conceitos inclusivos, ou seja, de ajudar a todos a repensar e acreditar nos potenciais de todas as pessoas e buscar a inclusão efetiva dessas pessoas em classes e escolas regulares, pois acredita que todos podem aprender.



BIBLIOGRAFIA
  
VYGOTSKY, Lev Semenovich.  Pensamento e Linguagem.  São Paulo,  Ed. Martins Fontes, 1989
 
____________.  A Formação social da mente.  São Paulo,  Ed. Martins Fontes, 1984
 
GOES, Maria Cecília R. e SMOLKA, Ana Luisa B. A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas, S: Papirus, 1993
 
MAZZOTTA, Marcos José  Silveira.  Educação escolar:  comum ou especial.  São Paulo, Ed. Pioneira, 1987
 
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo, 7ª ed. - São Paulo: Cortez; Campinas, 1996.