http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/347.htm


Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2


AH, SE ESTA VAGA FOSSE MINHA....CADÊ O MEU DIREITO DE IR E VIR?
Elaine Teresa Gomes de Oliveira
Solange Leme Ferreira
Sabrina Afonso
Universidade Estadual de Londrina


RESUMO

 O direito de ir e vir, respeito à diversidade, inclusão social e a acessibilidade são questões que permeiam o cotidiano das pessoas com deficiência para a efetivação de sua cidadania. O estudo teve como objetivo compreender os significados atribuídos ao direito de ir e vir à reserva de vagas especiais de estacionamento utilizado pelos estudantes com mobilidade reduzida na Universidade Estadual de Londrina. As informações foram obtidas junto a estudantes com mobilidade reduzida, agentes de segurança interna, estudantes sem limitação na mobilidade e condutores de veiculo sem adesivo que estacionavam seu carro na reserva de vaga especial. Para tanto, foram aplicados 256 questionários, cada um com questões específicas às características do grupo investigado. O projeto foi inscrito no SISNEP e teve aprovação no Comitê de Ética do HURNP. Os dados foram organizados por categorias temáticas, de acordo com o contexto das respostas dos informantes. Os resultados confirmam a inexistência de acessibilidade, principalmente, a urbanística e atitudinal produzindo, em alguns momentos, o cerceamento do direito de ir e vir em todos os espaços que constitui a instituição acadêmica. Revelou ainda a necessidade de fortalecimento das interfaces entre os serviços institucionais para garantia de acessibilidade em todas as suas modalidades.

Introdução
Apesar da nova representação social das pessoas com deficiência, ainda há um descompasso entre os direitos constituídos historicamente, garantidos pela Constituição Federal do Brasil de 1988, e a realidade na qual devem ser efetivados.
Este descompasso entre a viabilização dos direitos adquiridos e a adaptação da sociedade cria lacunas no processo de inclusão social da pessoa com deficiência. Além do respeito às suas limitações e dificuldades, são necessárias as condições apropriadas para que ela possa conviver normalmente dentro das estruturas comuns na área do trabalho, da educação, da saúde, do lazer, enfim, de todos os serviços disponíveis na sociedade. Nesta perspectiva, a Organização das Nações Unidas (1993) estabeleceu a equiparação de oportunidades, entendida como um processo no qual os diferentes setores sociais e ambientais estejam disponíveis para todos os cidadãos.
Para que sejam equiparadas as oportunidades das pessoas com deficiência e propiciada a sua inclusão social em todos os serviços disponíveis na sociedade - escola, trabalho, lazer, saúde, comércio – é necessário ter garantido o seu direito de ir e vir. Isto implica em transformações e investimentos, que envolvem transportes coletivos adaptados, escolas acessíveis, guias rebaixadas, entre outras estruturas. Desta forma, a pessoa com deficiência poderá desenvolver autonomia e independência para fazer as suas próprias escolhas, decidir onde  e como ir, rompendo assim o processo de segregação e exercendo a sua cidadania.
Pelo CENSO de 2006, 14,5% da população do Brasil apresenta algum tipo de deficiência. A este segmento, soma-se um número expressivo de pessoas com mobilidade reduzida, como os idosos, gestantes, deficiência, crianças, obesos e acidentados, significando um aumento da taxa dos que podem apresentar, de forma definitiva ou temporária, algum impedimento ou incapacidade.
Assim, essas pessoas são amparadas pelo Decreto Federal nº. 5.296/04, que prevê 2% das vagas de estacionamento para veículos que conduzam, ou sejam conduzidos, por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O Estatuto do Idoso/2003, no cap. X, art. 41 prevê reserva de 5% das vagas em estacionamento para motoristas com 65 anos ou mais e o art. 39, §2º, dispõe para eles a reserva de 10 % dos assentos de transporte coletivos. Este direito, entretanto, está condicionado a uma regulamentação, de estado ou município, deixando uma lacuna quanto ao seu cumprimento ao estabelecer que cabe a tais instâncias a  aplicabilidade ou não do estatuto.
Segundo Barbosa (2006), as vagas devem estar localizadas próximas às entradas ou às rotas acessíveis, bem como garantir o espaço de circulação junto à vaga e ou da rampa de acesso até as áreas de uso comum dos pedestres. Para isso, dever utilizado o conceito de Desenho Universal que também visa à qualidade de vida das pessoas, independente da idade e habilidade (SERPRO, 2006).
A acessibilidade é amparada também pelo Decreto nº. 3.298/99 (BRASIL, 1999a), reforçada e individualizada na Lei N.º10.098/00, e recentemente pelo  Decreto 5.296, de 2 dezembro de 2004 (BRASIL, 2005), que define como acessibilidade a supressão de barreiras e obstáculos em relação a: a) edificações; b) transporte; c) mobiliários e equipamentos e d) sistemas e meios de comunicação. Estabelece, ainda, ações concretas para a promoção da acessibilidade, as quais propiciaram, para o presente trabalho, as bases concernentes ao direito de ir e vir.
A própria Portaria MEC Nº 3.284/03, publicada pelo Ministério da Educação, aponta que para obter autorização, reconhecimento, cadastramento e/ou renovação do cadastro, as IES – Instituições de Ensino Superior deverão eliminar as barreiras ambientais para a circulação do estudante nos espaços de uso coletivo; reservar vagas de estacionamento nas proximidades das unidades de serviços; construir rampas com corrimãos ou colocar elevadores; adaptar sanitários, além de instalar lavabos, bebedouros e telefones para usuários de cadeiras de rodas (BRASIL, 2003).
O estudante com deficiência, ao ingressar no ensino superior, segundo Carvalho (1997), sente-se vitorioso, percorreu todos os níveis da educação básica, venceu a seletividade e conquistou a ponta de uma pirâmide educacional. Entretanto, ele enfrenta barreiras de outra natureza que devem ser superadas de acordo com a especificidade de cada um. À medida que vai fazendo parte do contexto universitário, ele vivencia situações e circunstâncias que exigem mudanças de estratégias que envolvem não só o aluno, mas os diferentes sujeitos que compõem a comunidade acadêmica. Porém, segundo Moreira (2000), são poucas as universidades que estão preparadas para oferecer os recursos e apoios necessários para garantir a sua permanência na instituição.
Manzini (2003) aponta que o termo acessibilidade está coerentemente associado às barreiras arquitetônicas e vinculado ao conceito de inclusão, contudo, hipoteticamente, pode-se ter ambientes construídos com acessibilidade, que não favoreçam a inclusão social. O contrário também é verdadeiro:  um ambiente com inúmeros obstáculos e barreiras arquitetônicas,  por meio de uma rede de relações de ajuda mútua e de cooperação, pode promover a inclusão social das pessoas com deficiências. Dessa maneira, entende que acessibilidade pode auxiliar a inclusão social, porém, ela  não acontece somente por meio de acessibilidade arquitetônica.
Para aquele autor, a acessibilidade está sendo utilizada para conceituar algumas das necessidades do estudante com deficiência física e sensorial no ensino superior. No seu ponto de vista, esta tendência parece ter uma aplicação conceitualmente mais correta do que falar de inclusão social ou inclusão educacional” do estudante universitário com deficiência (MANZINI, 2003). Para tal fundamentação respalda-se em dois argumentos: 1. o próprio conceito de acessibilidade existente no dispositivo legal da Portaria Nº 1.679/991 (BRASIL, 1999b), que dá garantia legal para a permanência do estudante com deficiência; 2. o termo inclusão, que não seria o mais indicado para substituir o conceito de acessibilidade no contexto universitário, visto que o próprio ensino superior é excludente por natureza social e, a universidade, concretamente, não é um local que possa encampar o slogan Educação para Todos, afirma o autor.

1   Esta portaria foi revogada,  estando em vigor a Portaria 3.204 de 07, de novembro de 2003.

A promoção da acessibilidade, na instituição de ensino superior, é um grande desafio que será vencido com a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, de edificação, de transporte, atitudinal e de comunicação. Apenas assim será garantido o acesso e permanência do estudante com necessidade especial, ou qualquer pessoa, com autonomia e liberdade de ir e vir com segurança naquele local.
Segundo Guimarães (1999) e Prado (2003), é preciso diminuir o desgaste físico das pessoas com mobilidade reduzida, encurtando os trajetos a serem por elas percorridos, por meio do estabelecimento de vagas para veículos e a pertinente sinalização. A acessibilidade no estacionamento ou transporte coletivo envolve aspectos urbanísticos (a reserva de vaga especial no estacionamento e o caminho de acesso, inclusive para aquele que utiliza o transporte coletivo público), aspectos arquitetônicos (demarcação da vagas no estacionamento, e do design), aspectos de informação e comunicação (sinalização) e os aspectos atitudinais (a percepção das pessoas em relação à acessibilidade: cada cidadão é responsável em garantir o respeito e o direito do outro). Por isso a capacitação de recursos humanos, especificamente dos funcionários responsáveis pelo estacionamento, é necessária para que se garanta o uso correto da vaga especial e ao auxílio ao usuário da cadeira de rodas em suas manobras para embarque e desembarque nos transportes. (GUIMARÃES 1999).
A partir de 1991, os estudantes com deficiência física-motora, auditiva, visual, doenças crônicas orgânicas ou emocionais, distúrbio de comunicação e problemas de aprendizagem, que resultam em dificuldade ou limitação para o seu desempenho acadêmico, são acompanhados na Universidade Estadual de Londrina pelo PROENE – Programa de Acompanhamento aos Estudantes com Necessidades Educacional Especial (FERREIRA, 2007), formado por uma equipe de profissionais oriundos das áreas de Serviço Social, Psicologia e Educação. Tem como princípio a preservação dos direitos dos estudantes com necessidades educacionais especiais, desenvolvendo ações que propiciam condições para que estes possam manifestar todo seu potencial nos aspectos de autonomia pessoal, desempenho acadêmico e social.
Atualmente, o PROENE desenvolve ações voltadas à sensibilização da comunidade universitária para convivência com a diversidade, entre elas está a delimitação de reservas de locais nos estacionamentos e disponibilização de adesivo especial para acesso do alunado com mobilidade reduzida.
Na dissertação de mestrado “Acessibilidade na Universidade Estadual de Londrina: o ponto de vista do estudante com deficiência”, Oliveira (2003), aponta a existência de barreiras arquitetônicas, pedagógicas e atitudinais vivenciadas por estes estudantes com deficiência física e sensorial em todos os centros de estudo da UEL. Embora nos estacionamentos privativos para os servidores houvesse a demarcação do espaço, as vagas especiais para as pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida, muitas vezes, estavam ocupadas por outros usuários, impossibilitando que o estudante com mobilidade reduzida tivesse uma rota acessível e segura às dependências da instituição.
Pesquisas realizadas em outras IES, como: UFPR, USP e UNESP/Marília, também identificaram que é freqüente o uso indevido de vagas destinadas à pessoa com mobilidade reduzida. 
Frente ao exposto, realizou-se um estudo envolvendo quatro grupos de informantes que compõem a comunidade universitária, que teve como objetivos gerais: 1. Conhecer as condições de acessibilidade dos estudantes com mobilidade reduzida às vagas especiais nos estacionamentos da UEL, 2. Analisar o cerceamento do direito de ir e vir dessa população referente a utilização das vagas especiais no estacionamento da UEL.

Descrição da Pesquisa
O estudo foi realizado por meio do método “survey”, que permite apresentar novas informações sobre a realidade por meio de levantamento de dados primários em uma situação real e específica. (FINK & KOSECOFF, APUD GUNTHER 2006). O instrumento utilizado no estudo foi o questionário, aplicado por voluntário entrevistador, por permitir segundo Guinther (2006), ser interativamente aplicado, em entrevista individual ou por meio de  telefone, auto-aplicável, individualmente ou em grupo, recebido pelo correio / e-mail.
A observação direta também foi utilizada por possibilitar  acompanhar, in loco,  a experiência diária do fenômeno observado e verificar junto ao  sujeito sua visão sobre o fato (LUDKE E ANDRE, 1986)

MÉTODO
O estudo foi realizado na Universidade Estadual de Londrina, envolvendo quatro grupos de informantes: a) estudantes com mobilidade reduzida acompanhados pelo PROENE, que utilizam o adesivo especial para estacionar na vaga especial; b) agentes de segurança interna que trabalham no setor de segurança da instituição; c) estudantes sem redução na  mobilidade; e d) condutores de veículos sem adesivo especial, transeuntes no espaço universitário.
A proposta foi apresentada à equipe técnica do PROENE, à Pró- Reitora de Graduação e ao setor de segurança da Prefeitura do Campus Universitário, por serem essas unidades envolvidas no atendimento aos estudantes com mobilidade reduzida. Posteriormente, o  projeto foi cadastrado no SISNEP- Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos e, então, encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Regional do Paraná, tendo sido aprovado em outubro de 2006.
Após revisão bibliográfica, em dissertações, publicações científicas sobre o tema, de modo que contemplassem a formulação de questões referentes à utilização de vagas reservadas nos estacionamentos. Os questionários foram construídos com questões objetivas e subjetivas, sendo posteriormente submetidos a juízes internos, com experiência sobre o tema. Também realizou-se  o estudo piloto junto aos quatro grupos de informantes, com objetivo de  adequar o conteúdo das questões e à linguagem utilizada. O tempo gasto com aplicação de cada questionário foi em média de 20 minutos.
Os voluntários entrevistadores participaram de um treinamento especifico para aplicação do questionário e da técnica de observação.
Dois instrumentos de registro de observação diretas dos dados foram elaborados com objetivo de  complementar as informações pretendidas.
Para a análise das informações, as respostas às questões fechadas dos questionários foram digitadas no programa Text Tpad, procedendo, assim, a tabulação dos dados por meio de freqüência e percentual. As informações obtidas nas observações e as anotações registradas nos questionários foram  organizada em categorias temática construídas de acordo com o contexto das respostas dos informantes.

Resultado e discussão
Com dados obtidos junto aos quatro grupos de informantes foi possível identificar os aspectos que interferem no direito de ir e vir das pessoas com mobilidade reduzida que são: a) urbanísticos: referente à ausência de vagas e rota inacessível; b) atitudinais referente ao não respeito quanto o uso da vaga, atitudes inadequadas que garantem o uso da vaga; c) informativos e comunicacional referente ao desconhecimento sobre que são os usuários da vaga especial, do PROENE e do adesivo especial; e d) estruturais: referente a não existência de um serviço responsável pelo fornecimento do adesivo especial aos servidores ou aos docentes da UEL. Para esta apresentação, serão discutidos apenas dois aspectos citados: urbanístico e atitudinal.
a)     Aspectos urbanísticos
Os dados indicaram Centros de Estudos comprometidos pela falta de demarcação de vaga especial que  atendesse toda a demanda existente. Por exemplo, num dos estacionamentos há quatro estudantes e dois servidores com mobilidade reduzida. Os quatro primeiros estão cadastrados para o uso da vaga demarcada e possuem o adesivo que identifica está permissão. Os dois últimos não possuem o cadastro que gera o credenciamento para tal. Se eles não têm o adesivo significa que não foram cadastrados, se não estão cadastrados, não há como providenciar o espaço e demarcação das suas vagas. Assim, nem sempre os condutores dos veículos faziam o uso indevido daquele local, pois sua condição era a de mobilidade reduzida, o que lhes dava o direito para tal. O que ocorria era que estava utilizando a vaga demarcada  para outro usuário. Cabe aclarar que as demarcações das vagas especiais nos estacionamentos da instituição são providenciadas à medida que emerge a demanda. Para resolução deste impasse, estabeleceu-se  interfaces com o SEBEC-SESMT2, setor concernente à saúde dos servidores, que irá se responsabilizará por efetivar, junto aos servidores, as mesmas ações que o PROENE empreende junto aos  estudantes com mobilidade reduzida.

2  SEBEC – SESMT: Significa Serviço de Bem Estar da Comunidade onde existe a Divisão de Segurança e Medicina do Trabalho

Um outro fator verificado, que igualmente compromete acessibilidade arquitetônica, foi a ausência de demarcação de vagas especiais nos estacionamentos de vários serviços oferecidos pela instituição. O local que oferece o serviço de alimentação tem apenas uma vaga demarcada, inclusive considerada pelos respondentes como em local indevido, pois demanda um maior esforço físico por parte do usuário. Desta forma, o interessado tem que  utilizar um estacionamento alternativo, sem demarcação da vaga e que  não oferece uma rota acessível para o mesmo. Os serviços de atendimento de saúde têm demarcação de uma vaga especial, destinada somente para o embarque e desembarque de pacientes. A vaga é freqüentemente ocupada por servidor que não apresenta redução de mobilidade. Tal fato é motivo de indignação, por ser um desrespeito ao usuário do serviço além de denegrir o desempenho daqueles servidores que não cometem este tipo de infração.
b)     Aspectos atitudinais
Igualmente significativa são as barreiras atitudinais vivenciadas, ou até mesmo provocadas, em todos os espaços da instituição acadêmica, que contribuem para a segregação da pessoa com mobilidade reduzida.
Os dados indicaram a ocupação, sim, da  vaga por terceiros, sem nenhum acanhamento por parte destes, justificadas pelos seguintes motivos: pressa, entrega de documentos e lanches, ou pasmem! Por ser a única vaga com sombra disponível que  não está sendo utilizada. Há ainda aqueles que responderam não terem percebidos a demarcação da vaga especial. Em relação a este fato, as observações locais confirmaram a má conservação das placas de sinalização, tanto vertical como horizontal.
Se, por um lado, alguns condutores de veículo sem adesivo, usaram indevidamente a vaga não ficou constrangido, não se pode dizer o mesmo dos usuários que têm direito a ela. Eles ficaram indignados e são levados a uma reflexão sobre que  tipo de ser  humano é este, que dentro de uma universidade tem a capacidade de desrespeitar o outro, de fazer uso de algo que não lhe pertence, que provoca transtornos e  impede o seu acesso às atividades acadêmicas.
Para outros desrespeitados, surge em princípio uma revolta. Entretanto, eles vão até o local a fim de constatar se o veiculo estacionado é adaptado, para não ocorrer em julgamento indevido. A única justificativa aceitável nesta ocasião é quando o estudante com mobilidade reduzida foi liberado para ingressar no estacionamento privativo sem o adesivo, situação esclarecida com o agente de segurança interna responsável pelo local.
Contatou-se uma diversidade de conduta dos agentes de segurança interna para liberação do veículo no estacionamento, tais como: verificação da existência da mobilidade reduzida; orientação e apoio para encontrar a vaga, autorização de qualquer veículo, repasse da situação para chefia e, ainda há aquele que  não libera a entrada sem a posse do adesivo.
Um outro dado verificado são as condutas inadequadas por partes dos agentes de segurança interna que se formam barreiras atitudinais. Um exemplo de tal situação é a de enfrentamento do condutor que se nega a admitir que está cometendo uma infração, e por outro lado é o servidor colocando a perna de modo a impedir que o motorista saia  do veículo ou se perguntando se ele é deficiente. Provavelmente, tal atitude não irá sensibilizar o condutor do veículo que agiu de forma inadequada, e sim poderá levar à agressão e ou à reincidência em outras ocasiões.
Diante deste fato, percebe-se que o agente de segurança interna da UEL tem autonomia para resolução do problema imediato, entretanto, necessita de treinamento para evitar a  dessemelhança entre a intenção e o no agir profissional. Portanto, diferentes facetas que interferem no cerceamento do direito de ir e vir do estudante com mobilidade reduzida devem ser consideradas ao serem propostas futuras intervenções para modificar a realidade.
O estudo cumpriu o seu objetivo ao possibilitar a identificação, por parte de diferentes atores que fazem parte do cotidiano universitário, os pontos críticos que ferem o cerceamento do direito de ir e vir do estudante com mobilidade reduzida. Também, contribuiu subsidiar algumas propostas pontuais para os setores envolvidos nos problemas identificados de forma, a estabelecer uma interface entre eles. Foram desenvolvidas as seguintes ações: a) mobilização de diferentes setores, entre eles, PROGRAD3, PROPLAM4, PCU5 e os Centros de Estudos, para a resolução da falta da demarcação de novas vagas especiais nos estacionamentos dos Centros de Estudos; b) discussão da agilização das ações do Projeto “UEL Acessível”; c) participação do PROENE ministrando curso a todos os agentes de segurança interna da UEL, e desenvolvendo-se atividades práticas sobre o tema acessibilidade – diversidade. Como  resultados do mesmo tem sido possível observar  agentes de segurança interna mobilizados quanto o tema acessibilidade, que  freqüentemente têm informado sobre as barreiras físicas que vão identificando nos espaços da instituição; d) definição de um serviço deliberado SEBEC-SESMT responsável pelo provimento do adesivo especial ao servidor com mobilidade reduzida; e) implementação do cadastro e controle do adesivo especial envolvendo PCU/ Setor de Segurança, PROGRAD/PROENE e SEBEC/SESMT; f)  campanha de sensibilização denominada “Motorista Acessível” em fase de estruturação; g) discussão junto as chefias responsáveis pelo setor de segurança sobre a necessidade de normatização do uso da vaga especial e das respectivas sansões administrativas aos infratores; e h) envolvimento de acadêmicos voluntários oriundos de diferentes curso da UEL,  possibilitando um espaço para a sua formação sobre o tema diversidade e acessibilidade.
Neste sentido, é propício resgatar Moraes apud Santos (2004) ao afirmar que o espaço urbano se concretiza para uma pessoa quando a sua experiência com o mesmo é total. Significa, portanto promover a acessibilidade e a condição especial de cada um como parte de um fenômeno maior e integral que não pode ser decomposto. Por esta razão, o presente estudo fortaleceu a importância de manter uma interface entre os setores envolvidos e a comunidade universitária, por meio de um trabalho de sensibilização e mobilização, para que a inclusão social não se torne um conjunto de ações fragmentadas e pontuais.

3  PROGRAD – Pró- Reitoria de Graduação

4  PROPLAM Pró-Reitoria de Planejamento

5  PCU – Prefeitura do Campus Universitário


Referências
BARBOSA, M. B. P. Urbanismo e Acessibilidade I Conferência Nacional Dos Direitos Da Pessoa Com Deficiência “ACESSIBILIDADE: VOCÊ TAMBÉM TEM COMPROMISSO” http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conade/conferencia/arquivos/subsidios_para_o_conferencista.doc
BRASIL. Constituição (1988).  Constituição da República Federativa do Brasil.  Brasília: Senado Federal, 1988.
______. Decreto nº 3.298 de 20 de dezembro 1999. Regulamenta a Lei nº. 7.7853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.  Lex : Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, v.63, n.12, dez. 1999a.
______. Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004.  Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.  Disponível em: <http://www.acessibilidade.org.br/Lei%20Acessibilidade10098.html>  Acesso em: 15 set. 2005.
______. Ministério da Educação.  Portaria n.º 1.679 de 2 de dezembro de 1999.  Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência para instruir processos de autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.  Diário Oficial da União, Brasília, n.231-E, p.20-21, 3 dez. 1999b.  Seção 1. BRASIL.
______. Ministério da Educação. Portaria n.º 3.284 de 07 de novembro de 2003. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/seesp/por 1679.shtm>  Acesso em: 15  set. 2005.
CARVALHO, R. E. Educação e inclusão: a questão da permanência da pessoa diferente na Universidade. In: FÓRUM DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DOS ESTADO DO PARANÁ, 3., Curitiba, 1997. Resumos...Curitiba.1997. p. 1-15
CENSO: As pessoas portadoras de deficiência e o censo 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/deffisica/censo2000.html> Acesso em: 13 mar. 2006.
ESTATUTO do idoso: lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2003/L10.741.htm. Acesso em: 12 jun. 2006.
FERREIRA, S. L. Ingresso, permanência e competência: uma realidade possível para universitários com necessidades educacionais especiais. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.13, n.1, p. 43-60, Jan-Abr. 2007.
GUIMARÃES, M. P.  A graduação da acessibilidade versus à norma NBR 9050/1994: uma análise de conteúdo.  3.ed.  Belo Horizonte : Centro de Vida independente, 1999.  63p.
GUNTHER, H. Como elaborar um questionário. Brasília, UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2006. (Série Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, nº 1)
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MANZINI, E. J.  Introdução.  In: MARQUEZINI, M. C.; ALMEIDA, M. A.; TANAKA, E. D. O.  Educação física, atividades motoras e lúdicas, e acessibilidade de pessoas com necessidades especiais.  Londrina : Eduel, UEL, 2003.
MANZINI, E. J. Inclusão e acessibilidade. Revista da Sobama, Rio Claro, v. 10, n.1, Suplemento, p. 31-36, dez, 2005.
MORAES, R. (coord.). Curso de acessibilidade: um novo olhar sobre a cidade. Recife: IBAM, 2004.
MOREIRA, L. M. Analisando o ingresso, o acesso e a permanência do aluno com necessidades educativas especiais na UFPR: uma forma de discutir as práticas educativas na universidade. Iniciativas atividades e ações da UFPR acerca da pessoa com necessidades especiais. Curitiba: UFPR/PROGRAD, 2000. Cadernos em Educação Especial, Curitiba, v.2,  p. 17- 20, 2000.
OLIVEIRA, E. T. G.  Acessibilidade na Universidade Estadual de Londrina: o ponto de vista do estudante com deficiência. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual Paulista- Faculdade de Filosofia e Ciências,  UNESP, Marília.
PRADO, A. R. A.  Ambientes acessíveis. Disponível em: <http:/www.entreamigos.com.br/textos/acessibi/ambacess.htm> Acesso em: 24 fev. 2003.
SERPRO. Acessibilidade e desenho universal, disponível em: <http://www.serpro.gov.br/acessibilidade/duniversal.php> Acesso em: 10 jun. 2006.