http://www.psiquiatriainfantil.com.br/congressos/uel2007/348.htm | 
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Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
 
LÚDICO, ESCOLA E DIVERSIDADE: CONHECENDO A CULTURA LÚDICA DOS 
ALUNOS
MARTINS, Fábio Luís (UEL)1
BATISTA, Cleide Vitor Mussini (UEL)2
1  Professor de Educação Física da Rede Municipal de Londrina. Discente especial do Programa de Mestrado da 
UEL.
2  Pós-Doutora em Psicologia. Docente do Programa de Mestrado da UEL.
 
RESUMO
Realizamos um diálogo entre as teorias educacionais críticas e pós-críticas no que diz respeito às 
funções culturais da educação, enfatizando a questão da diferença, do lúdico e das identidades dos 
sujeitos no processo educativo realizado na escola. Visamos, assim, neste trabalho conhecer quais 
são manifestações culturais lúdicas presentes na vida cotidiana de uma parcela dos alunos de uma 
escola municipal de Londrina-PR e as possíveis diferenças entre os dois grupos analisados em 
questão. Realizando um levantamento verbal direto com os alunos pudemos elencar diversas 
atividades pautadas no lúdico, que foram englobadas em temas por nós estipulados. Num trabalho 
educacional pautado em princípios multiculturais, defendemos a presença de conteúdos oriundos 
das diversas culturas e que tenham também as manifestações culturais pautadas no lúdico como 
objeto de estudo.
Palavras-chave:  Lúdico. 
Currículo Escolar. Diferenças Culturais.
INTRODUÇÃO
O termo educação e os sentidos que este tem na sociedade atual nos fazem 
pensar qual seria a verdadeira função da denominada educação sistematizada, aquela que ocorre 
nos espaços planejados e estruturados especificamente para este fim, onde temos a escola, em seu 
sentido genérico, como referência deste espaço. 
Não podemos deixar de pensar a escola e a educação sem termos em mente que 
estas são construções humanas para atender a necessidades humanas, seus objetivos giram em 
torno dos mais variados conhecimentos presentes na vida das pessoas.  
Assim, segundo Forquin (1993, p. 12), esta função seria a de colocar o ser 
humano em contato com “um patrimônio de conhecimentos e de competências, de instituições, de 
valores e de símbolos, constituído ao longo de gerações e característico de uma comunidade 
humana particular”. Mas, deturpações deste entendimento nos mostram teorias e práticas que 
desconsideram este primordial objetivo. 
Encontramos sistemas de ensino que visam atender somente uma das muitas 
esferas de atuação humana – a do trabalho. Outro fato é que, desde cedo nas escolas vemos que o 
principal foco de atenção referente aos alunos é se estes têm ou não os pré-requisitos básicos para 
a série seguinte. Ficamos com a impressão de que os alunos estão sempre sendo preparados para 
algo futuro, onde o presente vivido destas crianças e adolescentes não tem importância. Esta é uma 
característica do mundo moderno que atribuiu ao adulto e ao mundo produtivo do trabalho, onde as 
crianças ainda não estão inseridas, a principal esfera de atuação e, a mais valorizada na vida como 
um todo. Secundariza-se as outras esferas da vida e estas se vêem dependentes desta esfera do 
trabalho.  
É desconsiderado que estes espaços educacionais visam atender a população na 
busca da compreensão e superação dos conflitos e dificuldades presentes na vida societária como 
um todo.
 Um outro tipo de influência que a escola tem sofrido vem envolvendo-a num 
clima em que a qualidade está associada a questões que fogem da esfera pedagógica e recai 
sobremaneira nas questões administrativas, organizacionais e funcionais, típicas das empresas 
modernas. Escola boa é aquela em que a ordem, a disciplina e a (re)produção são os pontos 
principais e os mais valorizados nas situações escolares, desde a forma como o diretor trata das 
questões exclusivamente administrativas até a ação docente e de comportamento dos alunos. 
Estabelecem-se metas e objetivos escolares que fogem da verdadeira função da escola, e o pior é 
que esta prática é aceita e incentivada pelas administrações superiores que assim, fugindo do 
verdadeiro objetivo da escola, têm uma maneira de disfarçar e naturalizar fatos a fim de impor 
sutilmente uma ideologia.
Mas como trabalhar de forma que a educação tenha sentido na vida cotidiana 
atual das crianças e adolescentes que compõem esta escola? 
O contato direto com o campo escolar nos permite perceber os currículos, mais 
especificadamente os conteúdos que o compõem, defrontamo-nos com uma gama enorme, 
fragmentada e hierarquizada de saberes a serem transmitidos. Estes conteúdos, em grande parte, de 
tal forma descontextualizados que exige um maior esforço por parte dos professores, que em sua 
intervenção tentam contextualizar e dar sentido a estes conteúdos. Uma vez que, quando os 
conteúdos desenvolvidos durante as aulas são realmente significativos e trazem consigo uma história 
que faz parte da vida vivida dos alunos, isto torna o ensino escolar mais prazeroso, proveitoso e 
capaz de contribuir para que os cidadãos tenham consciência para modificar o meio a qual fazem 
parte. 
Num processo de construção curricular e de intervenção que tenha sentido e que 
considere a cultura vivida e (re)significada diariamente de seus alunos, é primordial que num primeiro 
momento conheçamos um pouco desta cultura das crianças e adolescentes. E quando nos referimos 
a este grupo de pessoas, tanto do sexo feminino quanto masculino, considera-se que as 
manifestações mais presentes na vida deles são aquelas que se pautam no lúdico, sendo uma das 
características preponderantes desta faixa etária.
Vários discursos atuais no meio educacional trazem em seu corpo a valorização e 
“utilização” do lúdico nas escolas. Mas, esta é uma área de conhecimento que ainda trás, e sempre 
trará, certas lacunas. Tem-se atribuído vários conceitos sobre o que é o lúdico e, como ele se 
encontra na escola. Aparentemente, na escola, todos os professores sabem o que é o lúdico, mas 
todos bebem do censo comum para dar suas explicações, que se tornam superficiais e não abarcam 
toda a complexidade que o assunto trás. 
Pautado nas teorias críticas e pós-críticas da educação, tendo a cultura (um 
campo contestado de significados) como essência, o “por que” de tais conteúdos escolares é alvo 
de análise. Nesta perspectiva, devemos considerar a heterogeneidade presente na sociedade (as 
diversas culturas) e, principalmente, aquela a qual o indivíduo-aluno faz parte, onde ele é produto e 
o produtor da cultura. Em seu meio ele atua, e dependendo de sua formação, para manutenção ou 
para modificação do atual quadro social. E, tendo a criança e o adolescente como agentes ativos 
neste processo, onde as manifestações culturais a qual estão inseridos mais habitualmente são as 
pautadas no lúdico, estas manifestações culturais lúdicas deveriam ser o principal conteúdo 
educacional. Para tal, seria necessário conhecermos estas manifestações, que variam dependendo 
do grupo social.
A cidade de Londrina, Norte do Estado do Paraná, conta com cerca de 500 mil 
habitantes entre zona rural e urbana. Como todas as grandes cidades ela é o local onde a 
diversidade se faz presente. Em sua rede municipal de ensino conta com 93 (noventa e três) 
estabelecimentos, entre escolas e centros de educação infantil administrados diretamente. Cada 
escola tem suas características próprias que as diferenciam das demais, e a principal delas é a 
comunidade e a clientela a qual atende. Cada comunidade traz em si esta diferença que compõem a 
cidade. E para que a educação desenvolvida nas escolas esteja comprometida realmente em estar 
trabalhando com conteúdos culturais ela deve, primeiramente, conhecer as manifestações culturais 
que compõem esta comunidade. Desta forma, este trabalho teve como principais objetivos: (a) 
levantar os elementos da cultura lúdica cotidiana dos alunos das 1as e 2as séries e de uma classe 
especial da escola em questão ; (b) confrontar as diferenças das manifestações citadas entre estes 
dois grupos.
DESCRIÇÃO METODOLÓGICA
Este trabalho caracterizou-se como uma pesquisa exploratória, colocando-nos 
num primeiro contato com o fenômeno, possibilitando este conhecimento primário para que futuras 
análises e estruturações conceituais e práticas possam ser elaboradas. A pesquisa exploratória “[...] 
consiste no aprofundamento de conceitos preliminares sobre determinada temática não contemplada 
de modo  satisfatório anteriormente” (BAUREN; RAUPP, 2003, p. 80).
Caracterização da Escola
O levantamento foi realizado na escola municipal de ensino infantil, fundamental e 
de jovens e adultos, situada na região Oeste de Londrina. Esta instituição conta com 10 (dez) salas 
de aula, possuindo assim, no período matutino 2 (duas) turmas de 1ª série, 4 (quatro) turmas de 3ª 
série, 4 (quatro) turmas de 4ª série e uma classe especial, totalizando 312 (trezentos e doze) 
alunos(as); no período intermediário 5 (cinco) turmas de pré escolares, totalizando 145 (cento e 
quarenta e cinco) alunos(as); no período vespertino 4 (quatro) turmas de 1ª série e 6 (seis) turmas 
de 2ª série, totalizando 296 (duzentos e noventa e seis) alunos(as); no período noturno conta com 2 
(duas) turmas de EJA (educação de jovens e adultos), totalizando 61 alunos(as). E há dez anos vem 
desenvolvendo suas atividades neste local.
Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa
Este estudo focou-se nas crianças atendidas no período matutino e vespertino, da 
faixa etária de 6 (seis) a 11 (onze) anos. Tais crianças são provenientes dos bairros que circundam a 
escola, bairros estes compostos por pessoas dos mais distintos grupos étnicos, religiosos e de classe 
econômica, prevalecendo as classes média-baixa e baixa.
Instrumento e Estratégia de Coleta de Dados
Para o levantamento das manifestações da cultura lúdica cotidiana dos alunos, 
realizamos em cada turma, em grupos de meninos e meninas, uma entrevista não estruturada 
focalizada, que segundo Andrade (1993, p.118) “mesmo sem obedecer a uma estrutura formal, 
pré-estabelecida, o pesquisador utiliza um roteiro com os principais tópicos relativos ao assunto da 
pesquisa”.
As respostas de todos os alunos foram anotadas juntas3. 
Utilizamo-nos das aulas 
da disciplina de educação física para tal. Após este, unimos os resultados obtidos, tanto dos grupos 
dos meninos e meninas quanto das turmas por série.
3   A descrição resumida da estratégia encontra-se em ANEXO A.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Quando se pretendem desenvolver em uma escola ações pedagógicas que 
estejam em consonância com os pressupostos multiculturais, a primeira etapa deste processo deverá 
ser a de aproximação entre o professor e o aluno. Esta aproximação deve ter o intuito de colocar o 
professor diante da cultura de seus alunos, das características destes e das manifestações que 
compõem suas identidades, tanto individuais como coletivas.
 Este processo de conhecimento, e principalmente de reconhecimento da criança 
como agente histórico e cultural, será um dos pilares para a democracia cultural e escolar.
Neste trabalho optamos, nesta primeira fase de inventáriamento das 
manifestações culturais lúdicas da comunidade da escola abordada, por utilizar o questionamento 
aos alunos sobre quais seriam estas manifestações que faziam parte de suas vidas.
Para uma melhor visualização, optamos por dividi-las em grupos e subgrupos 
temáticos que serão discutidos a seguir. As manifestações citadas estão separadas por séries e 
foram as seguintes:
    
        
    
    
    | 
     1ª séries 
     | 
    
    | 
     Movimentos Ginásticos: 
    Abdominal, Alongamento, Andar de lado, Cambalhota / piroleta, Erguer peso – exercícios, 
    Escalar, Estrela, Flexão, Ginástica, Girar, Mortal, Parada de mão, Ponte, Rodante, Saltar, 
    Cama elástica, Malabarismo. 
     | 
    
    | 
     Lutas: 
    Artes marciais, Capoeira, Karatê, Lutinha. 
     | 
    
    | 
     Esportes: 
    Basquete, Futebol, Vôlei, Natação. 
     | 
    
    | 
     Danças: 
    Danças. 
     | 
    
    | 
     Jogos: 
    Regras: Alerta, Amarelinha, 3 corte, Aviãozinho de papel, Aviãozinho/ helicóptero, 
    Balança-caixão, Bambolê, Batata-quente, Pião - Bay blade, Bet´s, Bibioquê, Bicicleta, Motoquinha, 
    Bobinho, Bola queimada, Boliche, Bolinha de sabão, Boneca, Hominho, Ursinho, Bugalha, 
    Burquinha, Cada macaco no seu galho, Cai no poço, Carrinho, Cobra cega, Coelhinho sai 
    da toca, Pular Corda, Cabo de Guerra, Corrida, Cortar linha, Elástico, Esconde-esconde, 
    Estrear nova sela, Espada, Garrafão, Iô-iô, Maia, Mãe da rua, Labirinto, Morto ou vivo, 
    Panelinha, Guerrinha – jogar coisas, Patinete, Lenço atrás, Patins, Pé na lata, Pipa, Perna de 
    pau, Pega-pega, Polícia e ladrão, Rela-aumenta, Sinuca, Rela trovão, Rolemã, Skate, Vivo 
    ou morto, Sukita/sirumba, Piscina – bóia, Brincadeiras cantadas, Brincadeiras de roda - 
    ciranda cirandinha..., Baralho, Dominó, Forca, Quebra-cabeça, Peças de montar – tipo lego, 
    Vídeo game; 
     
     
    Simbólicos: Casinha / Cabana / Restaurante 
    / Escolinha / Jardineiro/ Castelo / Escolinha 
    /Caminha/ Escritório / Médico/ Cabeleireiro/ Passar roupa/ Médico/ Manicuro/ Arrumar a 
    aparência/ Homem-aranha/ Bolo de barro, Circo, Palhaço; 
     
     
    Balanço, Escorregador, Gira-gira, Gangorra, Parque. 
     
     
    Andar de cavalo, Subir e brincar na árvore / muro, Assistir TV, Computador, Massinha de 
    modelar, Cantar, Desenhar, Ir ao Cinema, Festa junina. 
      
     | 
    
    | 
     2ª séries 
     | 
    
    | 
     Movimentos Ginásticos: 
    Abertura, Abdominal, Alongamento, Andar diferente, Bananeira - parada de mão, Cadeirinha, 
    Cambalhota, Estrela, Saltar, Flexão de braço, Girar, Girar na barra, Macaquinho, Mortal, 
    Polichinelo, Ponte, Escadinha, Escalar, Estrelinha, Ginásticas – Musculação, Malabarismo, 
    Cama elástica, Corda bamba. 
     | 
    
    | 
     Lutas: 
    Artes marciais, Boxe, Capoeira, Judô, Karatê, Lutinha, Jiu-jitsu. 
     | 
    
    | 
     Esportes: 
    Natação, Futebol, Vôlei, Surf, Skate, Tênis, Beisebol, Basquete, Boliche. 
     | 
    
    | 
     Danças: 
    Balé, Samba, Forró, Calypso, Carnaval. 
     | 
    
    | 
     Jogos: 
    Regras: Bola queimada, Garrafão, Estrear nova sela, Esconde-esconde, Elefantinho 
    colorido, 
    Elástico, Lenço atrás, Mãe da rua, “Maia” – malha, Mamãe polenta, Bugaia – Cinco Marias, 
    Burquinha, Cai no poço, Cobra-cega – Cabra-cega, Passa anel, Pé na lata, Pega-pega, Pipa 
    / cartolinha/ capucheta, Iô-iô, Rouba bandeira, Ping-pong, Sirumba / sukita, Telefone sem fio, 
    Amarelinha, Balança caixão, Batata quente, Bet´s, Alerta, Bambolê, Rela aumenta, Polícia e 
    ladrão, Pião- Bay blade, Pique esconde, Cada macaco no seu galho, Coelhinho sai da toca, 
    Pular Corda, Cabo de Guerra, Estátua, Vai e vem, Gruda-gruda, Gato e rato – pega, 
    Contrabandista, Pênalti, Gol a gol, Seu urso, Corrida – de revezamento, Corrida do saco, 
    Dança da cadeira, Fantasma, Gato mia, Silêncio, Vivo ou morto, Careca- cabeludo, Montar 
    prédio – jogo de construção, Batidinha, Cavalinho / soco na bola, Tirar e por o tênis, 
    Paredão,  Panelinha, Pequena sereia, Sapo no lago, Tarzan, Subir na árvore / muro, 
    Carrinho, Trenzinho, Estilingue, Espada, Arminha, Aviãozinho de papel, Hominho, Boneca, 
    Ursinho, Bicicleta, Motoquinha, Carrinho de Rolemã, Patinete, Patins, Assustar, Balão, 
    Piscina, Piscina de bolinha, Jogo da memória, Jogo da velha, Jogo de damas, Forca, Xadrez, 
    Dominó, Quebra-cabeça, Roda-roda do Sílvio Santos, Baralho, Trilha, Bingo, Brincadeiras 
    cantadas - core-cutia..., Brincadeiras de roda – ciranda cirandinha..., Vídeo game; 
     
     
    Simbólicos: Casinha, Colégio interno, Escolinha, Mercado, Igreja, Salão 
    de beleza, Castelinho 
    de areia, Médico, Casa na árvore, Palhaçada, Historinha; 
     
     
    DVD – Filme, Desenhar, Artes plásticas, Artesanato, Computador, Teclado, Viajar, Caçar 
    borboleta/ vaga-lume/ pombinha, Pescar; 
     
     
    Escorregador, Roda-roda/ Gira-gira, Trepa-trepa, Balanço, Gangorra. 
     | 
    
    | 
     Classe Especial 
     | 
    
    | 
     Movimentos Ginásticos: 
    Mortal, bananeira / parada de mão, cambalhota, ponte, alongamentos, exercícios para ficar 
    forte, ficar pulando, ficar pulando na cama, cama elástica. 
     | 
    
    | 
     Lutas: 
    Lutinha. Capoeira.  
     | 
    
    | 
     Esportes: 
    Futebol, Futsal, Basquete, Vôlei. 
     | 
    
    | 
     Danças: 
    Funk, Rebelde e o que estiver tocando. 
     | 
    
    | 
     Jogos: 
    Regras: Jogo da Memória, Mãe da Rua, Amarelinha, Pular corda, Bola de Gude, 
    Jogo da 
    Velha, Bugalha, Bola queimada, Alerta, apostar corrida, esconde-esconde, pular elástico, 
    Elefantinho colorido, telefone sem fio, jogo da memória, bola na lata, pescaria. 
     
     
    Simbólicos: Casinha, brincar com cachorro, gato, formiga e porco, boneca, hominho, 
    carrinho, 
    puxar charrete, brincar com espelho, armarinho, boquinha, imitar animais. 
     
     
    Brincadeiras cantadas:  Din Din Castelo e bubaloo, soco-soco, bate-bate 
    Brincadeiras de roda: cirandinha 
    Computador, assistir TV: filme e desenho, escutar rádio, ler livrinhos. 
     
     
    Nadar na piscina, subir na árvore, desenhar. 
     
     
    Iô-Iô, bola, pipa de cartolina, motoca, telefone, bexiga. 
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Quadro 1: Manifestações lúdicas citadas pela 1ª séries e 2ª séries e da classe especial.
O número de manifestações citadas superou as nossas expectativas. A forma 
como foi realizado o levantamento possibilitou que, de forma descontraída os educandos 
lembrassem das atividades que vivenciam, vivenciaram ou que tiveram algum contato. No papel de 
pesquisador, quando observava alguma dificuldade nos alunos para organizarem seus pensamentos, 
realizava algumas perguntas um pouco mais específicas (o que vocês fazem com bolas? O que 
vocês fazem em casa? etc.) que os auxiliavam a dar as respostas. 
 Observamos que, em todos os temas houve um número maior de manifestações 
citadas pelos alunos da 2ª série. Tal fato reflete a questão da aprendizagem social das manifestações 
culturais. Quanto mais tempo a pessoa está inserida na sociedade, mais experiências sociais ela terá. 
Desta forma gradativamente ela se inserirá na cultura geral e específica das manifestações lúdicas.
A classificação realizada por nós em temas referente às respostas dadas pelos 
alunos, foi utilizada também para facilitar a organização e trabalho pedagógico docente. Utilizamo-nos de temas presentes na vida cotidiana das pessoas, a fim de não nos distanciarmos da realidade e 
estarmos de forma conjunta com os alunos construindo e re-elaborando os conhecimentos. A 
classificação realizada não significa que determinada manifestação é pura e exclusivamente aquela a 
qual nós a enquadramos. O lúdico é uma expressão subjetiva, construída socialmente, que está 
diretamente relacionada com a maneira como o indivíduo se relaciona com o meio, tanto os 
materiais como com as pessoas. Desta forma qualquer vivência poderia transitar pelos temas aqui 
propostos, dependendo da intenção e atitude do indivíduo.
As manifestações que mais se sobressaíram nas duas séries e na classe especial 
foram as tematizadas como jogos. Neste tema classificamos os jogos em dois tipos, os de 
predomínio das regras, tanto as simples como as mais complexas, e os que tinham como suporte o 
simbólico. Pautamo-nos neste ponto em Piaget (1975). Os jogos esportivos, as danças e as lutas 
foram tematizados à parte para análise neste estudo. Tal classificação também pode vir a favorecer 
as ações didáticas nestes temas, abrangendo toda a sua complexidade. 
Nas 1as séries e na classe especial houve um 
maior número de citações referentes 
aos jogos simbólicos do que nas 2as séries. Esta constatação reflete os interesses e as limitações 
cognitivas dos alunos, crianças de seis anos em média e as crianças portadoras de necessidades 
educativas especiais, que ainda encontram dificuldades e obstáculos cognitivos para a participação 
efetiva e prazerosa em jogos pautados em regras mais complexas que as presentes nos jogos 
simbólicos.
Os esportes, as danças e as lutas são manifestações culturais que recebem mais 
atenção e valorização por parte de grande parte da sociedade. Não pretendemos entrar no cerne da 
questão, mas são exploradas pelo setor econômico na iniciativa privada e no setor público em seus 
objetivos sociais. Assim estão fortemente organizados e são difundidos para um número cada vez 
maior de pessoas. A mídia os tem como grande fonte de renda, e isto se reflete em nossa 
sociedade. 
Em nosso levantamento pudemos observar que também os esportes, as danças e 
as lutas são mais citados nas 2as séries. Mas aqui é possível verificar como as culturas estão de 
forma dinâmica se relacionando. Foram citados esportes (caso do surf) que não são realizados na 
comunidade. O fato de terem citado alguns esportes, algumas lutas (karatê, boxe) e algumas danças 
(calypso, balé) que não são produções histórico-culturais da comunidade, mesmo assim estes fazem 
parte da vida daquela comunidade. Os meios de comunicação cada vez mais acessíveis e utilizados 
pela população fazem com que se torne possível conhecer as mais variadas manifestações das 
diversas culturas do planeta a um pressionar de botões.
O presente levantamento possibilita a realização, entre outras questões a da 
seguinte: Será que o currículo, em específico o da escola abordada, estaria contemplando estas 
manifestações lúdicas como objeto de estudo, como conteúdo curricular? 
Numa análise curricular que leva em consideração os pressupostos trazidos por 
este trabalho, deve primeiramente conhecer a realidade, no nosso caso a relacionada com o lúdico, 
para que possa a partir daí estar confrontando os currículos oficiais com os verdadeiros conteúdos 
presentes na vida dos alunos e pessoas da comunidade.
Destacamos a importância dos conteúdos e dos saberes escolares que 
considerem a diversidade cultural e a identidade do grupo trabalhado. Não preconizamos a 
substituição dos saberes e dos valores que até agora reinaram na escola, mas sim que a escola seja 
um local de encontro e de confronto entre as diversas formas de saberes. Moreira (2001, p.76) 
propõe:
[...] que os conteúdos selecionados nas diversas disciplinas concorram 
para desestabilizar a lógica eurocêntrica, cristã, masculina, branca e 
heterossexual que até agora informou o processo e para confrontá-la com 
outras lógicas, com outras formas de ver e entender o mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro das escolas ainda reina o etnocentrismo. A estrutura curricular da grande 
maioria das escolas trabalha com conteúdos tidos como cientificamente e universalmente 
necessários. A especificidade do grupo social da escola é desconsiderada, temos assim currículos 
monoculturais e homogêneos que privilegiam determinados valores e conhecimentos em relação a 
outros. Este tipo de currículo, caracterizado como tradicional, trás em si teorias consideradas 
neutras, que ao aceitar mais facilmente o status quo, os conhecimentos e os saberes dominantes, 
acabam por se concentrar em questões técnicas e seus esforços são voltados para as questões de 
como transmitir este conhecimento inquestionável (SILVA, p. 16, 2003). 
Estes conhecimentos tidos como legítimos e inquestionáveis por aqueles que 
organizavam e atuavam nos sistemas de ensino eram e são aceitos sem questionamentos por grande 
parte da sociedade. Ao privilegiar a racionalidade, este currículo tradicional busca a formação de 
pessoas otimizadas e competitivas, indo ao encontro dos ideais neoliberais de eficiência e 
produtividade, e dos ideais neoconservadores da tradição tida como certa e inquestionável.
Vivemos em uma sociedade multicultural e a educação e a escola devem estar 
atentas para tal fato. Generalizações e universalizações do conhecimento favorecem determinados 
grupos e impõem uma verdade. A questão da diversidade deve estar presente nas discussões 
curriculares, tanto na estruturação como na ação pedagógica. 
Falsas compreensões, preconceitos e visões instrumentalistas fizeram as diversas 
manifestações culturais lúdicas receberem menor atenção em nossas escolas. Tais manifestações, 
que tem o brincar como seu principal veículo na infância, são desconsideradas como objeto de 
estudo. Quando adulto, o lúdico recebe uma carga de preconceitos ainda maior, e os momentos de 
lazer onde tais manifestações estão quase que exclusivamente confinadas são secundarizados e tidos 
como fúteis em seu sentido pejorativo.
A atual estrutura, valores e funções da escola precisam ser revistos e considerar 
o lúdico / brincar / lazer. É preciso:
Pensar a possibilidade de a escola operar numa nova articulação entre o 
lógico-racional e o lúdico – que não seja de enfrentamento, nem de 
compensação, mas talvez, de mediação e complementariedade – implica a 
re-significacao da finalidade educativa escolar, assim como, 
operacionalmente, os elementos que a constituem (BRACHT, 2003, 
p.165).
Entender as manifestações lúdicas como artefatos culturais, componente 
formativo do homem histórico, onde ele é capaz de construir e reconstruir simbolicamente a sua 
realidade é necessário para que possamos realizar uma educação que esteja comprometida com a 
superação do atual quadro social.
Existem diversas manifestações lúdicas que estão presentes em todas as culturas. 
Quem tem o poder de escolher qual deve ser valorizada e estar presente no currículo escolar? 
Consideremos na resposta que “qualquer jogo fora do contexto cultural dos alunos, estes jogos 
perdem o sentido e não promovem, necessariamente, qualquer aprendizagem social significativa” 
(NEIRA, 2007).
REFERÊNCIAS
ALVES, V. de F. N. Uma Leitura Antropológica sobre Educação Física e o Lazer. In: 
WERNECK, C. L. G; ISAYAMA, H. F. (orgs). Lazer, Recreação e Educação Física. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2003. II Parte, Cap. 1, p. 83-114. 
ANDRADE, M. M de. Introdução à Metodologia do trabalho científico: elaboração de 
trabalhos na graduação. São Paulo: Atlas, 1993.      
APPLE, M. W. Política Cultural e Educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
BAUREN, I. M; RAUPP, F. M. Metodologia da Pesquisa Aplicável às Ciências Sociais. In: 
BAUREN, I. M (org). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e 
prática. São Paulo: Atlas, 2003. Cap. 3, p. 76-97.
BRACHT, V. Educação Física Escolar e Lazer. In: WERNECK, C.L.G; ISAYAMA, H.F. (org). 
Lazer, Recreação e Educação Física. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 147-172.
BROUGÈRE, G. A Criança e a Cultura Lúdica. In: Revista da Faculdade de Educação. São 
Paulo, v.24, n.2, p.103-116, jul./dez. 1998.
FORQUIN, J. C. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento 
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
MOREIRA, A. F. B. A Recente Produção Científica sobre Currículos e multiculturalismo no Brasil 
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