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Data: 2014
Quando se fala em autismo, que imagem vem à sua cabeça? Alguém se balançando em um canto e repetindo palavras ininteligíveis? Pois acredite: a síndrome é muito mais complexa do que isso.
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O autismo infantil foi descrito inicialmente pelo psiquiatra Leo Kanner, em 1943. Autistas eram crianças que apresentavam prejuízos nas áreas da comunicação, comportamento e interação social.
Um ano depois, o médico Hans Asperger denominou uma síndrome para crianças semelhantes, mas que, aparentemente, eram mais inteligentes e sem atraso significativo no desenvolvimento da linguagem.
Com maior conhecimento à condição, surgiram outras denominações. Atualmente, utiliza-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.
As mais recentes estatísticas indicam a prevalência de 1 autista para cada 160 pessoas, número muito superior aos das décadas anteriores, provavelmente porque o reconhecimento da síndrome hoje é maior.
Segundo o Projeto Autismo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, estima-se que, em 2007, havia cerca de 1 milhão de casos de autismo no Brasil.
Atualmente, o número mais aceito é a de 2 milhões de casos, ou seja, 1% da população brasileira. No mundo, a Organização das Nações Unidas estima que tenhamos cerca de 70 milhões de autistas.
Afinal, o que é o autismo?
O autismo é uma síndrome. Não tem causa definida e possui múltiplos sinais. Acredita-se que tem bases genéticas e ambientais combinadas, além de uma possível deficiência em nível neuronal. Um dado relevante: o autismo afeta quatro vezes mais os meninos.
Os autistas repetem comportamentos típicos: atraso na fala, a não retribuição do olhar e a falta de habilidade em se relacionar, por exemplo. Entretanto, as características individuais variam amplamente.
A dificuldade em fazer amigos está presente em todos os graus de autismo, mas ela pode ser combinada com uma grande timidez, que é característica daquele indivíduo e não de todos os autistas.
“Por isso, é importante desmistificar os rótulos. As pessoas devem ser vistas em seu potencial e não pelas suas dificuldades”, frisa Fausta Cristina de Pádua Reis, psicopedagoga e membro fundadora e voluntária do Instituto Autismo & Vida.
Por ser uma síndrome ampla, os profissionais trabalham com um espectro de transtornos. Atualmente, o DSM-V - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais classifica o autismo em grave (ou clássico), moderado e leve (entra aqui a conhecida Síndrome de Asperger).
Como identificar
No autismo não há regras. Geralmente, a criança começa a apresentar atrasos no desenvolvimento global percebidos pelas famílias entre os 3 e os 6 anos de idade. E ele pode se manifestar em duas formas: desde o nascimento, que é o chamado autismo regressivo, ou após.
No primeiro caso, desde bem pequeno, sinais como alheamento, o não compartilhamento do olhar e falta de aconchego ao mamar, por exemplo, estão presentes. No segundo, a criança se desenvolve em aparente normalidade até passar a se isolar e começar a perder certas habilidades, como a fala.
Caso o grau de comprometimento seja leve, os sinais ficam mais claros quando a criança chega à idade escolar, o que evidencia as diferenças de comportamento e habilidades.
“É comum pessoas serem diagnosticadas com autismo apenas depois de adultos, após uma vida toda se sentindo deslocadas e confusas sem saber de sua condição”, comenta Fausta.
O que observar
Um dos fatores mais importantes ao qual os pais e familiares devem ficar atentos é ao compartilhamento. As crianças autistas geralmente não compartilham seus interesses, suas reações ao descobrir o mundo, não possuem vivacidade no olhar nem buscam o olhar do adulto.
Como o autismo é uma síndrome comportamental e não pode ser detectada por exames físicos, todo e qualquer comportamento não comum às crianças deve ser sinal de alerta.
Vale lembrar que o autismo só pode ser diagnosticado por profissionais capacitados da área médica: pediatras, neuropediatras, psiquiatras infantis, neuropsicólogos. O ideal é realizar avaliações com o olhar de múltiplos profissionais.
Cuidados com uma criança autista
O diagnóstico está fechado? Seu pequeno vai precisar de uma equipe multidisciplinar para auxiliar no seu desenvolvimento: fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, psicólogo, psiquiatra ou neurologista infantil. É também fundamental que a família receba suporte emocional. Não é difícil encontrar associações com esta finalidade.
Mas há algo certo e consenso a respeito da síndrome: as melhores chances de o autista ter mais qualidade de vida e de desenvolver suas habilidades estão diretamente relacionadas ao início do tratamento precoce.
“É preciso aproveitar muito os primeiros anos de vida”, explica o jornalista Paiva Junior, pai de um autista de 5 anos, editor-chefe da Revista Autismo e autor do livro “Autismo – Não espere, aja logo!” (M. Books)
Programe o dia a dia
A criança com autismo, assim como qualquer filho, demanda cuidados e atenção. Por causa de suas dificuldades específicas, algumas posturas devem ser adotadas.
Estruture uma rotina dinâmica e variada e prepare o seu filho para todas as atividades e possíveis imprevistos. Do contrário, a falta de flexibilidade mental pode trazer ansiedade e frustração diante do novo ou inesperado.
É importante lembrar que qualquer criança precisa de educação e limites. Além disso, seu filho tem habilidades e pontos fortes que precisam ser estimulados para um melhor desenvolvimento global.
“Filhos, sejam como forem, dão sempre algum trabalho e trazem diferentes preocupações. Mas são uma fonte única de alegria. Com os autistas, é exatamente igual, talvez com um pouco mais de intensidade”, diz Ana Maria de Mello, superintendente da Associação de Amigos do Autista (AMA).
E o futuro?
“Ninguém pode dizer até onde uma pessoa com autismo pode ir. Não há determinismo, por isso não vale desistir”, afirma Fausta. É preciso estudar, ler e se informar para que as escolhas com relação ao seu desenvolvimento sejam feitas com mais segurança.
Muitos autistas são independentes, se casam, têm filhos e sucesso profissional. Outros têm comprometimentos mais graves que dificultam a plena autonomia, mas ainda assim podem ser pessoas felizes e realizadas.
O maior entrave para que a vida plena de um autista é o preconceito e a desinformação da sociedade. “Devemos entender que a pessoa com autismo é plena de possibilidades, mas deve ser respeitada em suas necessidades”, comenta Fausta.
Ana Cristina é mãe de Guilherme, que já tem 34 anos. “Ter um filho autista nem sempre é fácil. Passei por várias fases ao longo da vida do Gui: fiquei triste porque minhas expectativas com relação à maternidade não estavam sendo alcançadas, neguei o problema, não queria sair de casa com ele, sofri muito preconceito, inclusive dos familiares próximos...”, lembra-se.
Como salienta, ninguém está preparado para ter um filho especial. “Mas fui atrás de informação e fizemos de tudo para que ele se desenvolvesse da melhor maneira possível. O mais importante é que eu nunca paro de aprender”, afirma.
Ana Cristina garante que, diariamente, Guilherme lhe dá lições de humildade, paciência e empatia. “Meu filho foi a medida para que eu me tornasse uma pessoa melhor. Eu devo muito a ele”, revela.
Para se informar mais
(Fotos: Getty Images)