Notícias |
Entrevista com coordenador do Departamento de Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria
VALÉRIA BLANC
Foto: Frederic Jean/EPOCA |
ÉPOCA - Os casos de depressão em
jovens aumentaram ou a doença está mais facilmente identificável?
Francisco Baptista Assumpção Junior,
coordenador do Departamento de Infância e Adolescência da Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP) - Em primeiro lugar se reconhece mais. Há
mais informação a respeito na própria classe médica, o que ajuda na
identificação da doença. Antes, achava-se que jovens não apresentavam quadros
depressivos e que apenas passavam a demonstrar mais irritabilidade e
fragilidade em algum momento da vida. Hoje, porém, falamos em depressão até em
crianças em idade pré-escolar.
ÉPOCA - Pode-se dizer que a
depressão em jovens é fruto do comportamento moderno?
Assumpção - Não.
Depressão, enquanto doença, tem fatores genéticos, bioquímicos e familiares.
Ela pode, contudo, ter fatores sócio-ambientais que funcionam como gatilhos
para desencadeá-la.
ÉPOCA - O culto ao corpo, por
exemplo, com a garotada querendo ser Gisele Bündchen e galã da TV, de corpo
sarado e, por vezes, fora do rápido alcance de um jovem, seria um desses
fatores?
Assumpção - Todos os
mecanismos estressores, como este, podem ser considerados gatilhos. E está
claro que vivemos em um ambiente estressor, com uma cultura que privilegia a
competição desenfreada e o ter sobre o ser. Se ainda somarmos a isso a falta de
perspectivas que uma sociedade como a nossa coloca sobre o jovem _ desemprego,
valorização do poder sobre o conhecimento, a desvalorização do esforço próprio,
a premiação da corrupção _, o ambiente mostra-se desestimulante, o que é um
fator de risco à depressão.
ÉPOCA - Como tratar a depressão
precoce?
Assumpção - Tratar de
depressão, a princípio, pressupõe a utilização de medicamentos, muitos já
testados largamente na população infantil. Dependendo da gravidade dos sintomas,
é quase irresponsável não indicar antidepressivos à criança. Mesmo que a
psicoterapia se faça necessária, minimizar os sintomas com remédios tem
utilidade inegável. Além disso, é importante que se dê orientação familiar e
escolar sobre a melhor forma de lidar com aquela criança.