ESQUIZOFRENIA E NEUROIMAGEM-REVISÃO SISTEMÁTICA
“NEUROIMAGING FINDINGS IN SCHIZOPHRENIA-SISTEMATIC REVIEW
Márcio Candiani[1]
Hélio Lauar[2]
ARTIGO DE REVISÃO
Márcio Candiani
R. da Bahia, 1345 - Décimo andar - Clínica Focos Saúde (entre Timbiras e Aug. de Lima)- Telefax: (31) 3273-5761 ou 3273-2559 – Cep: 30.160.011
Graduação UFMG 1998 – Medicina.Psiquiatra Adultos (FHEIG) – Instituto Raul Soares (2001).Psiquiatra Infanto Juvenil (FHEMIG) _ Centro Psicopedagógico (2002).Título de Especialista em Psiquiatria pela Assoc. Brasil. Psiq (2004).Psiquiatra concursado Unimed BH (2006).Instituição em que o trabalho foi desenvolvido – consultório particular.
ESQUIZOFRENIA E NEUROIMAGEM-REVISÃO SISTEMÁTICA
“NEUROIMAGING FINDINGS IN SCHIZOPHRENIA-SISTEMATIC REVIEW”
RESUMO - Há mais de um século, desde Emil Kraepelin, se procura um substrato neuroanatômico para a patogênese da esquizofrenia. Os primeiros estudos se basearam em achados post-mortem. Em 1976, com o advento da Tomografia Computadorizada e em 1984, com o advento da Ressonância Magnética, vários resultados de estudos post-mortem foram confirmados. Foram encontrados principalmente o a aumento dos ventrículos, além de alterações no sistema límbico (amigdala e hipocampo), lobos parietais e algumas regioes subcorticais. Os padrões e número de anormalidades são consistentes com um distúrbio da conectividade dentro e entre regiões cerebrais, principalmente no nerodesenvolvimento.
Palavras chave– esquizofrenia, neuroimagem, lesão cerebral, alterações anatômicas
SUMMARY – For more than a century, since Emil Kraepelin, a neuroanatomic substrat hás been looked for the esquizofrenia pathogenesis. The first studies were based on post-mortem founds. In 1976, with the use of Comput. Tomography (CT) and more with de advent off magnetic Ressonance in 1984, that post-mortem founds were confirmed. The autors found fundamentally cerebral ventricules enlarged, structural abnormalities on the limbic system (amygdala and hipocampus), abnormalities in parietal lobes and some subcortical áreas. The pathern and number of abnormalities are consistent with the theory of a conectivity disturbance between cerebral áreas, mainly at neurodevelopment.
KEYWORDS –esquizofrenia, neuroimaging, brain injury, anatomic abnormalities
Fontes de financiamento: recursos próprios dos autores
INTRODUÇÃO
Há mais de um século, desde Emil Kraepelin, (
FIGURA 1 – Emil Kraepelin (foto do Compêndio de Psiquiatria de Kaplan & Sadock , 9ª Edição, Artmed,2007, p. 507) -Kraepelin (1896), em sua primeira descrição da “demência precoce”: The real nature of dementia praecox is totally obscure..I consider likely that what we have is a tangible morbid process occurring in the brain......Morbid anatomy has so far been quite unable to help us here, but we should not forget that reliable methods have not yet been employed in a serious search for morbid changes”..
se procura um substrato neuroanatômico para a patogênese da esquizofrenia. O neurologista, e pai da Psicanálise, Sigmund Freud
FIGURA 2 – Sigmund Freud em 1922
já dizia que, cedo ou tarde, se encontrariam alterações nos cérebros de indivíduos com doenças “nervosas”.
FIGURA 3– Cérebro – corte sagital - http://www.tinitus.com.ar/IAtlas/thumbnails.php?album=50
FIGURA 4– Foto de cérebro em corte sagital - http://www.tinitus.com.ar/IAtlas/thumbnails.php?album=50 (atlas de anatomia online)
Os primeiros estudos se basearam em achados post-mortem.
FIGURA 5 – Neuroantatomia Post Mortem - www.fmri.com.br/ftp/geraldo/PEC2/PEC%20Neuroimagem%201.ppt
Havia estudos psiquiátricos mais antigos comparando os crânios e feições de indivíduos com diferentes psicopatologias (Frenologia). Frenologia (do Grego: φρήν, phrēn, "mente"; e λόγος, logos, "lógica ou estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo "caroços ou protuberâncias"). Desenvolvido por médico alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito popular no século XIX, está agora desacreditada e classificada como uma pseudo-ciência. FONTE http://pt.wikipedia.org/wiki/Frenologia
Os exames de radiografia não mostraram diferenças entre pacientes com transtorno mental, exceto por sinais de edema cerebral importante, com desvio da sela túrcica e outras alterações ao raio x de crânico em transtornos cerebrais orgânicos.
FIGURA 6 – Arteriografia com contraste http://www.tinitus.com.ar/IAtlas/thumbnails.php?album=50 (atlas de anatomia online)
Em 1976, com o advento da Tomografia Computadorizada foi possível, pela primeira vez, enxergar o cérebro humano sem a retirada de tecido. Permitiu a avaliação de tumores e acidentes vasculares cerebrais.
FIGURA 7 – Imagem de TC mostrando áreas hipodensas em córtex frontal em paciente com histórico prévio de TCE (acidente de trânsito). www.fmri.com.br/ftp/geraldo/PEC2/PEC%20Neuroimagem%201.ppt
Tabela 1 – Tabela comparativa Tomografia x Ressonância
Tomografia Computadorizada (TC) Vantagens • baixo custo • boa resolução para trauma: • osso e sangue Desvantagens Baixa resolução na base do cérebro (ossatura espessa) • pouca distinção entre substancia branca e cinzenta • radiação limita o numero de scans |
Ressonância Magnética (RM) Vantagens • ótima resolução espacial • ausência de radiação ionizante • capaz de fazer vários planos em todas as orientações Desvantagens • alto custo • problemas com movimento claustrofobia |
www.fmri.com.br/ftp/geraldo/PEC2/PEC%20Neuroimagem%201.ppt
TABELA 2 - Aplicação clínica da Neuroimagem estrutural
Tomografia Computadorizada (TC) • Diagnóstico diferencial: • TCE - trauma crânio-encefálico • AVC-H-acidente vascular cer. hemorrágico • Hematoma subdural ou epidural |
Ressonância Magnética (RM) • Demais questões – RM provê mais informações • Diagnóstico diferencial: • Doença de Alzheimer • Epilepsia temporal mesial • AVC isquêmico antigo ∙ Esclerose múltipla • Volumetria cerebral |
www.fmri.com.br/ftp/geraldo/PEC2/PEC%20Neuroimagem%201.ppt
Em 1984, com o advento da Ressonância Magnética, vários resultados de estudos post-mortem foram confirmados, uma vez que se distinguia bem melhor a substância cinzenta da branca. Foram encontrados principalmente o a aumento dos ventrículos, além de alterações no sistema límbico (amigdala e hipocampo), lobos parietais e algumas regioes subcorticais.
FIGURA 8 – Ressonância Magnética “In Vivo” www.fmri.com.br/ftp/geraldo/PEC2/PEC%20Neuroimagem%201.ppt
Os principais tipos de Neuroimagem funcional são:
• Ressonância Magnética –
• Espectroscopia
• Ressonância Magnética funcional (RMf)
• PET – tomografia por emissão de pósitrons
• SPECT – tomografia por emissão de fóton único
FIGURA 9 - Neuroimagem Funcional- Ressonância Magnética (RM): Ressonância Magnética funcional – RMf e espectrofotometria
FIGURA 10 - Alucinação auditiva em paciente com esquizofrenia
Os padrões e número de anormalidades são consistentes com um distúrbio da conectividade dentro e entre regiões cerebrais, principalmente no nerodesenvolvimento.
OBJETIVOS
Revisar a literatura existente sobre as bases neuroanatômicas e funcionais das esquizofrenias.
MÉTODOS
Foram revistos 180 artigos sobre neuroimagem e esquizofrenia de 1988 a agosto de 2000 no Medline – isto por que o ano de 1988 foi de grandes avanços em hardware e software em neuroimagem. Este corte excluiu os estudos de Andreasen et all (1986), e outros.. Os unitermos usados foram “schizophrenia”, “MRI”, “neuroimaging”, “temporal lobe”, “neuroanatomy”, ‘spect”, “limbic system”.Os achados foram sumarizados nas descrições abaixo, relativas a cada região onde se supõe cientificamente, em várias revisões anteriores, causalidade nas esquizofrenias.
RESULTADOS
Dos 50 estudos de RNM sobre alterações no Volume cerebral total, 22% relataram diferenças entre esquiizofrênicos e controles, enquanto 78% não relataram o mesmo.
Dos 55 estudos de RNM existentes até a época sobre alterações nos ventrículos laterais, 80% mostraram aumento dos ventrículos laterais.
Em 33 estudos de RNM 73% dos achados foram positivos e 27% foram negativos quanto à redução volumétrica do terceiro ventrículo.
20% dos estudos de RNM foram positivos enquanto 80% foram negativos quanto à redução volumétrica do quarto ventrículo.
Quanto ao volume dos lobos temporais, dos 51 estudos com RNM, 61% mostraram um lobo temporal menor em relação aos controles, enquanto 39% obtiveram resultados negativos.
Sobre o Lobo temporal medial (envolve o complexo amigdala-hipocampo e o giro parahipocampal), 49 estudos com RNM, 74% relataram achados positivos e 26%, achados negativos; estes achados são confirmados por estudos post-mortem e são os achados mais robustos em RNM de esquizofrênicos
Dos 15 estudos de RNM sobre o Giro Temporal Superior envolventdo a combinação volumétrica das substâncias branca e cinzenta desta região, 67% mostrara redução do mesmo.
Dos 12 estudos com RNM avaliando apenas a substância cinenta, 100% mostraram redução de volume (veja Pearlson 1997 para uma revisão).
Hirayasu et al em 1988 relataram que a redução da substância cinzenta ocorre no primeiro episódio de esquizofrenia comparado com controles, mas não no primeiro episódio de pacientes bipolares psicóticos. Isto sugere que esta anormalidade é específica da esquizofrenia. No transtorno bipolar, a especificidade está em uma amigdala e giro temporal superior anterior direito menores.
Dos 50 estudos de RNM revistos, 60% mostraram anormalidades no lobo temporal (redução volumétrica).
De 15 estudos, 60% mostraram alterações no lobo parietal.De 13 estudos 69% não encontraram alterações cerebelares na esquizofrenia.Dos 25 estudos, 68% mostraram alterações nos Gânglios Basais.Dos 12 estudos, 58% mostraram diferenças no tálamo em relação aos controles .Em 27 estudos, 63% encontraram anormalidades no corpo caloso., espacialmente no septo pelúcido cavo
Turetsky et all (2000) conduziram o primeiro estudo sobre o volume do Bulbo olfatório e concluíram 23% de redução do volume do bulbo bilateralmente em esquizofrênicos
CONCLUSÕES
As principais alterações neuroanatômicas encontradas nos pacientes esquizofrênicos nesta revisão foram:
1) Aumento Ventricular
2) Envolvimento do Lobo temporal Medial (amigdala, hipocampo e giro parahipocampal)
3) Envolvimento do Giro Temporal Superior
4) Envolvimeto do Lobo parietal (particularmente o lóbulo parietal inferior e sua subdivisão em giro angular e giro supramarginal)
5) Envolvimento de regiões cerebrais subcorticais, incluindo o cerebelo, gânglios basais, corpo caloso, talão e Septo Pelúcido Cavum.
Os padrões e número de anormalidades são consistentes com um distúrbio da conectividade dentro e entre regiões cerebrais, principalmente no nerodesenvolvimento.
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